sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

INFORME

Em Poços de Caldas (MG), no próximo sábado, estará acontecendo uma manifestação pela paz em solidariedade à Palestina, em frente ao Unibanco, na Rua Assis Figueiredo (principal rua da cidade), entre às 10h00min da manhã até às 19h00min.

Durante o ato estarão sendo exibidas, em dois cartazes, imagens da Palestina, tanto as que mostram seus principais pontos turísticos como as que mostram os horrores sofridos pelo povo palestino em consequência do belicismo israelense.

Também serão recolhidas assinaturas em um abaixo-assinado pedindo o reconhecimento da existência do Estado Palestino livre e soberano, assim como a não implantação do Tratado de Livre Comércio entre Israel e Mercosul.

Apóiam e organizam o ato público:

SITIAL - SINDTÊXTIL - PT - PSB - PCB - PCdoB - UJS - ACJC.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Brasil vs Itália

Celeuma injustificada a criada pelo “caso Battisti” e a atitude de bufão tomada pelo governo chefiado por Silvio Berlusconi. Pelo menos aproveitei a chance para estudar sobre o tema antes de me arriscar a escrever algumas linhas. A maioria dos analistas não faz segredo da passionalidade de suas analises e transformaram o caso numa disputa partidária, ou pior, futebolística.

Para adentrarmos em tal terreno pantanoso é preciso deixar claro que o PIG se posicionou nessa contenda a favor da Itália, isso não é espanto, metamorfoseando uma questão que sequer é diplomática, mas sim de natureza jurídica, em embate ideológico. Não tem poupado esforços para comparar o caso Battisti ao dos pugilistas cubanos que após o Pan do Rio em 2007 foram mandados de volta a Cuba. Nesse caso criam descaradamente uma situação que nunca existiu. Na realidade os dois pugilistas foram ludibriados por um empresário que lhes garantiu, caso abandonassem a delegação de seu país, um bom contrato. Ao perceberem que tinham caído no conto do vigário decidiram retornar a Cuba. Em momento algum foi provado que ambos, ou um que fosse, pediram asilo político ao Brasil. E aqui cabe um adendo, a Polícia Federal teria tentado demovê-los da decisão de retorno a Ilha.

Já outra parcela da imprensa empresarial, que chamarei de imprensa “progressista” – reparem bem no termo, progressista, não esquerdista e, como é empresarial, nunca pôde ser considerada alternativa –, também se apoderou da questão e aproveitou para esmiuçar o governo Lula e ... eureca!!! descobriu que o governo Lula não é de esquerda. Essa parcela tem como veículo mor a revista Carta Capital, fundada e dirigida pelo ítalo-brasileiro Mino Carta, que já declarou apoiou incondicional a pretensão italiana de ter Battisti de volta a Bota. Para essa imprensa progressista é contraditório dar asilo político a um ex-terrorista de esquerda e ao mesmo tempo não mover palha alguma para julgar os terroristas de direita que agiram em nome do estado durante a Ditadura Militar.

Pois bem. No imbróglio do caso Battisti alguns pontos têm que ser rememorados e esclarecidos para não cairmos em contradição e nos ajudar a elucidar os fatos.

Muito embora o Estado italiano na década de 1970 e parte da seguinte estivesse em “guerra” contra o “terrorismo de esquerda” – não gosto dos termos entre aspas – não havia naquela península estado de exceção. A Itália combateu os “terroristas” sem precisar alterar sua Constituição. Portanto nosso ministro da Justiça, Tarso genro, mostrou-se equivocado ao afirmar que havia um estado de exceção na Itália quando Battisti foi julgado e condenado.

Tarso Genro também se equivocou ao comparar o caso de Cesare Battisti ao de Salvador Cacciola. Cacciola depois de dar um tombo da ordem de R$1,5 bilhão no Banco Central brasileiro e ter conseguido junto ao STF, através do ministro Marco Aurélio de Melo, um habeas corpus, mudou de mala e cuia para a Itália. Após o que teve a extradição negada por diversas vezes por um motivo simples: Cacciola possuí cidadania italiana. A justiça italiana agiu de forma correta ao não extraditar um concidadão – pelo menos de acordo com a jurisprudência internacional. Nenhum país extradita seus cidadãos. Salvo exceção feita à Colômbia que os extradita para os EE.UU.em caso de acusação de narcotráfico.

Dito isso vem agora outros fatos.

O fato da Itália não viver em estado de exceção durante as décadas de 1970-80 é pouco para concluir que o julgamento de Battisti não tenha sofrido inúmeros vícios.

Inicialmente condenado a 12 anos e 10 meses de reclusão e cinco meses de detenção pelos crimes de uso de documento falso, porte de documento falso, posse de espelhos para falsificação de documentos e participação em organização criminosa. Essa condenação transitou em julgado em 20 de dezembro de 1984. Battisti fugiu da Itália indo morar no México e depois na França. Após 10 anos sofreria outro processo, esse à revelia. O fato marcante que levou a justiça italiana a outro processo e julgamento foi à confissão sob forma de delação premiada de Pietro Mutti. Os advogados de Battisti no "processo reaberto" foram presos, e o Estado nomeou outros advogados para defender Battisti. A defesa, no entanto, foi feita com base em procuração falsificada. Exame grafotécnico posterior comprova isso. O processo resulta em condenação à prisão perpétua sem direito a luz solar. Tudo isso apenas com base no depoimento do "arrependido" Mutti. Chegou-se ao cúmulo de condená-lo por dois homicídios ocorridos no mesmo dia, quase na mesma hora, em cidades separadas por centenas de quilômetros (Udine e Milão).

Aliás, a justiça italiana durante as década de 1980 tornou-se celebre pelos excessos cometidos contra réus que se supunham integrantes de organizações terroristas. Claramente uma perseguição política.

Posto isso, o Brasil concedeu asilo a Cesare Battisi e não o extraditou de volta a sua terra natal baseando-se numa política de estado e não de governo como muitos “analistas” insistem em repetir. Segundo essa política de estado o Brasil dá asilo a estrangeiros que sejam alvo de perseguições de natureza política. Por sua vez essa política de estado está amparada na tradição de nossas instituições e na legislação nacional. A própria Procuradoria Geral da República se pronunciou em prol da justeza técnica da decisão do ministro Tarso Genro.

Há ainda o fato de o Brasil extraditar estrangeiros acusados de crime comum desde que o país requerente se comprometa a aplicar pena compatível com as leis existentes aqui. Portanto mesmo que o Brasil tratasse Battisti como criminoso comum restaria a Itália se comprometer em rever a pena aplicada, pois a legislação brasileira não prevê prisão perpétua sem direito a luz solar. Todavia a Itália permanece imutável na decisão de punir exemplarmente Battisti.

O que querem o Estado italiano, o PIG e parte da imprensa progressista, que rasguemos nossa legislação e nos humilhemos diante da Itália?

Ontem à noite minha insônia me pregou das suas. Ao mudar aleatoriamente de canal de TV ouvi de um desses “analistas” num telejornal noturno – não vale à pena gastar meu tempo escrevendo o nome do “analista” e nem do telejornal – afirmando que o Brasil com essa decisão tornava-se uma republiqueta de bananas. Republiqueta de bananas será caso nos curvemos ao desejo da Itália.

No mais essa discussão só tomou corpo na Bota porque está sendo usada para distrair a atenção dos italianos de problemas mais complexos. A Itália enfrenta uma crise política de tal porte que não consegue se afastar do caricato Berlusconi, sempre chamado de volta ao poder por falta de alternativas concretas. Temos também a crise do modelo econômico por décadas defendido por Berlusconi e seus pares, sendo que o primeiro ainda flerta com o fascismo. Na península Itálica o crescimento do PIB em 2007 foi de apenas 1,9%, abaixo do registrado nos demais países da Zona do Euro, que ficou em 2,5% e mais distante ainda da média da União Européia, 2,8%. Há ainda a xenofobia que volta com força ao Velho Continente usando principalmente árabes, latino-americanos e africanos como bodes expiatórios para a mazela social criada por anos a fio de neoliberalismo.

É nesse contexto que se enquadra a teimosia italiana em não reconhecer a soberania brasileira e a leva a gestos bufões como chamar seu embaixador a Roma ou aventar a hipótese de cancelar o amistoso caça-níqueis entre as seleções de futebol dos dois países . A Itália do governo Berlusconi no seu arrombo reacionário vê o Brasil como um país subdesenvolvido que se recusa a entregar-lhe a cabeça dum representante de ideologia contrária. Nada mais, nada menos.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Quinta –feira, 22 de janeiro de 2009, uma data que entra para a História.

Obama avanzó con el cierre de Guantánamo

Ernesto Semán para o diário argentino Página 12.

“Barack Obama ordenó ayer suspender los juicios contra 21 detenidos en Guantánamo, poniendo en marcha así el cierre de uno de los pocos campos de concentración públicamente reconocidos por un gobierno democrático. En lo que fue su primera medida como presidente de los Estados Unidos, Obama dio el paso más drástico en dirección opuesta a la de la administración de George W. Bush. A nivel mundial, el cierre de Guantánamo pone a Estados Unidos en un status jurídico de igualdad con el resto de las naciones. Pero a nivel interno, abre un proceso de consecuencias difíciles de prever, en la medida en que pone funcionarios del gobierno anterior a un paso de ser acusados por violaciones a los derechos humanos, algo que no es la norma en las transiciones políticas norteamericanas.”

Continue lendo em:

http://www.pagina12.com.ar/diario/elmundo/4-118703-2009-01-22.html

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Réplica ao Senador Demóstenes Torres

O senador Demóstenes Torres (Demo/GO), talvez entediado pelo recesso de início de ano e não encontrando explicação plausível sobre o suposto grampo do qual teria sido vítima ao lado de Gilmar Mendes – o único grampo que se tem notícia no mundo em que o conteúdo vazado corrobora com a imagem de homem probo da(s) vitimas(s) –, nos brindou semana passada com um artigo publicado no blog do jornalista Ricardo Noblat.

Noblat, para quem não sabe, é um jornalista calejado e bem conhecido em Brasília. Tem sua caneta, ou teclado, sempre a disposição dos interesses dos patrões, a família Marinho. Há não muito tempo, em 2007, veio à tona, não pelo blog do funcionário dos Marinho, a ligação do jornalista com o escândalo de desvio de verbas que envolvem o ex-ministro cardosista Raul Jungmann e a empresa da mulher do próprio Noblat. Em seu blog, obviamente hospedado na Globo.com, além do político goiano podemos encontrar Lúcia Hipólito e Ateneia Feijó, duas neoliberais de carteirinha e figuras que passeiam com desenvoltura entre os círculos demo-tucanos vomitando preconceito e intolerância social. Para passar ao grande público um ar de “ecletismo”, Noblat dá espaço a outras personalidades como o ex-ministro Cristovam Buarque – no que Buarque se diferencia substancialmente do pensamento neoliberal? – e Rui Falcão, candidato a vice-prefeito de São Paulo na chapa de Marta Suplicy em 2004.

Separei algumas passagens do artigo a seguir as quais vem meus comentários.


(...) A turma do governo realmente trabalha para ficar no poder além de 2010 com o fervor utilizado, inclusive por esses mesmos personagens, para tentar encurtar o mandato de presidentes anteriores (...)

O “presidentes anteriores” ao qual se refere Demóstenes Torres tem nome e sobrenome, chama-se Fernando Henrique Cardoso.

Em 1999 FF.HH. iniciava o segundo mandato em tais circunstâncias:

a) dois anos antes dera um golpe branco e fez aprovar através da compra de votos a emenda constitucional da reeleição. Vale lembrar que o Brasil não possuía tradição alguma em tal instituição. A única experiência desse tipo no Brasil foi durante a República Velha – um período historicamente conhecido pela falta de instituições democráticas, pela dominação oligárquica e pelo coronelismo, além claro, do voto de cabresto – ainda assim num único estado da federação, o Rio Grande do Sul. Lá, Borges de Medeiros a partir de 1913 se reelegeu até eclodir a revolução de 1923, esta findada com o tratado de Pedras Altas onde ficou acertado o fim das reeleições naquela unidade federativa. O jornalista Sebastião Nery em seu livro “A eleição da reeleição”, narra que um projeto de reeleição foi apresentado ao ditador Garrastazu Médici por um grupo de militares e políticos civis, e até o ditador a rechaçou.

b) FF.HH. abusou do estelionato eleitoral ao manter a paridade cambial. Após o resultado das urnas, reeleição garantida no primeiro turno, deu o sinal verde para o Banco Central abolir a paridade e o que se viu a seguir foi a economia brasileira entrar em recessão, a quebra de várias empresas e o desemprego subir a estratosfera. Fomos jogados a uma calamidade social-econômica anunciada e alertada anteriormente por economistas e analistas não alinhados com o entreguismo, marca forte do período FF.HH.

c) denúncias respingaram diretamente sobre o presidente quando veio a público o conteúdo de conversas telefônicas entre o então Ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros e o presidente do BNDES André Lara Rezende. Nessas conversas o ministro, um dos gurus econômicos de FF.HH; dizia com todas as palavras que estavam “no limite da irresponsabilidade” e fazia menção ao Presidente da República. As conversas eram acerca do processo de privatização do sistema Telebrás – ainda no primeiro mandato tucano –, dando nitidez ao caráter fraudulento daquele processo onde um grupo liderado por Daniel Dantas e outro liderado por Carlos Jereissati, irmão do à época governador cearense Tasso Jereissati, foram beneficiados através da Previ – fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Em suma, integrantes do governo manipularam os recursos de fundos de pensão, em especial da Previ, para que um grupo de empresários, sem dinheiro, comprasse o mais extenso e bem estruturado sistema de telecomunicações do mundo.

Portanto tenho hoje a mesma opinião que tinha naquele momento da Historia do Brasil. FF.HH. não reunia condições morais e nem capital político, ainda viu o apoio popular se esvair, para continuar a frente da Presidência da Republica. A forma como entregou o Brasil a Lula em 2002 só faz comprovar essa tese.

Sobre um grupo político, no caso especifico uma parcela do PT e aliados, lutar para manter-se no poder, isso não pode ser visto como pecado capital ou crime de qualquer natureza. É parte inerente da chamada democracia jeffersoniana, ou para usar um termo mais comum, liberal-burguesa, os partidos buscarem o poder, assim como procurarem manter-se nele caso já o tenha conquistado.

Peguemos exemplos simples oriundos de países com maior tradição nesse tipo de “democracia”. Na França Jacques Chirac esteve no poder por doze anos ao fim do qual elegeu seu sucessor Nicolas Sarkozy (ex-ministro do Interior). Na Inglaterra Tony Blair chegou ao poder em 1997 lá ficando até maio de 2007 e deixando como sucessor seu ministro da Fazenda Gordon Brown. Nos EE.UU; o berço de tal democracia e certamente o país com as instituições liberais mais fortes e calcadas no seio da sociedade, recentemente os republicanos não abdicaram de indicar um candidato à Casa Branca mesmo com o partido estando a oito anos no poder com o cowboy Bush. Clinton ao final de seu segundo mandato também se esforçou para eleger All Gore, então vice-presidente. Antes disso os republicanos, com Reagan e Bush pai, haviam ficado doze anos ininterruptos na Casa Branca e não ficaram mais porque Bush pai não se reelegeu.

Voltando a política doméstica, quando José Serra terminar seu mandato como governador de São Paulo terão se passados exatos dezesseis anos de tucanos a frente do Palácio dos Bandeirantes. Não vi, ouvi ou li nada que desqualificasse “institucionalmente” a pretensão tucana de eleger, ou quem sabe reeleger, o próximo governador paulista.


(...) Dia sim, e outro também, o presidente elogia Hugo Chávez, que governa sem oposição e sem o menor interesse em deixar o comando da Venezuela (...)

O fato de Lula tanto elogiar Hugo Chávez seria algo normalíssimo e corriqueiro na cabeça de qualquer cidadão latino-americano. Afinal ambos sabidamente além de governarem países fronteiriços, têm, no mínimo uma visão, de América Latina bastante próxima – infelizmente nunca semelhante. Todavia para o senador goiano, bom mesmo seria Lula elogiar Bush, Olmert, Berlusconi, Uribe e outros dessa mesma patota. Quem sabe o ex-premiê austríaco Jörg Haider, dirigente ultra-direitista.

No mais ao afirmar que Chávez governa sem oposição Demóstenes usa do subterfúgio da desinformação para formar a opinião dos desavisados. Em dezembro último a Venezuela passou por eleições nas quais estavam em disputa praticamente todos os governos regionais e onde a oposição levou o governo da capital e mais cinco estados.

Criticar Chávez por tentar manter-se no poder, como está implícito no artigo, é descaradamente usar dois pesos e duas medidas. Pois o senador goiano não faz criticas tão severas a Alvaro Uribe que, mesmo após a Suprema Corte colombiana dar por inconstitucional, está numa cruzada em prol da re-reeleição. E por que cargas d água Demóstenes não fala palavra alguma sobre Michael Bloomberg o prefeito de Nova Iorque que acaba de aprovar no Conselho da Cidade (equivalente à Câmara de Vereadores no Brasil) uma medida que lhe permite concorrer a um terceiro mandato consecutivo. Por acaso não é Nova Iorque a materialização do “sonho americano”, a cidade referencia dos EE.UU. e do “american way of life”. Nova Iorque não está no seio do país que é berço e farol da democracia jeffersoniana. Por quais interesses atende Demóstenes ao fazer ouvidos moucos para a questão nova-iorquina e colombiana e dar tanta ênfase a Hugo Chávez a quem chama de coronel?

Novamente falando do narco-governo de Uribe, a quem Demóstenes Torres poupa criticas e tece elogios, cabe lembrar que o Congresso estadunidense ainda não aprovou o TLC, acordo de livre comércio entre EE.UU. e Colômbia, elaborado pela Casa Branca. Os congressistas, em especial os democratas, têm como um dos argumentos o nível de violência contra integrantes de sindicatos na Colômbia. Nancy Pelosi, Presidente da Câmara dos Representantes, criticou o governo (Bush) por apresentar a proposta antes de tratar de pontos importantes, incluindo como diminuir os ataques contra trabalhadores organizados na Colômbia. Será que os congressistas democratas são na verdade agentes das FARC?


(...) Com popularidade semelhante à da administração de Saddam Hussein pouco antes de ele se esconder em um buraco no Iraque, o governo foi incapaz de produzir um candidato competitivo para conservar o cargo. Assim, ao menos um setor da indústria não pode reclamar, o de fabricação de nomes para ser o chapa-branca na próxima eleição. Primeiro, foi José Dirceu de Oliveira, pré-candidato a manter o reino até ser tragado pelo caso Waldomiro e expelido pelo mensalão. Depois, falou-se no deputado Ciro Gomes, esquecido por ter um "defeito" irrecuperável na avaliação do comissariado: não é do PT (...) O desfile passou ainda pelos ministros Patrus Ananias e Tarso Genro, até desaguar na ocupante da Casa Civil, Dilma Roussef (...)

A Comparação da popularidade de Lula com a de Saddam Hussein é desprovida de fundamento lógico e se mostra tão vazia quanto esdrúxula. Analogia típica de alguém cujo âmago está acometido pelo despeito e inveja. Como se dissesse, desqualifico o governo porque não gosto (tenho inveja) dele e pronto.

É obvio que existem motivos para criticar o governo Lula: a não restrição a remessa de valores para o exterior – ainda mais num momento de crise aguda como este –, o incentivo ao agronegócio, a desnacionalização de terras brasileiras, a manutenção da política pró especulação financeira na Bovespa e tantas outras coisas mais. Acontece o seguinte, isso Demóstenes não pode criticar, pois é exatamente a cartilha neoliberal que ele prega.

O fato da mídia, e do próprio PT, ter aventado alguns nomes para a disputa presidencial de 2010 com o apoio do Presidente Lula é algo tão corriqueiro quanto dobrar uma esquina. Não tenho dúvidas que José Dirceu seria o nome natural do partido caso não tivesse caído nas armadilhas de sua própria vaidade para depois sofrer uma enorme perseguição política. O mensalão, que até hoje é pobre em provas contundentes, levou Dirceu para o olho do furacão de uma crise cíclica. Dirceu teve o mandato de deputado cassado mesmo estando à época num cargo do executivo, era Ministro-Chefe do Gabinete Civil. Assim, a oposição farisaica transformou o presidencialismo em parlamentarismo. Já Patrus Ananias e Tarso Genro são nomes, a meu ver, dentro da atual conjuntura política nacional, preparados para a presidência da República.

Agora Ciro Gomes é realmente difícil de engolir. Existe uma rixa grande entre os setores mais populares do PT e ele bem antes do ex-presidenciável, literalmente, beijar a mão ACM e ter como coordenador de sua campanha Her Jorge Bornhausen durante a campanha de 2002. Aliás, ACM e Bornhausen são ícones do Demo, partido de Demóstenes.

Noves fora não sobra nada do artigo do senador goiano. Quem sabe nessa semana ele se preocupe mais em tratar de assuntos complexos como a sede de lucro do empresariado nacional e o custo que isso significa para os trabalhadores brasileiros ao invés de ficar fazendo a habitual política comezinha. Deixo como sugestão a Demóstenes Torres que leia um pouco de Antonio Gramsci. Para o filosofo e líder comunista italiano a “grande política” é aquela que põe em questão as estruturas de uma sociedade, e a “pequena política”, a que se limita a administrar o existente.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Walden Bello: novo consenso capitalista está em gestação

Walden Bello - Sin Permiso
Não é surpreendente que a rápida deterioração da economia global, combinada com a chegada à presidência dos Estados Unidos de um liberal de esquerda afroamericano, tenha despertado em milhões de pessoas a esperança de que o mundo se acha no umbral de uma nova era. É verdade que algumas das escolhas recentes de Obama – particularmente, a do ex-secretário do Tesouro, Larry Summers, para dirigir o Conselho Econômico Nacional, a de Tim Getihner, chefe do Comitê do Federal Reserve de Nova York, para desempenhar o cargo de secretário do Tesouro, e a do antigo prefeito de Dallas, Ron Kirk, para o Comércio, despertaram certo ceticismo. Mas a sensação de que as vetustas fórmulas neoliberais estão totalmente desacreditadas tem convencido a muitos de que a nova liderança democrata na maior economia do planeta romperá com as políticas fundamentalistas de mercado hegemônicas desde o início dos anos 80.

Uma questão importante passa por saber até que ponto a ruptura com o neoliberalismo será decisiva e definitiva. No entanto, outras questões para o coração mesmo do capitalismo. A propriedade pública, a intervenção e o controle serão exercidas simplesmente para estabilizar o capitalismo e, logo em seguida, devolver o controle às elites empresariais? Veremos uma segunda rodada de capitalismo keynesiano, na qual o Estado, as elites empresariais e as organizações sindicais colaborarão a partir de uma base de política industrial, crescimento e salários elevados (com o acréscimo de uma dimensão ecológica)? Ou assistiremos ao começo de uma série de alterações fundamentais na propriedade e no controle da economia em uma direção mais popular? O sistema global do capitalismo estabelece, certamente, limites ao alcance das reformas, mas em nenhum outro momento da última metade do século passado, esses limites foram tão fluidos e incertos.

O presidente francês Nicolas Sarkozy já fez sua aposta: após declarar que “o capitalismo laissez-faire morreu”, criou um fundo de investimentos estratégicos de 20 bilhões de euros para promover a inovação tecnológica, manter em mãos francesas os setores industriais avançados e conservar postos de trabalho. “No dia em que deixarmos de construir trens, aviões, automóveis e barcos, o que restará da economia francesa”, perguntava-se retoricamente há poucos dias. “Lembranças. Mas eu não quero que a França se converta em uma mera reserva turística”. Esse tipo de política industrial agressiva, pensada para a classe operária branca tradicional, poderia andar de mãos dadas com as políticas antiimigratórias excludentes defendidas pelo presidente francês.

Socialdemocracia global
No entanto, um novo keynesianismo nacional confirme as linhas propostas por Sarkozy, não é a única alternativa de que dispõem as elites. Dada a necessidade de legitimação global para promover seus interesses em um mundo cujo equilíbrio de poder está se deslocando para o Sul, pode ser mais atrativo para as elites ocidentais optar por uma mistura da socialdemocracia européia e do liberalismo New Deal que poderíamos chamar de “Socialdemocracia Global” (SDG).

Antes mesmo que se desenvolvesse por completo a atual crise financeira, os partidários da SDG já tinham começado a apontá-la como uma alternativa para a globalização neoliberal, respondendo às inquietudes e às pressões provocadas por esta última. Uma personalidade vinculada a SDG é o atual primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, que encabeçou a resposta européia ao desmonte financeiro por meio da nacionalização parcial dos bancos. Considerado por muitos como o padrinho da campanha “Convertamos a pobreza em história” no Reino Unido, Brown, como chanceler britânico das finanças, propôs o que chamou de “capitalismo fundado na aliança” entre o mercado e as instituições estatais, capaz de reproduzir em escala global o que, segundo ele, teria feito Franklin Delano Roosevelt em escala econômica nacional, a saber: “garantir os lucros gerados pelo mercado e, ao mesmo tempo, domar seus excessos”. Tratar-se-ia, segundo Brown, de um sistema que “incorporaria todos os benefícios dos mercados e dos fluxos de capitais globais, minimizaria os riscos de crises e desmoronamentos, maximizaria as oportunidades de todos e sustentaria os mais vulneráveis. Significaria, em uma palavra, restaurar, em escala econômica mundial, o empenho e os elevados ideais públicos”.

Na articulação de um discurso socialdemocrata global uniu-se a Brown um heterogêneo grupo formado, entre outros, pelo economista Jeffrey Sachs, por George Soros, pelo antigo secretário-geral da ONU Kofi Annan, pelo sociólogo David Held, pelo prêmio Nobel Joseph Stiglitz e até por Bill Gates. Há entre eles diferenças de matiz, mas a direção de suas perspectivas é a mesma: buscar uma ordem social reformada e obter a revitalização do consenso em torno do capitalismo global.

Entre as principais posições defendidas pelos partidários da SDG destacam-se as seguintes:

A globalização é essencialmente benéfica para o mundo; os neoliberais simplesmente arruinaram a gestão da mesma e a tarefa de vendê-la à opinião pública.

É urgente salvar, resgatar a globalização, arrancando-a das mãos neoliberais; a globalização é irreversível e já poderia ter iniciado o processo de reversão.

O crescimento e a equidade podem entrar em conflito, caso no qual é preciso dar prioridade à equidade.

É possível que o livre comércio não seja benéfico no longo prazo, e é possível que mantenha a maioria na pobreza; por isso, é importante que os acordos comerciais estejam sujeitos a condições sociais e ambientais.

É preciso evitar o unilateralismo e empreender reformas fundamentais das instituições e dos acordos multilaterais, um processo que poderia levar à liquidação ou à neutralização de vários deles, como o Acordo Comercial para os Direitos de Propriedade Intelectual (TRIP, em sua sigla em inglês) estabelecido no marco da Organização Mundial de Comércio (OMC).
A integração social global, ou a redução da desigualdade dentro das nações e entre elas, deve andar de mãos dadas com a integração do mercado global.

A dívida global dos países em desenvolvimento deve ser cancelada, ou ao menos drasticamente reduzida, a fim de que os recursos possam ser utilizados para estimular a economia local, contribuindo assim para a recuperação da economia global.

A pobreza e a degradação ambiental são tão graves que é preciso implementar um programa massivo, uma espécie de “Plano Marshall” do Norte para as nações do Sul no marco dos “Objetivos do Desenvolvimento do Milênio”.

É preciso lançar uma “Segunda Revolução Verde”, particularmente na África, por meio da adoção generalizada de sementes geneticamente modificadas.

É preciso dedicar grandes investimentos para colocar a economia global em caminho ambientalmente mais sustentável; os governos devem encabeçar esses programas (“keinesianismo verde” ou “capitalismo verde”).

As ações militares para resolver problemas devem ser preteridas em favor da diplomacia e do “poder brando”, mas devem manter-se as intervenções militares humanitárias em situações de genocídio.

Os limites da Socialdemocracia Global
A Socialdemocracia Global não mereceu até agora muita discussão crítica, talvez porque o grosso dos progressistas siga empenhado na última guerra, isto é, a guerra contra o neoliberalismo. Mas fazer sua crítica é urgente, e não só porque a SDG é o candidato mais provável à sucessão do neoliberalismo. Mais importante ainda é o fato de que, ainda que tenha alguns elementos positivos, tem também, como seu antecessor, o paradigma socialdemocrata de corte keynesiano, traços bastante problemáticos.

Comecemos por ressaltar os problemas que apresentam quatro elementos centrais da perspectiva SDG.

Primeiro: a SDG compartilha com o neoliberalismo o viés favorável à globalização, diferenciando-se somente por sua promessa de promover uma globalização melhor que a dos neoliberais. Isso, contudo, importa tanto como decidir que basta acrescentar a dimensão da “integração social global” para que um processo que é intrinsecamente destruidor, tanto social como ecologicamente, resulte digerível a aceitável. A SDG parte do pressuposto de que os povos querem realmente fazer parte de uma economia global funcionalmente integrada na qual desapareçam as barreiras entre o nacional e o internacional. No entanto, cabe perguntar, os povos não prefeririam fazer parte de economias submetidas a controle local? Não é mais certo dizer que os povos prefeririam impor limites aos caprichos e extravagâncias da economia internacional? Na realidade, a atual trajetória descendente das economias interconectadas confirma a validade de uma das críticas básicas ao processo de globalização por parte do movimento antiglobalização.

Segundo: a SDG compartilha com o neoliberalismo a preferência pelo mercado como mecanismo principal de produção, distribuição e consumo, diferenciando-se fundamentalmente por sua insistência no papel do Estado para corrigir as falhas do mercado. O tipo de globalização de que o mundo necessita, segundo Jeffrey Sachs em seu livro “The End of Poverty” (“O Fim da Pobreza”), passaria por “represar...a formidável energia do comércio e do investimento, reconhecendo e corrigindo suas limitações mediante uma ação coletiva compensatória”. Isso é muito distinto de sustentar que a cidadania e a sociedade civil devem tomar as decisões econômicas fundamentais, limitando-se o mercado e a burocracia estatal a serem mecanismos de execução da tomada democrática de decisões.

Terceiro: a SDG é um projeto tecnocrático, com especialistas formulando e executando reformas sociais desde cima, não um projeto participativo no qual as iniciativas são tomadas de baixo para cima.

E quarto: a SDG, mesmo que crítica ao neoliberalismo, aceita o marco do capitalismo monopolista que repousa, basicamente, no lucro resultante da extração exploradora de mais valia procedente do trabalho, processo gerador de sucessivas crises por suas inerentes tendências à superprodução e que, com sua busca de rentabilidade, tende a chocar-se com os limites ambientais. Do mesmo modo que o keynesianismo tradicional em escala nacional, a SDG busca, em escala global, um novo compromisso de classe que ande ao lado de novos métodos para conter ou minimizar a tendência às crises consubstancial ao capitalismo. Assim como a velha socialdemocracia e o New Deal trouxeram estabilidade ao capitalismo em escala nacional, a função histórica da SDG é mitigar as contradições do capitalismo global contemporâneo e relegitimar o mesmo após a crise e o caos deixados pelo neoliberalismo. Em sua própria raiz, a SDG tem a ver com um problema de gestão social.

Obama tem o talento de construir pontes entre discursos políticos diferentes. Assim mesmo, é uma tabula rasa no tocante à economia. Como Roosevelt em seu tempo, não está atado a fórmulas do ancien regime. É um pragmático, cujo critério-chave é o êxito na gestão social. Como tal, encontra-se em uma posição única para encabeçar esse ambicioso empreendimento reformista.

A esquerda deve despertar
Enquanto a esquerda estava envolvida em uma guerra sem quartel contra o neoliberalismo, o pensamento reformista ia conquistando adeptos entre círculos reformistas do establishment. E esse pensamento está agora a ponto de se converter em política: a esquerda deve redobrar seus esforços para estar à altura. Não se trata apenas de passar das críticas às propostas construtivas. O desafio é superar os limites impostos à imaginação política da esquerda pela combinação da agressividade do desafio neoliberal dos anos 80 com o colapso dos regimes de socialismo burocrático no início dos anos 90. A esquerda deveria ser capaz, de novo, de atrever-se a buscar modelos de organização social que apontem sem reservas para a igualdade e o controle democrático e participativo tanto da economia nacional quanto da economia global, condições necessárias para a emancipação individual e coletiva.

Do mesmo modo que o velho regime keynesiano do pós guerra, a SDG está ligada à gestão social. Em troca a perspectiva da esquerda é a liberação social.

Walden Bello é professor de Ciências Políticas e Sociais na Universidade das Filipinas (Manila), membro do Transnational Institute de Amsterdã, presidente da Freedom from Debt Coalition e analista sênior do Focus on the Global South.

Tradução: Katarina Peixoto

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Boicote 0729

Como utópico doente de nascença que sou e chegado a embates quixotescos, resolvi abraçar ao velho método do boicote como forma de luta política.

É do conhecimento de todos que o Estado de Israel está promovendo o genocídio do povo palestino, sobretudo daqueles que sobrevivem no enorme “gueto” da Faixa de Gaza. Os sionistas já estão inclusive acostumados a enaltecer feitos desse tipo .

Os primeiros grandes genocidas judeus – à época conhecidos como hebreus – não foram outros senão Moisés e seu sucessor Josué, responsáveis pelo extermínio de cananeus, moabitas, amorreus, filisteus, sidônios, jebuseus, amonitas, fereseus, heveus, hititas, edomitas e literalmente por apagar do mapa cidades inteiras e varrer sem deixar vestígio antigas civilizações. Exterminaram esses povos e exterminariam outros mais que ousassem ocupar a terra que um deus rancoroso e cheio de ódio havia lhes prometido.

Nesse período chacinas, estupros e escravidão eram vistos como desígnios desse deus. Perdoem-me por julgar uma sociedade distante de mim há mais de três mil anos com o olhar do homem moderno, todavia é justamente aí que mora a contradição. Se Javé para os judeus, igual a Alá para os mulçumanos ou simplesmente “Deus” para os cristãos, é atemporal – obviamente por se encontrar no plano metafísico – e a sabedoria reside em seu espírito, assim como foi o criador de todo o universo, como pôde avalizar através de seus profetas atos hediondos de tamanha vileza e vilipendio contra a raça humana, supostamente criada por ele mesmo.

Bom, chega de filosofar. O que me moveu a escrever umas poucas linhas hoje é, como já adiantei acima, um boicote. Boicote iniciado na Europa por uma estudante de origem judia, Olícia Zemor – portanto não se trata de anti-semitismo. Um boicote apelando para a solidariedade internacional contra produtos israelenses que hoje escondem o “made in Israel” para driblar a repulsa mundial, mas tem o código de barras iniciado com o número 0729.

Ademais vale lembrar que a ignominiosa ação na Faixa de Gaza, onde até comboios de ajuda humanitária carregados de comida, água e medicamentos, além de escolas da ONU foram atacados pelo terrorismo sionista como se fossem alvos militares, há também em Israel uma política de estado segregacionista respaldada por inúmeras leis e consolidada num apartheid onde se reconhecesse cidadãos de primeira e segunda categoria. Os de primeira categoria, nem precisaria dizer, são os judeus enquanto os árabes são os outros. A luta contra o apartheid na África do Sul foi justamente o motivo que levou a comunidade internacional a solidarizar-se com os oprimidos daquele país e o boicote umas das valiosas armas utilizadas naquela luta.

Vamos aproveitar o espaço da internet para divulgarmos o boicote à produtos israelenses – muitos explorando mão-de-obra quase escrava na própria Faixa de Gaza – até que Israel suspenda tanto as ações militares quanto o bloqueio contra o povo palestino.

Memorize esses números do código de barras... 0729, 0729, 0729, 0729, 0729, 0729, 0729...

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Israel: um Estado Terrorista

Por Renato Prata Biar

O até agora incógnito número de palestinos assassinados (em sua maioria mulheres, idosos e crianças) nesses primeiros dez dias, pelos últimos ataques terroristas israelenses, não deixam dúvidas quanto ao caráter nazista da estratégia de Israel contra a Palestina e seu povo. Não há como negar que os sionistas passaram de vítimas do Nazismo, à simpatizantes dos métodos nazistas para a eliminação de outros povos (cito, aqui, especificamente os sionistas porque foram estes que, dentre os judeus, foram os principais responsáveis pela elaboração do ideal de se criar um Estado composto somente por judeus ainda no século XIX; e também para deixar claro que não são todos os judeus que concordam com esse ideal e muito menos com os seus métodos). É extremamente desproporcional os ataques praticados pelas forças israelenses se comparado ao tipo de ataque que eles sofrem por parte dos palestinos. Além disso, se eles acusam os palestinos de terrorismo, é bom não esquecer que os sionistas foram os pioneiros em usar e abusar de métodos e estratégias terroristas para pressionar o mundo à consolidar a formação do Estado de Israel (mais precisamente a Inglaterra, já que a Palestina era colônia inglesa, e os Estados Unidos, já que estes, após a 2ª Guerra, se consolidaram, definitivamente, como a maior potência mundial). Como muito bem denunciou Moniz Bandeira no seu livro, Formação do Império Americano:

"Os sionistas, então, desencadearam sistematicamente uma onda de atentados terroristas atacando, em diversas cidades da Palestina, as forças britânicas e outros alvos, como carros de polícia, estradas de ferro, ônibus, pontes e a refinaria de petróleo em Haifa. Em 22 de julho de 1946, com a aprovação de Ben Gurion (um dos principais líderes políticos do movimento sionista), fizeram explodir em Jerusalém o King David Hotel, matando cerca de 90 pessoas e ferindo 58. [...] Os ataques terroristas, porém, não cessaram e, na noite de 09 de abril de 1948, militantes da Etzel e elementos de outro grupo (Stern) cercaram a vila de Deir Yasin e mataram 254 árabes, a maioria velhos, mulheres e crianças, e feriram mais de 300." (pág. 159)

Analisando esses fatos, fica fácil perceber que o terrorismo foi utilizado como estratégia: primeiro para forçar a formação do Estado de Israel (objetivo idêntico ao dos palestinos que também querem a formação do seu Estado, mas acabam sendo massacrados por isso); e segundo, que os ataques continuam a ser utilizados até hoje com a cínica justificativa de que é necessário para garantir a segurança de Israel. Porém, a diferença básica que existe entre os ataques da década de 1940 para os ataques hodiernos, é que estes não são mais praticados por grupos como o Etzel ou o Stern, mas pelo próprio Estado israelense. Nesse sentido, talvez seja esta a primeira vez em toda a história, em que temos um Estado Terrorista reconhecido legal e legitimamente pelo restante do mundo. Mesmo sabendo-se que esse estado não possui nenhuma das duas condições fundamentais para que um Estado-Nação seja verdadeiramente reconhecido: Israel não possui uma constituição e nem limites territoriais definidos, sendo este último, devido às suas ocupações mantidas por força militar em países vizinhos.

É importante salientar também que a potência militar na qual Israel se transformou tem como objetivo principal servir aos interesses geopolíticos e econômicos do Império Estadunidense, já que foram os Estados Unidos quem mais contribuíram para o fortalecimento e o crescimento do aparato militar do Estado de Israel, inclusive no que diz respeito à obtenção de um arsenal atômico e a formação de um serviço secreto, o Mossad, que mais parece um “filhote” da CIA, e que é tão sujo quanto o seu genitor. Para entender melhor todo esse interesse e essa dedicação dos Estados Unidos em relação a Israel, basta observar algumas coisas bem simples. O Estado de Israel tem um posicionamento geográfico extremamente privilegiado para os interesses estadunidenses, pois é através do seu território que se faz a ligação entre o continente africano (através da fronteira com o Egito) e o Oriente Médio, não só por terra como também pelo Canal de Suez. Faz fronteira também com estados como, Líbano, Síria e Jordânia; além de estar bem próximo da Arábia Saudita, Iraque, Kuwait e Irã, países que fazem parte do grupo dos maiores produtores de petróleo do mundo (produto esse que, todos sabem, interessa diretamente aos Estados Unidos). No caso do Iraque, o interesse vai ainda mais além do que a busca pelo petróleo, pois os dois principais rios que abasteçem toda a aquela região do Oriente Médio, o rio Tigre e o Eufrates, passam ambos com a maior parte de sua extensão pelo território iraquiano. E numa região com grandes extensões de terra formada pelo mais seco deserto, isso não é pouca coisa, pois já estão previstas para as próximas décadas, guerras pelo controle das fontes de água doce em todo o mundo. Portanto, quem tiver o domínio sobre a utilização desses dois rios naquela região terá uma ampla vantagem estratégica sobre todos os outros países próximos.

Destarte, essa dificuldade de se conseguir formar um Estado palestino vai muito mais além do que o alegado “temor” pela segurança do Estado de Israel e de sua população, e está muito mais próximo dos interesses geopolíticos, econômicos e militares do Império Estadunidense. Porém, como nos mostra a história, os Estados Unidos já tiveram outros aliados naquela região como, o Irã e o Iraque, e que depois de serem armados, financiados e treinados pela doutrina imperialista, se voltaram contra o seu criador e tornaram-se seus mais ferozes inimigos. Vamos ver o que vai acontecer a Israel quando seus interesses começarem a contrariar e a colidir com os interesses expansionistas do Império. Entretanto, enquanto isso não acontece, a única certeza que temos é a de que continuaremos a assistir àqueles que um dia foram vítimas do holocausto, reproduzir e legitimar o mesmo tratamento que receberam nos campos de concentração nazista, só que dessa vez não mais como vítimas, mas como algozes, e tendo como alvo principal a “raça inferior” dos palestinos.


Renato Prata Biar; historiador; Rio de Janeiro; é também responsável pelo blog “O Grito dos Exclídos”

www.ogritodosexcluidos.blogspot.com

domingo, 4 de janeiro de 2009

Silêncio e Omissão

O modo como a comunidade internacional trata o (sic) problema iraelo-palestino não passa de mero esquivo e esperar para ver o que acontece. Além de ser, claro, duma cumplicidade ignominiosa com crimes de guerra e genocídio patrocinados por um Estado contra uma população civil – só na Faixa de Gaza, transformada em “gueto”, (sobre)vivem hoje cerca de 1,2 milhão de pessoas. A vergonha recai sobre todos aqueles que se afirmam, ou julgam-se, ser humanos por sua tartamudez perante um escabroso extermínio de cultura, história, comunidade e por fim a própria vida na Palestina ocupada.

Teimar em não reconhecer o Hamas ou qualquer outra agremiação política palestina como portadora de legitimidade é atestar total ignorância diante de fatos consumados e abandonar a Palestina a sua própria (má) sorte. Esquecem-se a União Européia e os EE.UU. do fato que Israel só existe hoje enquanto estado devido as sistemáticas ações terroristas perpetradas por diversos grupos sionistas ao longo de anos. Grupos esses que atingiram seu ápice ao findar a Segunda Guerra Mundial e lograram êxito não só expulsando as tropas britânicas da região como também fazendo a recém criada Organização das Nações Unidas reconhecerem um estado formado por uma minoria e, pasmem, estrangeira num território ocupado e em ainda em guerra.

Talvez alguns judeus tenham aprendido técnicas requintadas de crimes contra a humanidade durante a estadia no inferno dos campos de concentração erguidos pelos nazistas em solo europeu e as transportado para o Oriente Médio. Enquanto somos entulhados cotidianamente por filmes, peças, ensaios, livros ou até publicações acadêmicas sobre o holocausto cometido por alemães ensandecidos contra o povo judeu, há, na mesma proporção, só que em sentido inverso, um silêncio ensurdecedor sobre o mesmo tipo de lesa humanidade adotada como política de estado por Israel. Um estado que tem sua gênese não no Reinado de David ou de Salomão, ou em estórias bíblicas ou da Carochinha (tanto faz), mas sim nos ataques de grupos terroristas judeus como Stern ou Irgun responsáveis pelo do massacre de Deir Yassin, um exemplo hediondo da capacidade de terror desses grupos.

Em 9 de abril de 1948, houve o massacre de 250 palestinos (incluindo 100 mulheres e crianças), na aldeia de Deir Yasin, próxima a Jerusalém.Naquele dia sombrio anciões e crianças foram degolados, mulheres grávidas estripadas. O ato terrorista, executado por homens do Irgun e do Stern, sob comando do chefe do Irgun, Menahem Begin, tinha como objetivo amedrontar os árabes. Após o massacre, o restante da população de Deir Yasin foi forçada a desfilar como animais pelas ruas de Jerusalém. "O banho de sangue de Deir Yasin foi a operação mais abjeta jamais realizada pelos terroristas sionistas" (Arthur Koestler, escritor judeu, in "Promise and Fulfilment", Mac Millan, New York, 1949; cfr. Hussein Triki, op. cit., pg. 182).

Ao contrário daquilo que muitos analistas tupiniquins têm vomitado ultimamente os fatos recentes não são apenas parte de propaganda eleitoral. É certo que tanto Ehud Olmert (atual carrasco-mor, ou seja, premiê) e as principais personagens envolvidas no processo eleitoral que se desenrola, a ministra das Relações Exteriores Tzipi Livni, o líder do Partido Trabalhista Ehud Barak e Bibi Netanyahu, principal nome do Likud partido de oposição, querem guerra e sangue palestino jorrando. O genocídio do povo palestino é adotado como legítima política de estado e foge de qualquer crítica mais contundente que por ventura possa vir da comunidade internacional ou mesmo de dentro da sociedade israelense. Manifestações pacifistas ou são impedidas, censuradas ou até mesmo ganham a pecha de serem formadas por traidores. Nessa conjuntura Israel não consegue hoje viver doutra maneira que não seja refém dum estado de beligerância perpétuo. A economia, a sociedade, a política e a cultura, enfim as instituições que formam Israel estão fortemente fincadas num estado militar que impele a guerra justamente para manter-se vivo.

Um dos maiores desafios da promessa de mudança chamada Barack Obama reside em arrefecer os ânimos dos trogloditas israelenses e do poderoso lobby montado às cercanias do Capitólio e Casa Branca e buscar não uma saída honrosa para Israel, mas, sim, entregar a posse da Palestina há quem de fato e direito lhe pertence, ou seja, aos palestinos.

No entanto é hora também de se cobrar uma posição mais clara em defesa do povo palestino por parte de todas as outras nações do mundo, e em especial do mundo árabe e demais países mulçumanos. A omissão – por que não conivência – através da qual os demais países do Oriente Médio têm demonstrado tamanha apatia diante do completo genocídio na Faixa de Gaza e a política sionista de extermínio dos palestinos, apenas denota o quão frágeis são seus estados perante a truculência imperialista israelense tornando-os alvo em potencial num futuro não tão longínquo.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

50 ANOS DE REVOLUÇÃO

Publicado originalmente em: www.alemdagrandemidia.blogspot.com

"Não há revolução sem consciência" - Jean Jaurés

Oportuna e ímpar a frase citada quando se trata da revolução cubana. Tal consciência, popular, é pilar fundamental do socialismo em Cuba. Não é somente a consciência do cidadão que acompanha a política diariamente para exercer e reivindicar seus direitos frente aos órgãos estatais, mas é acima de tudo, e isso é o mais importante, uma consciência histórica, daquilo que era o país antes e após determinado fato.

Desde o dia 1º de janeiro de 1959 Cuba nunca mais foi a mesma. Nem mesmo as imensas atrocidades estadunidenses cometidas contra a Ilha, principalmente o covarde bloqueio econômico, foram capazes de impedir a realização de um projeto de sociedade executado por um povo que escolheu ser dono do seu próprio destino. E talvez resida aqui a maior causa do sucesso deste projeto.

Durante a Guerra Fria, Cuba não pediu licença à União Soviética para executar o seu modelo de socialismo. Liderada por Fidel Castro, tomou por si só a atitude de erradicar o analfabetismo, a fome, a falta de moradia e vestuário e dentre outros inúmeros avanços sociais, como por exemplo a medicina acessível a todos, mostrou ao mundo que é possível proporcionar aos cidadãos a mais plena e infindável busca pela igualdade social.

Não bastasse inserir todos os seus cidadãos na construção da igualdade nos seus mais enumerados âmbitos, principalmente o social e o político, Cuba também deixou, em 50 anos de revolução, sua marca na solidariedade internacionalista. Até então, conforme citado anteriormente, Cuba era o único país da América Latina a ter erradicado o analfabetismo. A aplicação do método audiovisual "Si, yo puedo" (Sim, eu posso) foi decisiva para que a Bolívia presidida por Evo Morales e a Venezuela presidida por Hugo Chávez fossem os próximos países da América Latina a erradicarem o analfabetismo.

Em matéria de relações entre Cuba e Brasil, não podemos esquecer da solidariedade cubana em ter oferecido asilo político para vários militantes brasileiros que fugiram do país para não serem presos pela ditadura militar, assim como para a família desses militantes, como a de Carlos Lamarca.

Tudo isso poderia ter sido colocado a perder quando a URSS, presidida por Mikhail Gorbatchov deflagrou a glasnost e a perestróika. Mas a autodeterminação do povo cubano falou mais alto, quando seu porta-voz, Fidel Castro, desconfiou da proposta política do último presidente soviético. A queda do Muro de Berlim, a devassa neoliberal mundo afora mais o endurecimento do bloqueio econômico através das leis Torricelli e Helms-Burton não foram capazes de tirar Cuba dos caminhos do socialismo e da igualdade. E assim Cuba mais uma vez se afirmava como inspiração alternativa de um modelo político, social e econômico.

Por fim, importante ressaltar que a resistência cubana faz da ilha o único país latino-americano a resistir a golpes de Estado patrocinados pelos EUA na América Latina ao longo da segunda metade do século XX. Enquanto o maior império da história da humanidade, localizado a 200 Km da costa litorânea cubana, promoveu ações militares que culminaram em golpes de Estado de governantes esquerdistas e progressistas na América Latina, como João Goulart no Brasil em 1964 e Salvador Allende no Chile em 1973, lá estava e ainda está Cuba, caminhando em função de seus objetivos e resistindo à força do império estadunidense.

Diversos outros motivos existem para Cuba comemorar o cinquentenário de sua revolução, mas o mais importante é que em meio às suas escolhas, dificuldades e solidariedade internacional, Cuba venceu e continua vencendo diariamente no sentido de mostrar à humanidade que para ela é possível outro caminho além do capitalismo e da exploração do homem pelo homem, nos restando, portanto, reconhecer seus méritos e parabenizar o povo cubano.

Lucas Rafael Chianello, além da grande mídia.