sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A inflexão de Marina Silva

Ano passado antes de Marina Silva romper com o Partido dos Trabalhadores e aceitar encarar a aventura de se candidatar à presidência da República pelo Partido Verde, escrevi-lhe uma carta aberta pedindo que repensasse no assunto e se dispusesse a pleitear tal candidatura pelo PT. Meu temor, e esse temor estava explicito naquela carta, era de que ao desembarcar no PV Marina se tornasse a inocente útil das pretensões conservadoras. Afinal tal temor se baseava no fato de o PV não passar dum partideco de aluguel sem qualquer substância ideológica ou organicidade política a não ser a de tirar proveito (próprio) do poder. Como exemplo, à época, argumentei que o PV faz parte tanto da base do governo federal quanto das bases de Serra e Aécio, assim como também fez parte da administração de Cesar Maia no Rio de Janeiro.

Hoje, passados quase sete meses daquela missiva, percebo que o inocente foi eu. Marina não se deixou engabelar pelo PV, ela sabia exatamente para onde estava indo e a inflexão sofrida por seu discurso recente escancara essa opção.

Há poucos dias a senadora culpou o PT por não dialogar com o PSDB nem enquanto oposição e nem depois enquanto governo. Na visão (estrábica) da senadora acreana apenas o PT se mostrou intransigente em ambas as oportunidades, assim o PSDB deve ser isentado, uma vez que sempre se mostrou aberto ao diálogo. Talvez a ex-ministra do Meio Ambiente pense que o PSDB queria o melhor para o Brasil quando urdia o golpe branco para derrubar o presidente Lula durante a crise do “mensalão”. Ou então enquanto os tucanos estavam à frente do governo federal tinham razão em sucatear de forma desenfreada o estado brasileiro e acentuar nossa histórica desigualdade social. Interessante esse ponto de vista.

Não bastassem declarações dessa estirpe, Marina agora também faz coro com a direita tupiniquim condenando Hugo Chávez e Irã, além de querer dar aulas de democracia para Cuba. Quiçá Marina pregue o “criacionismo” para o povo cubano.

Em entrevista para a radio CBN (das Organizações Globo) Marina soltou algumas pérolas que mostram seu modelito neoliberal:

“Não podemos ficar reféns dessa combinação que é um pouco preocupante, da democracia representativa com a democracia direta. No caso da América Latina, a Venezuela tem uma ênfase plebiscitária que pode colocar em risco a alternância de poder, a subtração de liberdade.”


Sobre Cuba:

“A revolução contribui com alguns aspectos? Contribuiu e muito. Agora, é o fim da história? Não é. Existe um desafio ali? Existe. Qual é o desafio? É de que Cuba precisa se abrir para o mundo, precisa se transformar numa a democracia. Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão.”

Durante a semana Marina também havia gravado participação para o programa É Notícia, comandado pelo jornalista Kennedy Alencar na Rede TV. E lá foi Marina, sem pudor, jactar mais algumas pérolas do tipo:

“Para a ministra Dilma, parece que as questões ambientais não são prioridade”.

Talvez seja até triste fazer uma constatação dessas, mas Marina agora está no partido certo, um partido feito à sua medida.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Uma análise provida de nexo

Ultimamente Alon Feuerwerker, Maria Inês Nassif e Marcos Coimbra formam uma trinca capaz de produzir análises políticas sem vezos, ranços ou coloração partidária. Textos honestos, coerentes com a realidade brasileira atual, e, o mais importante, providos de nexo. Portanto, textos de qualidade muito superior aos encontrados na mídia oligolipazada.

O que segue é da autoria de Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi. Também acredito que a próxima eleição presidencial se dará em parâmetros plebiscitários e que o Brasil começa, enfim, a amadurecer a relação entre partidos e personalismo, e entre ambos e o eleitorado.

Ainda o plebiscito

Por Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
Fonte: Jornal Estado de Minas


À medida que a eleição presidencial vai se aproximando, fica mais claro o projeto de Lula para vencê-la. A menos de oito meses de sua realização, é mais fácil (talvez até para o próprio presidente) entender aonde ele quer chegar.

A ideia de fazer da eleição de 2010 um plebiscito foi explicitada por Lula ainda em 2007, quando anunciou que queria que nela o eleitorado comparasse seu governo ao de Fernando Henrique. Quem achasse que seus oito anos foram melhores, que votasse na candidatura governista. Quem preferisse os de seu antecessor, na oposição.

A bipolaridade que é premissa desse projeto não foi inventada por Lula. De um lado, é assim que o sistema partidário brasileiro se estruturou nos últimos anos. De outro, o processo político concreto que vivemos sinalizou desde muito cedo que as eleições de 2010 repetiriam o padrão.

A todos sempre pareceu que o cenário mais provável seria uma nova confrontação PT-PSDB, apenas havendo dúvida se logo no primeiro turno ou no segundo.

A candidatura situacionista esteve em disputa, pois Ciro Gomes reunia intenções de voto suficientes para permanecer como alternativa aos nomes do PT, nenhum com boa largada nas pesquisas. Mas as perspectivas de crescimento de quem quer que fosse o candidato do PT eram maiores.

Tampouco surgiu opção ao PSDB no campo oposicionista. Dos partidos que remanesceram com ele, o DEM seria o único que poderia pensar em um nome, mas nunca se movimentou nessa direção e hoje nem poderia mais pensar no assunto.

Seria, portanto, tucana a candidatura, e apenas uma. Quanto a quem, tudo apontava para Serra, mesmo enquanto Aécio permaneceu na disputa.

Para Lula, o fato de as oposições só terem um nome sugeria uma decisão em primeiro turno, que se tornou mais possível quando Marina, depois de provocar algum alvoroço no lançamento de sua candidatura, estacionou nas pesquisas.

Não seria muito diferente com qualquer nome tucano, mas Serra facilitava o confronto plebiscitário. Se Aécio fosse candidato, seria mais complicado propor a comparação com FHC, pois o governador de São Paulo integrou o governo passado e foi adversário do próprio Lula em 2002.

Mas qual seria o conteúdo do plebiscito? Ninguém melhor que Lula sabia que não seria apenas uma briga de números, a respeito de indicadores de desempenho governamental. Nem no Brasil, nem em qualquer lugar do mundo se vencem eleições assim.

Outra coisa que o plebiscito não poderia ser seria uma escolha entre Lula e FHC, para que os eleitores dissessem de quem gostam mais.

A resposta a essa pergunta já é conhecida e o vencedor é o atual presidente. Não bastassem as comparações da aprovação de ambos, várias pesquisas pediram às pessoas que fizessem a comparação direta: Lula sempre ficou na frente, com larga vantagem.

O relevante, contudo, é que essa escolha não conduz ao voto em Dilma, pois é perfeitamente possível que alguém prefira Lula e ache que Serra é melhor candidato. Não é esse plebiscito, portanto, que o presidente busca.

Goste-se ou não de Lula, é preciso reconhecer que o que ele está propondo é um novo modelo de eleição, que só é possível agora.

Hoje, depois de oito anos de PT no governo, pode-se fazer a comparação entre ele e o PSDB, não em torno de nomes ou pessoas, mas do que cada “lado” representa.

De fazer um balanço das coisas em que cada um acertou e errou quando teve a oportunidade de liderar uma coalizão para governar e pôr em prática suas propostas e sua visão para o Brasil.

Usando as palavras que ele usaria, o plebiscito que Lula quer não é entre ele e FHC, mas entre o que “nós” (o PT) somos e fazemos e o que “eles” (o PSDB) são e fazem.

Se acontecer como ele pensa, seria a primeira eleição genuinamente partidária de nossa história política, em vez das disputas personalistas que sempre tivemos.

Não importa quem vença. O importante é que teremos, de um lado, um bom e legítimo candidato do PSDB (paulista, ex-intelectual, integrante do governo FHC) e, de outro, uma boa e legítima candidata do PT (técnica do setor público, ex-militante de esquerda, integrante do governo Lula).

Sem a combinação de ilusão e medo (como a que deu a vitória a Collor), sem mágicas (como a do Real, que elegeu Fernando Henrique), sem carismas (como o de Lula).

Não era isso que queríamos, uma política onde os partidos são mais importantes que as pessoas?

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

O discurso de Dilma Rousseff no Congresso do PT

Fonte: Estadão
http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,integra-do-discurso-de-dilma-rousseff-no-congresso-do-pt,513842,0.htm

Queridas companheiras,
Queridos companheiros

Para quem teve a vida sempre marcada pelo sonho e pela esperança de mudar o Brasil, este é um dia extraordinário.

Meu partido - o Partido dos Trabalhadores - me confere a honrosa tarefa de dar continuidade à magnífica obra de um grande brasileiro.

A obra de um líder - meu líder - de quem muito me orgulho: Luiz Inácio Lula da Silva.

Jamais pensei que a vida viesse a me reservar tamanho desafio. Mas me sinto absolutamente preparada para enfrentá-lo - com humildade, serenidade e confiança.

Neste momento, ouço a voz de Minas Gerais, terra de minha infância e de minha juventude. Dessa Minas que me deu o sentimento de que vale a pena lutar pela liberdade e contra a injustiça. Ouço os versos de Drummond:

"Teus ombros suportam o mundo/
E ele não pesa mais do que a mão de uma criança"
Até hoje sinto o peso suave da mão de minha filha, quando nasceu.

Que força ela me deu. Quanta vida me transmitiu. Quanta fé na humanidade me passou.
Eram tempos difíceis.

Ferida no corpo e na alma, fui acolhida e adotada pelos gaúchos - generosos, solidários, insubmissos, como são os gaúchos.

Naqueles anos de chumbo, onde a tirania parecia eterna, encontrei nos versos de outro poeta - Mário Quintana - a força necessária para seguir em frente:

"Todos estes que aí estão/
Atravancando o meu caminho,/
Eles passarão.
Eu passarinho."

Eles passaram e nós hoje voamos livremente.
Voamos porque nascemos para ser livres.

Sem ódio e com serena convicção afirmo que nunca mais viveremos numa gaiola ou numa prisão.
Estamos construindo um novo país na democracia. Um país que se reencontrou consigo mesmo. Onde todos expressam livremente suas opiniões e suas idéias.

Um país que não tolera mais a injustiça social. Que descobriu que só será grande e forte se for de todos.

Vejo nesta manhã - nos jovens que nos acompanham e nos mais velhos que aqui estão - um extraordinário encontro de gerações. De gerações que, como a minha, levaram nosso compromisso com o país às últimas conseqüências.
Amadureci. Amadurecemos todos.

Amadureci na vida. No estudo. No trabalho duro. Nas responsabilidades de governo no Rio Grande e aqui.

Mas esse amadurecimento não se confunde com conformismo, nem perda de convicções.
Não perdemos a indignação frente à desigualdade social, à privação de liberdade, às tentativas de submeter nosso país.

Não sucumbimos aos modismos ideológicos. Persistimos em nossas convicções, buscando, a partir delas, construir alternativas concretas e realistas.

Continuamos movidos a sonhos. Acreditando na força do povo brasileiro, em sua capacidade de buscar e construir um mundo melhor.

A história recente mostrou que estávamos certos.
Tivemos um grande mestre - o Presidente Lula. Ele nos ensinou o caminho.

Em um país, com a complexidade e as desigualdades do Brasil, ele foi capaz de nos conduzir pelo caminho de profundas transformações sociais em um clima de paz, de respeito e fortalecimento da democracia.

Não admitimos, portanto, que alguém queira nos dar lições de liberdade. Menos ainda aqueles que não tiveram e não têm compromisso com ela.

Companheiras, Companheiros

Recebo com humildade a missão que vocês estão me confiando. Com humildade, mas com coragem e determinação. Coragem e determinação que vêm do apoio que recebo de meu partido e de seu primeiro militante - o Presidente Lula.

Do apoio que espero ter dos partidos aliados que, com lealdade e competência, também são responsáveis pelos êxitos do nosso Governo. Com eles quero continuar nossa caminhada. Participo de um governo de coalizão. Quero formar um Governo de coalizão.

Estou consciente da extraordinária força que conduziu Lula à Presidência e que deu a nosso Governo o maior respaldo da história de nosso país - a força do povo brasileiro.
A missão que me confiam não é só de um partido ou de um grupo de partidos.
Recebo-a como um mandato dos trabalhadores e de seus sindicatos.
Dos movimentos sociais.
Dos que labutam em nossos campos.
Dos profissionais liberais.
Dos intelectuais.
Dos servidores públicos.
Dos empresários comprometidos com o desenvolvimento econômico e social do país.
Dos negros. Dos índios. Dos jovens.
De todos aqueles que sofrem ainda distintas formas de discriminação.
Enfim, das mulheres.

Para muitos, elas são "metade do céu". Mas queremos ser a metade da terra também. Com igualdade de direitos, salários e oportunidades. Quero com vocês - mulheres do meu país - abrir novos espaços na vida nacional.
É com este Brasil que quero caminhar. É com ele que vamos seguir, avançando com segurança, mas com a rapidez que nossa realidade social exige.
Nessa caminhada encontraremos milhões de brasileiros que passaram a ter comida em suas mesas e hoje fazem três refeições por dia.
Milhões que mostrarão suas carteiras de trabalho, pois têm agora emprego e melhor renda.
Milhões de homens e mulheres com seus arados e tratores cultivando a terra que lhes pertence e de onde nunca mais serão expulsos.
Milhões que nos mostrarão suas casas dignas e os refrigeradores, fogões, televisores ou computadores que puderam comprar.

Outros milhões acenderão as luzes de suas modestas casas, onde reinava a escuridão ou predominavam os candieiros. E estes milhões de pontos luminosos pelo Brasil a fora serão como uma trilha incandescente que mostra um novo caminho.
Nessa caminhada, veremos milhões de jovens mostrando seus diplomas de universidades ou de escolas técnicas com a convicção de quem abriu uma porta para o futuro.
Milhões - mas muitos milhões mesmo - expressarão seu orgulho de viver em um país livre, justo e, sobretudo, respeitado em todo o mundo.
Muitos me perguntam porque o Brasil avançou tanto nos últimos anos. Digo que foi porque soubemos construir novos caminhos, derrubando velhos dogmas.
O primeiro caminho é o do crescimento com distribuição de renda - o verdadeiro desenvolvimento. Provamos que distribuindo renda é que se cresce. E se cresce de forma mais rápida e sustentável.

Essa distribuição de renda permitiu construir um grande mercado de bens de consumo popular. Ele nos protegeu dos efeitos da crise mundial.
Criamos 12 milhões de empregos formais. A renda dos trabalhadores aumentou. O salário mínimo real cresceu como nunca. Expandimos o crédito para o conjunto da sociedade. Estamos construindo um Brasil para todos.
O segundo caminho foi o do equilíbrio macro-econômico e da redução da vulnerabilidade externa.
Eliminamos as ameaças de volta da inflação. Reduzimos a dívida em relação ao Produto Interno Bruto.
Aumentamos nossas reservas de 38 bilhões de dólares para mais de 241 bilhões. Multiplicamos por três nosso comércio exterior, praticando uma política externa soberana, que buscou diversificar mercados.

Deixamos de ser devedores internacionais e passamos à condição de credores. Hoje não pedimos dinheiro emprestado ao FMI. É o Fundo que nos pede dinheiro.
Grande ironia: os mesmos 14 bilhões de dólares que antes o FMI nos emprestava, agora somos nós que emprestamos ao FMI.
O terceiro caminho foi o da redução das desigualdades regionais. Invertemos nos últimos anos o que parecia uma maldição insuperável. Quando o país crescia, concentrava riqueza nos estados e regiões mais prósperos. Quando estagnava, eram os estados e regiões mais pobres que pagavam a conta.

Governantes e setores das elites viam o Norte e o Nordeste como regiões irremediavelmente condenadas ao atraso.
A vastos setores da população não restavam outras alternativas que a de afundar na miséria ou migrar para o sul em busca de oportunidades. É o que explica o inchaço das grandes cidades.
Essa situação está mudando. O Governo Federal começou um processo consistente de combate às desigualdades regionais. Passou a ter confiança na capacidade do povo das regiões mais pobres. O Norte e o Nordeste receberam investimentos públicos e privados. O crescimento dessas duas regiões passou a ser sensivelmente superior ao do Brasil como um todo.

Nós vamos aprofundar esse caminho. O Brasil não mais será visto como um trem em que uma única locomotiva puxa todos vagões, como nos tempos da "Maria Fumaça". O Brasil de hoje é como alguns dos modernos trens de alta velocidade, onde vários vagões são como locomotivas e contribuem para que o comboio avance.
O quarto caminho que trilhamos e continuaremos a trilhar é o da reorganização do Estado.
Alguns ideólogos chegavam a dizer que quase tudo seria resolvido pelo mercado. O resultado foi desastroso.
Aqui, o desastre só não foi maior - como em outros países - porque os brasileiros resistiram a esse desmonte e conseguiram impedir a privatização da Petrobrás, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica ou de FURNAS.
Alguns falam todos os dias de "inchaço da máquina estatal". Omitem, no entanto, que estamos contratando basicamente médicos e profissionais de saúde, professores e pessoal na área da educação, diplomatas, policiais federais e servidores para as áreas de segurança, controle e fiscalização.

Escondem, também, que a recomposição do corpo de servidores do Estado está se fazendo por meio de concursos públicos.
Vamos continuar valorizando o servidor e o serviço público. Reconstituindo o Estado. Recompondo sua capacidade de planejar, gerir e induzir o desenvolvimento do país.
Diante da crise, quando o crédito secou, não sacrificamos os investimentos públicos e privados. Ao contrário, utilizamos nossos bancos para impulsionar o desenvolvimento e a garantia de emprego no País.

Na verdade, quando a crise mundial apenas começava, Lula disse em seu discurso na ONU em 2008:
É chegada a hora da política!
Nada mais apropriado. A maior prova nós demos ao mundo: o Brasil só pôde enfrentar com sucesso a crise porque tivemos políticas públicas adequadas. Soubemos articular corretamente Estado e mercado, porque colocamos o interesse público no centro de nossas preocupações.

O quinto caminho foi o de nossa presença soberana no mundo.
O Brasil não mais se curva diante dos poderosos. Sem bravatas e sem submissão, o país hoje defende seus interesses e se dá ao respeito. É solidário com as nações pobres e em desenvolvimento. Tem uma especial relação com a América do Sul, com a América Latina e com a África. Estreita os laços Sul-Sul, sem abandonar suas relações com os países desenvolvidos. Busca mudar instituições multilaterais obsoletas, que impedem a democratização econômica e política do mundo.
Essa presença global, e o corajoso enfrentamento de nossos problemas domésticos em um marco democrático, explicam o respeito internacional que hoje gozamos.

O sexto caminho para onde convergem todos os demais foi o do aperfeiçoamento democrático.
No passado, tivemos momentos de grande crescimento econômico. Mas faltou democracia. E como faltou!
Em outros momentos tivemos democracia política, mas faltou democracia econômica e social. E sabemos muito bem que quando falta democracia econômica e social, é a democracia como um todo que está ameaçada. O país fica à mercê das soluções de força ou de aventureiros.
Hoje crescemos, distribuindo renda, com equilíbrio macro-econômico, expansão da democracia, forte participação social na definição das políticas públicas e respeito aos Direitos Humanos.

Quem duvidar do vigor da democracia em nosso país que leia, escute ou veja o que dizem livremente as vozes oposicionistas. Mas isso não nos perturba. Preferimos as vozes dessas oposições - ainda quando mentirosas, injustas e caluniosas - ao silêncio das ditaduras.
Como disse o Presidente Lula, a democracia não é a consolidação do silêncio, mas a manifestação de múltiplas vozes. Nela, vai desaparecendo o espaço para que velhos coronéis e senhores tutelem o povo. Este passa a pensar com sua cabeça e a constituir uma nova e verdadeira opinião pública.

As instituições funcionam no país. Os poderes são independentes. A Federação é respeitada. Diferentemente de outros períodos de nossa história, o Presidente relacionou-se de forma republicana com governadores e prefeitos, não fazendo qualquer tipo de discriminação em função de suas filiações partidárias.
Não praticamos casuísmos. Basta ver a reação firme e categórica do Presidente Lula ao frustrar as tentativas de mudar a Constituição para que pudesse disputar um terceiro mandato. Não mudamos - como se fez no passado - as regras do jogo no meio da partida.
Como todos podem ver, temos um extraordinário alicerce sobre o qual construir o terceiro Governo Democrático e Popular. Temos rumo, experiência e impulso para seguir o caminho iniciado por Lula. Não haverá retrocesso, nem aventuras. Mas podemos avançar muito mais. E muito mais rapidamente.

Queridas companheiras, queridos companheiros.
Não é meu propósito apresentar aqui um Programa de Governo.
Este Congresso aprovou as Diretrizes para um programa que será submetido ao debate com os partidos aliados e com a sociedade.
Hoje quero assumir alguns compromissos como pré-candidata, para estimular nossa reflexão e indicar como pretendemos continuar este processo iniciado há sete anos.

Vamos manter e aprofundar aquilo que é marca do Governo Lula - seu olhar social. Queremos um Brasil para todos. Nos aspectos econômicos e em suas projeções sociais, mas também um Brasil sem discriminações, sem constrangimentos. Ampliaremos e aperfeiçoaremos os programas sociais do Governo Lula, como o Bolsa Família, e implantaremos novos programas com o propósito de erradicar a miséria na década que se inicia.
Vamos dar prioridade à qualidade da educação, essencial para construir o grande país que almejamos, fundado no conhecimento e na justiça social. Mas a educação será, sobretudo, um meio de emancipação política e cultural do nosso povo. Uma forma de pleno acesso à cidadania. Daremos seguimento à transformação educacional em curso - da creche a pós-graduação.

Os jovens serão os primeiros beneficiários da era de prosperidade que estamos construindo. Nosso objetivo estratégico é oferecer a eles a oportunidade de começar a vida com segurança, liberdade, trabalho e realização pessoal.
No Brasil temos hoje 50 milhões de jovens, entre os 15 e os 29 anos de idade. Mais de um quarto da população brasileira. E eles têm direito a um futuro melhor.
O Brasil precisa muito da juventude. De profissionais qualificados. De mulheres e homens bem formados.

Isto se faz com escolas que propiciem boa formação teórica e técnica, com professores bem treinados e bem remunerados. Com bolsas de estudo e apoio para que os alunos não sejam obrigados a abandonar a escola. Com banda larga gratuita para todos, computadores para os professores, salas de aula informatizadas para os estudantes. Com acesso a estágios, cursos de especialização e ajuda para entrar no mercado de trabalho de todo o Brasil.
Serão esses jovens bem formados e preparados que vão nos conduzir à sociedade do conhecimento
Protegeremos as crianças e os mais jovens da violência, do assédio das drogas, da imposição do trabalho em detrimento da formação escolar e acadêmica.
As crianças e os mais jovens devem ser, sim, protegidos pelo Estado, desde a infância até a vida adulta, para que possam se realizar, em sua plenitude, como brasileiros.

Um País se mede pelo grau de proteção que dá a suas crianças. São elas a essência do nosso futuro. E é na infância que a desigualdade social cobra seu preço mais alto. Crianças desassistidas do nascimento aos cinco anos serão jovens e adultos prejudicados nas suas aptidões e oportunidades. Cuidar delas adequadamente é combater a desigualdade social na raiz.
Vamos ampliar e disseminar por todo o Brasil a rede de creches, pré-escolas e escolas infantis. Um tipo de creche onde a criança tem acesso a socialização pedagógica, aos bens culturais e aos cuidados de nutrição e saúde indispensáveis a seu pleno desenvolvimento. Isso é o que está previsto no PAC 2.

Vamos resolver os problemas da saúde, pois temos um incomparável modelo institucional - o SUS. Com mais recursos e melhor gestão vamos aprimorar a eficácia do sistema. Vamos reforçar as redes de atenção à saúde e unificar as ações entre os níveis de governo. Darei importância às Unidades de Pronto Atendimento, as UPAs, ao SAMU, aos hospitais públicos e conveniados, aos programas Saúde da Família, Brasil Sorridente e Farmácia Popular.
Vamos cuidar das cidades brasileiras. Colocar todo o empenho do Governo Federal, junto com estados e municípios, para promover uma profunda reforma urbana, que beneficie prioritariamente as camadas mais desprotegidas.

Vamos melhorar a habitação e universalizar o saneamento. Implantar transporte seguro, barato e eficiente.
Vamos reforçar os programas de segurança pública.
A conclusão do PAC 1 e a implementação do PAC 2, junto com a continuidade do programa Minha Casa, Minha Vida serão decisivos para realizar esse compromisso.

Vamos fortalecer a proteção de nosso meio ambiente. Continuaremos reduzindo o desmatamento e impulsionando a matriz energética mais limpa do mundo. Vamos manter a vanguarda na produção de biocombustíveis e desenvolver nosso potencial hidrelétrico. Desenvolver sem agredir o meio ambiente, com usinas a fio d'água e utilizando o modelo de usinas-plataforma. Aprofundaremos nosso zoneamento agro-ecológico. Nossas iniciativas explicam a liderança que alcançamos na Conferência sobre a Mudança do Clima, em Copenhague. As metas voluntárias de Copenhague, assumidas pelo Brasil, serão cumpridas, haja ou não acordo internacional. Este é o nosso compromisso.
Vamos aprofundar os avanços já alcançados em nossa política industrial e agrícola, com ênfase na inovação, no aperfeiçoamento dos mecanismos de crédito, aumentando nossa produtividade.
Agregar valor a nossas riquezas naturais, é fundamental numa política de geração de empregos no País. Tudo que puder ser produzido no Brasil, deve ser - e será - produzido no Brasil. Sondas, plataformas, navios e equipamentos aqui produzidos, para a exploração soberana do Pré-sal, vão gerar emprego e renda para os brasileiros. Emprego e renda que virão também da produção em indústrias brasileiras de fertilizantes, combustíveis e petroquímicos derivados do óleo bruto. Assim, com este modelo soberano e nacional, a exploração do Pré-sal dará diversidade e sofisticação à nossa indústria.

Os recursos do Pré-sal, aplicados no Fundo Social, sustentarão um grande avanço em nossa educação e na pesquisa científica e tecnológica. Recursos que também serão destinados para o combate à pobreza, para a defesa do meio ambiente e para a nossa cultura.
Vamos continuar mostrando ao mundo que é possível compatibilizar o desenvolvimento da agricultura familiar e do agronegócio. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores e, ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial brasileiro.
Todas as nossas ações de governo têm uma premissa: a preservação da estabilidade macro-econômica.
Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante.
Vamos seguir dando transparência aos gastos públicos e aperfeiçoando seus mecanismos de controle.
Vamos combater a corrupção, utilizando todos os mecanismos institucionais, como fizemos até agora.
Vamos concretizar, junto com o Congresso, as reformas institucionais que não puderam ser completadas ou foram apenas parcialmente implantadas, como a reforma política e a tributária.
Vamos aprofundar nossa postura soberana no complexo mundo de hoje. Seremos intransigentes na defesa da paz mundial e de uma ordem econômica e política mais justa.
Enfim, vamos governar para todos. Com diálogo, tolerância e combatendo as desigualdades sociais e regionais.
Companheiras e companheiros,
Faremos na nossa campanha um debate de idéias, com civilidade e respeito à inteligência política dos brasileiros. Um debate voltado para o futuro.
Recebo essa missão especialmente como um mandato das mulheres brasileiras, como mais uma etapa no avanço de nossa participação política e como mais uma vitória contra a discriminação secular que nos foi imposta. Gostaria de repetir: quero com vocês, mulheres do meu País, abrir novos espaços na vida nacional.

Queridas amigas e amigos

No limiar de uma nova etapa de minha vida, quando sou chamada à tamanha responsabilidade, penso em todos aqueles que fizeram e fazem parte de minha trajetória pessoal.
Em meus queridos pais.
Em minha filha, meu genro e em meu futuro neto ou neta.
Nos tantos amigos que fiz.
Nos companheiros com quem dividi minha vida.
Mas não posso deixar de ter uma lembrança especial para aqueles que não mais estão conosco. Para aqueles que caíram pelos nossos ideais. Eles fazem parte de minha história.

Mais que isso: eles são parte da história do Brasil.
Permitam-me recordar três companheiros que se foram na flor da idade.
Carlos Alberto Soares de Freitas.
Beto, você ia adorar estar aqui conosco.
Maria Auxiliadora Lara Barcelos
Dodora, você está aqui no meu coração. Mas também aqui entre nós todos.
Iara Yavelberg.
Iara, que falta fazem guerreiras como você.
O exemplo deles me dá força para assumir esse imenso compromisso.
A mesma força que vem de meus companheiros de partido, sobretudo daquele que é nosso primeiro companheiro - Luiz Inácio Lula da Silva.
Esse ato de proclamação de minha candidatura tem uma significação que transcende seu aspecto eleitoral.
Estamos hoje concluindo o Quarto Congresso do Partido dos Trabalhadores.
Mais do que isso: estamos celebrando os Trinta Anos do PT.
Trinta anos desta nova estrela que veio ocupar lugar fundamental no céu da política brasileira.
Em um período histórico relativamente curto mudamos a cara de nosso sofrido e querido Brasil.
O PT cumpriu essa tarefa porque não se afastou de seus compromissos originais. Soube evoluir. Mudou, quando foi preciso.
Mas não mudou de lado.
Até chegar à Presidência do país, o PT dirigiu cidades e estados da Federação, gerando práticas inovadoras políticas, econômicas e sociais que o mundo observa, admira e muitas vezes reproduz. Fizemos isso, preservando e fortalecendo a democracia.
Mas, a principal inovação que o Partido trouxe para a política brasileira foi colocar o povo - seus interesses, aspirações e esperanças - no centro de suas ações.
Olhando para este magnífico plenário o que vejo é a cara negra, branca, índia e mestiça do povo brasileiro.
Esta é a cara do meu partido.
O rosto daqueles e daquelas que acrescentam a sua jornada de trabalho, uma segunda jornada - ou terceira - a jornada da militância.
Quero dizer a todos vocês que tenho um enorme orgulho de ser petista. De militar no mesmo partido de vocês. De compartilhar com Lula essa militância.
Estou aceitando a honrosa missão que vocês me delegam com tranqüilidade e determinação.
Sei que não estou sozinha.
A tarefa de continuar mudando o Brasil é uma tarefa de milhões. Somos milhões.
Vamos todos juntos, até a vitória.
Viva o povo brasileiro!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Memórias Póstumas do Haiti

* Por Tiago Barbosa Mafra

Os dias se passam, os sobreviventes não mais são encontrados, a decomposição dos corpos ainda é grande problema sanitário, o país continua arrasado, mas o impacto visual e emocional das notícias quentes e dos salvamentos gloriosos das tropas de paz da ONU já passou. Tanto que, as menções ao Haiti pós terremoto são vagas e ocupam pequeninos espaços nos noticiário diários, quando sobra uma brecha na programação.

Estranho pensar que as desgraças parecem tão imediatas quanto as notícias, mas apenas parecem.

A história de construção das condições de miséria do Haiti são relegadas ao esquecimento. Não se fala também do controle total, que de modo velado já existia, mas que agora, com uma mãozinha da mãe natureza, se institucionaliza através dos programas de ajuda e reconstrução do país abalado pelos terremotos dos últimos meses. Ajuda que trará uma conta muito grande para as futuras gerações de haitianos, disfarçada de acordos econômicos e de “cooperação” entre países.

Um dos momentos de preparo dessas condições de miséria, pode ser visto em um pequeno texto do jornalistas uruguaio Eduardo Galeano, de 1999, que aponta a maneira que o livre comércio lida com as diferenças de desenvolvimento dos países.

Não esqueçamos que nada surge do vazio. O processo histórico não permite ocultar os verdadeiros vilões. Terremotos não podem ser controlados. Dignidade humana ao alcance de todos, pelo contrário, é muito bem controlada pelas estruturas capitalistas e serve como moeda de troca nas relações de poder no tabuleiro geopolítico mundial.

A liberdade de Comércio


As notícias de rotina não têm divulgação. Em março deste ano, sessenta haitianos rumaram para a costa dos Estados Unidos num desengonçado barquinho, com a ilusão de ser recebidos como se fossem balseiros cubanos. Os sessenta morreram afogados.

Estes fugitivos da miséria tinham sido, todos eles, plantadores de arroz.

Muita gente vivia disso, no Haiti, até que o Fundo Monetário Internacional contribuiu para o desenvolvimento desse palpérrimo país, o país mais pobre do hemisfério ocidental, proibindo os subsídios à produção nacional de arroz.

E o Haiti passou de país produtor a país importador, os agricultores de arroz haitiano se transformaram em mendigos ou balseiros e o Haiti passou a ser, acredite-se ou não, um dos quatro mais importantes mercados do arroz norte-americano no mundo. O Fundo Monetário Internacional, ao que se saiba, jamais proibiu os enormes subsídios à produção de arroz nos Estado Unidos.
1999

GALEANO, Eduardo. O teatro do bem e do mal. trad. Sérgio Faraco.- 2a. edição- Porto Alegre: L&PM Pocket, 2008: 114.


Isso apenas mostra como as manobras do capital continuam a expoliar os pobres, sem se importar com as pessoas que morrem todos os dias, por falta de oportunidade, por falta de alimentos, por falta de estrutura de vida, por falta de esperança, por falta…

Como escreveu certa vez o filósofo Jean Jacques Rousseau, nas relações entre o forte e o fraco, a liberdade oprime.
Não esqueçamos das tragédias e dos Haitis espalhados pelo mundo e pelo Brasil. É o que quer a máquina de degradar homens. É o que não podemos aceitar.

* Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Dobradinha Arruda/Yeda é alternativa para sacrossanta aliança PSDB/DEMO/PPS

Já que José Serra parece titubear ao encontrar dificuldades cada vez maiores para emplacar sua candidatura rumo ao Planalto e muitos tucanos começam a jogar a toalha – ainda agora quando o jogo nem começou a ser jogado pra valer –, sugiro uma chapa alternativa para se contrapor a Ministra Dilma Rousseff e a alta popularidade do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva...

Uma dobradinha levando os nomes de José Roberto Arruda para presidente da República e Yeda Crusius para vice, ou vice-versa, tanto faz, vai dar a mesma coisa escatológica.

Assim no Natal Arruda nos garantiria muitos panetones e meias cheias de dinheiro!!!

Quanto àquelas multas de trânsito, Yeda poderia nos ensinar o seu “jeitinho” dentro do DETRAN!!!

Não tenho dúvida alguma que essa chapa angariaria facilmente o apoio de várias organizações, dentre elas o PCC e o Comando Vermelho.

PS. Caso Serra ainda seja o presidenciável da sacrossanta aliança PSDB/DEMO/PPS e logre êxito em sua empreitada, então sugiro o nome de Arruda – ex-favorito de Serra para ser seu vice na chapa presidencial – para o Ministério da Justiça, afinal ninguém entende mais do assunto que o governador do DF.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Weisbrot: Porque os Estados Unidos querem derrotar o PT nas eleições de outubro

O texto que segue é dum primor só. Agradeço ao Luiz Carlos Azenha através do Vi o Mundo e a internet por nos dar a oportunidade de ler um artigo desses, coisa que eu dificilmente tomaria conhecimento em outros tempos. Sob o título original de “The US game in Latin America”, o quase bicentenário diário britânico The Guardian traz uma excelente análise sobre como os EEUU pretendem manter seu imperialismo América Latina a fora e o papel que os ianques podem desempenhar nas próximas eleições brasileiras. É bom lembrar que essa é uma análise dum economista estadunidense – Mark Weisbrot. Portanto, não é nem petista e nem foi cooptado pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva.


O jogo dos Estados Unidos na América Latina


Inteferência dos Estados Unidos no Haiti e em Honduras são apenas os exemplos mais recentes das manipulações de longo prazo na América Latina

Por Mark Weisbrot*
, no jornal britânico Guardian, via Vi o Mundo
http://www.viomundo.com.br/voce-escreve/weisbrot-porque-os-estados-unidos-querem-derrotar-o-pt-nas-eleicoes-de-outubro/

Quando eu escrevo sobre a política externa dos Estados Unidos em lugares como o Haiti ou Honduras, geralmente recebo respostas de pessoas que acham difícil acreditar que os Estados Unidos se preocupam suficientemente com esses países para tentar controlar ou derrubar seus governos. Estes são países pequenos, pobres, com poucos mercados ou recursos. Por que os formuladores de política de Washington deveriam se preocupar com quem os governa?

Infelizmente, eles se preocupam. Eles se preocuparam suficientemente com o Haiti para derrubar o presidente eleito Jean-Bertrand Aristide não apenas uma vez, mas duas. Da primeira vez, em 1991, foi feito de forma encoberta. Só descobrimos depois que as pessoas que lideraram o golpe foram pagas pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos. E então o Emmanuel Constant, o líder do mais notório esquadrão da morte -- que matou milhares de apoiadores de Aristide depois do golpe -- disse à rede CBS que ele, também, foi financiado pela CIA.

Em 2004, o envolvimento dos Estados Unidos no golpe foi muito mais aberto. Washington liderou um boicote de quase toda ajuda econômica internacional ao Haiti por quatro anos, tornando o colapso do governo inevitável. Como o New York Times informou, enquanto o Departamento de Estado dos Estados Unidos dizia a Aristide que ele deveria fazer um acordo com a oposição política (financiada por milhões de dólares de dinheiro do contribuinte americano), o Instituto Republicano Internacional [Nota do Viomundo: braço de política externa do Partido Republicano] dizia à oposição que não deveria fazer acordo.

Em Honduras no último verão e outono, o governo dos Estados Unidos fez tudo o que pôde para evitar que o resto do hemisfério fizesse uma política eficaz de oposição ao golpe em Honduras. Por exemplo, bloqueou uma decisão da Organização dos Estados Americanos de que não reconheceria as eleições que fossem realizadas sob a ditadura. Ao mesmo tempo, o governo Obama se dizia publicamente contrária ao golpe.

Isso foi apenas parcialmente bem sucedido, do ponto-de-vista das relações públicas. A maioria do público dos Estados Unidos acha que o governo Obama foi contra o golpe em Honduras, embora em novembro do ano passado foram publicadas várias reportagens e editoriais críticos dizendo que Obama tinha cedido à pressão dos republicanos e não tinha feito o suficiente. Mas isso era uma leitura equivocada do que aconteceu: a pressão republicana de apoio ao golpe hondurenho mudou a estratégia de relações públicas do governo Obama, não sua estratégia política. Quem acompanhou os eventos de perto desde o início pode ver que a estratégia política era bloquear e adiar quaisquer tentativas de restaurar o presidente eleito [Manuel Zelaya], enquanto se pretendia que o retorno à democracia era o verdadeiro objetivo.

Entre os que entenderam isso estavam os governos da América Latina, inclusive os peso-pesados como o Brasil. Isso é importante porque demonstra que o Departamento de Estado estava disposto a pagar um preço político significativo para ajudar a direita em Honduras. Isso convenceu a grande maioria dos governos da América Latina de que [o governo Obama] não era diferente do governo Bush em seus objetivos no hemisfério, o que não é um resultado prazeiroso do ponto-de-vista diplomático.

Por que se preocupar com a forma com que esses países pobres são governados? Como qualquer bom jogador de xadrez sabe, os peões contam. A perda de alguns peões no começo de um jogo pode fazer a diferença entre quem vence e quem perde. Eles olham para esses países como uma questão de poder bruto. De governos que concordam com a maximização do poder dos Estados Unidos no mundo, eles gostam. Daqueles que tem outros objetivos -- não necessariamente antagônicos aos Estados Unidos -- eles não gostam.

Não é surpreendente que os aliados mais próximos do governo Obama no hemisfério são os governos direitistas da Colômbia ou Panamá, embora Obama não seja ele próprio um político de direita. Isso demonstra a continuidade da política de controle. A vitória da direita no Chile, a primeira vez que venceu uma eleição em meio século, foi uma vitória significativa para os Estados Unidos.

Se o Partido dos Trabalhadores de Lula perder a eleição presidencial no Brasil no outono, isso seria outra vitória para o Departamento de Estado. Embora autoridades do Departamento de Estado sob Bush e Obama tenham mantido uma postura amigável em relação ao Brasil, é óbvio que eles se ressentem profundamente das mudanças na política externa brasileira que aliaram o Brasil a outros governos social-democratas do hemisfério e se ressentem da posição independente do Brasil em relação ao Oriente Médio, ao Irã e a outros lugares.

Os Estados Unidos intervieram na política brasileira tão recentemente quanto em 2005, organizando uma conferência para promover mudanças legais que tornariam mais difícil para legisladores mudar de partido. Isso teria fortalecido a oposição ao Partido dos Trabalhadores (PT) do governo Lula, já que o PT tem disciplina partidária mas muitos políticos da oposição, não. Essa intervenção do governo dos Estados Unidos só foi descoberta no ano passado através de um pedido de informações sob o Freedom of Information Act [Nota do Viomundo: Lei americana que permite obter, na Justiça, informações sigilosas do governo] apresentado em Washington. Há muitas outros intervenções por todo o hemisfério das quais não sabemos. Os Estados Unidos tem estado pesadamente envolvidos na política do Chile desde os anos 60, muito antes de organizar a derrubada da democracia chilena em 1973.

Em outubro de 1970, o presidente Richard Nixon andou gritando no Salão Oval, sobre o presidente social democrata do Chile, Salvador Allende: "Aquele filho da puta!", disse Richard Nixon no dia 15 de outubro. "Aquele filho da puta do Allende -- vamos esmagá-lo". Algumas semanas depois ele explicou:

A maior preocupação no Chile é que [Allende] consolide seu poder e a imagem projetada para o mundo será de seu sucesso... Se deixarmos líderes em potencial da América do Sul pensarem que podem se mover como o Chile, teremos dificuldades.


Este é outro motivo pelo qual peões contam e o pesadelo de Nixon se tornou verdadeiro 25 anos depois, quando um país depois do outro elegeu governos de esquerda independentes que Washington não queria. Os Estados Unidos acabaram "perdendo" a maior parte da região. Mas estão tentando ganhar de volta, um país por vez. Os menores e mais pobres e mais próximos dos Estados Unidos são os que mais correm risco. Honduras e o Haiti terão eleições democráticas um dia, mas apenas quando a influência de Washington sobre a política deles for reduzida.

* Mark Weisbrot é co-diretor do Centro de Pesquisa Política e Econômica de Washington

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

A Cidade Administrativa e "o povo que paga"

Por José de Souza Castro na NovaE
http://www.novae.inf.br/site/modules.php?name=Conteudo&pid=605

Nesse esforço de manter os leitores informados sobre a Cidade Administrativa a ser inaugurada oficialmente dia 4 de março, começo a sentir-me como um tratador de elefantes no zoológico. É que não consigo diferenciar, mentalmente, a maior obra do governo mineiro e aquele elefante branco que o professor Fernando Massote, no artigo “O Faraó Aécio Neves”, em junho passado, viu como o espectro de uma pirâmide, pois construída para preservar para a eternidade, como se Egito fossem as Minas Gerais, a glória de nosso governador – e “cujo custo é sempre e covardemente o povo que paga”.

Essa última frase voltou-me à memória, no último dia 18, ao ler notícia assinada pelo repórter Breno Costa, da Agência Folha em Belo Horizonte, dizendo que uma disputa judicial estava atrasando a inauguração da Cidade Administrativa, orçada em R$ 1,2 bilhão.

“Mais de um ano após iniciar processos judiciais de desapropriação de cinco glebas ao redor do terreno de 840 mil m2 onde é erguida a estrutura da Cidade Administrativa, a estatal Codemig (Companhia de Desenvolvimento Econômico de Minas Gerais) ainda não obteve a posse de nenhuma das áreas, de tamanho total equivalente a 120 campos de futebol. Entre elas está o terreno onde desembocará o túnel que dará acesso à Cidade Administrativa, por baixo da rodovia MG-010, que liga Belo Horizonte ao aeroporto de Confins. A obra, orçada em R$ 68,5 milhões, está paralisada”, revelou o jornal paulista.

Pelo andar da carruagem, o povo vai ainda pagar mais caro, como veremos.

Conforme apurou o repórter, são cinco áreas em processo de desapropriação. Os donos dos terrenos, entre eles o Banco Santander e construtoras, não concordaram com o preço estipulado para a indenização, de R$ 27,24 por metro quadrado, e entraram na Justiça. Para justificar o preço, foram apresentados, em novembro de 2008, laudos feitos pelo governo em 2005.

Aparentemente, só o governo não sabia que o anúncio da instalação da Cidade Administrativa provocaria uma desenfreada especulação imobiliária na região, a 18 km do Centro de Belo Horizonte. Como é o povo que paga, não se preocupou em assegurar antes a posse definitiva dos terrenos. “Até agora, a Codemig não obteve a posse de nenhum dos cinco conjuntos de área alvos das ações de desapropriação, num total de mais de 1 milhão de metros quadrados”, apurou Breno Costa.

Segundo ele, os proprietários, “com laudos periciais mais recentes, querem até R$ 600 por m², o que poderia elevar a indenização para a casa dos R$ 400 milhões, ante os cerca de R$ 30 milhões pretendidos pela Codemig”.

Ou seja, em vez de R$ 1,2 bilhão, “o povo que paga” vai desembolsar cerca de R$ 1,6 bilhão.

Nos tribunais, conforme apurou o mesmo repórter – o único da grande imprensa interessado nesta questão – o governo acusa os laudos periciais de serem "equivocados e tendenciosos". Os proprietários, por sua vez, afirmam que a Codemig invadiu área particular – aquela em que está sendo construído o túnel de acesso à Cidade Administrativa, ao custo de R$ 68,5 milhões. Em 16 de dezembro passado, a juíza da 1ª Vara da Fazenda Pública de Belo Horizonte, Mariângela Faleiro, arbitrou em R$ 150, por metro quadrado, o valor a ser pago provisoriamente pelo governo. Ou seja, 25% do que pretendiam receber os proprietários, mas quatro vezes mais que o oferecido inicialmente pelo Estado. A decisão não agradou, e os proprietários pediram revisão do valor para R$ 319. Em outras duas áreas desapropriadas na vizinhança da Cidade Administrativa, decisões do juiz de primeira instância favoráveis ao governo foram derrubadas pelo Tribunal de Justiça.

Ultrapassada essa batalha, quando o for, “o povo que paga” vai assistir – se é que vai, pois a imprensa não trata dessas questões menores que só servem para aborrecer ao nosso governador – um outro espetáculo: o do repasse à iniciativa privada das áreas desapropriadas, para construção de shopping center, hotel e prédios de escritório, como forma de viabilizar o funcionamento da Cidade Administrativa.

Nem vamos entrar agora nessa questão e nem mesmo se é correto o governo declarar de utilidade pública e desapropriar um imóvel que será usado depois para atividade típica da iniciativa privada, como exploração comercial. Há quem ache isso um desvirtuamento da atividade do poder público.

Enquanto isso, no dia 28 de janeiro, Aécio Neves anunciou o cronograma para a mudança do governo para a Cidade Administrativa, enquanto a briga na Justiça continua. O grande interesse da imprensa mineira e nacional, hoje, é quanto o governo de Minas, via Codemig, vai gastar para anunciar a inauguração da Cidade Administrativa. Há grandes expectativas. A agência de publicidade encarregada da divulgação vem sendo assediada por gerentes comerciais de jornais, revistas, rádios e televisões.
Não sei se haverá frustrações, mas como é o povo que paga...

No dia 22 de fevereiro, primeira segunda-feira depois do Carnaval, começa a transferência dos primeiros servidores para a Cidade Administrativa, os que trabalham na Governadoria, Vice-Governadoria, Secretaria de Planejamento e Gestão, Secretaria de Governo, Gabinete Militar, Núcleo do Programa Estado para Resultados e Sistema Estadual de Meio Ambiente. Conforme Aécio Neves, o objetivo é migrar todos os órgãos e entidades até outubro deste ano, estimando a transferência de 1.800 a 1.900 servidores por mês.

O governador não espera reações desfavoráveis dos servidores, porque aprendeu com JK, que enfrentou sabiamente a questão de fazer com que o barnabé trocasse sem bufar o Rio por Brasília, nos anos 60. Os transferidos receberão benesses (pagas pelo povo, mas deixa pra lá, quem se importa?). Lei aprovada pelos deputados e sancionada por Aécio Neves no dia 7 de janeiro permite reduzir em até 25%, no ano de 2010, a jornada de trabalho dos servidores transferidos, das administrações direta e indireta, sem perda salarial. Para chegar ao novo local de trabalho, o trabalhador poderá ir de metrô até a Estação Vilarinho e lá pegar um ônibus gratuito.

E o povo que paga? Para ele, não está previsto transporte gratuito. Mas quem, em sã consciência, se não for empreiteiro de obras públicas (ou candidato a tal), viajará até essa cidade fantástica na esperança de ser atendido pelo governo? Os poucos serviços oferecidos ao pagador de impostos certamente não estarão ali. A Cidade Administrativa não foi construída para o povo, mas para os burocratas do governo. E para mostrar à posteridade a grande obra – de 1 bilhão e 600 milhões de reais – daquele que governou Minas Gerais por oito anos, até 2010.

Por sorte dos que vão ser transportados ao longo da vida funcional futura no lombo deste elefante branco, a pirâmide de nosso faraó não foi construída em meio a um deserto. Em vez de extensões monótonas de areia, o que se vê é uma paisagem composta por lagoas, por belos edifícios projetados pelo escritório de Oscar Niemayer, por uma alameda com 146 palmeiras e por jardins com 33 mil mudas de orquídeas-bambu (Arundina bambusifolia). Um paraíso deitado às margens não tão plácidas da MG-10 a caminho do Aeroporto Internacional Tancredo Neves, mais conhecido por Confins.

Ah, o governador anunciou também, no dia 28 de janeiro, que a inauguração oficial será no próximo dia 4 de março, “data em que o ex-presidente Tancredo Neves, que dá nome à Cidade, completaria cem anos de nascimento”, como destacou o jornal “Estado de Minas”.

Ah, o povo! Esse bom pagador de impostos, nunca devidamente homenageado...

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Eleições 2010 em MG: Parte II – A disputa pelo Palácio da Liberdade

Aécio Neves diz aos quatro ventos , e acredito que seja sincero nesse quesito, querer eleger seu vice Antônio Anastasia governador de Minas Gerais. Por quê? Porque Aécio é deveras esperto e ardiloso, talvez até mais que seu avô que tinha o apelido de Raposa das Alterosas. Aécio deverá deixar o governo de Minas antes do prazo mínimo exigido pela Justiça Eleitoral para desincompatibilização. Assim, Anastasia seria candidato não a eleição pura, mas sim a reeleição e Aécio não correria o perigo que César Maia correu em 2000 quando disputou o segundo turno para a prefeitura carioca contra sua cria, Luiz Paulo Conde. Na possibilidade de Aécio mais uma vez não conseguir viabilizar o seu nome para a disputa da presidência da República, o mais provável é que queira retornar ao Palácio da Liberdade em 2014.

Porém, antes disso, pretende chegar a Brasília como vice-presidente ou Senador com força o suficiente para se tornar o grande nome nacional do PSDB. Caso seja vice-presidente esse papel, obviamente, será mais difícil, mas dependendo do acordo que firmar com Serra poderá ser candidato a presidente com apoio desse último em 2014. Se chegar como Senador com Serra eleito presidente será o homem forte do eventual bloco governista no Congresso. Em outra hipótese, com Aécio Senador e Dilma Presidente, alguém duvida quem seria o aglutinador da oposição e o nome natural dessa para dali quatro anos? Acredito eu que na impossibilidade de ser candidato a presidência esse ano pela forma como foi tratorado por Serra, o cenário com ele Senador, Anastasia governador de Minas e o PT elegendo Dilma Presidente, é de longe o melhor para o neto de Tancredo.

Todavia a sacrossanta aliança PSDB/DEMO/PPS vem pressionando para que Aécio ceda e aceite o papel de coadjuvante na chapa de José Serra. E é justamente aí que o xadrez político em Minas fica mais complicado. Sendo vice de Serra Aécio não poderá se dedicar tanto quanto gostaria a campanha em Minas. Embora Aécio tenha construído em torno de si um robusto cinturão de alianças com inúmeros partidos fazendo parte do seu governo – inclusive PSB e PDT – e boa parte do PMDB – o que lhe garante também o apoio da grande maioria dos prefeitos no interior do estado – Anastasia, tal qual Dilma, é neófito em eleições. É quase certo que Anastasia estará no segundo turno, mas essa certeza dependerá do esforço desprendido por Aécio.

Atualmente os pretensos adversários de Anastasia são o ministro das Comunicações Hélio Costa e/ou algum candidato indicado pelo Partido dos Trabalhadores.

O ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias vêm travando uma disputa fratricida dentro da agremiação petista, mas caso haja algum vencedor o mais provável, por ora, é que seja Pimentel. Pimentel goza de boa avaliação como ex-prefeito da capital mineira e o PT como um todo é bastante forte na região metropolitana.

Já Costa é conhecido como cavalo paraguaio, aquele bom de largada e inversamente ruim de chegada. Costa disputou o governo em duas ocasiões. Em 1990 surgiu com amplo favoritismo. Perdeu no segundo turno para o xará Hélio Garcia por menos de 1% dos votos validos. Em 1994 de novo era o favorito e quase faturou a conta no primeiro turno obtendo 49% dos votos validos. No entanto conseguiu a proeza de ter menos votos no segundo turno e perdeu para Eduardo Azeredo.

Não é difícil imaginar que numa disputa entre Anastasia, o candidato do PT e Costa, falte fôlego ao menino da Globo e os dois primeiros façam a refrega no segundo turno. O próprio Costa parece estar ciente disso e vem acendendo uma vela a Deus e outra ao diabo.É comum vê-lo chantageando o PT, declarando que se o Partido dos Trabalhadores levar adiante a idéia de ter candidato próprio, ele (Costa) buscará uma aliança com Aécio. Essa aliança poderia ser no sentido de ter Anastasia como vice ou disputar o Senado com o apoio dos tucanos. Na verdade Costa se sente emparedado tanto pela força do grupo de Aécio quanto do PT e não lhe resta muita alternativa a não ser buscar aliança com um desses dois. Pelo andar da carruagem, no que depender do PT nacional e do Presidente Lula o PT mineiro fecha com Costa.

Não obstante na última semana apareceu um novo jogador que pode deixar ainda mais complicado o xadrez político em Minas.

O vice-presidente José Alencar primeiro mostrou disposição em retornar ao Senado. Para tanto teria de se candidatar por seu estado natal, Minas Gerais. Lula decretou que se Alencar quiser retornar ao Senado terá o apoio do PT mineiro. Patrus numa entrevista a um programa da TV Brasil disse que admira e estará sempre ao lado de dois homens, Lula e Alencar. Alencar mal acabara de fechar a boca e já surgira a idéia de lançá-lo ao governo. Penso eu que isso faz parte duma estratégia de Lula que teria dois alvos. O primeiro mandar um recado ao PT e ao PMDB mineiros, “resolvam logo a situação, fechem uma aliança ou então o PT, fechará com Alencar”. Cá entre nós, entre Costa e Alencar o PT de longe prefere ter candidato próprio, se não tiver que seja Alencar.

O outro alvo e outro recado seria para Aécio: “Se você ceder e se tornar vice de Serra, vamos atazanar a sua vida e lançar José Alencar candidato a governador com o apoio do PT”.

José Alencar saiu de uma infância pobre para se tornar um dos homens mais ricos do Brasil. Posteriormente deixou o comando do grupo empresarial que construiu nas mãos dos filhos, passando os últimos anos a se dedicar exclusivamente a vida pública. Desde que foi eleito Senador em 1998 passou a ser sempre lembrado para cargos executivos em Minas e possui um dialogo fácil tanto com setores mais conservadores quanto com a maior parte da esquerda mineira. Figura de respeito, com a vida pública ilibada, também goza de grande popularidade em seu estado. Ademais, recentemente passou por um drama pessoal no qual o país inteiro torceu por ele numa batalha desigual contra o câncer. Prova disso é a forma como foi aplaudido efusivamente durante a abertura dos trabalhos do Congresso Nacional ontem à tarde.

Qualquer figura com uma biografia dessas daria um candidato de peso, ainda mais num estado tão conservador quanto Minas Gerais. Daí o receio de Aécio em ver o nome de Alencar disputando o governo estadual. Se o PT tem rachas internos e pouca capilaridade no interior do estado, e se Hélio Costa é considerado cavalo paraguaio, Alencar é o oponente para Anastasia que Aécio não imaginava.

Mais. No caso de Alencar de fato candidatar-se ao Palácio da Liberdade, Costa poderia não agüentar a pressão, desistir da refrega e buscar a vaga de vice na chapa de Dilma Rousseff, o que deixaria Lula bastante contente.

Por ora o PMDB insiste no nome de Michel Temer, porém o PT não engole muito bem o nome do deputado paulista. Outro nome que vem sendo ventilado é o de Henrique Meireles, atual presidente do Banco Central, mas esse conta com restrições dentro do próprio PMDB. Costa, embora não seja o nome dos sonhos do PT, é mais forte eleitoralmente que as outras duas opções e representaria menos divergência dentro da aliança.

Assim está sendo jogado o xadrez político em Minas e suas conseqüências terão efeito (ou serão a causa?) das articulações que se desenrolam no cenário nacional. Definitivamente, a sucessão presidencial passará por Minas.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Revista Fórum: Papa critica projeto que criminaliza homofobia na Inglaterra

Alguém bem que poderia avisar a Herr Joseph Alois Ratzinger que estamos em pleno 2010 e a Inquisição acabou há alguns séculos. Por mais que Ratzinger tenha a cabeça dum inquisidor e já tenha usado uma farda nazista, passou da hora de ele rever alguns (pre)conceitos.

Papa critica projeto que criminaliza homofobia na Inglaterra

Revista Fórum

http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/NoticiasIntegra.asp?id_artigo=8014


O papa Bento XVI afirmou que o projeto de lei britânico que busca acabar com a discriminação contra homossexuais “viola a lei natural” e ameaça a “liberdade das comunidades religiosas”, e recomendou aos bispos católicos ingleses que combatam o projeto no país. A recomendação foi dada ontem, dia 1º, em uma visita dos religiosos ao Vaticano.

O projeto de lei, chamado de Equality Bill, está sendo analisada agora pelo Parlamento. Para o papa, o efeito dessa lei será uma imposição de “limites injustos à liberdade das comunidades religiosas a agir de acordo com suas crenças”.


A Igreja Anglicana britânica também já se mostrou preocupada com a possibilidade de aprovação do projeto. Seus líderes argumentam que o mecanismo obrigará os padres a celebrar casamentos de transexuais, o que iria contra os dogmas da igreja.


Os comentários do papa já repercutiram na comunidade inglesa e sua visita à Inglaterra, que ocorrerá em setembro, pode ser recebida com protestos. O presidente da National Secular Society, organização que defende a separação entre Estado e Igreja, Terry Sanderson, já disse publicamente que vai procurar todos as minorias que tenham se sentido atingidas pela posição do Vaticano.


Bento XVI é conhecido, desde antes de assumir o papado, por sua posição contra a homossexualidade, ao qual já afirmou ser “uma depravação e uma ameaça à família e à estabilidade da sociedade”.


O governo britânico, por sua vez, defende a legislação afirmando que ela “tornará a Grã-Bretanha um país mais justo e igualitário”. “Acreditamos que todos devem ter chances justos na vida e não sofrer discriminação”, disse um porta-voz em defesa da Equality Bill.


Com informações da BBC.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Eleições 2010 em MG – Parte I, a disputa pelo Senado

Dizer que a eleição para presidente da República deste ano passará por Minas Gerais é redundância, chega quase a ser um pleonasmo. Ou para usar uma frase bem popular aqui em Minas, “é chover no molhado”. Só o fato de Minas possuir o segundo maior colégio eleitoral do país, com cerca de 13,2 milhões de eleitores, o que por sua vez corresponde a aproximadamente 10,5% do eleitorado nacional, já é o suficiente para se fazer tal afirmação. No entanto nesse ano de 2010, em particular, Minas Gerais será decisiva para as pretensões tanto do atual grupo político que governa o Brasil quanto para o bloco de oposição conservadora. Por isso a necessidade de ficar atento a todos os lances dum intricado xadrez que precede a homologação das candidaturas ao governo estadual e ao Senado por Minas.

Caso Aécio ceda a pressão do bloco de oposição conservadora e aceite o papel de coadjuvante na chapa protagonizada por José Serra, os tucanos sairão de Minas com uma votação expressiva que somada a votação que supostamente terão – e hoje essa é uma suposição bem fundamentada e bastante verossímil – no estado de São Paulo pode lhes garantir o retorno ao Palácio do Planalto.

Por outro lado, se Aécio não se vergar diante dos demais cardeais tucanos e demos, se preocupando basicamente em empossar alguém de sua extrema confiança na cadeira que hoje é sua e se dedicar a uma vitória certa, tranqüila e sem maiores sobressaltos ao Senado Federal, então o caminho estará aberto, ainda que com algumas dificuldades, para que o presidente Lula, do alto da popularidade que detém em Minas, transfira votos para sua candidata Dilma Rousseff.

Como disse acima, se Aécio mantiver o que vem dizendo até agora e realmente se candidatar ao Senado terá uma vitória certa, tranqüila e sem maiores sobressaltos. Restaria ainda uma segunda vaga. Tilden Santiago que foi candidato ao mesmo cargo pelo PT em 2002 e por pouco não logrou êxito, agora é um neo-aécista, migrou para o PSB e já está em campanha, embora não oficial por enquanto, pelo estado. Tilden parece se fiar num suposto acordo com Aécio. Penso que Tilden confia mais do que deveria no governador mineiro. Ademais, Tilden que dificilmente terá o apoio entusiasmado de Aécio e sem a máquina petista que lhe garantiu milhões de votos há 8 anos atrás não terá condições de repetir o desempenho daquele ano quando disputou voto a voto com Hélio Costa a segunda vaga mineira – a primeira foi ocupada por Eduardo Azeredo. Aliás, Hélio Costa é devedor ao PT mineiro, pois não fosse a aliança branda entre PT e PMDB com os petistas descarregando o segundo voto para Senador em Costa, ele jamais seria eleito e a segunda vaga certamente ficaria com Tilden.

Pelo lado do Partido dos Trabalhadores a coisa anda um tanto complicada. Até o momento o partido possui dois pré-candidatos ao Palácio da Liberdade, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel e o ministro do Desenvolvimento Social Patrus Ananias. Existe ainda uma chance bastante razoável de nenhum deles ser candidato a governador. Estou falando da possibilidade real, e um temor tanto da maioria dos filiados quanto da militância, de o PT nacional intervir em Minas por um acordo com o atual ministro das Organizações Globo, perdão, das Comunicações Hélio Costa, o candidato do PMDB.

Trabalhando com o cenário de Fernando Pimentel ser o candidato, pois é o favorito nas prévias internas --Pimentel tem hoje a maioria no Diretório Estadual e no recentemente reeleito presidente estadual do PT, deputado federal Reginaldo Lopes, o principal cabo eleitoral ¬--Patrus seria o nome natural ao Senado. Com certeza Patrus largaria bem, tendo o apoio dos mais diversos movimentos sociais, inclusive da parte progressista da Igreja Católica. O ministro do DS também já foi prefeito de BH e permanece na lembrança do eleitorado da capital como excelente governante. Patrus contaria também com a força do PT na região metropolitana. Portanto, um candidato nada desprezível a segunda vaga ao Senado.

Porém, na última semana o vice-presidente José Alencar manifestou a intenção de continuar a carreira de homem público e o desejo de retornar ao Senado. Alencar foi eleito Senador em 1998, deixando o cargo em janeiro de 2003 para assumir a vice-presidência da República. Enquanto Alencar manifestava seu desejo, Lula declarava em alto e bom som, se Alencar de fato quiser retornar ao Senado o PT o apoiará. Alencar, peça nova nesse xadrez, conta com imensa popularidade no estado e além de tudo acaba de sair de um drama pessoal, uma luta árdua contra o câncer. O público em geral se comove com histórias como esta, o que acaba refletindo na hora do voto. Coligando-se com Alencar o PT dificilmente terá outro nome de expressão disputando o Senado.

Igualmente durante a última semana, para a surpresa dos mais desavisados, Itamar Franco se lançou candidato ao Senado pelo liqüidacionista PPS. Aécio Neves é o guia político da vez de Itamar. Antes já foram seus guias o avô de Aécio, Tancredo, seguido por Collor, FHC e Lula.

O nome de Itamar vinha sendo ventilado para ocupar o posto de vice-presidente na chapa de José Serra caso Aécio realmente refute o papel. Com certeza tratava-se de uma piada, pois não acredito que ninguém em sã consciência possa querer nosso Forrest Gump tupiniquim para ser vice de qualquer coisa. Itamar depois de passar a faixa presidencial para seu ex-primeiro-ministro FHC esperando que este lhe retribuísse o gesto dali quatro anos, sentiu-se traído pelo golpe branco da reeleição dado por FHC. No mais FHC pode até ter vendido o Brasil – aqui vender é força de expressão – mas não seria tão irresponsável a ponto de levar a sério as pretensões de nosso Forrest Gump. Por fim, mas pouco conformado de não retornar ao Palácio do Planalto, candidatou e sagrou-se governador de Minas Gerais em 1998 fazendo um governo – governo aqui é outra força de expressão – entre o pífio e o desastroso, o catastrófico e o anedótico.

Pode-se afirmar com certeza que sem o apoio de Aécio, Itamar seria nome mediocre para o Senado. Todavia Aécio além de ótimo marqueteiro, amordaçador de imprensa, inimigo dos movimentos sociais, yuppie- playboy e chegado a obras faraônicas que pouco ou nada representam para o conjunto da sociedade (vide a Cidade Administrativa), também tem se notabilizado pela capacidade de ressuscitar múmias políticas. Em 2006 elegeu Eliseu Rezende, então com 77 anos e há muito num diletante ostracismo que não fazia mal a ninguém, Senador da República. A campanha na TV parecia quadro de programa humorístico. Eliseu sentado sem dizer nada, apenas sorrindo, e Aécio em pé ao seu lado, vendendo-o qual um produto que recomendasse.

Sendo assim Itamar e o PPS – partido que não possui vontade própria e vive a reboque de PSDB e DEMO – não se aventurariam a lançar candidatura ao Senado sem o aval de Aécio, e aí pode estar um recado para José Serra. Levemos a sério as sondagens em torno de Itamar para vice de Serra, tirando Forrest Gump da cena nacional Aécio pode estar sinalizando que ainda há a possibilidade de se ter uma chapa tucana puro sangue.

A única coisa que parece mais ou menos delineada nessa refrega ao Senado por Minas é a vontade de Itamar e Tilden por falta de melhor opção para ambos. Pois o futuro de Aécio pode ser, como escrevi antes, a campanha a vice-presidência ou ao Senado. O candidato do PT depende de se resolver primeiro quem será o candidato a governador do partido e se o partido terá um candidato a governador. Caso o partido coligue com Hélio Costa deverá ter a premissa de indicar o candidato mais forte ao Senado e é bem provável nesse quadro que Patrus seja o escolhido. Pimentel é no momento um dos principais coordenadores da pré-campanha de Dilma e deverá, numa eventual desistência da disputa mineira conjugada a terceira presidência petista, ocupar um cargo de destaque, quiçá até o Ministério da Fazenda.

Já José Alencar pode ter colocado seu nome no jogo apenas a pedido de Lula. O nome de Alencar tem o poder de enturvecer o futuro do PSDB, mais precisamente o de José Serra. Mas isso veremos no próximo artigo.