segunda-feira, 29 de março de 2010

Outras Freqüências - Pouca Vogal

Humberto Gessinger em 2008 anunciou que a Engenheiros do Hawaii teria um hiato por tempo indeterminado e embarcou num projeto alternativo ao lado de Duca Leindecker, ex Cidadão Quem, o “Pouca Vogal”. Outras Frequencias é uma das músicas do espólio da Engenheiros – talvez ainda seja apressado falar em espólio, mas ... – e uma daquelas musicas que o tempo vai tornando cada vez mais cínica, desconfortável para uns, deleite para outros.

sábado, 27 de março de 2010

L'Aventura

Como sou da geração "Coca-Cola", uma homengem aos 50 anos de Renato Russo e à sua legião de admiradores.

Eterno trovador

Renato Russo completaria 50 anos hoje. O vocalista de uma das maiores bandas do rock nacional deixou uma legião de fãs e projetos no cinema e na literatura.


Por Pedro Rocha, no O Povo Online


No começo da década 1990, a estudante Andrea Araújo fez campana no orelhão próximo à rádio que sorteava ingressos para o show da Legião Urbana. Depois de várias ligações, conseguiu garantir a entrada para a apresentação da banda que a fazia garimpar raridades em sebos, gravar programas de televisão e transcrever em cadernos as letras que contavam a sua vida.

Um Renato Russo esvoaçante, vestido com uma blusa branca cheia de babados e segurando uma rosa vermelha na mão ainda sobe ao palco de sua memória. ``A performance dele é uma coisa que não sai da cabeça``, confessa Andrea 20 anos depois do show em Fortaleza, quando era uma entre os milhares de jovens aficionados pela banda de rock mais ouvida no País à época.


O carioca Renato Manfredini Jr. era o catalisador dessa paixão. Nesse tempo, o distrito federal fervilhava sobre os estertores da Ditadura Militar com bandas de rock pipocando pelas super-quadras do Plano Piloto. Algumas se consagrariam ao longo dos anos, como Titãs e Paralamas do Sucesso, mas nenhuma aglutinaria com tanta força essa paixão quanto o grupo formado por Renato, Marcelo Bonfá (bateria), Dado Villa-Lobos (guitarra) e Renato Rocha (baixo).


"Esse culto ainda existe com pessoas que nunca viram a banda tocar, a gente vê uma galera com seus 18 anos que é fã e nunca viu eles no palco. Eu acho isso muito interessante. As letras dele eram muito fortes, sem data de validade. Acho que ainda hoje não apareceu uma banda no pop rock como Legião Urbana``, diz Andrea.


Depois de integrar a banda de punk-rock Aborto Elétrico, Renato Russo escolheu a dedo os integrantes da Legião Urbana e já no final da década de 1980 chegava ao auge, tocada em todo o Brasil, estourando nas paradas de sucesso com o disco Que país é esse? e a música Faroeste Caboclo. O famoso show realizado em 1988 no estádio Mané Garrincha reuniu 40 mil pessoas e deixou patente a tensão entre os jovens da capital federal.


"O Renato faz parte da primeira turma de adolescentes que cresceu numa cidade igualmente adolescente. Ele tinha 13 anos quando chegou na cidade, mesma idade de Brasília. Foi a geração que desceu dos apartamentos pra tomar conta da cidade. Puxavam uma extensão e ligavam os amplificadores em locais públicos pra tocar. Toda a turma do rock de Brasília fez isso, uma ocupação mesmo no melhor dos sentidos. Foi a geração que deu alma a Brasília``, disse o jornalista Carlos Marcelo, autor da biografia Renato Russo: O Filho da Revolução (Editora Agir).


Envelhecer

A morte precoce em 1996, aos 36 anos, abreviou seus planos, mas não impediu que os jovens continuassem se identificando com suas letras. Todavia, os lançamentos póstumos pouco revelam do que poderia vir a ser a produção de Renato Russo. Leitor e cinéfilo precoce, o músico pretendia enveredar sua criação pelas outras linguagens artísticas com projetos como a adaptação para o cinema de Capitães da Areia (1937), de Jorge Amado, produção de um filme sobre a Legião Urbana e de um livro da história de sua geração em Brasília, além disso queria montar uma ópera baseada no romance Bom Crioulo (1895), do cearense Adolfo caminho, obra considerada pioneira por abordar abertamente o tema da homossexualidade.


"Pelo que ele escreveu e falava aos familiares, ele iria dividir a vida em três terços. O primeiro dedicado a musica e ao rock, o segundo ao cinema e no terceiro se tornaria um escritor. Isso mostra que o Renato, muito mais do que um roqueiro, foi uma espécie de antena parabólica, tinha um lado de cronista muito forte, mostrava nas suas letras as angústias, os desejos e as frustrações de uma geração``, fala Carlos Marcelo.


Para Marcelo Fróes, produtor que conviveu a época com algumas das figuras mais importantes do rock de Brasília, o legado de Renato Russo ainda carece de uma leitura mais consistente. ``Existem sim, muitas bandas que se inspiram no carisma, na fama e no sucesso da fórmula de Renato Russo, mas efetivamente influência - como ingrediente para algo legítimo - eu não vejo tanta quanto gostaria. Talvez falte espontaneidade nessa busca de inspiração, para que se torne uma verdadeira influência e nos brinde com coisas igualmente geniais".


O cantor das angústias juvenis, personalidade tímida e intimista, provavelmente seguiria uma carreira solo, como já vinha ensaiando nos dois discos que lançou em paralelo a Legião Urbana. O trovador solitário, como se denominou nos anos entre o Aborto Elétrico e a Legião, talvez se tornasse um velho rabugento para Andrea: ``Ele não teria muita paciência de envelhecer, não seria uma pessoa legal. Eu não queria ser vizinha dele``.



E MAIS


- Três filmes sobre Renato Russo devem chegar ao cinema ainda este ano. O primeiro dos projetos é uma biografia do vocalista a ser interpretado pelo ator global Thiago Mendonça. Além disso, duas películas baseadas nas narrativas Faroeste Caboclo e Eduardo e Mônica serão produzidas.


- Uma coletânea com duetos do cantor Renato Russo também será lançada em comemoração ao aniversário. Renato Russo: Duetos, idealizado por Marcelo Fróes, traz 15 faixas gravadas pelo cantor com artistas que vão de Caetano Veloso (Change parters) e Dorival Caymmi (Só louco) a Herbert Vianna (Nada por mim) e Cássia Eller (Vento no litoral).

terça-feira, 23 de março de 2010

Clima quente na Câmara de Poços de Caldas





O clima esteve quente hoje na Câmara Municipal de Poços de Caldas. O diretor da Circullare, Flávio Cançado, esteve presente respondendo a questionamentos formulados pelos vereadores.

Mas o mais importante, a Câmara foi tomada por uma multidão insatisfeita com a implantação do SIGA(O) – Sistema Integrado Grande Amigo (da Onça).

Para quem, como a imprensa local e nosso prefeito – Paulo César Silva, o Paulinho Courominas (PPS) – passou as últimas semanas dizendo que as manifestações contra o SIGA(O) não passava de ato com objetivos político-partidários e onde apenas meia dúzia de gatos pingados apareciam, foi um baita baque ver tanta gente no plenário da Câmara.

Agora, não posso deixar de ressaltar que Flávio Cançado é apenas um dos responsáveis pelo caos que se tornou a transporte público em Poços de Caldas – e de certa forma está sendo usado como bode expiatório. O povo de Poços tem o direito de saber que os outros responsáveis são o atual prefeito e seu antecessor, Sebastião Navarro Vieira Filho (DEM), além do também ex-prefeito e atual deputado federal Geraldo Thadeu (PPS), pois enquanto chefes do executivo municipal participaram, de maneira ou outra, da elaboração do projeto de integração. Sem contar que a própria Câmara Municipal até agora se esquivou do problema, para não dizer que se omitiu do seu direito de intervir no projeto e dialogar mais com a população. Era visível o constrangimento de alguns vereadores expostos numa Câmara lotada.

Para encerrar vou repartir com vocês o que a essa altura já não é segredo para quase ninguém. O CQC – Custe o Que Custar da TV Band – esteve aqui em Poços e nas próximas semanas levará ao ar no quadro “Proteste Já” uma matéria comigo, aguardem e tenho certeza que vocês darão boas risadas!!!

Chomsky é homenageado na Alemanha

Não deve ser segredo para muitos que acompanham o Dissolvendo No Ar, para meus companheiros de debates políticos e filosóficos, para meus professores na pós de Filosofia da PUC, para os professores companheiros de profissão e nem para meus alunos, a admiração que nutro por Noam Chomsky – seja por sua obra ou por sua militância – e a filosofia analítica de tradição anglo-saxônica em geral.

Aliás, Chomsky é o primeiro rosto que surge no “Mural do século passado” – parte superior à esquerda –, uma das formas que encontrei para mostrar a todos personalidades da política, arte, filosofia, literatura, etc., que admiro e ultrapassaram a dimensão de seu tempo.

Portanto, em minha opinião, nada mais justo que essa merecida homenagem.

O reconhecimento de Chomsky

Por Miriam

Via Blog do Luis Nassif

Chomsky recebe hoje o Prêmio Erich Fromm 2010
International Erich Fromm Society – Press release:
(tradução livre)

No dia 23 de março, aniversário de 110 anos de Erich Fromm, o prêmio Erich Fromm será entregue a Noam Chomsky, em Stuttgart, Alemanha.

A Sociedade Internacional Erich Fromm com esse prêmio, reconhece o seu trabalho, especialmentesuas opiniões políticas isentas, centradas na vida e dignidade de todos e especialmente dos impotentes.

Como Erich Fromm, ele corajosa e deliberadamente fala a linguagem da razão, capaz de impressionar, tanto a consciência do poderoso como a dos fazedores de opinião e de dar esperança aos impotentes e aos críticos livre pensadores.

Chomsky que aconselhou Fromm nos assuntos linguísticos de “Ter ou Ser”, desempenha um papel similar como Fromm nos anos 50 e 60. Como Fromm fez, Chomsky tem a capacidade de compreender a realidade sem deformações cognitivas e estar ciente das distorções que a “patologia da normalidade” tem com respeito às nossas opiniões públicas e convicções políticas e na “formação do consenso”.

A celebração será no Novo Castelo de Stuttgart. Chomsky apresentará o Dircurso de Fromm, chamado “O perverso flagelo do terrorismo: Realidade, Construção, Remédio”. Laudações serão apresentadas pelo historiador de Harvard, Lawrence Friedman (quem está finalizando uma biografia de Erich Fromm) e Peter Zudeik, filósofo e escritor alemão. Konstantin Wecker, um bem conhecido compositor de músicas políticas (e premiado com o , Erich Fromm de 2007), espontaneamente participará com canções para a celebração. Os honorários serão doados ao “Carol Fromm Memorial Fund for Children War Victms”

O Prêmio Erich Fromm é concedido anualmente pela Sociedade Internacional Erich Fromm para pessoas comprometidas com o avanço da excelência em preservar ou reviver o pensamento humanístico e a ação na tradição de Erich Fromm. Os premiados anteriores foram: Heribert Prantl, Hans Leyendecker, Eugen Drewermann, Konstantin Wecker, Jakob von Uexküll und Gerhart R. Baum.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Show de Messi

Messi é o melhor do mundo hoje??? Difícil dizer que não. É melhor que Maradona? Além da diferença de épocas, ainda é muito cedo para fazer tal afirmação.

Mas esse ano tem Copa do Mundo e ninguém sabe o que Lionel Messi poderá fazer na África do Sul.

Num futebol repleto de mediocridade e brucutus, Messi é uma centelha de beleza e arte.

Jefferson airplane - White Rabbit

Para começar bem a semana, Jefferson Airplane.

Nada representa melhor a saudade que sinto de um tempo que não vivi.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Elis Regina O Bebado e A Equilibrista

Ontem Elis Regina completaria 65 anos se estivesse viva. Elis era a cantora preferida de minha mãe que, por sua vez, completaria 64 anos em maio. Portanto, ambas foram da mesma geração. Ai vai "O bêbado e a equilibrista", composição de João Bosco e Adir Blanc, na voz inconfudível de Elis Regina (estou parecendo os antigos apresentadores do Globo de Ouro).

quarta-feira, 17 de março de 2010

Oposição "nada corporativa"

Muitos dizem que a oposição ao presidente Lula é fraca, frágil e titubeante, ou como disse FFHH certa vez, “a oposição tem que ter gosto de sangue na boca”. Talvez essas pessoas queiram de fato um golpe que surrupie o poder e o entregue de volta à sacrossanta aliança PSDB/DEMO, hoje contando também com o liqüidacionista PPS.

Já eu acho que a oposição de direita no Brasil é bastante “corajosa”. Não nos esqueçamos que entre outras vitórias, que podem ser contabilizadas por essa malta, estão a eleição de Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados, a imobilização imposta ao governo Lula durante a crise do “mensalão”, o fim da CPMF – e conseqüentemente o fim de um dos únicos impostos que incidia de forma mais pesada sobre a classe alta – e a demora em apreciar o ingresso da Venezuela ao Mercosul.

E é justamente na Comissão de Relações Exteriores, encarregada de analisar o ingresso ou não da Venezuela, que ocorre nesse instante mais um embate entre governo e oposição enquanto o último grupo mostra todo o seu desprendimento, coragem e sentido cívico. A comissão, presidida por Eduardo Azeredo (o pai de todos os mensalões) está obstruindo a nomeação de embaixadores.

O processo de escolha de embaixadores funciona mais ou menos assim. O Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) apresenta um nome ao presidente da República, este encaminha o nome para o Senado. O Senado por sua vez tem um tempo determinado para sabatinar o indicado e aprová-lo ou não como membro do corpo diplomático brasileiro.

Leiam a nota e vejam o quanto nossos senadores de oposição prezam pela idoneidade, desprendimento, sentido cívico e, claro, pela ausência de qualquer forma de corporativismo.

Protesto contra a política externa de Lula

De Ilimar Franco (o Globo)

A oposição está obstruindo as votações de embaixadores no Senado em protesto contra a política externa petista. Há divergências sobre o tratamento a Cuba e ao Irã.

O presidente da Comissão de Relações Exteriores, Eduardo Azeredo (PSDB-MG), suspendeu a sessão que analisaria os embaixadores da Venezuela e do Equador.

Só passou, em plenário, a indicação de Oto Agripino Maia para embaixador da Grécia. Ele é irmão do líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).


PS. Agripino “Rabo de Palha” Maia é aquele mesmo senador que em 2005 entrou com um pedido no TSE requerendo a extinção do Partido dos Trabalhadores.

terça-feira, 16 de março de 2010

Adriano e Haiti

Por Emir Sader, no Blog do Emir


Nem bem tinha ocorrido o terremoto do Chile, vozes “civilizadas” se apressaram em diferenciar uma “comunidade” organizada – o Chile – de um agregado de gente – o Haiti. Reproduziam, no seu elitismo, o lema central do capitalismo - “Civilização ou barbárie”. Uma sociedade desagregada, miserável, condenada às calamidades – a menção a que seja uma nacao negra fica sugerida -, em comparação com esse pedaço de Europa no sul do continente - que até elegeu um Berlusconi como presidente. A anarquia haitiana e a sobriedade chilena.


Quando, de repente, comecaram os saques, apareceram aos borbotões os “rotos” chilenos – como os ricos chamam os pobres por lá – atacando supermercados, foi se revelando o desamparo em que ficou a massa da população. Surgiram os erros gigantescos na previsão e na chamada da população para que se precavesse do tsunami que sucedeu o terremoto e causou outras tantas mortes. Revelou-se um número equivocado de mortos, corrigiu-se e de novo tinham se equivocado. A população reprovou a forma vacilante do governo enfrentar as consequências do terremoto.


A própria presidente Bachelet e seu Ministro de Relações Exteriores – dando a impressão que buscavam difenciar-se do Haiti, evidenciando que não tinham se tornado um país desvalido – se apressaram em dizer que não necessitariam de ajuda exterior. Poucos dias passaram até que tiveram que se desmentir, solicitando ajuda.


Os terremotos são fenômenos terríveis, não apenas pelas mortes e outros danos humanos e físicos graves que produzem, mas também porque nos dão a sensação literal de que “nos falta o chão”, jogando-nos no abandono, na insegurança, já que nos faltando o chão, parece que nada mais pode nos amparar. Quem viveu essa experiência traumática, nunca mais a esquece.


É evidente tambem que em qualquer catástrofe natural, os países mais pobres e as regiões mais pobres desses países sofrem muito mais, muito mais casas são destruídas, muito mais gente morre. Não se trata de maior ou menor “civilização”, mas de riqueza, de sua concentração nas mãos dos países que foram colonizadores e são imperialistas e os outros, vitimas deles.


No Haiti, mais além da imagem que a imprensa tratou de passar, do último circulo do inferno, a população se mobilizou, se organizou, demonstrou uma valentia e uma coragem moral que poucos países e povos demonstraram. Assim como o povo chileno resistiu aos duros sofrimentos do terremoto, às perdas, ás destruições. Claro que o nível atual de desenvolvimento do Chile é superior ao do Haiti, por razões históricas muito claras – em que as potências capitalistas têm responsabilidades gravíssimas, basta dizer que somente agora decidiram cancelar a dívida externa do Haiti.


Dá para fazer comparação com o Adriano. Quando ele desistiu de seguir jogando na Inter de Milão, renunciou a um contrato milionário, associado à fama e ao exibicionsmo midiático, porque “não estava feliz”, vozes similares não demoraram a dizer que havia algo muito mais complicado com ele, “álcool, drogas ou até algo pior”. Ele tinha que estar se comportando sob os efeitos da bebida, da droga ou “de algo pior”, para renunciar a dinheiro pelo sentimento de felicidade, de estar na favela da sua infância brincando com pipa com seus amigos, a quem mandava comprar sanduíches.


Agora, bastou o Adriano aparecer envolvido em uma festa noturna, um conflito com a namorada, faltar a treinos, para essas mesmas vozes – que consideram que Kaká, Ronaldinho, etc., se comportam como se deveria comportar um ser humano “normal” -, para pregar que Adriano não seja mais convocado para a seleção, que não vá ao Mundial – talvez com esperança que o Ronaldo corintiano, aquele que deixou de vir para o Flamento, seu time do coração, para ir ao Corinthians, por dinheiro – o substitua.


Essa atitude preconceituosa, a mesma que quis condenar o Haiti e absolver o Chile, se volta contra o Adriano, como a dizer que “quem nasceu nesse meio, quem prefere esse meio a Milão, um tipo com esses valores, acaba recaindo sempre no vício, não é pessoa confiavel”, etc., etc.


Os pobres – os países e as pessoas - nasceram pobres e assim morrerão. Como se tivessem um destino de ser pobres, não fossem produto histórico de processos que os produziram como pobres, sofrendo as pressões para seguirem assim. O Haiti não tem jeito, Adriano não tem jeito. Os pobres não têm jeito, quem nasceu pobre, morrerá pobre.


É intolerável para os preconceituosos, que Adriano tenha tomado essas atitudes, torcem para que naufrague diante do alcoolismo, para vituperar seu famoso: “Eu sabia, eu não disse, essa cara nao presta, etc., etc. Da mesma forma que desconhecem que o Haiti foi a vanguarda das lutas de independência na América Latina, que derrotou a Franca de Napoleão, antes de ser massacrada e pagar até hoje o preco dessa audácia.


Os pobres teriam que se conformar em ser pobres. Evo Morales, Lula, Mujica, Hugo Chavez teriam que dar errado; FHC, Sanchez de Losada, Carlos Andres Perez, Lacalle – teriam que ter dado certo. Mas a realidade é outra.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Guns N' Roses - Patience

Para aproveitar que Axl Rose e o que hoje é chamado de Guns N' Roses -- como se pudesse haver Guns sem Saul "Slash" Hudson e Izzy Stradlin -- acabam de se apresentar por aqui na Terra Brasilis, vamos matar um pouco de saudades da formação original da banda e curtir "Patience"

quinta-feira, 11 de março de 2010

Circullare X Povo de Poços: A população foi ouvida?

Um amigo meu, residente aqui em Poços de Caldas e que desde o fim de semana se encontra em viagem, me enviou email na terça-feira indagando sobre a implantação do sistema integrado no transporte público de nossa cidade. Semana passada conversávamos justamente sobre esse tema e antevíamos o que estava por vir. Para responder-lhe encaminhei outro email tentando retratar a situação da maneira mais honesta e fiel o possível.

Eis um trecho da minha resposta:

As pessoas estão indignadas. Preço [da tarifa] mais caro, sumiço de linhas antigas, o dobro do tempo (ou mais) para chegar ao mesmo destino de antes, ônibus super lotados, trabalhadores e estudantes tendo que sair de casa bem mais cedo e ainda assim chegando atrasados, filas enormes para comprar o cartão "Amigo" (da onça), funcionários da Circullare parecendo barata tonta sem saber informar nada. Acho que isso resume o caos que se tornou o transporte público em Poços nessa semana.

O povo está revoltado.


Não escrevi na resposta ao meu amigo, mas um verdadeira sensação de impotência como cidadão tomou conta de mim na terça-feira. Razão do sentimento, a forma como estão sendo tratados os usuários do transporte público de Poços de Caldas e a cilada que o “todo-poderoso” dono da empresa Circullare – única empresa responsável pela concessão pública de transportes na cidade –, Sr. Flávio Cansado, meteu alguns de seus funcionários, pois estes têm recebido insultos, xingamentos e até ameaças de agressão física justamente por também não entenderem o motivo de tamanho transtorno na vida da população e pela forma amadora como a empresa vem conduzindo o processo.


Mais. Na realidade a causa maior de todo o transtorno se deve a prática monopolística como a Circullare atua na cidade durante décadas a fio. Embora outro amigo, esse advogado, tenha me alertado que por se tratar de concessão pública não possamos falar em “monopólio”, o que vemos na prática é exatamente isso, sem concorrência e com anuência – para não dizer subserviência do poder público – a população poços-caldense se vê refém das ambições de uma única empresa de transporte público.

Todas as alterações perpetradas pela Circullare na última semana podem, do ponto de vista meramente jurídico, serem “legais”, no entanto isso não as torna “justas”. Não é justo o trabalhador/estudante (ainda mais levando em conta que o principal público atendido pela empresa se encontra nas classes mais baixas) pague mais caro para chegar mais tarde ao trabalho/escola. Assim como não é “justo” ser obrigado a “adquirir” (a Circullare não gosta que se empregue o termo “comprar”) o bendito “Cartão Amigo” para ter desconto nas passagens – na verdade não existe desconto algum, quem tiver o cartão paga o preço que já pagava antes e quem não tiver paga mais caro, portanto a passagem teve seu preço alterado para cima. Se não há irregularidades nisso, há nitidamente uma questão de imoralidade e desrespeito para com a população.

Outro ponto, talvez o mais importante de todos. Tudo isso ocorreu sem que a população tivesse a oportunidade de ser ouvida. Não houve audiência pública, não houve Conferencia Municipal da Cidade e nem tampouco do Desenvolvimento Urbano como tem acontecido noutras cidades. O assunto, de enorme importância para a população poços-caldense, sequer passou pela Câmara dos Vereadores, foi resolvido da forma como as autoridades poços-caldense se acostumaram após anos sem o povo ter o direito a voto para eleger o prefeito municipal, na base da canetada.

Para justificar tantos transtornos – outro transtorno que não citei é a criação de várias subestações –, falta de transparência dos gestores públicos, ausência de participação popular na elaboração do projeto, além do amadorismo tanto da empresa concessionária quanto da administração municipal, alguns asseclas do grupo que comanda política e economicamente a cidade vêm nos dizer que as alterações são necessárias para Poços de Caldas visando o futuro, uma vez que a população da cidade deve sofrer um aumento nos próximos anos. Esses asseclas são corajosos demais, não têm medo de cair no ridículo. Ora, quase todas as cidades no Brasil, um país ainda subdesenvolvido, verão sua população aumentar pelo menos durante a próxima década. Como esse argumento por si só é vazio, correram a comparar Poços de Caldas com outras cidades onde, segundo esses asseclas, existe um sistema de integração parecido. As cidades citadas foram, entre outras, Campinas, 1.064.669 habitantes e Uberlândia, 634.345 habitantes, sendo que Poços de Caldas conta hoje com 151.449, segundo dados do IBGE. A menos que eu não entenda nada de aritmética, Poços de Caldas ainda está muito longe do patamar dessas cidades.

Para encerrar não posso deixar passar em branco a atitude do vereador Flávio Faria (PT), único digno de ser chamado como vereador de oposição, autor de um requerimento pedindo a convocação do dono da empresa Circullare, Flávio Cansado, e do secretário municipal de Defesa Social, Sérgio Krisanski , para esclarecimentos na Câmara Municipal no dia 16 desse mês.

Aguardemos os próximos atos dessa balbúrdia recheada de autoritarismo e incompetência.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma pequena homenagem às mulheres

É fácil deduzir que quem viveu a adolescência ou juventude durante as décadas de 1960/70 considere Elis Regina a grande figura feminina da MPB. E com certeza Elis Regina foi mesmo a grande voz feminina daquela geração – e olha que ela concorria com Gal Costa, Maria Bethânia, Nara Leão entre outras. Mas para a minha geração dos 1980/90 quem marcou foi Cássia Eller – seguida de perto, muito perto mesmo, por Marisa Monte. Hoje, “Dia Internacional da Mulher”, escolho justamente uma interpretação de Cássia Eller, composição do genial Renato Russo, para homenagear essas criaturas belas, fortes, angelicais e diabólicas.

Com vocês 1º de julho na voz única de Cássia Eller.

domingo, 7 de março de 2010

Chapa “mula-sem-cabeça”


A insistência dos grão-tucanos e do Partido do Capital (mídia oligopolizada) em fazer de Aécinho candidato à vice-presidência, além de fazê-los passar por constrangimentos dantescos como o presenciado durante a inauguração da obra faraônica da Cidade Administrativa em BH, ainda consegue expor todas as fraquezas duma oposição farisaica, sem rumo e sem projetos para o país. No mais desgasta Serra – que ainda não se declarou candidato a nada –, além do próprio Aécinho e deixa no ar que sem o segundo o primeiro não conseguirá empunhar uma candidatura robusta.

Sempre considerei, na disputa interna entre ambos os governadores, o nome de José Serra como a opção menos ruim para o Brasil. Aécio Neves, como já escrevi antes, não passa dum yuppie, neoliberal de carteirinha, mas o mais importante, um produto de marketing muito bem feito. Já Serra representava uma certa tradição cepalina de desenvolvimentismo e me parecia ser uma criatura política séria e coerente – muito embora não comungasse de suas idéias –, isso até ele se envolver com o que há de mais conservador (e nojento) na política tupiniquim e com os famosos cães de guarda da burguesia, encastelados na mídia oligopolizada.

Pelo andar do carruagem, depois dos demo-tucanos terem passado o vexame de 2006 com o Picolé de Chuchu – quando Geraldo Alckmin obteve no segundo turno menos votos do que no primeiro –, agora querem lançar a chapa “mula sem cabeça”, Aécinho, que queria ser presidenciável, aceita ser vice sem ter um candidato na cabeça de chapa.


JANIO DE FREITAS [da Folha de São Paulo]

Via blog do Luis Nassif


Serra contra Serra

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura à Presidência

A PRIMEIRA resposta à expectativa criada pela tática de José Serra, de manter-se por tanto tempo como uma incógnita, não lhe é favorável. O desenrolar das circunstâncias políticas criou-lhe mais embaraços do que as vantagens esperadas por sua permanência, com aparências apáticas, no governo paulista. Nem as ocorrências em seu território de responsabilidades governamentais o pouparam, criando-lhe mais situações de desgaste do que colhendo reflexos eleitorais de seus pequenos eventos administrativos e políticos.

O principal efeito positivo da permanência de Serra no poder falhou de todo: sua exposição, favorecida pela condição de governador, ficou muito aquém do conveniente ao candidato. E, no entanto, era arma de grande importância, talvez fosse mesmo decisiva, para mantê-lo na altitude que as pesquisas lhe davam, enquanto Lula e Dilma Rousseff sairiam pelos caminhos pedregosos à cata de grãos percentuais.

Mas não foi a exposição, em si, que falhou, nem, muito menos, jornais e TV que não corresponderam a estímulos. A falha foi do próprio Serra, carente da criação de atrações para câmeras e notícias.

Nisso até chegou ao cúmulo. Nas várias semanas de calamidade fluvial dentro de São Paulo, oportunidade extraordinária -sem se considerar o dever- para juntar-se ao prefeito e demonstrar a capacidade de iniciativa ágil e eficaz esperada de um governante e de um candidato, Serra sumiu. Do ponto de vista da população, não só a paulista, não foi governante nem candidato. E não é preciso falar-se das péssimas notícias que têm vindo da sensível área de educação, de crianças sentadas no chão por falta de cadeiras e mesas à greve de professores.

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura de José Serra à Presidência. Só lhe permitiu protelar até ao limite a decisão entre ser candidato a presidente ou à reeleição. O que, para uma psicologia hamletiana, seria mesmo o fundamental.

A dinâmica da política poderia trazer compensações para Serra, mas não o fez. Ou só o fará, segundo a opinião dominante, caso Aécio Neves se conforme com a candidatura a vice. A julgar pelo ambiente em Minas a esse respeito, exposto em editorial de “O Estado de Minas” no gênero dos que só saem raramente, a decisão nem cabe mais a Aécio Neves, apenas. Extravasou do âmbito político para o da emocionalidade, com algumas razões coerentes.

Mas nessa historiada de vice cabe outra hipótese: crer que Serra deseje, de fato, a candidatura de Aécio é uma dedução de jornalistas, que a ele transferiram o que se sabe, no máximo, ser desejo de alguns outros peessedebistas. A Aécio não conviria uma vice sem luz própria, para brilho exclusivo de Serra, nem conviria ficar como figura secundária em esperável candidatura de Serra à reeleição presidencial. Serra, por certo, sabe disso, como sabe que a ninguém é conveniente um vice com brilho.

Não sendo Aécio, quem quer que entre como vice de Serra já chega desvalorizado ao lugar, tamanha tem sido a caracterização do governador mineiro, inclusive no PSDB, como indispensável às possibilidades de Serra. É outro, e grave, efeito da tática de Serra de manter-se por tanto tempo como incógnita. E dentre todos os efeitos ainda há o que sobressai aos olhos do eleitorado: a queda forte nas pesquisas contra a subida forte de Dilma Rousseff, já os dois, considerada a margem de erro, em situação de empate técnico.

Se candidato, José Serra terá muito trabalho para reverter os males de sua tática até aqui.

sábado, 6 de março de 2010

Led Zeppelin Knebworth 1979 - Kashmir

Aí uma palhinha do Led Zeppelin, a clássica Kashmir, úlitma música do disco 1 de Physical Graffiti

35 anos do Physical Graffiti


Há exatos 35 anos, o Led Zeppelin lançava o seu sexto álbum, o “Physical Graffiti “. Depois do grande sucesso da quadrilogia que levava o nome da banda e de “Houses of The Holy “, o grupo londrino atravessou um período de crise, quando John Paul Jones até ameaçou deixar a banda. Para esfriar os ânimos, o Led Zeppelin resolveu tirar pequenas férias, até voltar ao trabalho, em 1974, para prepara um novo álbum.

Após alguns meses, a banda já estava com um álbum pronto que, apesar de não ter muitas faixas, ultrapassava o tempo limite de tempo aceitável para um disco da época. Ao invés de retirar alguma das canções do álbum, Page, Plant, Jones e Bonham decidiram incluir no novo lançamento algumas faixas que haviam ficado de fora em trabalhos anteriores.

Assim o Led Zeppelin conseguiu compor uma obra-prima, que apesar de ter gravações de diversas fases da banda, consegue ter uma coesão, coerente com todo o trabalho da banda.

Ouça um podcast sobre Physical Graffiti no Mofodeu

quarta-feira, 3 de março de 2010

Universidade Florestan Fernandes pede ajuda

A Escola Nacional Florestan Fernandes pede a sua ajuda urgente para se manter em funcionamento

Brasil de Fato

Caros(as) amigos(as):

Situada em Guararema (a 70 km de São Paulo), a escola foi construída, entre os anos 2000 e 2005, graças ao trabalho voluntário de pelo menos mil trabalhadores sem terra e simpatizantes. Nos cinco primeiros anos de sua existência, passaram pela escola 16 mil militantes e quadros dos movimentos sociais do Brasil, da América Latina e da África. Não se trata, portanto, de uma "escola do MST", mas de um patrimônio de todos os trabalhadores comprometidos com um projeto de transformação social. Entretanto, no momento em que o MST é obrigado a mobilizar as suas energias para resistir aos ataques implacáveis dos donos do capital, a escola torna-se carente de recursos. Nós não podemos permitir, sequer tolerar a ideia de que ela interrompa ou sequer diminua o ritmo de suas atividades.

A escola oferece cursos de nível superior, ministrados por mais de 500 professores, nas áreas de Filosofia Política, Teoria do Conhecimento, Sociologia Rural, Economia Política da Agricultura, História Social do Brasil, Conjuntura Internacional, Administração e Gestão Social, Educação do Campo e Estudos Latino-americanos. Além disso, cursos de especialização, em convênio com outras universidades (por exemplo, Direito e Comunicação no campo).

O acervo de sua biblioteca, formado com base em doações, conta hoje com mais de 40 mil volumes impressos, além de conteúdos com suporte em outros tipos de mídia. Para assegurar a possibilidade de participação das mulheres, foram construídas creches (as cirandas), onde os filhos permanecem enquanto as mães estudam.

A escola foi erguida sobre um terreno de 30 mil metros quadrados, com instalações de tijolos fabricados pelos próprios voluntários. Ao todo, são três salas de aula, que comportam juntas até 200 pessoas, um auditório e dois anfiteatros, além de dormitórios, refeitórios e instalações sanitárias. Os recursos para a construção foram obtidos com a venda do livro Terra (textos de José Saramago, músicas de Chico Buarque e fotos de Sebastião Salgado), contribuições de ONGs europeias e doações.

Claro que esse processo provocou a ira da burguesia e de seus porta-vozes "ilustrados". Não faltaram aqueles que procuraram, desde o início, desqualificar a qualidade do ensino ali ministrado, nem as "reportagens" sobre o suposto caráter ideológico das aulas (como se o ensino oferecido pelas instituições oficiais fosse ideologicamente "neutro"), ou ainda as inevitáveis acusações caluniosas referentes às "misteriosas origens" dos fundos para a sustentação das atividades. As elites, simplesmente, não suportam a ideia que os trabalhadores possam assumir para si a tarefa de construir um sistema avançado, democrático, pluralista e não alienado de ensino. Maldito Paulo Freire!

Os donos do capital têm mesmo razões para se sentir ameaçados. Um dos pilares de sustentação da desigualdade social é, precisamente, o abismo que separa os intelectuais das camadas populares. O "povão" é mantido à distância dos centros produtores do saber. A elite brasileira sempre foi muito eficaz e inteligente a esse respeito. Conseguiu até a proeza de criar no país uma universidade pública (apenas em 1934, isto é, 434 anos após a chegada de Cabral) destinada a excluir os pobres.

Carlos Nelson Coutinho e outros autores já demonstraram que, no Brasil, os intelectuais que assumem a perspectiva da transformação social sempre encontraram dois destinos: ou foram cooptados (mediante o "apadrinhamento", a incorporação domesticada nas universidades e órgãos de serviços públicos, ou sendo regiamente pagos por seus escritos, ou recendo bolsas e privilégios etc.), ou os poucos que resistiram foram destruídos (presos, perseguidos, torturados, assassinados).

Apenas a existência de movimentos sociais fortes, nacionalmente organizados e estruturados poderiam fornecer aos intelectuais oriundos das classes trabalhadoras ou com elas identificados a oportunidade de resistir, produzir e manter uma vida decente, sem depender dos "favores" das elites. Ora, historicamente, tais movimentos foram exterminados antes mesmo de ter tido tempo de construir laços mais amplos e fortes com outros setores sociais.

A ENFF coloca em cheque, esse mecanismo histórico. A construção da escola só foi possibilitada pela prolongada sobrevivência relativa do MST (completou 25 anos 2009, um feito inédito para um movimento popular de dimensão nacional), bem como o método por ele empregado, de diálogo e interlocução com o conjunto da nação oprimida. Esse método permitiu o desenvolvimento de uma relação genuína de colaboração entre a elaboração teórica e a prática transformadora.

É uma oportunidade histórica muito maior do que a oferecida ao próprio Florestan Fernandes, Milton Santos, Paulo Freire e tantos outros grandes intelectuais que, apesar de todos os ataques dos donos do capital, souberam apoiar-se no pouquíssimo que havia de público na universidade brasileira para elaborar suas obras.

José Arbex Jr., membro do Conselho de Coordenação


Veja como você pode participar da Associação dos Amigos da Escola Florestan Fernandes


Em dezembro, um grupo de intelectuais, professores, militantes e colaboradores resolveu criar a Associação dos Amigos da Escola Nacional Florestan Fernandes, com três objetivos bem definidos: 1 - divulgar as atividades da escola, por todos os meios possíveis, incluindo sites, newsletter e blogs; 2 - iniciar uma campanha nacional pela adesão de novos sócios; 3 - promover uma série intensa de atividades, em São Paulo e outros estados, para angariar fundos, com privilégios especiais concedidos aos membros da associação.

O seu Conselho de Coordenação é formado por José Arbex Junior, Maria Orlanda Pinassi e Carlos Duarte. Participam do Conselho Fiscal: Caio Boucinhas, Delmar Mattes e Carlos de Figueiredo. A sede situa-se na Rua da Abolição n° 167 - Bela Vista - São Paulo - SP - Brasil - CEP 01319-030.

Existem duas modalidades de associação: a plena e a solidária. A única diferença entre ambas as modalidades consiste no valor a ser pago. Ambas asseguram os mesmos direitos e privilégios estendidos aos associados.

Para ficar sócio pleno, você deverá pagar a quantia de R$ 20,00 (vinte reais) mensais; para tornar-se sócio solidário, você poderá contribuir com uma quantia maior ou menor do que os R$ 20,00 mensais. Esses recursos serão diretamente destinados às atividades da escola ou, eventualmente, empregados na organização de atividades para coleta de fundos (por exemplo: seminários, mostras de arte e fotografia, festivais de música e cinema).

Para obter mais informações sobre como participar e contribuir, procure a secretaria executiva Magali Godoi através dos telefones: 3105-0918; 9572-0185; 6517-4780, ou do correio eletrônico: associacaoamigos@enff.org.br.

segunda-feira, 1 de março de 2010

Crise na Zona do Euro: o caminho da servidão, da Grécia a Letônia

Carta Maior

Por Michael Hudson e Jeffrey Sommers

A maioria dos meios de comunicação bate o pé na gravidade das dificuldades que a Grécia atravessa (e também Espanha, Irlanda e Portugal) no contexto europeu. Eles apenas fazem eco da crise muito mais severa, devastadora e potencialmente letal que assola as economias pós-soviéticas vinculadas ao plano de integração na Zona do Euro.


Não há dúvida de que esse silêncio se deve a que, aquilo por que esses países vem passando constitui uma prova sumária do horror destrutivo do neoliberalismo. O mesmo horror da política européia, que consiste em tratar esses países de forma bem diferente da prometida, não os ajudando a se desenvolverem em termos europeus ocidentais, masa os tratando como áreas meramente prontas a serem colonizadas como mercados financeiros e de exportação, destituindo-lhes de suas mais-valias econômicas, de sua mão de obra qualificada - e praticamente de toda sua força laboral em idade de trabalhar -, de seus bens imóveis e de prédios, e de qualquer outra coisa herdada da era soviética.

A Letônia vem passando por uma das piores crises econômicas ocorridas em todo o mundo. E não se trata somente de uma questão econômica, mas também demográfica. A diminuição brusca de seu Produto Interno Bruto (PIB), em 25,5% nos dois últimos anos (quase 20% só no último) já constitui a pior queda bianual de que se tem registro. as previsões mais otimistas do Fundo Monetário Internacional (FMI) antecipam uma queda adicional de 4%, a qual faria com que o afundamento da economia letã superasse em cifras as da Grande Depressão dos Estados Unidos. E as más notícias não acabam aí. O FMI prevê que, em 2009, houve um déficit total na conta de capital e financeira de 420 bilhões de euros, aos quais acrescentaram-se mais 150 bilhões (9% do PIB) em 2010.

Além disso, o setor público letão acumula dívida rapidamente. A Letônia passou a ter uma dívida que, em 2007, representava 7,9% do PIB, com uma projeção para este ano de cerca de 74%. A previsão indica que, no melhor cenário possível, se estabilizaria em 89% em 2014. Isto poria o país muito longe dos requisitos impostos pelo Tratado de Maastricht sobre os limites da dívida pública para poder fazer parte da Zona do Euro. Por isso, conseguir entrar na Zona do Euro tem sido o principal pretexto utilizado pelo Banco Central da Letônia para justificar as dolorosas medidas de austeridade que permitam estabilizar o valor da moeda. Para manter o valor da moeda tem-se destinado quantidades imensas de reservas monetárias que poderiam ser investidas na economia do país.


Mesmo assim, ninguém nos países ocidentais parece estar se perguntando o que pode ter provocado a quebra da Letônia, que se estende ao resto das economias bálticas e a outras áreas pós-soviéticas, cujo caso mais extremo é o letão. Agora que faz quase vinte anos de sua liberação da velha URSS, em 91, dificilmente pode-se encontrar a causa de seus problemas unicamente no sistema soviético. Nem sequer se pode culpar somente a corrupção, que sem dúvida constitui uma herança do período de dissolução da URSS, embora tenha engordado, intensificando e inclusive promovendo a modalidade cleptocrática de rapina que proporcionou abundância de lucros a banqueiros e investidores ocidentais. Foram os neoliberais ocidentais que financiaram essas economias, graças às “reformas favoráveis aos negócios”, que receberam o aplauso entusiasta do Banco Mundial, de Washington e de Bruxelas.


É evidente que caberia desejar menos corrupção (mas, em quem mais os ocidentais confiariam?). Contudo, reduzir a corrupção drasticamente talvez fizesse com que o país não tivesse de ser jogado na mesma posição que a Estônia, rumo a um sistema de sujeição de escravidão por (euro)dívidas. Esta área báltica vizinha também tem sofrido um aumento descomunal do desemprego, uma forte redução do crescimento, uma séria deteriorização dos padrões de saúde e emigração, em contraste lancinante com o ocorrido na Escandinávia e na Finlândia.


Joseph Stiglitz, James Tobin e outros economistas proeminentes ocidentais têm começado a dizer que há aspectos radicalmente negativos na ordem financeira importada pelos homens de negócios depois do colapso soviético. Certamente, o caminho empreendido pela Europa Ocidental depois da Segunda Guerra Mundial não foi o da economia neoliberal. Contudo, o novo experimento báltico tem o antecedente do ensaio geral imposto na boca do fuzil pelos Chicago Boys no Chile. Na Letônia os consultores procediam de Georgetown, mas a ideologia era a mesma: desmantelar o setor público e influir internamente nos processos de decisão política.


Para a aplicação pós-soviética este experimento cruel, a idéa era a de que os bancos ocidentais, os investidores financeiros e, especialmente, os economistas do “livre mercado” (assim chamados porque o despreenderam da propriedade pública, dos encargos fiscais e deram um novo significado ao termo “free lunch”: “lucros sem contrapartidas”) tiveram carta branca na maior parte do bloco soviético, para redesenhar economias inteiras. Dado como a coisa terminou, parece que todos os desenhos foram iguais. Os nomes dos indivíduos eram distintos, mas a maioria estava vinculado a, ou financiados por Washington, Banco Mundial e União Européia. E, visto que os patrocinadores eram as instituições financeiras ocidentais, não deveríamos nos surpreender em demasia diante do fato de que imporiam um modelo redundante para seus interesses.


Tratou-se de um plano que nenhum governo democrático ocidental jamais teria podido aprovar. Repartiram as empresas públicas entre indivíduos cuja missão era vendê-las rapidamente e investidores ocidentais e a oligarcas que transfeririam seu dinheiro de forma segura a paraísos fiscais ocidentais. Para encobrir esses procedimentos, criaram sistemas locais impositivos que permitiram aos grandes clientes tradicionais dos bancos ocidentais – os monopólios sobre bens imóveis e sobre as infraestruturas naturais – ficarem praticamente livres do pagamento de impostos. Isso permitiu que suas rendas e a fixação de preços monopólicos se tornassem “livres” e pudessem ser revertidas para bancos ocientais, em forma de pagamento de juros, em vez de estarem sujeitos a impostos internos destinados à reconstrução dessas economiais.


Na União Soviética só havia bancos comerciais. Em vez de ajudar a esses países a criarem seus próprios bancos, a Europa ocidental fez com que seus bancos oferecessem créditos e carregaram essas economais com juros (sempre em euros e em outras moedas fortes, para garantia dos bancos). Isso consistiu numa violação do primeiro axioma das finanças: nunca emita dívida nominal em moeda forte quando seus juros venham a incidir sobre uma moeda mais débil.


Porém, como no caso da Islândia, a Europa prometeu a esses países que os ajudaria a se integrarem no euro mediante a aplicação de políticas adequadas. As “reformas” consistiram em mostrar-lhes como trasladar os impostos sobre os negócios e os bens imóveis (os principais clientes dos bancos) ao trabalho, não só como imposto fixo sobre os juros, mas como imposto fixo sobre “serviços sociais”; de acordo com estes, a Previdência Social e os serviços de saúde não são providos a partir de fundos do públicos orçamentários, articulados basicamnete a partir de um sistema fiscal global progressivo; os trabalhadores que pagassem uma conta de usuário para tais serviços.


À diferença dos países ocidentais, não existiam impostos relevantes sobre a propriedade. Isso obrigou aos governos a gravarem os trabalhadores e as empresas. À diferença dos países ocidentais, não havia impostos progressivos ou sobre a riqueza. Em média, a Letônia tinha o equivalente a um imposto fixo sobre a renda, de 59%. (Só em sonhos os líderes do Congresso dos EUA e seus lobistas conceberiam um imposto de renda tão punitivo, que liberaria de controle seus principais contribuintes nas campanhas eleitorais!). Com um imposto como esse, as economias européias não teriam o que temer das economias que emergiriam livres de impostos, pois, ao passarem por cima dos entraves sobre as propriedades, sobrecarregando tributariamente o trabalho, diminuíram os custos da moradia e da dívida. Estas economias foram envenenadas desde o começo da implantação dessa agenda. Isto é o que tanto “mercado livre” e “abertura aos negócios” fizeram-lhes, desde o ponto de vista da ortodoxia econômica atual.


Quando os governos perderam a capacidade de taxar os bens imóveis e outras propriedades – inclusive para impor uma tributação progressiva sobre os negócios financeiros mais vultosos – se viram obrigados a fixar taxas impositivas ao trabalho e à produção industrial. Esta filosofia de deslocamento da carga fiscal aumentou de forma súbita o preço do trabalho e do capital, fazendo com que a indústria e a agricultura das economias neoliberalizadas fossem tão caras, como que para não poderem competir com a “velha Europa”. Deste modo, as economias pós-soviéticas se converteram em zonas de exportação para as indústrias e serviços bancários da velha Europa.


A Europa ocidental se desenvolveu através da proteção de sua indústria e de seu trabalho, gravando as rendas da terra e outros lucros que não tinham contrapartida num necessário custo de produção. As economias pós-soviéticas “liberaram” este lucro para que acabassem na forma de pagamento aos bancos da Europa ocidental. Essas economias – que não suportavam dívidas em 1991 – começaram a se endividar em moeda forte estrangeira. Os créditos dos bancos ocidentais não foram utilizados para melhorar o investimento de capital, o investimento público e os níveis de vida. O grosso dos créditos foi concedido fundamentalmente com a garantia de ativos existentes, herdados do período soviético. Mesmo tendo havido um forte crescimento de novas construções de bens imóveis, a maior parte delas têm hoje um valor inferior ao inicial. E os bancos estão exigindo que a Letônia e os demais países bálticos paguem ainda mais, expremendo o lucro mediante subsequentes “reformas” neoliberais que ameaçam cobrar ainda mais do trabalho, enquanto suas economias se contraem e a pobreza aumenta.


O padrão que consiste numa cleptocracia instalada nas altas esferas e numa força de trabalho endividada – com índices de sindicalização muito baixos ou nulos, e escassa proteção no lugar do trabalho – tem sido aplaudido como um modelo propiciador da criatividade econômica que deveria ser emulado em todo o mundo. Como as economias pós-soviéticas estavam claramente “subdesenvolvidas”, londe de poderem produzir bens com um alto valor agregado, elas eram geralmente incapazes de competir em igualdade de condições com seus vizinhos ocidentais.


O resultado tem sido um experimento econômico sob todos os aspectos enlouquecido, uma distopia cujas vítimas agora são apontadas como culpados. A ideologia neoliberal da erosão sistemática e em grande escala –aparentemente a ponto de ser aplicada na Europa e na América do Norte mediante uma retórica igualmente otimista – produziu resultados economicamente tão devastadores que é equiparável ao que teria ocorrido se estes países tivessem sido militarmente invadidos. Então, chegou o momento de começarmos a nos preocupar seriamente se o que está se passando nos países bálticos pode ser tomado com um ensaio geral do que estamos a ponto de ver nos EUA.


Hoje, nos países bálticos, a palabra “reforma” tem uma conotação negativa, como ocorre na Rússia. Significa o regresso da dependência feudal. Porém, enquanto os senhores feudais da Suécia e Alemanha exerciam poder sobre os servos com base no poder que a propriedade da terra lhes outorgava, hoje controlam os países bálticos mediante créditos hipotecários concedidos em moeda estrangeira, que estão avaliados com base nos bens imóveis de toda a região.


A escravidão por dívida substituiu a servidão completa. A quantidade de hipotecas excede o valor de mercado dos bens, que se desvalorizou entre 50 a 70% no último (dependendo do tipo de imóvel), e também supera a capacidade de os proprietários dos imóveis honrarem seus compromissos. O volume da dívida nominal em moeda estrangeira também supera em muito o que esses países podem arrecadar mediante a exportação dos produtos de seu tabalho, indústria e agricultura, para a Europa (que deseja apenas realizar importações) e para outras regiões do mundo onde os governos democráticos estão comprometidos com a proteção de sua força laboral, em não vendê-la e submetê-la a programas de austeridade sem precedentes (tudo em nome dos “mercados livres”).


Passaram-se duas décadas desde a introdução da ordem neoliberal, e os resultados não podem ser mais desastrosos, podendo-se considerar um crime contra a humanidade. Não houve crescimento econômico. Os ativos soviéticos estão gravados com dívida. Não foi assim que a Europa ocidental se desenvolveu depois da Segunda Guerra Mundial, e anteriormente, inclusive (ou a China mais recentemente). Estes países seguiram o esquema clássico de proteção da indústria doméstica, gasto em infraestrutura pública, impostos progressivos e proibições legais contra o tráfico de influências e o saque ao erário, tudo o que constitui anátema à ideologia do mercado livre.


O que se evidenciou de forma escancarada foram os pressupostos subjacentes da ordem econômica mundial. No centro da crise atual da teoria econômica e da política econômica as premissas esquecidas e os conceitos da economia política clássica adquirem interesse. George Soros, Stiglitz e outros falam de uma economia global de cassino (na qual certamente Soros enriqueceu jogando), tendo a economia financeira se desgarrado do processo de criação de riqueza. O setor financeiro é cada vez mais preeminente, com uma capacidade crescente de retirar recursos da economia real de bens e serviços.


Esta era a preocupação dos economistas clássicos quando se concentraram no problema dos rentistas, proprietários de bens com privilégios especiais e cujos lucros (que não tinham contrapartida de custo produtivo algum) constituíam, de fato, um imposto sobre a economia (neste caso sobrecarrengando-a de dívidas). Os economistas clássicos se deram conta da necessidade de subordinar as finanças às necessidades da economia real. Esta foi a filosofia que orientou a regulação bancária nos Estados Unidos na década de 1930, e foi a que se seguiu na Europa ocidental e no Japão, da década de 50 à de 70, para promover o investimento produtivo. Em vez de estabelecer controles rígidos sobre os poderes especulativos do setor financeiro, os EUA eliminaram essas regulações na década de 80. Enquanto em 1982 os lucros líquidos da banca eram de menos de 5% do total, em 2007 chegaram a insólitos 41%. Com efeito, essa atividade de soma zero constituiu-se num “imposto” indireto sobre a economia.


Junto à reestruturação financeira, o outro aspecto importante do jogo de ferramentas clássico era a política fiscal. O objetivo era retribuir o trabalho e criar riqueza, e recolher os lucros resultantes (“free lunch”) das economias sociais “externas”, como base impositiva natural. Esta política fiscal tinha a virtude de reduzir os encargos sobre a receita (salários e aposentadorias). Entendia-se que a terra era um bem natural sem custo laboral de produção (e por isso sem valor de custo). Porém, em vez de convertê-la na base impositiva natural, os governos permitiram que os bancos a sobrecarreguem com dívidas, transformando o aumento do valor da renda da terra em juros a pagar. Na terminologia clássica, o resultado é um imposto financeiro sobre a sociedade (um lucro que se supunha que a sociedade recolhia como um imposto básico, para reverter em infraestrutura econômica e social, com o objetivo de enriquecer o conjunto dessa sociedade). A alternativa tem sido fixar impostos sobre a terra e sobre o capital produtivo. E, aquilo a que se renunciou em tributos, agora os bancos cobram em forma de preços mais altos da propriedade rural – um preço pelo qual os compradores pagam um tipo de juros hipotecário.


A economia clássica poderia ter previsto os problemas da Letônia. Sem quaisquer freios sobre as finanças, sem regulação dos preços monopólicos, sem proteção industrial, com a privatização do espaço público para criar “economias com sistemas de pedágio” e com uma política fiscal que empobrece os trabalhadores e ao capital industrial, ao passo que recompensa os especuladores, a economia da Letônia viu apenas um tipo de crescimento econômico. O que se conseguiu – e que imediatamente foi aplaudido com entusiasmo pelos países ocidentais – foi uma atitude favorável para anotar dívidas enormes a subsidiar seu desastre econômico.


A Letônia tem muito pouca indústria, uma agricultura muito pouco modernizada, mas pode ostentar mais de 9 bilhões de lati em dívida privada, uma dívida que hoje corre o risco de passar a figurar nos balanços de pagamento público da mesma maneira como ocorreu com o resgate dos bancos dos EUA.


Caso esse crédito tivesse sido empregado com fins produtivos, para levantar a economia do país, poderia ser aceitável. Mas foi basicamente improdutivo, contribuiu para exacerbar a inflação de preços da terra e o consumo suntuoso, reduzindo a Letônia a um Estado próximo da escravidão por dívidas; algo que Sarah Palin chamaria de uma “hopey-change-thing” [pejorativamente, proposta irrealista carregada de boas intenções, a partir do slogan “hope and change” da campanha de Barack Obama], o Banco da Letônia sugere que o momento mais grave da crise já passou. Finalmente, as exportações começaram a aumentar, mas a economia ainda passa por uma situação desesperadora. Se a tendência atual persistir, não haverá novos letões para herdar recuperação econômica alguma. O desemprego se mantém acima de 22%. Dezenas de milhares de cidadãos estão abandonando o país, e outras dezenas de milhares decidiram não ter filhos. É uma resposta natural ao afundamento do país sob uma dívida pública e privada de bilhões de lati.


A Letônia nao está no caminho certo para alcançar níveis de riqueza ocidentais e nao tem escapatória se continuar na sua atual política fiscal neoliberal regressiva, contrária aos trabalhadores, à indústria e à agricultura, que foi imposta de forma tão coercitiva desde Bruxelas, como condição para o resgate do Banco Central da Letônia, com o objetivo de que este possa pagar aos bancos suecos que concederam esse tipo de crédito improdutivo e parasitário.


Albert Einstein disse que “[é] uma loucura fazer duas coisas de novo esperando resultados distintos”. A Letônia aplicou uma vez e repetiu durante quase 20 anos o mesmo Consenso de Washington “pro-ocidental”, com resulatdos cada vez piores, que no fim das contas tem sido catastróficos para o setor público, para os trabalhadores, a indústria e a agricultura. A tarefa fundamental neste momento consiste em liberar a economia letã de seu caminho neoliberal que marcha para uma neo-servidão. Poderíamos pensar que o caminho escolhido pela economia letã pode ser traçado pelos economistas clássicos do século XIX, que conduziu à prosperidade que podemos ver nos países ocidentais e também atualmente no leste asiático. Mas isso requereria uma mudança na filosofia econômica, que levaria a uma mudança profunda na articulação do setor público e do governo.


A questão é como a Europa e os países ocidentais responderão. Admitirão seu erro ou não sentirão vergonha alguma? Os sinais atuais não são alentadores. Os ocidentais pensam que o trabalho não empobreceu o suficiente, a indústria não está suficientemente devastada e o paciente econômico ainda não sangrou suficientemente.


Se esta é a mensagem que Washington e Bruxelas estão lançando aos países bálticos, imaginem o que estão a ponto de fazer às pessoas de seus próprios países”


Michael Hudson trabalhou como economista em Wall Street e atualmente é Distinguished Professor en la University of Misoury, na cidade do Kansas, e presidente do Institute for the Study of Long-Term Economic Trends (ISLET). É autor de vários livros, entre eles, destacam-se:: Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire (nueva ed., Pluto Press, 2003) y Trade, Development and Foreign Debt: How Trade and Development Concentrate Economic Power in the Hands of Dominant Nations (ISLET, 2009). Jeffrey Sommers é co-diretor do Baltic Research Group en el ISLET e professor visitante na Stockholm School of Economics, em Riga.


Tradução: Katarina Peixoto