quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

O QUE É ROCK PROGRESSIVO?

Por Lucas Rafael Chianello, autor dos blogs Além da Grande Mídia e Na Reta Oposta

Duas coisas podem acontecer comigo quando adiciono alguém no MSN: a pessoa recusar meu pedido porque não sabia quem era o "Hamburger Concerto", ou adicionar, não saber quem é e na hora de eu me identificar, perguntar: mas por que esse apelido?

Mais uma vez citando o Flavio Gomes (e ainda vou citar muito ele aqui, da mesma forma que quando falo de futebol e política não paro de citar o João Saldanha), o que somos nós senão crianças evoluídas? Pois bem, quando fiz o meu MSN, não sabia qual apelido colocar, porque todo mundo sempre coloca um, ou o nome mais curto, ou um apelido dado pelos amigos ou até mesmo uma frasesinha boba de impacto, em inglês.
Lá estava eu fazendo meu MSN e não sabia qual apelido colocar, quando então me veio à cabeça que eu gosto de rock progressivo e que não tenho criatividade para criar apelidos para serem usados na rede. Então, decidi.
Hamburger Concerto é o álbum de estúdio da banda holandesa de rock progressivo Focus, liderada pelo organista e flautista Thijs van Leer. Ao longo de sua trajetória, a banda teve várias formações. A do álbum em questão é formada, além de van Leer, o líder da banda, por Jan Akkerman (guitarra), Bert Ruiter (baixo) e Colin Allen (bateria).


Por sua vez, o rock progressivo é um gênero musical no qual são acrescentados ao rock arranjos e técnicas de música clássica, jazz, lírico e eletrônico, o que o subdivide em estilos como progressivo eletrônico, progressivo sinfônico e outros, tornando o teclado e não a guitarra seu instrumento símbolo. As produções são basicamente instrumentais, mas quando são acresentadas letras às músicas, abordam-se os mais variados temas, como ficção científica, literatura, história, religião, etc.
Essa brincadeira musical, que nos proporcionou grandes lendas da história do rock, como Rick Wakeman, Steve Howe, Peter Gabriel, Roger Waters, dentre outros, só foi possível graças aos efeitos osquestrados introduzidos pelos Beatles nas músicas do álbum Sargeant Peppers Lonely Hearts Club Band. Nunca é demais lembrar que a história do rock se divide antes e depois do Sgt Pepper. Ainda em relação às lendas do rock progressivo, faço questão de frisar que a carreira musical do Phil Collins começou como baterista no Genesis. Neste momento, enquanto elaboro a postagem, escuto o álbum da banda, Selling England by The Pound, de 1974, mesmo ano do Hamburger Concerto. Em The Musical Box, do álbum Nursery Crime, o Phil Collins simplesmente arrebenta, a bateria torna-se mais do que um simples instrumento de marcação de tempo. Delírio total!

Além do Genesis e do Focus, YES, Pink Floyd, Emerson Lake & Palmer, Camel, Gentle Giant, King Crimson, Jhettro Thull, Premiata Forneria Marconi, dentre outros, arquitetam uma constelação de grandes bandas deste gênero.

Não é necessário dizer que para conhecer mais sobre rock progressivo e inclusive informarem qualquer erro que tenha tido nesta postagem acerca do conhecimento sobre o gênero musical, basta uma busca no google. Entretanto, sugiro a visita à página www.progarchives.com. Está em inglês, mas tem muita coisa mesmo sobre o rock progressivo. Qualquer dificuldade é só acessar o tradutor do google e boa. Uma frase ou outra aparece sem sentido, mas aí é só deduzir e armazenar a informação na mente, o que é o mais importante.

Por fim, dedico este artigo a dois grandes amigos. O Helião, que me ensinou muita coisa sobre o rock progressivo e o Alexandre Almeida, que me deu aula de violão e me apresentou bandas que eu jamais imaginei que conheceria e que seriam tão maravilhosas! Valeu demais vocês dois!

Lucas Rafael Chianello, sempre ouvindo rock progressivo na reta oposta.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Ao ombudsman da TV Cultura

O Professor Idelber Avelar, indignado como eu e tantos outros, formulou essa série de indagações ao Excelentíssimo Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ministro Gilmar Mendes. Mendes, para quem não sabe, passará, no programa Roda Viva de hoje, pelo crivo de inquisidores tão ferozes que só podem ser comparados aos da Santa Inquisição.

São jornalistas da envergadura duma Eliane Catanhêde, ou um Reinaldo Azevedo, notoriamente conhecidos por suas posições muito semelhantes à de Mendes e por tecerem elogios superlativos ao presidente do STF. Entre os inquisidores há ainda Marcio Chaer, por mera coincidência assessor de imprensa do próprio Ministro.

Não se faz necessário alto grau de esforço para imaginar a imparcialidade e credibilidade como se dará o Roda Viva dessa segunda-feira.

As indagações foram endereçadas ao ombudsman da TV Cultura Ernesto Rodrigues. Entre também no site da TV Cultura e questione, ou mande sua sugestão ao ombudsman: www.tvcultura.com.br

Prezado Jornalista Ernesto Rodrigues:

No texto em que Sr. comenta a indignação que tomou conta dos telespectadores da TV Cultura ante a escalação da bancada que entrevistará Gilmar Mendes nesta segunda-feira no Roda Viva, o Sr. afirma que nem um único email continha sugestões de perguntas a serem feitas ao entrevistado. Confesso que não entendi a frase acerca dos emails conterem 10380 palavras, talvez por deficiência minha na descifração de anacolutos. Confio que este email não repetirá o cabalístico número.

No espírito de corrigir o que certamente terá sido uma indesculpável desatenção dos missivistas, incluo aqui 25 perguntas que eu – e, tenho certeza, muita gente mais – gostaria que fossem feitas ao Presidente Gilmar Mendes.

1.O sr. sabe algo sobre o assassinato de Andréa Paula Pedroso Wonsoski, jornalista que denunciou o seu irmão, Chico Mendes, por compra de votos em Diamantino, no Mato Grosso?

2.Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2000, quando o sr. era advogado-geral da União?


3.Qual a natureza da sua participação na campanha eleitoral de Chico Mendes em 2004, quando o sr. já era presidente ministro do Supremo Tribunal Federal?

4.Quantas vezes o sr. acompanhou ministros de Fernando Henrique Cardoso a Diamantino, para inauguração de obras?

5.O sr. tem relações com o Grupo Bertin, condenado em novembro de 2007 por formação de cartel? Qual a natureza dessa relação?

6.Quantos contratos sem licitação recebeu o Instituto Brasiliense de Direito Público, do qual o sr. é acionista, durante o governo de Fernando Henrique Cardoso?

7.O sr. considera ética a sanção, em primeiro de abril de 2002, de lei que autorizava a prefeitura de Diamantino a reverter o dinheiro pago em tributos pela Faculdade de Ciências Sociais e Aplicadas de Diamantino, da qual o sr. é um dos donos, em descontos para os alunos?


8.O sr. tem alguma idéia do porquê das mais de 30 ações impetradas contra o seu irmão ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?

9.O sr. tem algo a dizer acerca da afirmação de Daniel Dantas, de que só o preocupavam as primeiras instâncias da justiça, já que no STF ele teria “facilidades”?

10.O segundo habeas corpus que o sr. concedeu a Daniel Dantas foi posterior à apresentação de um vídeo que documentava uma tentativa de suborno a um policial federal. O sr. não considera uma ação continuada de flagrante de suborno uma obstrução de justiça que requer prisão preventiva?

11.Sendo negativa a resposta, para que serve o artigo 312 do Código de Processo Penal segundo a opinião do sr.?

12.Por que o sr. se empenhou no afastamento do Dr. Paulo Lacerda da ABIN?

13.Por que o sr. acusou a ABIN de grampeá-lo e até hoje não apresentou uma única prova? A presunção de inocência só vale em certos casos?

14.Qual a resposta do sr. à objeção de que o seu tratamento do caso Dantas contraria claramente a súmula 691 do próprio STF?

15.O sr. conhece alguma democracia no mundo em que a Suprema Corte legisle sobre o uso de algemas?

16.O sr. conhece alguma Suprema Corte do planeta que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas?

17.Por que o sr. disse que o deputado Raul Jungmann foi acusado “escandalosamente” antes de que qualquer documentação fosse apresentada?

18.O sr. afirmou que iria chamar Lula “às falas”. O sr. acredita que essa é uma forma adequada de se dirigir ao Presidente da República? O sr. conhece alguma democracia onde o Presidente da Suprema Corte chame o Presidente da República “às falas”?

19.O sr. tem alguma idéia de por que a Desembargadora Suzana Camargo, depois de fazer uma acusação gravíssima – e sem provas – ao Juiz Fausto de Sanctis, pediu que a "esquecessem"?

20.É verdade que o sr., quando era Advogado-Geral da União, depois de derrotado no Judiciário na questão da demarcação das terras indígenas, recomendou aos órgãos da administração que não cumprissem as decisões judiciais?

21.Quais são as suas relações com o site Consultor Jurídico? O sr. tem ciência das relações entre a empresa de consultoria Dublê, de propriedade de Márcio Chaer, com a BrT?

22.É correta a informação publicada pela Revista Época no dia 22/04/2002, na página 40, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, o sr., pagou R$ 32.400 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual o sr. mesmo é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? O sr. considera isso ético?

23.O sr. mantém a afirmação de que o sistema judiciário brasileiro é um “manicômio”?

24.Por que o sr. se opôs à investigação das contas de Paulo Maluf no exterior?

25.Já apareceu alguma prova do grampo que o sr. e o Senador Demóstenes denunciaram? Não há nenhum áudio, nada?

Se pelo menos duas ou três dessas perguntas forem feitas ao entrevistado nesta segunda-feira, caro jornalista, eu me juntarei a V. Sra. na avaliação de que a revolta que se viu na internet não é representativa do pensamento da maioria dos telespectadores do Roda Viva.

Atenciosamente, me despeço, desejando boa sorte à sua credibilidade,

Idelber Avelar

domingo, 14 de dezembro de 2008

Agnelli, presidente da Vale, quer suspensão de leis trabalhistas

14/12 - 09:48 - Agência Estado

O presidente da Vale, Roger Agnelli, defende medidas de exceção para enfrentar a crise econômica global. Agnelli tem discutido o assunto com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de quem é um interlocutor privilegiado.
Ele sugeriu a Lula a flexibilização temporária das leis trabalhistas, "para ganhar tempo até que a situação melhore", e afirma que aceita abrir mão do próprio salário. Segundo ele, a proposta já foi apresentada também a alguns sindicatos.

Um dos executivos mais bem-sucedidos do País, Agnelli está no comando da Vale desde 2001. Segunda maior mineradora do mundo, a Vale tem faturamento superior a US$ 30 bilhões por ano, emprega mais de 60 mil pessoas e está presente em mais de 30 países. Observador privilegiado do cenário global, Agnelli fala, em entrevista ao Estado das dificuldades e dos planos da Vale para 2009, e brinca ao falar da própria sorte: "Eu pedi a Nossa Senhora, de quem sou devoto, e ela ajudou. Mas eu também corri muito atrás dos meus objetivos."

Segundo ele, a Vale está preparada para enfrentar a crise. "Na indústria mundial de mineração, a Vale é a empresa que tem o maior volume de projetos para desenvolver, tem os melhores ativos e o maior caixa do setor." E empresa, segundo ele, investiu muito nos últimos anos e deve continuar assim. Em 2009, a meta é investir US$ 14 bilhões.

Segundo o executivo, estamos vivendo uma situação de exceção e, para lidar com ela, precisamos tomar medidas de exceção. "Eu tenho conversado com o presidente Lula no sentido de flexibilizar um pouco as leis trabalhistas. Seria algo temporário, para ajudar a ganhar tempo enquanto essa fase difícil não passa", afirmou. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.


Comentário meu: Temos um Presidente que teima em dizer primeiro que não há crise, depois que a crise não atingirá o Brasil e mais tarde que a crise atingirá o país, mas não de forma aguda, será breve e passageira. Até entendo que por conta do cargo que ocupa não possa tocar fogo no país e endossar como verídicas as análises mais catastróficas.

No entanto, podemos, não tenho certeza ainda, estar diante da maior crise do capitalismo desde a II ª Grande Guerra. Já escrevi sobre essas crises afirmando serem cíclicas e que, o sistema necessita delas tanto quanto vampiros necessitam de vitimas para sugar-lhes o sangue, e medidas no mínimo cautelares urgem. Bom, aí é que está o diabo. O governo na prática vive em enorme contradição, sua marca forte, dum lado aceita a crise formulando pacotes através de Medida Provisória, portanto sem debater com o Congresso, a fim de auxiliar entidades financeiras em problemas e uma após outra medida com intuito de socorrer montadoras – como se exatamente esses dois segmentos não tivessem lucrado gordo nos recentes tempos de bonança. Por outro lado, trata de negá-la ao manter intacta a autonomia do Banco Central que, por sua vez, insisti em nadar contra a corrente mundial e está impertubável na disposição de não mexer em nossa exorbitante taxa de juros, a maior entre os terráqueos.

Agora me aprece essa declaração do presidente da Vale, cavalheiro este, cujo o Presidente da República – segundo a grande imprensa, e, convenhamos, isso não deve ser levado muito a sério – tem entre seus interlocutores privilegiados.

Declarações como essa em tempos de crise me soariam ridículas, caso não fossem dum oportunismo grosseiro.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Justiça para quem, cara pálida?

O editor da revista Fórum, Renato Rovai, publicou em seu blog [http://www.revistaforum.com.br] essa denúncia. Pediu ele, e peço eu, para divulgarmos através da internet esse verdadeiro descalabro da nossa Justiça.



Caroline presa e Dantas livre. Viva a justiça!

Por Renato Rovai

Caroline Pivetta da Motta, que completa 24 anos hoje, faz 50 dias está presa por ter realizado uma manifestação de protesto na Fundação Bienal de Artes de São Paulo. Ela e alguns colegas fizeram uma intervenção visual num espaço vazio, com paredes brancas. Picharam o local. Pode-se discutir se pichação é ou não arte. Neste caso, este blogueiro considera que sim, porque se tratava de um protesto visual. Muitos artistas consideravam absurdo a Bienal ter deixado um saguão absolutamente vazio.

O ministro da Cultura Juca Ferreira veio a São Paulo e apelou ao governador Serra para que intercedesse em favor da garota. Nada. Serra disse que a coisa não é bem assim e deu de ombros. Típica postura tucana. Parênteses: parabéns, ministro Juca. Sua postura honra a pasta que o senhor ocupa.

Até porque, enquanto Caroline sofre na cela, o pilantra-mor da República, Daniel Dantas, continua soltinho da Silva. Para ele, o Supremo trabalhou de madrugada para lhe dar habeas corpus.

Apelo para que outros blogues façam posts em favor da liberdade de Caroline.

E protestem pelo fato de Serra continuar fazendo de conta que não tem nada a ver com a história. Serra é co-responsável pela prisão de Caroline. Seu silêncio lhe condena. Seu silencia a condena.

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Animal aposentado

Domingo passado o São Paulo – time preferido da arbitragem nacional – conquistou o inédito tri-campeonato seguido e chegou a marca, também inédita, de seis campeonatos brasileiros. Conhecemos enfim após 38 rodadas do campeonato mais disputado da história dos pontos corridos, adotados em 2003, as equipes classificadas para Libertadores do próximo ano. O vice-campeão Grêmio, que disputou com o São Paulo o titulo até a última rodada, o Cruzeiro, terceiro colocado, e o Palmeiras, que mesmo perdendo para o Botafogo em pleno Parque Antártica, foi beneficiado pelo Flamengo que, manteve-se fiel a tradição de levar piaba do Atlético Paranaense na Arena da Baixada. Pudemos também conhecer as duas equipes restantes a fazerem companhia a Portuguesa e Ipatinga na serie B do não que vem. Figueirense e Vasco da Gama.

O fraquíssimo time cruzmaltino sucumbiu à suas próprias limitações e a herança maldita deixada por anos de ditadura “mirandista” no “Clube da Colina”. Mas, é justamente em São Januário onde aconteceu o fato mais importante dessa última rodada de brasileiro, pelo menos até agora, a aposentadoria de Edmundo. Daqui a alguns anos ninguém mais se lembrará das equipes classificadas para a Libertadores, salvo alguma delas levantar o caneco continental, as equipes rebaixadas, o único time de massa rebaixado – o próprio Vasco da Gama, mais dia, menos dia retornará a divisão principal – , e o titulo são-paulino será apenas uma lembrança. No entanto todos aqueles que gostam de futebol e reconhecem um gênio da bola quando o vêem, sentirão saudades de Edmundo, o “Animal”.

Lembro-me bem do jogo de estréia dele contra o Corinthians no Pacaembu. Era a primeira rodada do “Brasileirão” de 1992, e também o retorno do meia corintiano Neto após meses de suspensão por agressão a um árbitro no “Paulista” do ano anterior. Edmundo, então com 20 anos, foi escalado pelo técnico – Nelsinho Rosa, se não me falha a memória – em substituição a Bismark, que se encontrava com a seleção brasileira pré-olímpica no Paraguai. O Vasco sapecou um verdadeiro “baile” em cima dos donos da casa (4X1), com dois gols de Bebeto e um show a parte do garoto estreante. Bismark, ídolo da torcida, voltaria ao meio-campo da equipe, mas Edmundo não sairia mais. Jogando no lugar de Sorato, formou com Bebeto a melhor dupla de ataque daquele campeonato. Seriam jogos memoráveis como uma goleada em cima do Galo mineiro em pleno Mineirão, uma vitória após inúmeros anos em cima do Palmeiras no Parque Antarctica e muitos outro shows dados pelo “Animal”. O Vasco cairia eliminado pelo (meu) Flamengo do maestro Júnior na fase semifinal, mas Edmundo já havia mostrado toda a sua capacidade de decisão, genialidade, dribles rápidos, passes certeiros, e, sobretudo, objetividade.

No mesmo ano era a estrela do Vasco na conquista do Carioca de forma invicta e em 1993 desembarcaria no Palmeiras, da época em que a Parmalat dava dinheiro como leite, ops, água. Lá ajudaria a equipe alviverde a sair dum jejum de dezoito anos e mais uma vez era estrela duma equipe campeã, aliás, muita mais que campeã, bi paulista e brasileira.

Em 1995 depois de muitos transtornos com torcida e imprensa toma a pior atitude de sua carreira profissional ao fechar contrato com o Flamengo. O sonhado melhor ataque do mundo – Sávio, Romário e Edmundo – mostrou-se pesadelo para torcida rubro-negra, além da aversão por parte dessa com o Animal, graças a clara identificação dele com os arqui-rivais cruzmaltinos. Vai em seguida para o Corinthians onde problemas semelhantes voltam a atormentá-lo. Retorna a São Januário no segundo semestre de 1996, mas, só no ano seguinte retoma o futebol de antes, ou melhor, aprimora o que já sabia.

Em 1997, após um campeonato Carioca razoável, Eurico Miranda resolve montar uma equipe forte para o Brasileiro. Forma um elenco recheado de jogadores experientes como o goleiro Carlos Germano, o zagueiraço Mauro Galvão, o meia Ramon Menezes e o atacante Evair – antigo companheiro de Edmundo no Palmeiras – e o mescla a jovens talentos, o lateral Felipe e os meias Juninho Pernambucano e Pedrinho. Mesmo o assim Edmundo consegue não só ser artilheiro da competição com 29 gols – quebrando o recorde de então – e sagrar-se campeão brasileiro outra vez, como fica no imaginário dos admiradores do esporte bretão como se o tivesse feito sozinho.

Algumas partidas de Edmundo são memoráveis, a sua estréia, a goleada em cima do Galo em 1992, ambas na primeira passagem pelo Vasco, o jogo contra o Inter pelo Brasileirão de 1993, a estréia na Libertadores contra o Grêmio em 1995, ambas na primeira passagem pelo Palmeiras. A semifinal do Brasileirão de 1997 contra o Mengo no Maracanã, essa inesquecível para Júnior Baiano, já na segunda passagem de Edmundo pelo Vasco. Outros são folclóricos, como o dia em que defendendo o Figueirense enfiou três gols no time do coração, atrapalhando os planos do árbitro da partida que havia negociado-a em prol do Vasco.

Vítima de seu temperamento tempestuoso, constantes entreveros com companheiros de profissão e de declarações francas, somados a imagem de boêmio e homem rude, nunca conseguiu que empresários o tornassem um grande garoto-propaganda. Está aí o motivo para Edmundo dificilmente receber o merecido reconhecimento por sua genialidade dentro das quatro linhas.

Também foi injustiçado no mundial de 1994, mesmo com a ótima fase que vivia e o lobby de Romário, não participara da conquista do tetra. Parreira achava o Baixinho dor de cabeça o suficiente. Já em 1998 estava entre os convocados , mas Zagallo era o único a não encontrar um lugar para o Animal entre os onze titulares. Em 2002 a fase não era tão boa e, mesmo que fosse, Edmundo não tinha o perfil que Scollari queria para a sua família (argh!!!). Em 2006 Edmundo já era um andarilho do futebol, e enfim, a imprensa, que nunca morreu de paixões por ele, o havia condenado a um ostracismo prematuro.

O raquítico futebol brasileiro da atualidade não consegue segurar nem os raros jogadores um décimo acima da média que revela, agora ficará privado, pelo implacável tempo, de ver um de seus últimos gênios em ação. Edmundo forma com Romário e Zidane a trinca de maiores jogadores que vi atuar. Com a aposentadoria do Animal quem perde somos todos nós, admiradores desse esporte no Brasil, constrangidos a só vermos perna de pau em nossos gramados.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Beggars Banquet

Em 6 de dezembro de 1968 uma das maiores bandas de todos os tempos – talvez a maior – e mais longevas lançava no mercado radiofônico uma fabulosa obra artística da música pop. Os músicos são com certeza os mais sarcásticos de sua geração e das posteriores, e o disco o seu mais cínico. A banda em questão atende pelo nome de Rolling Stones e o referido álbum não poderia ser outro senão Beggars Banquet, o segundo disco maldito dos Stones. Parece-me improvável alguém curtir Rock and Roll e nunca ter ouvido canções como Sympathy For The Devil, Street Fighting Man, Stray Cat Blues ou Salt Of The Earth.

Produzido em pleno 1968, o ano mágico, os Rolling Stones inauguravam com esse disco antológico a fase áurea de sua carreira, a mais arrebatadora seqüência de clássicos que uma banda teve o prazer e privilégio de realizar até hoje. Essa seqüencia é alucinante, após Beggars Banquet vem Let It Bleed (1969), o ao vivo Get Yer Ya Ya's Out (1970), Stick Fingers (1971) e culmina com Exile On Main Street (1972). Antes em 1966 já haviam se firmado definitivamente com o excelente Aftermath e, em 1968, Their Satanic Majesties Request dava a dimensão de sua criatividade – o primeiro álbum maldito dos Stones e, muito embora recebido de maneira bastante fria por críticos e até fãs àquela época, hoje após ser melhor compreendido e deixar de lado as comparações ao Sgt Pepper´s, galgou o posto merecido, o de é um dos melhores discos do quinteto, mesmo sabendo da enorme pressão por parte de empresários e produtores para que o disco fosse realmente uma reles adaptação stoniana em cima da obra prima dos Beatles.

Quanto a Beggars Banquet, a idéia inicial era lançá-lo em maio, no aniversario de 25 anos de Jagger, mas, uma queda de braços entre Stones e gravadora por conta de algumas faixas e a capa, acabaram prorrogando o lançamento até o final de 1968. A capa proposta pela banda era a foto dum banheiro público, grafitado por canetas e com mensagens nas paredes, canos e etc., frases como "Lyndon loves Mao", "John loves Yoko", "Bob Dylans Dream", "God rolls his own" e "I sit broken-hearted". Já em dezembro a capa que apareceu fazia referência a um convite de festas. Detalhe, a capa original só viria a luz do dia com o advento do compact disc e a remasterização do disco para o novo formato na década de 1990.

Brian Jones após o termino das gravações de BB seria demitido, mesmo durante as gravações foi substuído diversas vezes, em certas faixas estão Nicky Hopkins no piano e Rocky Dijon na percussão. É um tanto incerto o grau de participação que Brian teve e o que fora aproveitado no álbum. Sabe-se que no início das sessões ele estava acreditando que teria uma chance dentro da banda, e se esforçou, apesar de estar bastante doente. É também certo que a esta altura Mick e Keith estavam extremamente intolerantes com ele. Das poucas vezes que Brian apareceu nas sessões, média de uma vez a cada quatro sessões, as coisas que ele gravou foram colocadas em um rolo mono à parte do master que a banda estava gravando. Embora a ficha técnica mencione pianos, guitarras, percussões e sitar, há dúvidas se a maioria dessas coisas, caso gravadas, foram de fato para o álbum. O certo é que, já consumido pelo álcool e pelas drogas, morreria no início do ano seguinte e em sua homenagem os Stones fariam um show memorável no Hide Park em Londres.


Durante a preparação e as gravações o quinteto se distanciou de vez do tipo de rock realizado pelos fabfour, também abandonam o psicodelismo e retomam a pegada Rhythm & Blues dos primeiros anos. Ali eles mostram a verdadeira cara, sujos (Symapathy For The Devil), malvados e indecentes (Stray Cat Blues), rebeldes (Street Figthing man).

É claro que no universo da musica pop, assim como em tudo na vida, há uma constante troca de influências, mas BB com certeza mais influenciou que foi influenciado, justamente pela sua autenticidade. Bandas futuras veriam em Beggars Banquet o paradigma a ser respeitado e seguido. E, através desse álbum os Stones se auto-afirmam ao mesmo passo que caracterizam a imagem do grupo rompendo com a beatlemania imprimindo seu próprio estilo. O resultado desembocou num rock rasgado, instigante e inflamatório, movido a letras ácidas e picantes calçadas por um humor (negro), malícia, fina ironia e escárnio. Em suma, o que seria dali em diante a marca da banda.

Quanto às faixas contidas na versão original falta-me palavras para descrevê-las a altura que merecem. Apesar do disco ser ótimo do inicio ao fim, com rockão, blues, country... algumas naturalmente se sobressaem em minha subjetividade.

A primeira Sympathy For The Devil talvez contenha a letra mais cínica dos Stones – portanto a mais cínica de todos os tempos. Embora inspirada no livro "The Master And Margarita", de Mikhail Bulgako, o que sinto é uma viagem no tempo e na consciência. Lúcifer é citado como o bode expiatório para todas as mazelas realizadas e sofridas pelo bicho-homem. O início conta com batidas de tambores que nos remetem a algum lugar da África ou da Bahia (?). A base da composição é a percussão (Watts, Wyman, Dijon), o piano de Hopkins, o baixo tocado por Richards e o vocal de Jagger. As guitarras entram apenas para rasgar o ouvido em solos curtos.

No Expectations é a mais romântica do disco e na verdade é uma balada. Parachute Woman, um bluezão, conta com baixo e guitarras fortes cadenciando um ao outro, além duma gaita linda.

Jigsaw Puzzle relembra composições antigas da banda, encontradas nos primeiros álbuns. A letra é um libelo sobre a confusão de fatos, papéis, e do valor da verdade que inunda o mundo contemporâneo. O pai de família é bandido e a filha do bispo (anglicano pode procriar!) passa incólume pelo vagabundo estirado na porta da casa. Outra vez, Jones faz a diferença na slide guitar e no ligeiro mellotron. O baixo de Wyman é espetacular e faz uma dupla imbatível com a bateria repetitiva, precisa e fundamental de Watts.

Já Street Figthing Man trata-se de uma letra política mostrando bem o que acontecia na Europa e no mundo naquele ano, em todos os lugares, exceto na sonolenta Londres. É uma de minhas musicas favoritas:

Ev'rywhere I hear the sound of marching, charging feet, boy
'Cause summer's here and the time is right for fighting in the street,
oh, boy
But what can a poor boy do
Except to sing for a rock'n'roll band
'Cause in sleepy London town
There's just no place for a street fighting man
No

Hey! Think the time is right for a palace revolution
But where I live the game to play is compromise solution
Well, then what can a poor boy do
Except to sing for a rock'n'roll band
'Cause in sleepy London town
There's just no place for a street fighting man
No

Uma das melhores composições de Jagger – com uma interpretação fenomenalmente contagiante – e Richards esnobando na guitarra acústica. Há ainda o piano de Hopkins e a cítara de Jones. A bateria, seguindo a tradição de Watts, é simples, precisa, casamento indissolúvel com o baixo de Wyman.

Stray Cat Blues é um rock puro, que, aliado a uma letra que faz os mais conservadores ficarem de cabelo em pé, disputa palmo a palmo com menos de meia dúzia de outras músicas a síntese do mais genuíno rock and roll. Fala sobre sexo com uma garota de quinze anos que, por sua vez, tem uma namorada. A execução é barulhenta e estridente e a slide guitar de Jones está obscurecida pelas guitarras de Richards. A música tem uma parte final instrumental, adornada pelas congas de Dijon num ménage a trois inesquecível com a bateria de Watts e o baixo de Wyman.

O álbum finaliza com a magistral Salt Of The Earth. Melancólica, arrebatadora, estupenda. Um dueto entre Richards e Jagger e coral ao fundo. É com ela que os Stones iniciam uma série brilhante de encerramentos de álbum, depois viria You Can´t Always Get What You Want em Let It Bleed e Moonlight Mile em Sticky Fingers. Os melhores encerramentos que eu conheço.

Beggars Banquet

Data de lançamento: 06/12/1968

01. Sympathy For The Devil
02. No Expectations
03. Dear Doctor
04. Parachute Woman
05. Jig-Saw Puzzle
06. Street Fighting Man
07. Prodigal Son
08. Stray Cat Blues
09. Factory Girl

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

A “crise” e as tragédias

Há dias em minha vida que pareço acordar mais indignado, ou revoltado, daquilo que já o sou normalmente. Então me apego a questionamentos nada inúteis, porém não tão ressonantes nos dias atuais, que por sua vez me levam a outras indagações.

Hoje duas coisas em especial me atormentaram boa parte do dia e da noite.

Gostar-me-ia de dialogar com Max Weber e, mostrarmos um ao outro que não existe sociedade “ideal” dentro do capitalismo “ideal”, ainda que o diálogo fosse bem mais proveitoso para minha pessoa, naturalmente. Afinal onde está a tão falada ética e moral capitalista quando os detentores do capital, e conseqüentemente do poder econômico, na pressa de livrarem seu sagrado lucro cortam despesas, ou seja, realizam demissões em massa? Qual a real justificativa para tanto, senão a ignóbil sordidez embutida no desejo, nada oculto, de manter a relação vantajosa para o capital ante o trabalho. A burguesia não pretende minimizar, ou diminuir, a sua proveitosa percentagem de lucros e dividendos. Não importa nessa hora o sem número de trabalhadores desempregados. Nada que não lhes atinja diretamente pode importar. O prato de comida vazio do trabalhador desempregado, lançado ao exército de reserva, serve apenas para justificar a “perda momentânea” do empresário, pois esse em algum tempo retomará seu espírito empreendedor. Enquanto isso a “crise” cumpri seu papel, fazer com que os trabalhadores sofram suas conseqüências através do achatamento de salários e a precarização das condições de trabalho. Portanto a “crise” funciona como “normalizadora”, restabelecendo uma correlação entre capital e trabalho vantajosa ao primeiro.

Nessa quinta feira foi anunciada a enésima medida tomada pelos governos estadunidense e europeus, objetivando conter a crise que se alastra e toma magnitude antes inimaginável. Nos EEUU as três grandes montadoras de veículos – General Motors, Ford e Chrysler – aceitaram, de bom grado, a supervisão estatal como contrapartida por um empréstimo na casa dos bilhões de dólares. O mesmo Estado defenestrado nos anos do neoliberalismo galopante, agora toma ares messiânicos, torna-se o redentor prestes a salvar empresas, bancos, enfim todo o sistema da bancarrota. Na verdade o que os idolatras do deus Mercado esperam é que, impingidos pela lepra do prejuízo (?), sejam limpos pelo Estado. Não escondem a desfaçatez e o cinismo, não gostam do Estado, enxergam nele o ranço do atraso e as amarras para uma política econômica pura, para o liberalismo extremado, todavia são obrigados a conviver com ele, pois nas horas de agrura, será sempre ele há salvar e prover-lhes.

O pior dessa crise é a lamentável constatação que sua gênese está no sistema hipotecário estadunidense, onde banqueiros emprestaram dinheiro a rodo a quem não tinha condições de honrar dívidas, especularam com o mercado imobiliário de forma escandalosa e irresponsável. No final das contas safam-se e a perdas são cobertas pelo Estado. No entanto o sistema de crédito entra em colapso levando a reboque, até agora, parte do sistema produtivo. Em suma, a especulação deu o nó no setor produtivo.

Alguns números mostram que as instituições financeiras já receberam por cada dólar que tinham em depósito antes do deflagrar da crise o equivalente a “sessenta” dólares. Essa quantia, gasta por governos nacionais a fim de sanar tais instituições, já ultrapassou, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), três vezes o valor necessário para erradicar a fome no planeta. Não obstante fica patente a correlação de força entre famélicos e esquálidos perante o poder financeiro, pois os primeiros são desprovidos de recursos destinados a financiar campanhas eleitorais e lobbies.

O segundo tema a atormentar-me nesse dia de céu claro e pensamento turvo é quanto aos flagelados em Santa Catarina. Quando da passagem do furacão Katrina, o editor da revista Caros Amigos, José Arbex Júnior, um dos melhores jornalistas e analistas políticos do Brasil, denunciou o governo do cowboy Bush por exacerbação do neoliberalismo, pois ali, aquele nefasto governo negligenciou e omitiu amparo a população flagelada por simplesmente ignorar a prerrogativa do Estado em requisitar hotéis e clínicas particulares para abrigar e atender os atingidos pela catástrofe “natural”. Agora vejo os mesmos tipos de catástrofe assolarem o sul do Brasil. A natural e a letargia governamental.

Flagelados amontoados aos milhares de maneira precária em escolas e ginásios públicos e com atendimento médico insuficiente. Qual a justificativa palatável para tal calamidade, numa região conhecida nacionalmente por seu forte complexo turístico-hoteleiro. E quanto às clínicas particulares exclusivas para quem pode pagar por saúde – um direito básico garantido em nossa Constituição. No mais o governo poderia ainda requisitar ônibus, caminhões, barcos, aviões, helicópteros, enfim, todo o tipo de veiculo e transporte que achar necessário para a retirada e socorro das famílias dos locais de mais difícil acesso. Tudo isso respaldado por nossa Carta Magna,e, sobretudo, pelo interesse coletivo. Interesse pelo qual foi eleito e tem como dever garantir.

No mais, sabe-se que a especulação (insanidade) imobiliária afugentou – quase sempre com a anuência do Poder Público – parte da população para encostas ou margens de rios. Isso somado aos desmatamentos, cortes, aterros, disposição viária e a sanha por acumulação de riqueza desmatando áreas verdes que serviam como proteção natural contra deslizamentos, confluiu para uma tragédia evitável. Sem contar que há 25 anos tragédia similar recaiu sobre a mesma região, qual foi então a política preventiva adotada pelo Poder Público? Vemos agora apenas medidas paliativas e a solidariedade do povo brasileiro.Desafortunadamente, nada além.

Claro, esperar da mídia nativa questionamentos dessa envergadura pondo em xeque o direito à propriedade privada, causando-lhe dores no fígado, é pedir demais. Mas, o espantoso é não ver nenhum movimento social levantar tais questões, e não digo nem como reivindicação, mas como pressão e argumentação em defesa dos desabrigados, no intuito de defender o interesse de toda a população e da na não repetição dos fatos recém ocorridos.

Gostaria de deitar-me essa noite sabendo o que pensam nessas circunstâncias o governador Luiz Henrique da Silveira, a bancada catarinense na Assembléia Legislativa, na Câmara dos Deputados, no Senado Federal, além, obviamente, do Presidente Luiz Inácio lula da Silva.

Com certeza ouviria, desses ilustres representantes dos Poderes Executivo e Legislativo, uma resposta vaga fundamentada em algum engodo ou sofisma. Nada que me chocasse, por já esperá-la de antemão. Entretanto, também nada que aliviasse de fato o sentimento de impotência presente naqueles duplamente flagelados, pela natureza e pelo sistema.