sábado, 30 de outubro de 2010

Lula e Alencar: Uma foto comovente

Pesquei essa foto no Blog do Nassif. Deixei lá o seguinte comentário:

"Enquanto isso muitos "analistas" da mídia oligopolizada ficam batendo cabeça tentando entender o proque de Lula ser o presidente mais popualar de nossa História e admirado pelo povão brasileiro".

Lula e Alencar: bastidores de uma foto comovente




Na sexta-feira, 29 de outubro, quando o fotógrafo Ricardo Stuckert entrou no quarto do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, o presidente Lula já estava conversando com seu vice, José Alencar, internado para mais uma sessão de quimioterapia. “Meu helicóptero chegou dez minutos depois”, explicou Stuckert ao blog. No quarto também estavam Marisa, mulher do vice-presidente, e o médico Roberto Kalil.

Lula e Alencar conversavam sobre a festa de aniversário do presidente, realizada na quarta-feira, em Brasília. Na ocasião, foi exibido um DVD com depoimentos de um neto de Lula, de sua mulher, Marisa Letícia, e do vice, que emocionaram o presidente. Alencar, desanimado, lamentou não ter participado da festa, por ter reiniciado, mais uma vez, o tratamento contra o câncer.

Foi quando Lula disse: “Zé, nós subimos a rampa (do Palácio do Planalto) juntos, nós vamos descer juntos”. Alencar se emocionou, levando o presidente a fazer o gesto captado pela lente do fotógrafo.

Stuckert acompanha Lula como fotógrafo da Presidência desde o primeiro dia de governo e vai deixar o Planalto no dia 1º de janeiro de 2011.


Abaixo segue vídeo onde Lula é aclamado como "Gurreiro do Povo" em Recife ontem a noite.

O útlimo dia de outubro de 2010

Em 8 de janeiro desse ano escrevi:

“(...) Deixando sectarismo, maniqueísmo e platonismo de lado, é hora de compreendermos a importância do momento histórico no qual vivemos e os avanços sociais que o Brasil, a muito custo, conquistou nos últimos sete anos, e em especial a partir de 2005”.

“Notada e indiscutivelmente o Brasil é hoje bem diverso daquele que se encontrava terra arrasada em 2002. Teimar em dizer o contrário é, como se diz aqui em Minas, tapar o sol com a peneira. “

“Obviamente o atual governo não descobriu o Brasil ou tampouco o reinventou. Todavia nenhum governante antes teve uma preocupação essencial com a parte social. É pouco? Por certo que é, e ninguém do lado de cá do computador está afirmando que isto seja o bastante. O que estou afirmando é mais simples, não há no momento atual – para infelicidade duns e felicidade doutros – nenhum projeto de país capaz de se apresentar como alternativa as políticas sociais e aos avanços introduzidos pelo governo petista. Os outros projetos que se apresentam são incapazes de dar continuidade as conquistas que a sociedade civil organizada e a classe trabalhadora vêm logrando desde 2003 (...)”

Antes, em abril de 2009, escrevera:


“(...) A seguir listo alguns dos motivos pelos quais Lula é admirado no exterior e conta com enorme popularidade em sua terra, ainda que o PIG, a oposição farisaica e a elite entreguista e mazombeira, teimem em afirmar o contrário”.

“Salário mínimo acima dos 200 dólares; política externa independente; Bolsa família; Luz para Todos; ProUni; auto-suficiência em Petróleo (e descoberta dos enormes campos do Pré-Sal); fomentação do mercado interno; sucessivos saldos positivos,e crescentes, na balança comercial; solução para a questão do gás natural proveniente da Bolívia (quando da justa reclamação do país vizinho, sem que com isso o Brasil ficasse um único dia sem fornecimento de gás e tampouco tivesse aumento no preço deste para os brasileiros); agilidade para o financiamento da casa própria (nunca antes tantos brasileiros adquiriram casa própria); quebra constante de recordes na indústria automobilística; apoio à programas de energia sustentável ; reservas de 200 bilhões de dólares; governo com credibilidade para lançar programa de 1 milhão de casas populares; divida externa zerada; Brasil em condições de propor uma reforma bilateral do FMI ( e emprestando dinheiro a instituição); seis milhões de empregos gerados só nos primeiros quatro anos; surgimento do Brasil como promotor e principal agente da integração latino-americana; operações eficientes da republicana Policia Federal; diminuição gradativa da desigualdade social; perdão da dívida dos países mais pobres para conosco;retomada do Estado como parceiro da iniciativa privada; Brasil com cacife para pleitear uma reforma da ONU e um assento permanente num novo Conselho de Segurança; melhoria do IDH, aproximando-nos dos níveis de países desenvolvidos; diversificação dos parceiros no comércio exterior, saindo assim da dependência do mercado estadunidense (...)”

E nessa semana que se encerra enviei um email a amigos onde, dentre outras coisas, disse:

“(...) Domingo é o dia de escolhermos o Brasil que queremos para o nosso futuro”.

“Diante de nós está a enorme responsabilidade de decidir se queremos viver num país onde a desigualdade social faz doer nossos olhos ou se continuaremos a combatê-la. Se o acesso à educação superior deve ser privilegio das classes mais altas ou se todos terão direito a ela. Se o trabalhador brasileiro deve ver seus direitos serem “flexibilizados” ou se deve cada vez mais assegurar direitos, inclusive o trabalho com carteira assinada. Se o Brasil deve tirar os sapatos e se humilhar perante as nações de “primeiro mundo” ou se deve ser soberano e senhor do seu destino (...)”.

Por tudo o que já escrevi antes e por minha visão de mundo, ratifico que amanhã (31/10/2010) votarei em Dilma Vana Rousseff no desejo que ela seja eleita a primeira mulher presidenta do Brasil e dê continuidade às transformações que a sociedade brasileira experimenta desde 2003.

“A ação revolucionária pode ser desnecessária, mas são indispensáveis o pensamento revolucionário e, produto do pensamento, uma esperança racional construtiva”. Bertrand Russel.

terça-feira, 26 de outubro de 2010

Nicolelis: Serra importou máquina de moer carne do Partido Republicano

Um texto primoroso, recheado de ironias e gostoso de ler. Não sabia que Miguel Nicolelis além de ser um dos neurocientistas mais respeitados do mundo – chefia o laboratório da neurociência da Universidade de Duke (EEUU) – também escrevia tão bem.

Uma coisa estranha aconteceu na noite passada em Natal

Por Miguel Nicolelis, especial para o Viomundo

Desde que cheguei ao Brasil, há duas semanas, eu vinha sentindo uma sensação muito estranha. Como se fora acometido por um ataque contínuo da famosa ilusão, conhecida popularmente como déjà vu, eu passei esses últimos 15 dias tendo a impressão de nunca ter saído de casa, lá na pacata Chapel Hill, Carolina do Norte, Estados Unidos.

Mas como isso poderia ser verdade? Durante esse tempo todo eu claramente estava ou São Paulo ou em Natal. Todo mundo ao meu redor falava português, não inglês. Todo mundo era gentil. A comida tinha gosto, as pessoas sorriam na rua. No aeroporto, por exemplo, não precisava abrir a mala de mão, tirar computador, tirar sapato, tirar o cinto, ou entrar no scan de corpo todo para provar que eu não era um terrorista. Ainda assim, com todas essas provas evidentes de que eu estava no Brasil e não nos EUA, até no jogo do Palmeiras, no meio da imortal “porcada”, a sensação era a mesma: eu não saí da América do Norte! Mesmo quando faltou luz na Arena de Barueri durante o jogo, porque nem a 25 km da capital paulista a Eletropaulo consegue garantir o suprimento de energia elétrica para um prélio vital do time do coração do ex-governador do estado (aparentemente ninguém vai muito com a cara dele na Eletropaulo. Nada a ver com o Palmeiras), eu consegui me sentir à vontade.

Custou-me muito a descobrir o que se sucedia.

Porém, ontem à noite, durante o debate dos candidatos a Presidência da República na Rede Record, uma verdadeira revelação me veio à mente. De repente, numa epifania, como poucas que tive na vida, tudo ficou muito claro. Tudo evidente. Não havia nada de errado com meus sentidos, nem com a minha mente. Havia, sim, todo um contexto que fez com que o meu cérebro de meia idade revivesse anos de experiências traumatizantes na América do Norte.

Pois ali na minha frente, na TV, não estava o candidato José Serra, do PSDB, o “partido do salário mais defasado do Brasil”, como gostam de frisar os sofridos professores da rede pública de ensino paulistana, mas sim uma encarnação perfeita, mesmo que caricata, de um verdadeiro George Bush tropical. Para os que estão confusos, eu me explico de imediato. Orientado por um marqueteiro que, se não é americano nato, provavelmente fez um bom estágio na “máquina de moer carne de candidatos” em que se transformou a indústria de marketing político americano, o candidato Serra tem utilizado todos os truques da bíblia Republicana. Como estudante aplicado que ainda não se graduou (fato corriqueiro na sua biografia), ele está pronto para realizar uns “exames difíceis” e ser aceito para uma pós-graduação em aniquilação de caracteres em alguma universidade de Nova Iorque.

Ao ouvir e ver o candidato, ao longo dessas duas semanas e no debate de ontem à noite, eu pude identificar facilmente todos os truques e estratégias patenteados pelo partido Republicano Americano. Pasmem vocês, nos últimos anos, essa mensagem rasa de ódio, preconceito, racismo, coberta por camadas recentes de fé e devoção cristã, tem sido prontamente empacotada e distribuída para o consumo do pobre povo daquela nação, pela mídia oficial que gravita ao seu redor.

Para quem, como eu, vive há 22 anos nos EUA, não resta mais nenhuma dúvida. Quem quer que tenha definido a estratégia da campanha do candidato Serra decidiu importar para a disputa presidencial brasileira tanto a estratégia vergonhosa e peçonhenta da “vitória a qualquer custo”, como toda a truculência e assalto à verdade que têm caracterizado as últimas eleições nos Estados Unidos. Apelando invariavelmente para o que há de mais sórdido na natureza humana, nessa abordagem de marketing político nem os fatos, nem os dados ou as estatísticas, muito menos a verdade ou a realidade importam. O objetivo é simplesmente paralisar o candidato adversário e causar consternação geral no eleitorado, através de um bombardeio incessante de denúncias (verdadeiras ou não, não faz diferença), meias calúnias, ou difamações, mesmo que elas sejam as mais absurdas possíveis.

Assim, de repente, Obama não era mais americano, mas um agente queniano obcecado em transformar a nação americana numa república islâmica. Como lá, aqui Dilma Rousseff agora é chamada de búlgara, em correntes de emails clandestinos. Como os EUA de Bill Clinton, apesar de o país ter experimentado o maior boom econômico em recente memória, foi vendido ao povo americano como estando em petição de miséria pelo então candidato de primeira viagem George Bush.

Aqui, o Brasil de Lula, que desfruta do melhor momento de toda a sua história, provavelmente desde o período em que os últimos dinossauros deixaram suas pegadas no que é hoje o município de Sousa, na Paraíba, passa a ser vendido como um país em estado de caos perpétuo, algo alarmante mesmo. Ao distorcer a verdade, os fatos, os números e, num último capítulo de manipulação extremada, a própria percepção da realidade, através do pronto e voluntário reforço do bombardeio midiático, que simplesmente repete o trololó do candidato (para usar o seu vernáculo favorito), sem crítica, sem análise, sem um pingo de honestidade jornalística, busca-se, como nos EUA de George Bush e do partido Republicano, vender o branco como preto, a comédia como farsa.

Não interessa que 26 milhões de brasileiros tenham saído da miséria. Nem que pela primeira vez na nossa história tenhamos a chance de remover o substantivo masculino “pobre” dos dicionários da língua portuguesa. Não faz a menor diferença que 15 milhões de novos empregos tenham sido criados nos últimos anos. Ou que, pela primeira vez desde que se tem notícia, o Brasil seja respeitado por toda a comunidade internacional. Para o candidato da oposição esse número insignificante de empregos é, na sua realidade marciana, fruto apenas de uma maior fiscalização que empurrou com a barriga do livro de multas 10 milhões de pessoas para o emprego formal desde o governo do imperador FHC.

Nada, nem a realidade, é capaz de impressionar os fariseus e arautos que estão sempre prontos a denegrir o sucesso desse país de mulatos, imigrantes e gente que trabalha e batalha incansavelmente para sobreviver ao preconceito, ao racismo, à indiferença e à arrogância daqueles que foram rejeitados pelas urnas e vencidos por um mero torneiro mecânico que virou pop star da política internacional. Nada vai conseguir remover o gosto amargo desse agora já fato histórico, que atormenta, como a dor de um membro fantasma, o ego daqueles que nunca acreditaram ser o povo brasileiro capaz de construir uma nação digna, justa e democrática com o seu próprio esforço. Como George Bush ao Norte, o seu clone do hemisfério sul não governa para o povo, nem dele busca a sua inspiração. A sua busca pelo poder serve a outros interesses; o maior deles, justiça seja feita, não é escuso, somente irrelevante, visto tratar-se apenas do arquivo morto da sua vaidade, o maior dos defeitos humanos, já dizia dona Lygia, minha santa avó anarquista. Para esse candidato, basta-lhe poder adicionar no currículo uma linha que dirá: Presidente do Brasil (de tanto a tanto). Vaidade é assim, contenta-se com pouco, desde que esse pouco venha embalado num gigantesco espelho.

Voltando à estratégia americana de ganhar eleições, numa segunda fase, caso o oponente sobreviva ao primeiro assalto, apela-se para outra arma infalível: a evidente falta de valores cristãos do oponente, manifestada pela sua explícita aquiescência para com o aborto; sua libertinagem sexual e falta de valores morais, invariavelmente associada à defesa do fantasma que assombra a tradição, família e propriedade da direita histérica, representado pela tão difamada quanto legítima aprovação da união civil de casais homossexuais. Nesse rolo compressor implacável, pois o que vale é a vitória, custe o que custar, pouco importa ao George Bush tupiniquim que milhares de mulheres humildes e abandonadas morram todos os anos, pelos hospitais e prontos-socorros desse Brasil afora, vítimas de infecções horrendas, causadas por abortos clandestinos.

George Bush, tanto o original quanto o genérico dos trópicos, provavelmente conhece muitas mulheres do seu meio que, por contingências e vicissitudes da vida, foram forçadas a abortos em clínicas bem equipadas, conduzidas por profissionais altamente especializados, regiamente pagos para tal prática. Nenhum dos dois George Bushes, porém, jamais deu um plantão no pronto-socorro do Hospital das Clínicas de São Paulo e testemunhou, com os próprios olhos e lágrimas, a morte de uma adolescente, vítima de septicemia generalizada, causada por um aborto ilegal, cometido por algum carniceiro que se passou por médico e salvador.

Alguns amigos de longa data, que também vivem no exterior, andam espantados com o grau de violência, mentiras e fraudes morais dessa campanha eleitoral brasileira. Alguns usam termos como crime lesa pátria para descrever as ações do candidato do Brasil que não deu certo, seus aliados e a grande mídia.

Poucos se surpreenderam, porém, com o fato de que até o atentado da bolinha de papel foi transformado em evento digno de investigação no maior telejornal do hemisfério sul (ou seria da zona sul do Rio de Janeiro? Não sei bem). No caso em questão, como nos EUA, a dita grande imprensa que circunda a candidatura do George Bush tupiniquim acusa o Presidente da República de não se comportar com apropriado decoro presidencial, ao tirar um bom sarro e trazer à tona, com bom humor, a melhor metáfora futebolística que poderia descrever a farsa. Sejamos honestos, a completa fabricação, desmascarada em verso, prosa e análise de vídeo, quadro a quadro, por um brilhante professor de jornalismo digital gaúcho.

Curiosamente, a mesma imprensa e seus arautos colunistas não tecem um único comentário sobre a gravidade do fato de ter um pretendente ao cargo máximo da República ter aceitado participar de uma clara e explicita fabricação. Ou será que esse detalhe não merece algumas mal traçadas linhas da imprensa? Caso ainda estivéssemos no meio de uma campanha tipicamente brasileira, o já internacionalmente famoso “atentado da bolinha de papel” seria motivo das mais variadas chacotas e piadas de botequim. Mas como estamos vivendo dentro de um verdadeiro clone das campanhas americanas, querem criminalizar até a bolinha de papel. Se a moda pega, só eu conheço pelo menos uns dez médicos brasileiros, extremamente famosos, antigos colegas de Colégio Bandeirantes e da Faculdade de Medicina da USP, que logo poderiam estar respondendo a processos por crimes hediondos, haja vista terem sido eles famosos terroristas do passado, que se valiam, não de uma, mas de uma verdadeira enxurrada, dessas armas de destruição em massa (de pulgas) para atingir professores menos avisados, que ousavam dar de costas para tais criminosos sem alma.

Valha-me Nossa Senhora da Aparecida — certamente o nosso George Bush tupiniquim aprovaria esse meu apelo aos céus –, nós, brasileiros, não merecemos ser a próxima vítima do entulho ético do marketing eleitoral americano. Nós merecemos algo muito melhor. Pode parecer paranoia de neurocientista exilado, mas nos EUA eu testemunhei como os arautos dessa forma de fazer política, representado pelo George Bush original e seus asseclas, conseguiram vender, com grande sucesso e fanfarra, uma guerra injustificável, que causou a morte de mais de 50 mil americanos e centenas de milhares de civis iraquianos inocentes.

Tudo começou com uma eleição roubada, decidida pela Corte Suprema. Tudo começou com uma campanha eleitoral baseada em falsas premissas e mentiras deslavadas. A seguir, o açodamento vergonhoso do medo paranóico, instilado numa população em choque, com a devida colaboração de uma mídia condescendente e vendida, foi suficiente para levar a maior potência do mundo a duas guerras imorais que culminaram, ironicamente, no maior terremoto econômico desde a quebra da bolsa de 1929.

Hoje os mesmos Republicanos que levaram o país a essas guerras irracionais e ao fundo do poço financeiro acusam o Presidente Obama de ser o responsável direto de todos os flagelos que assolam a sociedade americana, como o desemprego maciço, a perda das pensões e aposentadorias, a queda vertiginosa do valor dos imóveis e a completa insegurança sobre o que o futuro pode trazer, que surgiram como conseqüência imediata das duas catastróficas gestões de George Bush filho.

Enquanto no Brasil criam-se 200 mil empregos pro mês, nos EUA perdem-se 200 mil empregos a cada 30 dias. Confrontado com números como esses, muitos dos meus vizinhos em Chapel Hill adorariam receber um passaporte brasileiro ou mesmo um visto de trabalho temporário e mudar-se para esse nosso paraíso tropical. Eles sabem pelo menos isto: o mundo está mudando rapidamente e, logo, logo, no andar dessa carruagem, o verdadeiro primeiro mundo vai estar aqui, sob a luz do Cruzeiro do Sul!

Fica, pois, aqui o alerta de um brasileiro que testemunhou os eventos da recente história política americana em loco. Hoje é a farsa do atentado da bolinha de papel. Parece inofensivo. Motivo de pilhéria. Eu, como gato escaldado, que já viu esse filme repulsivo mais de uma vez, não ficaria tão tranqüilo, nem baixaria a guarda. Quem fabrica um atentado, quem se apega ou apela para questões de foro íntimo, como a crença religiosa (ou sua inexistência), como plataforma de campanha hoje, é o mesmo que, se eleito, se sentirá livre para pregar peças maiores, omitir fatos de maior relevância e governar sem a preocupação de dar satisfações aqueles que, iludidos, cometeram o deslize histórico de cair no mais terrível de todos os contos do vigário, aquele que nega a própria realidade que nos cerca.

Aliás, ocorre-me um último pensamento. A única forma do ex-presidente (Imperador?) Fernando Henrique Cardoso demonstrar que o seu governo não foi o maior desastre político-econômico, testemunhado por todo o continente americano, seria compará-lo, taco a taco, à catastrófica gestão de George Bush filho. Sendo assim, talvez o candidato Serra tenha raciocinado que, como a sua probabilidade de vitória era realmente baixa, em último caso, ele poderia demonstrar a todo o Brasil quão melhor o governo FHC teria sido do que uma eventual presidência do George Bush genérico do hemisfério sul. Vão-se os anéis, sobram os dedos. Perdido por perdido, vamos salvar pelo menos um amigo. Se tal ato de solidariedade foi tramado dentro dos circuitos neurais do cérebro do candidato da oposição (truco!), só me restaria elogiá-lo por este repente de humildade e espírito cristão.

Ciente, num raro momento de contrição, de que algumas das minhas teorias possam ter causado um leve incômodo, ou mesmo, talvez, um passageiro mal-estar ao candidato, eu ousaria esticar um pouco do meu crédito junto a esse grande novo porta-voz do cristianismo e fazer um pequeno pedido, de cunho pessoal, formulado por um torcedor palmeirense anônimo, ao candidato da oposição. O pedido, mais do que singelo, seria o seguinte:

Candidato, será que dá pro senhor pedir pro governador Goldman ou pro futuro governador Dr. Alckmin para eles não desligarem a luz da Arena Barueri na semana que vem? Como o senhor sabe, o nosso Verdão disputa uma vaguinha na semifinal da Copa Sulamericana e, aqui entre nós, não fica bem outro apagão ser mostrado para todo esse Brazilzão, iluminado pelo Luz para Todos, do Lula. Afinal de contas, se ocorrer outro vexame como esse, o povão vai começar a falar que se o senhor não consegue nem garantir a luz do estádio pro seu time do coração jogar, como é que pode ter a pretensão de prometer que vai ter luz para todo o resto desse país enorme? Depois, o senhor vem aqui e pergunta por que eu vou votar na Dilma? Parece abestalhado, sô!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Carta de Theotonio Dos Santos a FHC

Carta aberta a Fernando Henrique Cardoso

Professor Theotonio Dos Santos

Meu caro Fernando

Vejo-me na obrigação de responder a carta aberta que você dirigiu ao Lula, em nome de uma velha polêmica que você e o José Serra iniciaram em 1978 contra o Rui Mauro Marini, eu, André Gunder Frank e Vânia Bambirra, rompendo com um esforço teórico comum que iniciamos no Chile na segunda metade dos nos 1960. A discussão agora não é entre os cientistas sociais e sim a partir de uma experiência política que reflete comtudo este debate teórico. Esta carta assiada por você como ex-presidente é uma defesa muito frágil teórica e politicamente de sua gestão. Quem a lê não pode compreender porque você saiu do governo com 23% de aprovação enquanto Lula deixa o seu governo com 96% de aprovação. Já discutimos em várias oportunidades os mitos que se criaram em torno dos chamados êxitos do seu governo. Já no seu governo vários estudiosos discutimos, já no começo do seu governo, o inevitável caminho de seu fracasso junto à maioria da população. Pois as premissas teóricas em que baseava sua ação política eram profundamente equivocadas e contraditórias com os interesses da maioria da população. (Se os leitores têm interesse de conhecer o debate sobre estas bases teóricas lhe recomendo meu livro já esgotado: Teoria da Dependencia: Balanço e Perspectivas, Editora Civilização Brasileira, Rio, 2000).

Contudo nesta oportunidade me cabe concentrar-me nos mitos criados em torno do seu governo, os quais você repete exaustivamente nesta carta aberta.

O primeiro mito é de que seu governo foi um êxito econômico a partir do fortalecimento do real e que o governo Lula estaria apoiado neste êxito alcançando assim resultados positivos que não quer compartir com você... Em primeiro lugar vamos desmitificar a afirmação de que foi o plano real que acabou com a inflação. Os dados mostram que até 1993 a economia mundial vivia uma hiperinflação na qual todas as economias apresentavam inflações superiores a 10%. A partir de 1994, TODAS AS ECONOMIAS DO MUNDO APRESENTARAM UMA QUEDA DA INFLAÇÃO PARA MENOS DE 10%. Claro que em cada pais apareceram os “gênios” locais que se apresentaram como os autores desta queda. Mas isto é falso: tratava-se de um movimento planetário.

No caso brasileiro, a nossa inflação girou, durante todo seu governo, próxima dos 10% mais altos. TIVEMOS NO SEU GOVERNO UMA DAS MAIS ALTAS INFLAÇÕES DO MUNDO. E aqui chegamos no outro mito incrível. Segundo você e seus seguidores (e até setores de oposição ao seu governo que acreditam neste mito) sua política econômica assegurou a transformação do real numa moeda forte. Ora Fernando, sejamos cordatos: chamar uma moeda que começou em 1994 valendo 0,85 centavos por dólar e mantendo um valor falso até 1998, quando o próprio FMI exigia uma desvalorização de pelo menos uns 40% e o seu ministro da economia recusou-se a realizá-la “pelo menos até as eleições”, indicando assim a época em que esta desvalorização viria e quando os capitais estrangeiros deveriam sair do país antes de sua desvalorização, O fato é que quando você flexibilizou o cambio o real se desvalorizou chegando até a 4,00 reais por dólar. E não venha por a culpa da “ameaça petista” pois esta desvalorização ocorreu muito antes da “ameaça Lula”. ORA, UMA MOEDA QUE SE DESVALORIZA 4 VEZES EM 8 ANOS PODE SER CONSIDERADA UMA MOEDA FORTE? Em que manual de economia? Que economista respeitável sustenta esta tese?

Conclusões: O plano real não derrubou a inflação e sim uma deflação mundial que fez cair as inflações no mundo inteiro. A inflação brasileira continuou sendo uma das maiores do mundo durante o seu governo. O real foi uma moeda drasticamente debilitada. Isto é evidente: quando nossa inflação esteve acima da inflação mundial por vários anos, nossa moeda tinha que ser altamente desvalorizada. De maneira suicida ela foi mantida artificialmente com um alto valor que levou à crise brutal de 1999.

Segundo mito; Segundo você, o seu governo foi um exemplo de rigor fiscal. Meu Deus: um governo que elevou a dívida pública do Brasil de uns 60 bilhões de reais em 1994 para mais de 850 bilhões de dólares quando entregou o governo ao Lula, oito anos depois, é um exemplo de rigor fiscal? Gostaria de saber que economista poderia sustentar esta tese. Isto é um dos casos mais sérios de irresponsabilidade fiscal em toda a história da humanidade.

E não adianta atribuir este endividamento colossal aos chamados “esqueletos” das dívidas dos estados, como o fez seu ministro de economia burlando a boa fé daqueles que preferiam não enfrentar a triste realidade de seu governo. UM GOVERNO QUE CHEGOU A PAGAR 50% AO ANO DE JUROS POR SEUS TÍTULOS, PARA EM SEGUIDA DEPOSITAR OS INVESTIMENTOS VINDOS DO EXTERIOR EM MOEDA FORTE A JUROS NORMAIS DE 3 A 4%, NÃO PODE FUGIR DO FATO DE QUE CRIOU UMA DÍVIDA COLOSSAL SÓ PARA ATRAIR CAPITAIS DO EXTERIOR PARA COBRIR OS DÉFICITS COMERCIAIS COLOSSAIS GERADOS POR UMA MOEDA SOBREVALORIZADA QUE IMPEDIA A EXPORTAÇÃO, AGRAVADA AINDA MAIS PELOS JUROS ABSURDOS QUE PAGAVA PARA COBRIR O DÉFICIT QUE GERAVA. Este nível de irresponsabilidade cambial se transforma em irresponsabilidade fiscal que o povo brasileiro pagou sob a forma de uma queda da renda de cada brasileiro pobre. Nem falar da brutal concentração de renda que esta política agravou dráticamente neste pais da maior concentração de renda no mundo. VERGONHA FERNANDO. MUITA VERGONHA. Baixa a cabeça e entenda porque nem seus companheiros de partido querem se identifica com o seu governo...te obrigando a sair sozinho nesta tarefa insana.

Terceiro mito - Segundo você, o Brasil tinha dificuldade de pagar sua dívida externa por causa da ameaça de um caos econômico que se esperava do governo Lula. Fernando, não brinca com a compreensão das pessoas. Em 1999 o Brasil tinha chegado à drástica situação de ter perdido TODAS AS SUAS DIVISAS. Você teve que pedir ajuda ao seu amigo Clinton que colocou à sua disposição ns 20 bilhões de dólares do tesouro dos Estados Unidos e mais uns 25 BILHÕES DE DÓLARES DO FMI, Banco Mundial e BID. Tudo isto sem nenhuma garantia.

Esperava-se aumentar as exportações do pais para gerar divisas para pagar esta dívida. O fracasso do setor exportador brasileiro mesmo com a espetacular desvalorização do real não permitiu juntar nenhum recurso em dólar para pagar a dívida. Não tem nada a ver com a ameaça de Lula. A ameaça de Lula existiu exatamente em conseqüência deste fracasso colossal de sua política macro-econômica. Sua política externa submissa aos interesses norte-americanos, apesar de algumas declarações críticas, ligava nossas exportações a uma economia decadente e um mercado já copado. A recusa dos seus neoliberais de promover uma política industrial na qual o Estado apoiava e orientava nossas exportações. A loucura do endividamento interno colossal. A impossibilidade de realizar inversões públicas apesar dos enormes recursos obtidos com a venda de uns 100 bilhões de dólares de empresas brasileiras. Os juros mais altos do mundo que inviabilizava e ainda inviabiliza a competitividade de qualquer empresa. Enfim, UM FRACASSO ECONOMICO ROTUNDO que se traduzia nos mais altos índices de risco do mundo, mesmo tratando-se de avaliadoras amigas. Uma dívida sem dinheiro para pagar... Fernando, o Lula não era ameaça de caos. Você era o caos. E o povo brasileiro correu tranquilamente o risco de eleger um torneiro mecânico e um partido de agitadores, segundo a avaliação de vocês, do que continuar a aventura econômica que você e seu partido criou para este pais.

Gostaria de destacar a qualidade do seu governo em algum campo mas não posso faze-lo nem no campo cultural para o qual foi chamado o nosso querido Francisco Weffort (neste então secretário geral do PT) e não criou um só museu, uma só campanha significativa. Que vergonha foi a comemoração dos 500 anos da “descoberta do Brasil”. E no plano educacional onde você não criou uma só universidade e entou em choque com a maioria dos professores universitários sucateados em seus salários e em seu prestígio profissional. Não Fernando, não posso reconhecer nada que não pudesse ser feito por um medíocre presidente.

Lamento muito o destino do Serra. Se ele não ganhar esta eleição vai ficar sem mandato, mas esta é a política. Vocês vão ter que revisar profundamente esta tentativa de encerrar a Era Vargas com a qual se identifica tão fortemente nosso povo. E terão que pensar que o capitalismo dependente que São Paulo construiu não é o que o povo brasileiro quer. E por mais que vocês tenham alcançado o domínio da imprensa brasileira, devido suas alianças internacionais e nacionais, está claro que isto não poderia assegurar ao PSDB um governo querido pelo nosso povo. Vocês vão ficar na nossa história com um episódio de reação contra o vedadeiro progresso que Dilma nos promete aprofundar. Ela nos disse que a luta contra a desigualdade é o verdadeiro fundamento de uma política progressista. E dessa política vocês estão fora.

Apesar de tudo isto, me dá pena colocar em choque tão radical uma velha amizade. Apesar deste caminho tão equivocado, eu ainda gosto de vocês ( e tenho a melhor recordação de Ruth) mas quero vocês longe do poder no Brasil. Como a grande maioria do povo brasileiro. Poderemos bater um papo inocente em algum congresso internacional se é que vocês algum dia voltarão a freqüentar este mundo dos intelectuais afastados das lides do poder.

Com a melhor disposição possível mas com amor à verdade, me despeço.

Theotonio Dos Santos

thdossantos@terra.com.br,

/theotoniodossantos.blogspot.com/

Theotonio Dos Santos é Professor Emérito da Universidade Federal Fluminense, Presidente da Cátedra da UNESCO e da Universidade das Nações Unidas sobre economia global e desenvolvimentos sustentável. Professor

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Quem está com quem

Na mesma semana que o “The Economist” e o “Financial Times” – porta-vozes do neoliberalismo – declararam acreditar que o presidenciável tucano José Serra é o mais preparado para governar o Brasil, distintos líderes políticos da esquerda européia declararam publicamente seu interesse pelos rumos do Brasil a partir de 1º de janeiro de 2011. Só que esses últimos preferem acreditar que a candidata petista Dilma Rousseff é a melhor opção para o Brasil.

Ontem (quinta-feira, 21 de outubro) vários membros do Partido Socialista da França assinaram um documento em apoio a Dilma Rousseff. Dentre os signatários estão a primeira secretária da legenda, Martine Aubry, e o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë. Além destes também fizeram questão de assinar o documento personalidades da cultura e da literatura, como o escritor Philippe Besson e o filósofo Henri Peña-Ruiz.

Já hoje foi a vez de parlamentares e dirigentes do Partido Verde de diversos países europeus (França, Alemanha, Itália e Bélgica) tornarem público carta semelhante.

Em comum os dois documentos trazem consigo, além do apoio a Dilma, a defesa das transformações promovidas pelo Presidente Lula nos últimos oito anos e o repúdio a campanha de ódio alavancada de forma entusiástica pela direita brasileira em conluio com forças ultradireitistas.

Para terminar contarei, rapidamente, uma passagem ocorrida agora à tarde.

Fui abordado na rua por um ex aluno meu. Conversamos um pouco e logo ele me indagou o que penso sobre Dilma Rousseff. Respondi que em primeiro lugar se trata de uma heroína, afinal lutou com coragem – pondo a própria vida em risco – contra a ditadura e é uma pessoa que sempre esteve no espectro de esquerda da política nacional. Também falei que Dilma se mostrou ótima gestora durante sua passagem tanto pela Casa Civil quanto anteriormente pelo Ministério de Minas e Energia. Ademais essa eleição é um momento histórico onde optaremos por dar continuidade aos inegáveis avanços do governo Lula ou tomar um rumo incerto com propensões a regredir para o neoliberalismo dos anos 1990 e dessa vez com o que há de mais asqueroso na política nacional, os movimentos de ultradireita. O ex-aluno tentou contra-argumentar usando o manjado trololó da Dilma “terrorista”, “bandida” e ”assassina”.

Pois bem, não dá pra negar que uma coisa a direita conseguiu incutir na cabeça de milhões de brasileiros e a História passou por uma revisão: quem lutou contra a ditadura deixou de ser participante de grupos de resistência para se tornar “terrorista”, “bandido” e “assassino”.

A História é escrita pelos vencedores e será dessa forma que ela será escrita caso Serra e seus gorilas fascistas vençam as eleições.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Serra ganha prorrogação do seu horário eleitoral

A edição do Jornal Nacional de ontem (quarta-feira, 20/10/2010) foi prorrogação do programa eleitoral de José Serra.

Sem nenhum pudor o casal de âncoras William Bonner e Fátima Bernardes entrou em cena, emendados ao fim do programa eleitoral de José Serra, para a segunda parte do telejornal mais assistido pela família brasileira levando ao ar matéria sobre uma agressão que o presidenciável tucano teria sofrido por parte de manifestantes petistas no bairro de Campo Grande, zona oeste da cidade do Rio de Janeiro, isto após intensa hostilidade também sofrida por Serra e seus acompanhantes.

Após um objeto – segundo o JN seria um rolo de fita adesiva – ser arremessado por militantes petistas, dentre os quais um ex candidato a deputado estadual, se chocar com a cabeça de Serra, o tucano continuou a caminhada por alguns minutos, mas depois foi levado a um hospital, aonde passou por tomografia e recebeu do médico que lhe atendeu o conselho de repousar por 24 horas.

Então veio a parte mais incrível – ou talvez anedótica da matéria – Serra concedeu entrevista à Rede Globo do lado de fora do hospital, ali imagem, luminosidade, posição da câmera, fala mansa e cara de piedade do entrevistado, somados a um discurso no qual ele denuncia que a atual campanha está sendo movida a ódio, me embaralhou o mente a ponto de não saber se era Serra ou Betinho de Souza, ou quiçá São Francisco de Assis que estava ali no JN, na minha tv.

Essa foi a cobertura do dia de Serra. Já a cobertura sobre o dia da presidenciável petista Dilma Rousseff começou com um bate-boca entre a petista e manifestantes do Green Peace em Brasília. Esse “bate-boca” teria sido o ponto alto dum evento onde Dilma recebeu o apoio de filiados do Partido Verde, entre os quais uma das filhas de Chico Mendes.

Depois disso nem importa mais o que veio. O importante para o JN foi prorrogar o horário eleitoral gratuito dessa quarta-feira.

Quanto ao incidente de Serra em si, vale destacar que entreveros em épocas de campanha são comuns, embora não se possa dizer que seja comum a agressão física a candidatos e nem se pode comungar com atos desse tipo.

No entanto o objeto a atingir Serra não passou duma “bolinha de papel”! (veja nas imagens do SBT). O resto foi encenação do presidenciável e seu vice Índio da Costa – que chegou a dizer a uma rádio carioca que o objeto devia pesar uns “dois quilos” e fez forte “barulho” ao se chocar com a cabeça de Serra!!!

Obviamente seria leviandade de minha parte afirmar que tudo, inclusive o entrevero entre manifestantes petistas e tucanos, não passou de algo planejado por uma das partes. Não obstante não deixa de ser intrigante o fato ter acontecido justamente no terreno dominado por Índio da Costa, que por sua vez é um dos responsáveis pela baixeza dessa campanha e agora sabemos, graças ao Rodrigo Vianna, de sua ligação com grupos neointegralistas. Não dá pra não comparar a suposta agressão sofrida por Serra à campanha de Collor em 1989 ou à tática de partidos ultradireitistas cuja ideologia, e por que não dizer o modus operandi, o vice de Serra parece admirar.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Intelectuais celebram apoio a Dilma

Ontem aconteceu um dos atos mais emocionantes dessa campanha 2010, talvez um dos mais emocionantes das campanhas presidenciais de 1989 para cá.

Milhares de intelectuais se reuniram no Rio de Janeiro a fim de celebrarem apoio a presidenciável petista Dilma Rousseff.

Segue matéria da Agência Carta Maior sobre esse evento histórico.


Por Gilberto Maringoni na Carta Maior

Chico Buarque avisou que não falaria. Brincava: viera como papagaio de pirata ao ato de apoio de artistas e intelectuais à candidatura de Dilma Rousseff, no teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, na noite de segunda (18). Mas acabou caindo em uma provocação de Leonardo Boff e fez um brevíssimo discurso, que já está em todos os sáites, blogues e tuíteres pela rede:

“Venho aqui reiterar meu apoio entusiasmado à campanha da Dilma, essa mulher de fibra, que já passou por tudo, não tem medo de nada. Vai herdar o senso de justiça social, um marco do governo Lula, um governo que não corteja os poderosos de sempre, não despreza os sem-terra, os professores e os garis”.


Emendou com um parágrafo: “A forma de Lula governar é diferente. O Brasil que queremos não fala fino com Washington e nem grosso com Bolívia e Paraguai. Por isso, é ouvido e respeitado no mundo todo”.


E brincou: “Nunca antes na História desse país houve algo assim".


Aplausos, risos e charangas.


“É Dilma, é Dilma sim/ porque eu não penso só em mim!”


FINAL DE CAMPEONATO

O clima era de final de campeonato, com bandeiras e agitação, como há muito as campanhas não exibiam.


É provável que um palco tão amplo e representativo do mundo da cultura no Brasil só tenha paralelo com a rede de apoiadores da campanha Lula de 1989. Quase duas mil pessoas lotaram platéia, corredores, mezaninos, hall de entrada e a calçada da casa de espetáculos, enquanto uma chuva intermitente desabava sobre a cidade. No palco, entre outros, estavam Oscar Niemeyer, Chico Buarque, Rosemary, Alcione, Ziraldo, Fernando Morais, Elba Ramalho, Renato Borgehetti, Yamandu Costa, Hugo Carvana, Leci Brandão, Alceu Valença, Paulo Betti, Marco Aurélio Garcia, Chico César, João Pedro Stédile, Antonio Grassi, Sergio Mamberti e muitos outros.


O sociólogo Emir Sader, um dos organizadores, sintetizou: “Este é um ato daqueles que votaram e apoiaram diferentes candidatos no primeiro turno e que se reúnem para defender conquistas. O outro lado representa o caminho do obscurantismo”.


Para a professora de Filosofia Marilena Chauí, aquela era uma sagração da democracia. Do alto da tribuna, puxou da bolsa o panfleto da campanha José Serra, no qual estava escrito “Jesus é a verdade e a fé”. Sem titubear, emendou: “Este folheto é obsceno; obsceno religiosa e politicamente. Ele ataca o núcleo da democracia republicana, que é o Estado laico”. Em meio a aplausos, finalizou: “A minha geração viu um negro na presidência da África do Sul, um índio na presidência da Bolívia, um negro presidente dos Estados Unidos, um operário dirigindo o Brasil e verá uma mulher presidir o nosso país”.


MOTIVAÇÕES

Uma das grandes motivações do ato foi a ofensiva midiática fundamentalista que tomou conta da reta final da campanha eleitoral, aproveitando-se de erros e tropeços da candidatura Dilma. De uma disputa que aparentava ser um passeio para o governo, existe agora uma batalha voto a voto, que toma conta de setores de esquerda e mesmo daqueles que se desiludiram com a ação oficial e saíram em busca de uma terceira via no primeiro turno.


No Casa Grande, a convergência era o tom. Lia de Itamaracá levantou a platéia ao entoar “Essa ciranda quem me deu foi Lia, que mora na ilha de Itamaracá”. Não era um ato propriamente, era uma celebração.


Aproveitando o clima, Beth Carvalho parodiou o sucesso de Zeca Pagodinho, cantando: “Deixa a Dilma me levar/ Dilma leva eu, Dilma leva eu (...)/ Sou feliz e agradeço/ Por tudo o que você me fez”.


Leonardo Boff era talvez a expressão maior do caráter plural do ato. Apoiador de Marina Silva, ele optou por Dilma no segundo turno e pronunciou um emocionado discurso de 25 minutos. “Se com Lula, a esperança venceu o medo”, lembrou, “com Dilma, a verdade vai vencer a mentira”. Para Boff, esta eleição é mais do que o confronto entre dois candidatos, representa o confronto entre duas idéias de Brasil. “Se a oposição ganhar, teremos imensos retrocessos”. E com palavras duras, sintetizou o clima do país: “O que as classes dominantes não permitem é que um filho da pobreza, um peão como Lula, chegue à presidência. Gostariam que Lula ficasse na fábrica, produzindo para eles”.


Antes da fala de Dilma, foi lido o poema Os filhos da paixão, de Pedro Tierra, sob silêncio absoluto. Um de seus trechos diz:


“Queremos um país onde não se matem as crianças/ que escaparam do frio, da fome, da cola de sapateiro./ Onde os filhos da margem tenham direito à terra,/ ao trabalho, ao pão, ao canto, à dança,/ às histórias que povoam nossa imaginação, às raízes da nossa alegria”.

DILMA FALA

O cenário estava pronto. Anunciada como futura Presidente da República Federativa do Brasil, Dilma falou por 37 minutos. Para quem a viu nervosa e tensa no dia anterior, no debate da Rede TV!, ali estava outra pessoa. À vontade, com a palavra fluindo fácil, a candidata percorreu temas complexos, como política energética, relações internacionais, alocação de recursos, papel do Estado, educação, cultura, saúde e outros com desenvoltura.


Começou falando: “Vejo aqui um pedaço de minha vida. As músicas de minha juventude, os livros que li em vários tempos. Vejo aqui muitos que lutaram em décadas antigas”. Lembrou dos anos iniciais de sua militância, da prisão e das opções feitas. “Comecei a sonhar nos anos 1960. Era um sonho de um Brasil que tinha de mudar, um Brasil que tinha de ser diferente. Sonhamos revoluções e aprendemos a perder. Quem perde adquire uma imensa capacidade de resistir. Eu me formei na vida política perdendo. Tenho muito orgulho de minhas derrotas. Foram derrotas de uma vida correta”.


A certa altura, voltou-se para temas concretos. Lembrou mais uma vez que o governo FHC queria mudar o nome da Petrobras para Petrobrax. Esmiuçou os modelos de exploração da riqueza subterrânea. “O governo passado preferiu um modelo conhecido como concessão. Quem encontrasse o óleo, era seu dono. Manter o modelo anterior significa privatizar o pré-sal!”


Ao mencionar a importância do desenvolvimento, recuperou uma idéia cara aos economistas heterodoxos: “Nós mudamos alguns tabus. O principal deles é de que o país não poderia crescer distribuindo renda. Hoje isso parece óbvio, mas nunca foi óbvio. Por trás desse tabu está uma visão mercantil do Brasil. Uma visão que incorpora uma parte da população nos benefícios da modernidade e pouco se importa com a outra parte”. Para ela, esta é a distinção entre sua candidatura e a dos adversários. “Não podemos aplicar no Brasil teorias de outros países que nem mesmo eles aplicam em casa”.


Ao desenhar o futuro do Brasil, Dilma afirmou: “Nós seremos uma nação desenvolvida. Mas não queremos ser os Estados Unidos da América do Sul, onde uma grande parte da população negra está na cadeia e uma parte da população branca pobre mora em trailers e não tem acesso às condições fundamentais de sobrevivência digna. Por isso nós somos hoje respeitados no mundo. E vamos ser mais, pois ninguém respeita um país que deixa parte de seu povo na miséria”.


No fim do ato, a chuva havia parado. Apesar do entusiasmo, todos ali sabem de uma coisa: ainda há ainda muita campanha pela frente até 31 de outubro.



PS. Não deixa de ser sintomático o fato de na mesma semana em que José Serra levou ao ar o Pastor Silas Malafaia, Dilma Rousseff celebrar o apoio de tantos intelectuais.


Por fim, para sintetizar o que representa a candidatura Dilma nesse momento da história, fico com as sábias palavras do neurocientista Miguel Nicolelis: “É o futuro da inclusão social, o futuro em que as crianças que ainda nem nasceram possam ter a educação, saúde, ciência, tecnologia e a possibilidade de construir os seus sonhos pessoais sejam eles quais forem”.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

O PSB pode ser um grande partido nacional?

O Estadão de hoje publicou uma matéria sobre o crescimento do PSB. A li no blog do Nassif e achei uma tremenda “forçação” de barra. Quem quiser ler a matéria o link está aqui.

Fiz um comentário acerca do assunto e a seguir publico o comentário revisto e um pouco maior.



Acho difícil o PSB se firmar como grande partido nacional. Falta-lhe consistência ideológica para garantir penetração na classe média e/ou nos movimentos populares.

O PSDB por conta dos propalados bons quadros do tempo de sua fundação (Montoro, Covas, Pimenta da Veiga, Bresser Pereira e os próprios FHC e Serra dentre outros) nasceu com um verniz de modernidade e não encontrou maior resistência para chegar à classe média. Mais tarde a aliança com o PFL foi proveitosa para ambos os lados, pois o PFL sofria rejeição dentro da classe média urbana e o PSDB tinha dificuldades no interior do país, onde o PFL já estava instalado desde o Brasil Colônia.

O PT surgiu nos movimentos sociais (sindicatos, pastorais, MST, etc) e a eles deve boa parte do seu sucesso e de ter chegado aonde chegou. Embora o PT sempre tenha sido uma agremiação heterogênea, foi justamente o debate e a forte participação de seus filiados-militantes-simpatizantes (em tempos nem tão priscos assim) em torno de um projeto comum cuja diretriz era derrotar o fisiologismo, o clientelismo, o patrimonialismo e colocar na agenda nacional a necessidade de se reduzir a desigualdade social, que deu amalgama a agremiação. Ao mesmo tempo esse projeto tornou-se principal responsável pelo crescimento do partido. Na verdade o PT foi, e de certo modo ainda é, uma "escola" para a esquerda institucionalizada.

Por ora praticamente inexiste a possibilidade real de surgimento duma terceira via com força capaz de redividir o cenário político nacional, ainda mais sendo essa terceira via o PSB, um partido que pode se aliar tanto ao PT quanto ao PSDB – esquerda e direita do espectro político atual –, o que lhe garante governos regionais, uma bancada relativamente de tamanho bom na Congresso, cargos, secretarias e ministérios, mas não identidade e consistência ideológica.

Acredito mais que o PSB esteja confinado, ao menos na próxima década, ao papel de força coadjuvante – um PFL mais ao centro ou um PMDB de tamanho reduzido, sem, no entanto e portanto, o poder de barganha dos dois.

domingo, 17 de outubro de 2010

ELEIÇÕES 2010: acaba, acaba, acaba logo...

Me lembro que a exatamente 10 anos atrás (ano 2000) despontava nas paradas de sucesso do pseudo-axé brasileiro um grupo chamado Bragaboys que fez “muito” sucesso com uma música chamada “Bomba”, interessante que ao final da música o grupo cantava “acaba,acaba,acaba logo...”.

Pois bem 10 anos se passaram e a bomba do Bragaboys acabou naquela época mesmo. Ainda bem. Sou admirador e estudioso da área política (ciência política, geopolítica e história política) entretanto minha ansiedade nunca esteve tão afetada para um término de processo eleitoral como o de 2010. Talvez entendamos no futuro o porquê dos presidenciáveis não debaterem principalmente neste 2º turno projetos nacionais para o Brasil como a Pré-Sal, a emenda 29 da Saúde, um maior investimento do PIB na educação, fontes alternativas de energia, política econômica entre outros diversos assuntos de interesse coletivo de toda a sociedade brasileira. Como professor adoro um debate provocador em sala de aula junto a meus alunos, isto nenhum candidato provocou em seu adversário e muito menos na sociedade.

De um lado o denuncismo facista do PSDB, do outro o PT revidando sem consistência. O “nojo” maior deste processo eleitoral se deu neste domingo (17/10) com a neutralidade de Marina Silva não decidindo apoiar ninguém, sendo incoerente com sua história política e com os movimentos sociais que sempre defendeu. Chico Mendes virou no caixão neste domingo.

Enfim prefiro não prolongar o assunto para não ficar chato tal como ele está na mídia. Ainda acredito na consciência política e reflexão crítica da maioria dos brasileiros. Aproveito o espaço e me coloco a disposição dos leitores para um churrasco com forte labareda regrada a queimas de várias revistas Veja.

No mais estou como os BragaBoys esperando que o processo acabe logo. Até porque o assunto virou mais partidário-eleitoral do que conscientemente político. Lamentável.

João Alexandre Moura Oliveira, Geógrafo, Gestor Ambiental, Militante Cultural e professor de Geografia, Filosofia e Sociologia na rede privada de Poços de Caldas-MG.

A CNBB virou comitê central do Serra?

Publico texto enviado pelo Chico Hugo, amigo e colaborador do Dissolvendo no Ar, assinado por Emílio Carlos Rodriguez Lopez a respeito de como parte da Igreja Católica foi instrumentalizada em prol de Serra e a seguir um comentário do próprio Chico.


A CNBB virou comitê central do Serra?
Por Emílio Carlos Rodriguez Lopez*


A Dom Luciano Mendes de Almeida, o amigo verdadeiro dos pobres.


Participo de movimentos na Igreja Católica, desde 1979. Primeiro, na Pastoral de Juventude, onde me tornei coordenador da região Leste 1 da Arquidiocese de São Paulo, na ocasião coordenada por Dom Paulo Evaristo Arns. Lá conheci Dom Luciano Mendes de Almeida e o vi, muitas vezes, ceder a sua cama para um mendigo dormir ou repartir o pão. Este homem foi durante os anos críticos do final da ditadura um exemplo de moderação, o que falta hoje entre os atuais bispos.


Durante cinco anos fui coordenador do projeto de formação política e comunicação da região Leste 1. Na década de 80, ajudei na campanha de Plínio de Arruda Sampaio a deputado federal e a governador, participei da campanha de Chico Whitacker para vereador e do Plenário Pro Participação Popular na Constituinte e na campanha contra a revisão da Constituição. Também fui um dos coordenadores da Juventude Universitária Católica.


Tenho dois filhos lindos consagrados à Nossa Senhora de Fátima e agradeço a intercessão de Nossa Senhora Aparecida por salvar a vida da minha filha, que com sete dias de existência passou por uma cirurgia cardíaca e mais quarenta e cinco dias na UTI. Por tudo isso e, ainda amar a vida, sempre fui contra o aborto.


Nos últimos tempos, estou assistindo atônito e envergonhado o apoio ostensivo de bispos paulistas ao candidato à Presidente da República, José Serra. O pretexto de tal apoio seria a posição deste cidadão ser contrário ao aborto e defensor da vida. Oras, mesmo para defender esta causa santa não há a necessidade de tanto alarde e exploração mal intencionada do assunto, visto que os quatro principais candidatos têm posição contrária a esta prática.


Recentemente, a Regional Sul-1 da CNBB lançou um manifesto anti-Dilma, acusando-a de defender o aborto. A complacência da CNBB fez com que setores conservadores usassem a autoridade eclesiástica para cercear o direito ao voto dos católicos e, além dos mais, permitiu que se espalhassem boatos maldosos e caluniosos contra uma pessoa.


Esta campanha foi organizada pela Opus Dei, que funciona como um partido clandestino dentro da Igreja Católica contra o PT e Dilma e a favor de Serra. Esse grupo tem como premissa à defesa da vida. Para eles, a Opus Dei, o ato de viver se resume a nascer. Desse modo, para a Opus Dei reduzir a miséria e melhorar as condições de vida de milhões de brasileiros não é promover a vida. Assim como, para eles, também não é promover a vida dar condições para o povo comer carne e ter emprego.


Esta concepção restrita da defesa da vida esconde a intenção da Opus Dei de usar a religião para fins políticos eleitorais e transformar o altar em local de comício para dominar o Brasil. A Opus Dei é uma organização católica de extrema direita que não aceita pobres entre seus membros e que apoiou a ditadura fascista na Espanha e em muitas outras partes do mundo, inclusive no Brasil. Além dos tentáculos econômicos poderosos que levaram a práticas de lavagem de dinheiro no Banco Ambrosiano – caso da Máfia da P2 -, domina Faculdades na Espanha e tem representantes em diversos veículos da mídia, inclusive da brasileira.


Por tudo isso, não é possível tolerar que falsos democratas e amantes de ditaduras façam da defesa da vida um pretexto para atacar da forma mais vil um ser humano, lançando sobre uma mulher um leque de grosserias e inverdades.


Essa cabala, aliás, age como o arcebispo de Recife ao excomungar uma menina de 9 anos de idade que foi violentada e daria luz a uma criança. Ocorre que se tivesse o bebê ela poderia falecer durante o parto, visto que fisicamente não tem condições de ter uma criança. Essa menina que já havia sofrido enorme violência ao ser estuprada foi excomungada pelo religioso, assim como toda a equipe médica.


Este drama humano mostra a hipocrisia de uma Igreja mais preocupada em punir do que em amar ao próximo. Se a menina morresse, não seria também atentar contra a vida? Quantas mulheres não passam por essa difícil situação e não encontram uma só palavra de amor. Provavelmente só ouvem rancor e ódio, além de sentir o preconceito.


Quem age contra uma criança excomungando-a também age inquisitoriamente contra uma mulher, cujo único pecado é amar os pobres e querer continuar o trabalho do atual presidente que está gerando a prosperidade para os brasileiros e concretizando a vida em abundância, ou seja, concretizar o ideal bíblico da terra onde corre leite e mel. Isto a Opus Dei, uma organização elitista, voltada para os ricos, não perdoa. Por isso, odeiam tanto o Lula e o PT.


Por último, há uma diferença entre o Cristo que carrego dentro de mim e o desta gente. A Opus Dei e setores elitistas da Igreja são os continuadores dos fariseus, doutores da lei, que segundo Jesus Cristo usavam a religião como arma de dominação sobre os mais pobres. Eles se esquecem que Jesus vivia no meio dos mais pobres e humildes, nasceu na manjedoura e não em berço de ouro. Por que será que um simples pescador foi o sucessor de Cristo? E não se esqueçam de que as mulheres, as mais oprimidas naquele tempo, ficaram com Jesus até o fim, entre elas estava uma prostituta, Maria Madalena. Ah, não foram os sumos sacerdotes e os fariseus que condenaram Jesus a morrer na cruz?


Enfim, coberto de cinzas, para expressar a minha vergonha como católico praticante, pergunto que religião é esta que semeia o ódio e não o amor, como manda Jesus?


Observação: Se quiserem me excomungar, como ameaçou o padre da Canção Nova (ele pensa que estamos na Idade Média), excomunguem. Ao menos, saberei que estou seguindo os passos de outros santos, como São Francisco que sofreu processo de heresia pelo Papado na Idade Média, por pedir uma Igreja simples e despojada de bens materiais.

* Emílio Carlos Rodriguez Lopez, mestre em História Social pela Universidade de São Paulo.

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Emílio,

Há anos, quando a ditadura acenava com a possibilidade de uma abertura lenta e gradual — ainda não haviam resolvido como livrar a cara dos torturadores — D. Paulo Evaristo Arns esteve em Santos para uma palestra aos jovens católicos, no auditório do Colégio São José, na Avenida Ana Costa.

Os jovens, em sua maioria incomodados com a tolerância/apoio de tantos padres católicos às práticas da ditadura, aguardavam uma palavra de alento de D. Paulo.

O cardeal, sentado ao lado de D. Davi Picão, então bispo de Santos, logo anunciou que não ia fazer palestra mas sim responder às inquietações dos jovens.

Foi posto um microfone para o auditório. Primeira pergunta, segunda ... e D. Paulo a tergiversar.

Os jovens, bem! Os jovens tinham outra expectativa.

Em uma terceira pergunta, um rapaz mencionou fato concreto: um pároco que atrapalhava a comunidade de base e não se reunia com a juventude pretextando que as reuniões eram no horário das novelas da Globo.

Solerte, D. Paulo sugeriu ao jovem uma outra maneira de aproximação do pároco, pois via ali apenas “um choque de gerações”.

Sem graça, o jovem afastou-se do microfone. Durante algum tempo, fez-se silêncio no auditório.

Não conformado, atravessei todo o recinto até o microfone e ouvi de um solicito cardeal: “qual é sua pergunta?”

— Não tenho perguntas, D. Paulo. Venho insistir que responda à angústia que li na pergunta anterior e no rosto de todos esses jovens — respondi.

Ele insistiu em tergiversar.

Contei situações por mim vividas semelhantes à exposta pelo jovem. Ele insistiu que tal tipo de padre não existia e ... me colocou na situação de mentiroso/irresponsável.

Poderia ter ido mais longe: citar a prisão dos padres operários franceses, modelos de fé, que atuavam na Zona Noroeste de Santos, bairro operário de muita pobreza. Das circunstâncias da prisão e de eventuais denúncias/participações do clero TFP até em situações de tortura...

Falar de padres ligados à Opus Dei e à TFP que, antes do Golpe de 64, já estavam ligados a uma rede geradora de infâmias contra políticos e dirigentes sindicais/estudantis simpáticos ao Jango, liderados pelo Golberi.

(Pelo menos um desses padres foi“promovido” a bispo depois do João XXIII.)

Preferi encerrar o assunto com uma única pergunta:

— D. Paulo, diga pelo menos a esses jovens uma coisa: o que fazer quando o catolicismo começa a atrapalhar o cristianismo?

O cardeal olhou o relógio, ouviu demorado sussurro de D. Davi Picão ao seu ouvido, alegou outro compromisso e escafedeu-se.

Fui professor de Ensino Religioso durante anos no maior colégio estadual de Santos, o Instituto de Educação Canadá. Convidado pelo Padre Waldemar do Valle Martins e pelo próprio bispo D. Davi. Aceitei o convite com a condição de Ecumenismo.

Participei da criação das primeiras comunidades de base, pelas mãos do padre Antônio Olivieri.

Transitei pelas JOC, JEC e JUC.

Conheci entusiastas da AC.

Vendi assinaturas do Brasil Urgente do frei Carlos Josafá.

Filho de pais terceiros carmelitas. Aluno dos Maristas.

Pelas mãos dos maristas, catequista aos 11 anos de idade em escolas públicas de Santos.

Mariano até a medula.

Bem, Emílio!

D. Paulo não respondeu aos jovens como se comportar quando o catolicismo atrapalha o cristianismo. E você se deixa perseguir por essa dúvida.

O Leonardo Boff precisou chegar à presença do então cardeal inquisidor Ratzinger, hoje Bento XVI, no Vaticano, para ser punido por pensar teologia e descobrir: “Eles mentem!!!”

Aprendi com o evangelista João que o Diabo é o pai da mentira.

Por isso, durante aquela palestra de D. Paulo, resolvi definitivamente pela minha autoexcumunhão:
escolhi ser cristão.

Em Tempo: A última vez que conversei com D. Luciano foi num assentamento dos sem-terra no DF. Eu, professor dos meninos do assentamento, ele, bispo “defenestrado” em Mariana, recém recuperado do grave acidente.

Conversa de quem não se vê há muito tempo.

Ele estava feliz com sua recuperação. Mas senti que, como eu, era um cristão amargurado.

Chico Hugo

Música do Domingo -- Baader-Meinhof Blues (Legião Urbana)

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Nassif na NovaE: A psicologia de massa do fascismo à brasileira

Por Luis Nassif na NovaE

Há tempos alerto para a campanha de ódio que o pacto mídia-FHC estava plantando no jogo político brasileiro.

O momento é dos mais delicados. O país passa por profundos processos de transformação, com a entrada de milhões de pessoas no mercado de consumo e político. Pela primeira vez na história, abre-se espaço para um mercado de consumo de massa capaz de lançar o país na primeira divisão da economia mundial.

Esses movimentos foram essenciais na construção de outras nações, mas sempre vieram acompanhados de tensões, conflitos, entre os que emergem buscando espaço, e os já estabelecidos impondo resistências.

Em outros países, essas tensões descambaram para guerras, como a da Secessão norte-americana, ou para movimentos totalitários, como o fascismo nos anos 20 na Europa.

Nos últimos anos, parecia que Lula completaria a travessia para o novo modelo reduzindo substancialmente os atritos. O reconhecimento do exterior ajudou a aplainar o pesado preconceito da classe média acuada. A estratégia política de juntar todas as peças – de multinacionais a pequenas empresas, do agronegócio à agricultura familiar, do mercado aos movimentos sociais – permitiu uma síntese admirável do novo país. O terrorismo midiático, levantando fantasmas com o MST, Bolívia, Venezuela, Cuba e outras bobagens, não passava de jogo de cena, no qual nem a própria mídia acreditava.

À falta de um projeto de país, esgotado o modelo no qual se escudou, FHC – seguido por seu discípulo José Serra – passou a apostar tudo na radicalização. Ajudou a referendar a idéia da república sindicalista, a espalhar rumores sobre tendências totalitárias de Lula, mesmo sabendo que tais temores eram infundados.

Em ambientes mais sérios do que nas entrevistas políticas aos jornais, o sociólogo FHC não endossava as afirmações irresponsáveis do político FHC.

Mas as sementes do ódio frutificaram. E agora explodem em sua plenitude, misturando a exploração dos preconceitos da classe média com o da religiosidade das classes mais simples de um candidato que, por muitos anos, parecia ser a encarnação do Brasil moderno e hoje representa o oportunismo mais deslavado da moderna história política brasileira.

O fascismo à brasileira

Se alguém pretende desenvolver alguma tese nova sobre a psicologia de massa do fascismo, no Brasil, aproveite. Nessas eleições, o clima que envolve algumas camadas da sociedade é o laboratório mais completo – e com acompanhamento online - de como é possível inculcar ódio, superstição e intolerância em classes sociais das mais variadas no Brasil urbano – supostamente o lado moderno da sociedade.

Dia desses, um pai relatou um caso de bullying com a filha, quando se declarou a favor de Dilma.

Em São Paulo esse clima está generalizado. Nos contatos com familiares, nesses feriados, recebi relatos de um sentimento difuso de ódio no ar como há muito tempo não se via, provavelmente nem na campanha do impeachment de Collor, talvez apenas em 1964, período em que amigos dedavam amigos e os piores sentimentos vinham à tona, da pequena cidade do interior à grande metrópole.

Agora, esse ódio não está poupando nenhum setor. É figadal, ostensivo, irracional, não se curvando a argumentos ou ponderações.

Minhas filhas menores freqüentam uma escola liberal, que estimula a tolerância em todos os níveis. Os relatos que me trazem é que qualquer opinião que não seja contra Dilma provoca o isolamento da colega. Outro pai de aluna do Vera Cruz me diz que as coleguinhas afirmam no recreio que Dilma é assassina.

Na empresa em que trabalha outra filha, toda a média gerência é furiosamente anti-Dilma. No primeiro turno, ela anunciou seu voto em Marina e foi cercada por colegas indignados. O mesmo ocorre no ambiente de trabalho de outra filha.

No domingo fui visitar uma tia na Vila Maria. O mesmo sentimento dos antidilmistas, virulento, agressivo, intimidador. Um amigo banqueiro ficou surpreso ao entrar no seu banco, na segunda, é captar as reações dos funcionários ao debate da Band.

A construção do ódio

Na base do ódio um trabalho da mídia de massa de martelar diariamente a história das duas caras, a guerrilha, o terrorismo, a ameaça de que sem Lula ela entregaria o país ao demonizado José Dirceu. Depois, o episódio da Erenice abrindo as comportas do que foi plantado.

Os desdobramentos são imprevisíveis e transcendem o processo eleitoral. A irresponsabilidade da mídia de massa e de um candidato de uma ambição sem limites conseguiu introjetar na sociedade brasileira uma intolerância que, em outros tempos, se resolvia com golpes de Estado. Agora, não, mas será um veneno violento que afetará o jogo político posterior, seja quem for o vencedor.

Que país sairá dessas eleições?, até desanima imaginar.

Mas demonstra cabalmente as dificuldades embutidas em qualquer espasmo de modernização brasileira, explica as raízes do subdesenvolvimento, a resistência história a qualquer processo de modernização. Não é a herança portuguesa. É a escassez de homens públicos de fôlego com responsabilidade institucional sobre o país. É a comprovação de porque o país sempre ficou para trás, abortou seus melhores momentos de modernização, apequenou-se nos momentos cruciais, cedendo a um vale-tudo sem projeto, uma guerra sem honra.

Seria interessante que o maior especialista da era da Internet, o espanhol Manuel Castells, em uma próxima vinda ao Brasil, convidado por seu amigo Fernando Henrique Cardoso, possa escapar da programação do Instituto FHC para entender um pouco melhor a irresponsabilidade, o egocentrismo absurdo que levou um ex-presidente a abrir mão da biografia por um último espasmo de poder. Sem se importar com o preço que o país poderia pagar.

(Comentário meu: “o fascismo é fascinante, deixa essa gente ignorante fascinada” – Humberto Gessinger na música ‘Toda a forma de poder’)