sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Haiti: responsabilidades, cinismo e humor negro

Para se entender um pouco mais os problemas internos enfrentados pelo Haiti e a extensão da catástrofe que assolou o país nessa semana pincei dois ótimos artigos na internet. O primeiro extraído do Vi o Mundo, de autoria de Bill Quigley, retrata como a política externa dos EEUU vem ao longo de décadas corroborando com o caos social e político no qual o país caribenho está mergulhado.

Já o segundo foi extraído do site português Esquerda.Net e mostra faces do cinismo e do humor negro estadunidense. O cinismo: Obama criar uma comissão de socorro ao Haiti. (Vocês entenderam melhor a cinismo contido na medida após a leitura do artigo de Bill Quigley). O humor negro: o coordenador dessa ‘comissão’ será George W. Bush!!! Verdade. O ‘senhor da guerra’ que provou toda a sua competência na gestão de auxilio e socorro às vitimas de catástrofes naturais quando o Katrina arrasou New Orleans!!!

E eu que ingenuamente imaginei que estivéssemos livres do câncer.


Haiti: Quem é que privatizou o estado?

Por Bill Quigley, fonte Vi o Mundo
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/haiti-quem-e-que-privatizou-o-estado/

What the Mainstream Media Will Not Tell You About Haiti: Part of the Suffering of Haiti is "Made in the USA" (O que a mídia corporativa não vai te contar sobre o Haiti: Parte do sofrimento é Made in USA).


Parte do sofrimento no Haiti é "Feito nos Estados Unidos". Se um terremoto pode danificar qualquer país, as ações dos Estados Unidos ampliaram os danos do terremoto no Haiti.


Como? Na última década, os Estados Unidos cortaram ajuda humanitária ao Haiti, bloquearam empréstimos internacionais, forçaram o governo do Haiti a reduzir serviços, arruinaram dezenas de milhares de pequenos agricultores e trocaram apoio ao governo por apoio às ONGs.

O resultado? Pequenos agricultores fugiram do campo e migraram às dezenas de milhares para as cidades, onde construiram abrigos baratos nas colinas. Os fundos internacionais para estradas e educação e saúde foram suspensos pelos Estados Unidos.
O dinheiro que chega ao país não vai para o governo mas para corporações privadas. Assim o governo do Haiti quase não tem poder para dar assistência a seu próprio povo em dias normais -- muito menos quando enfrenta um desastre como esse.

Alguns dados específicos de anos recentes.

Em 2004 os Estados Unidos apoiaram um golpe contra o presidente eleito democraticamente, Jean Bertrand Aristide. Isso manteve a longa tradição de os Estados Unidos decidirem quem governa o país mais pobre do hemisfério. Nenhum governo dura no Haiti sem aprovação dos Estados Unidos.

Em 2001, quando os Estados Unidos estavam contra o presidente do Haiti, conseguiram congelar 148 milhões de dólares em empréstimos já aprovados e muitos outros milhões de empréstimos em potencial do Banco Interamericano de Desenvolvimento para o Haiti. Fundos que seriam dedicados a melhorar a educação, a saúde pública e as estradas.


Entre 2001 e 2004, os Estados Unidos insistiram que quaisquer fundos mandados para o Haiti fossem enviados através de ONGs. Fundos que teriam sido mandados para que o governo oferecesse serviços foram redirecionados, reduzindo assim a habilidade do governo de funcionar.


Os Estados Unidos tem ajudado a arruinar os pequenos proprietários rurais do Haiti ao despejar arroz americano, pesadamente subsidiado, no mercado local, tornando extremamente difícil a sobrevivência dos agricultores locais. Isso foi feito para ajudar os produtores americanos. E os haitianos? Eles não votam nos Estados Unidos.


Aqueles que visitam o Haiti confirmam que os maiores automóveis de Porto Príncipe estão cobertos com os símbolos de ONGs. Os maiores escritórios pertencem a grupos privados que fazem o serviço do governo -- saúde, educação, resposta a desastres. Não são guardados pela polícia, mas por segurança privada pesadamente militarizada.


O governo foi sistematicamente privado de fundos. O setor público encolheu. Os pobres migraram para as cidades.

E assim não havia equipes de resgate. Havia poucos serviços públicos de saúde.

Quando o desastre aconteceu, o povo do Haiti teve que se defender por conta própria. Podemos vê-los agindo. Podemos vê-los tentando. Eles são corajosos e generosos e inovadores, mas voluntários não podem substituir o governo. E assim as pessoas sofrem e morrem muito mais.


Os resultados estão à vista de todos. Tragicamente, muito do sofrimento depois do terremoto no Haiti é "Feito nos Estados Unidos".

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George W. Bush coordena o socorro ao Haiti
http://www.esquerda.net/content/view/14934/1/

Depois da desastrosa resposta às vítimas do furacão Katrina, Bush vai coordenar o socorro ao Haiti. Foto ONU/FlickrOs EUA encarregaram os ex-presidentes Bill Clinton e George W. Bush de coordenar o auxílio ao Haiti depois de Barack Obama ter anunciado uma verba de 100 milhões de dólares e o envio de 5200 soldados para combater os efeitos do terramoto.

Haitianos e membros das brigadas internacionais de resgate que trabalham nas operações de salvamento de sobreviventes do terramoto que assolou o Haiti, em especial a capital, Port-au-Prince, têm revelado aos órgãos de comunicação social que o cenário no país é semelhante ao provocado pela explosão de uma bomba atómica, tal o grau de destruição atingido. O auxílio internacional já começou a chegar, embora seja insuficiente para as necessidades da população afectada, cerca de um terço dos habitantes do país.

O número de vítimas mortais continua a ser indefinido, calculado ainda entre limites inferior e superior que variam entre as cem mil e as 500 mil pessoas. Grupos de socorristas com cães farejadores treinados na descoberta de sobreviventes conseguiram chegar já ao território haitiano, tal como um porta-aviões norte-americano transportando um primeiro conjunto de cem soldados e algum auxílio alimentar e médico.

Fontes oficiais norte-americanas informaram que os ex-presidentes Bill Clinton e George W. Bush foram nomeados para coordenar o auxílio humanitário ao Haiti, acumulando também o primeiro o cargo de enviado das Nações Unidas. Alguns meios de comunicação social dos Estados Unidos estranharam, contudo, o envolvimento de Bush tendo em conta o fracasso da sua Administração por ocasião da catástrofe em New Orleans provocada pelo furacão Katrina.

O auxílio de 100 milhões de dólares agora anunciado por Obama também foi considerado escasso quando comparado com as verbas envolvidas nas operações financeiras de socorro aos bancos e outras instituições financeiras e, sobretudo, com o bilião de dólares indexado pelo Pentágono, ao longo dos anos, à guerra contra o terrorismo e às invasões do Afeganistão e do Iraque.

“Será um esforço a longo prazo”, previu a secretária de Estado, Hillary Clinton. Bill Clinton, por seu lado, declarou que o terramoto do Haiti “é uma das grandes emergências humanitárias das Américas”.

A economia do Haiti, país onde o rendimento per capita é inferior a 40 cêntimos de euro por dia, depende totalmente dos Estados Unidos da América. Os produtos agrícolas haitianos são exportados para os Estados Unidos a preços muito baixos e a mão-de-obra barata e sem direitos sociais deste país das Caraíbas alimenta relevantes sectores da indústria norte-americana, designadamente a produção têxtil.

Texto publicado no portal do Bloco no Parlamento Europeu

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