terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Pinheirinho, Alckmin e a Vergonha Paulista

Boa matéria veiculado na página eletrônica do jornal britânico The Guardian – que ao lado do The Independent forma o par de diários de esquerda com maior circulação no Reino Unido.

Vamos lembrar que em 2006 Alckmin interrompeu uma entrevista a uma tv também britânica ao ser questionado sobre supostas chacinas cometidas pela PM paulista durante a semana em que o PCC literalmente tomou conta do estado.

Pelo jeito Alckmin e companhia estão mesmo a fim de mostrarem para o mundo que no Brasil, mais especificamente em São Paulo, a extrema-direita tem poder e problema social é resolvido na base da brutalidade e violência.


The fight against Brazil's Pinheirinho eviction can be an inspiration

(A luta contra o despejo do Brasil Pinheirinho pode ser uma inspiração)

The Guardian




A fotografia se espalhou pelo mundo rapidamente: mostra os moradores do Pinheirinho, favela no estado de São Paulo, vestindo capacetes, escudos e barricadas para resistir a uma ordem de despejo.

Pinheirinho foi ocupado por oito anos, sem nenhum esforço do governo para regularizar a área ou desenvolver uma infra-estrutura adequada. Lar de cerca de 6.000 pessoas, a terra pertence a um fraudador do mercado financeiro, preso em 2008. Estimulado pelo boom imobiliário do Brasil, a administração local tornou-se recentemente ativo na prossecução do despejo, com a cumplicidade de juízes que pareciam querer que isso acontecesse o mais rápido possível.


Depois da primeira imagem do despejo ser divulgada, o governo federal prometeu intervir através da compra de terra e devolvê-la para os ocupantes. Pelos fundamentos expostos, um juiz federal suspendeu o despejo, apenas para ser rapidamente anulado por um outro, que declarou ser uma questão de estado. O Poder Judiciário estadual, em seguida, agiu rápido antes que os advogados dos favelados ‘ pudessem reagir. No domingo, as redes sociais estavam zumbindo com relatos de guerra, como cenas de brutalidade e contos, incluindo a proibição da mídia e bloqueio de celular na área, além de rumores da possível detenção de um deputado federal e um senador que tentaram intervir (mais tarde foi esclarecido que não foram detidos, mas estavam num local fechado, tentando negociar). Até sete mortes foram relatadas, incluindo um bebê, embora nenhum deles confirmado oficialmente até o momento.

Foi principalmente graças aos meios de comunicação social que informações sobre os despejos pôde ser encontrado. No Twitter, a hashtag # Pinheirinho se tornou um top durante um par de horas. Durante todo o dia, a mídia corporativa do Brasil, que tem ligações históricas ao partido no poder [em SP], tanto em nível estadual e local, relatou a história em tons suaves: manchetes destacando uma van incendiada enquanto relevava as casas das pessoas em chamas.

Em lugares como Irã e Egito, a mídia social tem funcionado como uma ferramenta contra o controle estatal da informação. No Brasil, tem ajudado a contornar um monolítico setor de mídia privada, que é sub-regulamentada e altamente concentrada (90% da indústria está nas mãos de 15 famílias). Como outros meios de produção e circulação de informação tornou-se mais facilmente disponíveis, a mídia corporativa do país começou a perder credibilidade. Os meios alternativos foram veementes em sua condenação do Governo do Estado de São Paulo no último domingo, e com razão. Mas em outra parte da esquerda política há indícios de dissimulação.

O quadro mais amplo por trás da história Pinheirinho é boom econômico do Brasil, em que a construção e a propriedade estão jogando um papel crescente. Este processo foi acelerado pelo Brasil ser escolhido como sede da Copa de 2014 e Olimpíadas de 2016. Um dossiê produzido pela Coordenação Nacional de Comitês Mundial estima que cerca de 170.000 pessoas em todo o país serão expulsas devido à eventos esportivos (os números oficiais nunca foram anunciados). Em última análise, significa o estado entregando áreas públicas – aquelas ocupadss pelos pobres -, enquanto contribuintes bancam todo o processo. Talvez o pior caso até agora tenha sido no Rio , onde os despejos têm sido tão autoritários e unilaterais como a do Pinheirinho, espetacularmente militarizados. Em comparação, as vozes na esquerda têm sido muito mais baixas para denunciar isso.

O desenvolvimentismo que caracteriza o governo de esquerda Rousseff, com sua ênfase no crescimento econômico e indicadores quantitativos em vez de participação proteção ambiental e redistribuição da riqueza, encontra-se em um impasse político. Muitos na esquerda têm encontrado dificuldade para articular uma crítica desses processos. Há agitações que sugerem que isso pode estar mudando, como as campanhas recentes contra a Petrobrás (empresa estatal de petróleo), Vale do Rio Doce (mineração) e construção da usina hidrelétrica de Belo Monte. Eles são pequenos sinais, até agora ainda um pouco isolados, mas pode ser o começo de algo. Se assim for, Pinheirinho poderia revelar-se uma lição, uma acusação e uma inspiração.

Abaixo o vídeo da entrevista interrompida por Alckmin em 2006

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Educação Irrefletida

Por Tiago Barbosa Mafra

Ao receberem um castigo, com freqüência as crianças ouvem: “isso é para você pensar sobre o que fez”. Nessa situação simples e corriqueira, aparece algo imprescindível para a prática docente: a reflexão.

O professor carece pela natureza de seu trabalho, agir e pensar constantemente sobre sua ação em sala de aula, para compreender seu meio, suas dificuldades, suas falhas, enfim, manter o aperfeiçoamento constante exigido para quem leciona.

Nos idos da década de 1960, o educador suíço Pierre Furter escreveu: “A reflexão é, portanto, um pensamento ao segundo grau, no qual o homem re-pensa o que estava fazendo”. Isso, segundo ele, desencadeia a contextualização, a constante revisão, o aperfeiçoamento, a responsabilização pela prática docente.

É nesse ponto, que se chega à questão crítica: o tempo. Os professores da era da informação carecem de tempo para a reflexão.
Uma sociedade que supervaloriza a velocidade e aprofunda a cada dia , por meio dos avanços tecnológicos a exploração do trabalho, reduz significativamente o tempo disponível para outras atividades que não o trabalho, e portanto, reduz a propensão à reflexão.

São esses docentes, obrigados à dupla ou tripla jornada de trabalho, que a cada dia agem sem reflexão. São agentes reprodutores da estrutura atual. A jornada massacrante se dá no intuito de garantir o mínimo de dignidade no salário. Porém, isso tem retirado o tempo de formação continuada, de leitura, de pesquisa, e do mais importante, a reflexão da própria prática.

Ao observar o quadro atual da sociedade em que vivemos, ficam claras algumas das razões pelas quais isso efetivamente ocorre.
Na esfera federal, temos um governo que ao invés de destinar 10% do PIB para educação, conforme clamou a sociedade durante todo ano de 2011, contará neste ano com um orçamento de R$ 2,2 trilhões, dos quais cerca de R$ 650 bilhões irão para o pagamento da dívida. Parece que falta foco nas prioridades.

Em Minas Gerais, mesmo após 112 dias de greve, a base do governo tucano votou contra a aplicação do piso nacional para os professores, inclusive com apoio de deputado da região. Depois as propagandas afirmam que Minas avança. Só não se sabe para onde.

Poços de Caldas não escapa do cenário, contando com um Executivo que desde 2009 ignora o sindicato e não proporciona negociações democráticas. Como resultado, constata-se que o salário de um professor dos primeiros anos do ensino fundamental em início de carreira está pouco acima do mínimo, após ajuste deste ano para R$ 622. A saída: trabalhar mais.

Frente a isso, resta a ação reprodutora, mecânica, acrítica. Para Furter, “a reflexão é ao mesmo tempo crítica, dialética e inovadora”. Justamente o que parece se quer negar ao povo. Para isso, não há alvo melhor do que o professor.

Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Música de Domigo – 30 anos sem Elis Regina

Elis Regina (17 de março de 1945 – 19 de janeiro de 1982, conhecida por sua presença de palco histriônica, sua voz e sua personalidada é considerada por muitos críticos, comentadores e outros músicos a melhor cantora brasileira de todos os tempos.

Elis Regina aventurou-se por muitos gêneros; da MPB, passando pela bossa nova, o samba, o rock ao jazz. Interpretando canções como "Madalena", "Como Nossos Pais", "O Bêbado e a Equilibrista", "Querelas do Brasil", que ainda continuam famosas e memoráveis, registrou momentos de felicidade, amor, tristeza, patriotismo e ditadura militar no país. Ao longo de toda sua carreira, cantou canções de músicos até então pouco conhecidos, como Milton Nascimento, Ivan Lins, Renato Teixeira, Aldir Blanc, João Bosco, ajudando a lançá-los e a divulgar suas obras, impulsionando-os no cenário musical brasileiro. Entre outras parcerias, é célebre os duetos que teve com Jair Rodrigues, Tom Jobim, Simonal, Rita Lee, Chico Buarque—que quase foi lançado por ela não fosse Nara Leão ter o gravado antes—e, por fim, seu segundo marido, o pianista César Camargo Mariano, com quem teve os filhos Pedro Mariano e Maria Rita. Mariano também ajudou-a a arranjar muitas músicas antigas e dar novas roupagens a elas, como com "É Com Esse Que Eu Vou".

Sua presença artística mais memorável talvez esteja registrada nos álbuns Em Pleno Verão (1970), Elis & Tom (1974), Falso Brilhante (1976), Transversal do Tempo (1978), Saudade do Brasil (1980) e Elis. Ela foi a primeira pessoa a inscrever a própria voz como se fosse um instrumento, na Ordem dos Músicos do Brasil. Elis Regina morreu precocemente em 1982, com apenas 36 anos, deixando uma vasta obra na música popular brasileira. Embora haja controvérsias e contestações, os exames comprovaram que havia morrido por conta de altas doses de cocaína e bebidas alcoólicas, e o fato chocou profundamente o país na época.

sábado, 21 de janeiro de 2012

EUA farão do combate à pirataria a nova guerra às drogas, diz analista

Pescado no Opera Mundi

Os EUA, motivados pela indústria do copyright está transformando o compartilhamento em crime, na nova droga do século XXI, que vai gerar uma nova guerra.

A grande ofensiva lançada nesta sexta-feira (20/01) pelo grupo de hackers Anonymous contra o governo dos Estados Unidos, que conseguiu derrubar sites como o do FBI, do Departamento de Justiça, além das gigantes Universal e Warner, pode ser só o começo de uma longa guerra que pode durar décadas. A opinião não é só do grupo, como também de especialistas em cultura digital como o sociólogo Sérgio Amadeu da Silveira, professor de Ciências Políticas da Universidade Federal do ABC.

Para Amadeu, a ação do governo norte-americano contra o site de armazenamento de arquivos Megaupload é, em sua opinião, uma compensação para o recuo dos projetos de Lei SOPA (Lei de Combate à Pirataria online) e PIPA (Lei de Proteção ao IP), que saíram da pauta do Congresso nesta semana. O interesse do governo norte-americano seria, nesse caso, proteger sua indústria mais atrativa do momento, a do copyright. A intenção dos Estados Unidos com essas ações seria uma iniciativa semelhante à guerra às drogas, iniciada na segunda metade do século XX. Uma guerra que, como os próprios norte-americanos já estão admitindo, foi perdida. E Amadeu garante: perderão de novo, de maneira ainda mais retumbante.


Como o sr. vê o fechamento do Megaupload e a prisão de seu fundador?

O governo norte-americano, a partir de seus segmentos mais retrógrados, fará do combate da pirataria nos próximos anos uma nova guerra contra as drogas. Eles irão buscar criminalizar a infraestrutura da rede e tentar, com isso, mover os interesses de sua maior indústria, que hoje é a indústria da propriedade intelectual, construída ainda no mundo industrial. Se somarmos o que os Estados Unidos ganham com copyright, patente ou marcas, supera-se o ganho da indústria do petróleo ou qualquer outra. Esse modelo de negócio em torno da propriedade intelectual está fracassando nas redes digitais. Porque elas são tecnologias que incentivam o compartilhamento.

O próprio computador é uma máquina de copiar algarismos. Ele trabalha com replicações constantes. Imagine uma máquina de copiar em alta velocidade em uma rede cada vez mais rápida. Esse é o cenário esquizofrênico que temos hoje. Quer-se ampliar as redes digitais e, ao mesmo tempo, impedir a cópia. Montam uma megaoperação de compartilhamento e depois dizem que compartilhar é crime.

Por que o Megaupload?
Na semana passada, usei o site para mandar um vídeo pesado, que fiz do meu celular, de 54 megabytes. Assim como há pessoas que usam o site para muitas coisas, tem gente que usa para reproduzir CDs de músicas, pegar vídeos e passar para amigos e colegas. O que acabou acontecendo? Logo depois do grande protesto contra as leis SOPA e PIPA, fizeram o que é típico da extrema-direita norte-americana. Foram atuar contra sites extremamente populares mostrando a força da ação deles em solo norte-americano. O recado é esse: “nós não precisamos de SOPA e PIPA para acabar com a ‘festa da ilegalidade’”. Ora, esse método truculento deles, que já havia sido aplicado no passado contra o Napster e o Kazaa, gerou o grande sucesso das redes peer to peer, das redes bit torrent. Não é viável a ação desses segmentos.

Mas essa não é a primeira vez que esse tipo de ação ocorre.

Não. É bom lembrar que Jack Valenti, o lendário presidente da MPAA (Motion Picture Association of America), uma das principais associações por trás desses dois projetos de lei, acionou as autoridades norte-americanas contra a Sony para impedir que a empresa japonesa lançasse o copiador de DVDs, dizendo que esse reprodutor de DVDs acabaria com a indústria cinematográfica norte-americana. Isso tanto não era verdade que a maior parte do lucro da indústria de Hollywood vem de games e depois de aparelhos reprodutores de DVDs. Se as autoridades seguissem a intenção obscura desses segmentos retrógrados, estaríamos privados de uma tecnologia, ou pelo menos atrasaríamos muito seu lançamento, para que ele fosse lançado em outro país, e não nos Estados Unidos.



É uma situação muito perigosa a que vivemos hoje. Esses segmentos, principalmente as indústrias cinematográfica e fonográfica, para manter um controle sobre a criatividade e sua lucratividade obtida no mundo industrial, querem conter o avanço tecnológico e subordinar todos os outros direitos das pessoas, de privacidade, liberdade de expressão, navegação, ao direito deles de serem proprietários de um bem ou mercadoria cultural. É um momento delicado, mas não inesperado. Sabemos já há algum tempo que as principais batalhas econômicas do século XXI certamente serão em torno da propriedade intelectual, não tenha dúvida.

Argumenta-se que pessoas que usam sites de compartilhamento somente para baixar músicas ou livros ou filmes e acabam por prejudicar os autores dessas obras. O que fazer para garantir os direitos deles e os lucros sobre os seus produtos? O site Megaupload lucrava e muito com assinaturas, estava longe de ser uma atividade filantrópica.

É verdade, não era uma rede peer do peer. Mas sabemos claramente que, nestas redes, a maioria das pessoas compartilha vídeos, filmes, textos, sem ganhar praticamente nada. Compartilham porque essa ideia de trocar bens culturais é antiquíssima. Antes de existir rede, por isso é tão difícil impedir que isso continue.

É uma ideia que existe mesmo antes da escrita.
Claro. Não fazia qualquer sentido no século XVIII alguém ser dono de uma música. Historicamente, essa questão não se colocava. Porque a música não tinha uma tecnologia que permitia a sua apropriação privada. Então, é a tecnologia de gravação que vai viabilizar um tipo de apropriação privada daquilo que sempre foi uma criação baseada na cultura coletiva. Existe a gravação, o suporte e a venda desse suporte. E a indústria cultural se organiza fundamentalmente em cima disso. Mas a tecnologia mudou. O digital liberou o texto do papel; a música do vinil; a imagem da película. E colocou sons, textos e imagens em uma única metalinguagem, que é a metalinguagem musical.

Essa mudança tecnológica vem reforçar as ações de compartilhamento que sempre foram comuns. No Brasil mesmo, que não tem banda larga estável de qualidade, que ainda tem exclusão digital profunda. Nesse país aqui, 44% dos brasileiros, compartilham músicas. Não me venham dizer que temos mais de 40 milhões de criminosos! O que as pessoas fazem é usar o potencial da tecnologia de compartilhamento. Assim como na época em que se comprava vinil, vazavam duas ou três músicas para a minha fita cassete, e eu emprestava ela para minha prima ou um amigo, e todos emprestavam para todo mundo. Ninguém chamava isso de pirataria. Os EUA, motivados pela indústria do copyright está transformando o compartilhamento em crime, na nova droga do século XXI, que vai gerar uma nova guerra.

Qual será o resultado dessa guerra?

Eles vão perder. De uma maneira mais vergonhosa do que perderam a guerra das drogas. Claro, na guerra das drogas estão envolvidas questões religiosas, preconceitos, é mais complicado. Mas é claro que a política de criminalização delas fracassou também. Há muito tempo. Isso não é sou eu que estou dizendo isso. Milton Friedman nos anos 1960 já dizia economicamente que aquela postura era um equívoco.

No caso da comunicação em rede, há outro problema. A indústria de copyright está se transformando em traficante do copyright. Está agindo de maneira truculenta. O que eles querem impedir agora é a relação direta entre o artista e o seu fã diretamente na rede. Os grandes sucesso da música sertaneja no Brasil já não se incomodam com o que essa indústria chama de pirataria. Porque eles ficam mais famosos e ganham mais dinheiro quando se copiam suas músicas.

Como instrumento de divulgação.
Sim, como o caso típico do (grupo musical) Teatro Mágico no Brasil. Estão famosos, lotam shows no norte no Brasil. E demoraram pra voltar a tocar na rádio. Porque? O que leva a música deles é a cópia. E há livros que estão disponíveis na internet que vendem no papel. As pessoas ainda querem ter livros, querem ter vínculos com o papel. O que acontece é que estão divulgando cada vez mais esse livro. Paulo Coelho [escritor que vendeu mais de 100 milhões de livros] fez ele mesmo um site para copiarem seus livros na rede. Porque ele sabe que quanto mais baixam um livro dele, mais ele fica em evidência.

O que o sr. acha da proposta de Jean-Luc Mélenchon, candidato à Presidência da França pelo Frente de Esquerda, que defendeu a criação de um site público de compartilhamento, onde todos os autores pudessem colocar suas obras gratuitamente, sem exceção – sem serem pagos por isso, teriam seus trabalhos divulgados em condições iguais.
Me parece uma iniciativa interessante que tem que levar em conta os modelos das redes. Pode dar certo, talvez não. Pode não ter um único modelo. Aliás, certamente não haverá um único modelo de produção, distribuição e remuneração da cultura. Mas acho válidas todas as tentativas, como essa, que não sejam obscuras. Agora, querer impor a todo mundo um único modelo não funcionará.

Os projetos de lei SOPA e PIPA sofreram mesmo um recuo – com o Senado adiando a votação e seus defensores no Congresso norte-americano pedindo para rever as posições? Ou elas podem ser modificadas alterando apenas detalhes da redação da lei e voltarem com mais força?
Os congressistas perceberam que não era o momento certo de votação e me parece que optaram por um acordo. Daí que veio a ideia das prisões, como a do fundador do Megaupload, e de fechar sites. Um acordo que envolveu o próprio governo de Barack Obama. Porque se essas leis passassem no Congresso, caberia a ele o poder de sancionar e vetar. E, nesse momento, ele não tem uma condição política tranquila para decidir. E, sim, é bem possível que elas (SOPA e PIPA) voltem modificadas, disfarçadamente mais brandas.



quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Nota do ex-ministro Luiz Dulci

A despeito da matéria veiculada pela imprensa local onde o prefeito Paulinho Courominas aparece numa foto ao lado do ex- ministro Luiz Dulci e afirma ter apoio do petista para o seu projeto de reeleição, o homem de confiança de Lula e um dos principais nomes do PT mineiro fez chegar ao presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores, Dr. João Monteiro, a seguinte nota:


Dr. João Monteiro,
Nota:
No último domingo, 15/01, encontrei-me casualmente com o prefeito de Poços de Caldas, Paulo César Silva, no litoral paulista.

Trocamos palavras de cortesia, e o prefeito brevemente expos suas opiniões sobre a política de Poços, perguntando a minha posição a respeito.

Eu disse a ele que não tenho acompanhado a política da cidade e que portanto, não tenho nenhuma condição de opinar acerca dela.

E deixei claro que, só quem pode fazê-lo, em nome do PT, é o Diretório Municipal do Partido, presidido pelo Dr. João Monteiro. Como sempre, apoiarei integralmente a decisão que for tomada pelas lideranças locais do meu partido.

Atenciosamente,

Luiz Dulci







sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Direita ou esquerda?

Por Tiago Barbosa Mafra

Na primeira vez que ouvi a afirmação achei que era apenas implicância minha. Ora, cada um que fique com sua avaliação sobre como as relações políticas e suas ideologias sustentáculos se dão em pleno século XXI. Mas quando reincidiu a mesma declaração, em menos de uma semana, não pude deixar de tentar me contrapor, através destas linhas, à idéia de que “é difícil hoje definir o que é esquerda e direita”.

Retomando Marx, lembramos que o homem se faz homem pelo trabalho. Porém, no sistema atual, o trabalho só acontece sob pressão de suprir as necessidades imediatas de existência de quem trabalha. A grande questão é que quem trabalha não lucra e quem lucra não trabalha.

Isso só ocorre porque é a partir da propriedade que ocorre a exploração dos trabalhadores, a concentração das riquezas e a formação e aprofundamento das desigualdades sociais e econômicas.

Como lembra Norberto Bobbio em sua obra Direita e Esquerda, as concepções distintas de desigualdade ajudam a contrapor a frase geradora deste artigo, sobre a indistinção entre direita e esquerda no mundo atual. Enquanto para a direita a desigualdade é inevitável, ou mesmo natural, para a esquerda é algo construído ideológica e historicamente e, portanto, passível de transformação.

É possível, a partir daí, separar quem está de cá e quem está de lá; quem é pelo trabalhador e quem é contra ele; quem é pela desigualdade e quem contra ela luta.

Digo que não é difícil definir esquerda e direita. Difícil é ter que presenciar e conviver com um mundo de politicagem, acordos e negociações espúrias que deixam de lado qualquer viés de comprometimento com o bem estar coletivo. Ai fica mesmo difícil definir a esquerda da direita no meio da negociata.

Para finalizar, cito o geógrafo russo Piotr Kropotkin, que escreveu certa vez: “Como se fará em uma sociedade em que todos comam até saciar-se, para satisfazer tal pessoa que deseja uma louça de Sevres ou um vestido de veludo? Angariemos primeiro o pão. Quanto à porcelana e ao veludo, mais tarde veremos.”

Ao que tudo indica, muitos políticos em nossa cidade hoje querem mais é discutir seu veludo e sua porcelana. E nessa discussão míope, aparece a “dificuldade” de discernimento. Mas que fique o aviso: o povo quer pão. E em meio à politicagem e arrumações escusas, o povo sim saberá discernir entre esquerda e direita. Pelo menos assim espero.

Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Prefeitura de Poços: única opção para Geraldo Thadeu

A atitude tomada pelo prefeito Paulinho Courominas ao exonerar secretários e funcionários de segundo e terceiros escalões que não lhe garantissem obediência canina, além de desprovida de qualquer senso republicano, ocasionou a antecipação do calendário eleitoral em Poços de Caldas.

Para justificar a “exoneração em massa” Courominas alegou precisar de pessoas que estejam envolvidas em seu projeto, ou seja, sua reeleição e nada mais. A solução para os problemas enfrentados pelo município que tem visto Alfenas, Pouso Alegre e Varginha avançarem de forma contundente no desenvolvimento social e econômico enquanto Poços parece estagnada nesses quesitos – vários dados e estudos provam isso –, são irrelevantes perto do projeto de reeleição.

Ao lançar-se candidato de si mesmo Courominas antecipou o calendário eleitoral fazendo com que outros atores da cena politica local também se posicionassem. Em especial neste caso o deputado federal Geraldo Thadeu que já no primeiro dia útil de janeiro lançou sua pré-candidatura a Prefeitura Municipal.

É bem verdade que Geraldo já vinha há algum tempo articulando sua candidatura – inclusive sondando o PT –, entretanto foi o emparedamento dos ocupantes de cargo de confiança indicados pela tríade de caciques (Navarro, Mosconi e o próprio Geraldo)somada a ruptura pública de Courominas com essa “tríade” que levaram o deputado federal a se manifestar em público sobre aquilo que até então só tratara nos bastidores.

Início da carreira e formação do grupo dos caciques

Em 1996 após a morte do ex-prefeito José Aurélio Vilela – o último prefeito nomeado de Poços e com quem Carlos Mosconi dividia o tucanato local – Geraldo Thadeu então presidente da Executiva Municipal do PSDB debutou na carreira política-eleitoral sendo ungido nome de consenso entre os dois maiores grupos políticos de Poços à época para suceder Luiz Antônio Baptista (então afilhado político de Navarro, mas hoje considerado persona non grata pelo mesmo).

A aliança entre o grupo de Sebastião Navarro (PFL) e o grupo de Carlos Mosconi (PSDB), até aquele momento adversários políticos figadais, resultou numa vitória apertada com a diferença de ínfimos 35 votos de Geraldo Thadeu sobre Paulo Tadeu D’arcadia e a transformação do PT, até então mero figurante da política local, em ator de peso. A diferença de 35 votos se deu num universo de mais de 60 mil votos válidos.

A criação do forte grupo de caciques deu oxigênio a um modo arcaico e ultrapassado de se fazer política assentado no fisiologismo sem limites; na cooptação de forças não-simpatizantes, porém maleáveis; na desavergonhada tomada para si de obras públicas e programas dos governos estadual e federal, um exemplo mesquinho e nada republicano; na inexistência de qualquer participação popular na tomada de decisões; no tratamento dos problemas sociais como problemas individuais e separados da dimensão sócio-econômico-cultural; e na divisão dos cargos-chave na administração municipal por apadrinhados ou mesmo parentes dos caciques do grupo.

Após o quadriênio de seu governo municipal Geraldo teve a pretensão da reeleição barrada pelo grupo dos caciques, talvez por considerarem que tinha poucas chances de vitória dado o fato de a pequena diferença de 1996 ainda estar entalada na garganta da população e o previsível crescimento do PT. De fato o PT chegou ao poder com uma acachapante vitória de Paulo Tadeu na sua segunda tentativa de se tornar mandatário local.

Mas por que cargas d’água tanto tempo depois Geraldo gostaria de retornar a Prefeitura de Poços?

O que tem motivado Geraldo Thadeu a se candidatar a Prefeitura da maior cidade do Sul de Minas e um dos maiores PIBs do estado ¬– por enquanto, porque esse PIB está em plena decadência graças a falta de preocupação social, planejamento estratégico e visão a longo prazo das ultimas administrações – não é uma alternativa política, é antes a única opção de sobrevivência.

Em 2002 com o apoio do grupo dos caciques GeraldoThadeu, já no PPS, elegeu-se deputado federal com 61.277 votos. Em 2006 e 2010 conseguiu a reeleição com respectivamente 94.984 e 87.826 votos. Portanto, na comparação entre as duas últimas eleições Geraldo Thadeu perdeu pouco mais de 7 mil votos.

Os motivos dessa queda podem ser vários. Um deles o modelo brasileiro de financiamento de campanhas. O modelo privado sem qualquer teto para arrecadação e fiscalização frouxa tem tornado cada vez mais caras as disputas eleitorais em todos os seus níveis, mas com reflexo dramático nos Legislativos onde o poder do capital tem predominado de forma quase absoluta.

Sintoma desse encarecimento das campanhas e do abuso do poder econômico está presente na decisão de três ex-deputados federais de distintas matizes ideológicas e partidos políticos em não buscarem a reeleição em 2010: Roberto Magalhães (PPS), Ibsen Pinheiro (PMDB) e José Eduardo Cardozo (PT). Em comum os três declararam não ter condições ou disposição de arcar com os elevados custos ou se subordinar aos “financiadores” de campanha.

Pode ser que o “encarecimento” das campanhas seja um dos motivos que levaram Geraldo Thadeu a decidir trocar a Câmara dos Deputados pelo prédio da Avenida Francisco Sales. Não obstante há outros fatores. Talvez ainda mais fortes que o encarecimento das campanhas.

Em 2010 Geraldo Thadeu foi reeleito numa das últimas posições da coligação a qual pertencia tendo, como vimos acima, uma diminuição de votos. Os motivos para essa queda são a presença e o fortalecimento no Sul de Minas de dois deputados federais petistas com bom trânsito no Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios, Odair Cunha e Reginaldo Lopes. Eleitos deputados pela primeira vez em 2002, assim como Geraldo Thadeu, ambos petistas têm aumentado de forma sistemática sua votação a cada pleito. Odair Cunha saltou de 34.846 votos em 2002 para 165.644 em 2010, enquanto Reginaldo Lopes no mesmo período partiu de 64.204 para 176.241.

Mas há outros nomes que podem complicar mais e tornar improvável uma nova reeleição de Geraldo Thadeu para deputado federal em 2014. O primeiro é o de Carlos Melles que também foi reeleito deputado federal em 2010 com muitas dificuldades na mesma coligação que Geraldo. No entanto agora Carlos Melles está à frente da poderosa Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas, portanto, possui a chave que libera valiosos recursos pelo estado afora e certamente virá com muita força para o pleito de 2014 disputando com Geraldo a parcela conservadora do eleitorado sul-mineiro.

Outro nome que pode estar tirando o sono de Geraldo Thadeu é o do ex-prefeito de Alfenas e atual deputado estadual Pompílio Canavez. Pompílio possui há tempos forte articulação política na região do Lago de Furnas, região esta onde Geraldo sempre resguardou como parte de sua base. Acontece que Pompílio já emite sinais claros de que pretende em 2014 deixar a Assembleia Legislativa e ir rumo a Câmara dos Deputados. Mais um para Geraldo dividir seus votos.

Se tudo isso não fosse o suficiente para Geraldo se agarrar à possibilidade de retorno a Prefeitura de Poços, ainda existe a vontade mencionada em meu último artigo de Carlos Mosconi também trocar BH por Brasília. Poderia restar a Geraldo justamente o caminho inverso, uma cadeira na Assembleia Legislativa. Todavia tanto Carlos Mosconi quanto Sebastião Navarro sonham em criar uma dinastia com os filhos sucedendo-os na carreira política tendo a Assembleia Legislativa como ponto de partida.

De tudo isso a conclusão é simples: o horizonte político de Geraldo se estreitou a tal ponto que só lhe resta a opção de juntar todo o cacife e a popularidade que possui a fim de disputar a Prefeitura de Poços, com ou sem o apoio dos demais caciques.

Para Geraldo a Prefeitura de Poços não é mais alternativa, mas sim a única opção.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Poços de Caldas: traições, vaidades e o poder pelo poder

A politica poços-caldense tem vivido dias bastante agitados neste interim entre o fim de 2011 e o início de 2012. O prefeito Paulinho Courominas resolveu trazer a tona uma série de desgostos sofrida por ele e as divergências entre ele e o grupo político ao qual pertence desde que saiu do Partido dos Trabalhadores pela porta dos fundos em 2004.

O prefeito num ato prepotente e antirrepublicano colocou na berlinda a maioria dos secretários municipais e integrantes do segundo e terceiro escalões da administração municipal ao exigir-lhes a desfiliação de DEM, PSDB e PV ou a entrega de seus respectivos cargos. A maioria optou pela segunda opção, ainda que depois tenham de forma ridícula pedido arrego através de nota amplamente veiculada pela imprensa local na qual suplicavam para o prefeito reconsiderar sua posição.

Courominas tem até aqui uma carreira política vitoriosa. Em 1996 foi eleito vereador, o primeiro pelo Partido dos Trabalhadores de Poços de Caldas. Em 2000 conseguiu se reeleger para o Legislativo municipal cravando o recorde de votos para vereador – marca que perdura até hoje. No mesmo ano teve importante participação na eleição de seu então companheiro de partido Paulo Tadeu para prefeito municipal. Em 2004, já no PPS, foi eleito vice-prefeito na chapa de Sebastião Navarro Vieira Filho. E em 2008 finalmente chegou ao cargo de prefeito municipal de Poços de Caldas.

Durante o governo Paulo Tadeu a convivência entre Courominas ¬– àquela altura uma importante liderança na Câmara Municipal e detentor de enorme carisma popular ¬– e o prefeito ¬– um político de perfil egocêntrico e centralizador – não foi das mais tranquilas, culminando com a decisão do PT local de lançar a também vereadora e petista histórica Ana Guerra como candidata à deputada federal, preterindo o nome de Courominas. Pouco depois ficou patente para Courominas que a guerra de egos entre ele e Paulo Tadeu era grande demais para o PT poços-caldense. A ruptura se deu de maneira nada amistosa com Courominas deixando o PT e migrando rumo ao PPS, nesse período ainda base do governo Lula e já contando com o ex-prefeito Geraldo Thadeu (eleito deputado federal pelo PSDB em 2002).

Na arena local Courominas se aproximou do grupo político liderado por: Sebastião Navarro Viera Filho (PFL) ex-prefeito e então deputado estadual; Carlos Mosconi (PSDB), então assessor especial do governador Aécio Neves; e Geraldo Thadeu.

Interessante que enquanto oposição a este grupo Courominas participou do enterro simbólico de Sebastião Navarro carregando o caixão do imaginado defunto político e anos depois o mesmo Courominas exerceria papel fundamental na recondução de Navarro ao prédio da Avenida Francisco Salles, impedindo assim a reeleição de Paulo Tadeu.

Por essas histórias dá pra notar como coerência e fidelidade a qualquer ideal não fazem parte do vocabulário de Courominas.

Mas qual o motivo da atual ruptura? O mesmo motivo da ruptura com o PT em 2004. Ou seja, busca por espaço, o que significa projeto pessoal batendo de frente com outros projetos pessoais.

Eleito prefeito em 2008 ao impor uma derrota fragorosa a seu antigo desafeto Paulo Tadeu, Courominas vem fazendo uma administração desastrosa e vergonhosa. Em termos gerais segue a mesma linha de seu antecessor, Navarro, a quem há pouco tempo reverenciava como mestre (muito embora num passado não tão longínquo o tenha chamado de coronel), inclusive mantendo boa parte do staff herdado.

No entanto mesmo repartindo os cargos de poder na administração municipal com os caciques do tríade Navarro – Mosconi – Geraldo, Courominas sempre se viu numa posição subalterna a estes caciques, uma espécie de “patinho feio”. Isto ficou evidente quando em 2010 esses caciques empenhados em seus projetos pessoais – Mosconi candidato a deputado estadual e Geraldo a deputado federal, enquanto Navarro, àquela época Secretário de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana coordenava a campanha de Anastasia ao governo estadual – se distanciaram de Courominas e o deixaram a margem do pleito eleitoral. Tais fatos se deveram em parte a baixíssima popularidade de Courominas – vale lembrar que no mesmo ano estourou a polêmica em torno do SIGA – mas também por conta de divergências internas e sobretudo a forma como o prefeito sempre tratou essas divergências. Também contribuiu para o esfriamento das relações entre Courominas e os caciques a aproximação do prefeito com o empresário Ricardo Pereira de Melo e com o ex-prefeito Luiz Antônio Baptista, figuras que Navarro considera personae non gratae.

Ao que tudo indica Courominas buscou desde sua eleição em 2008 a garantia de que seria candidato natural a reeleição com apoio irrestrito do grupo político dos caciques. Contudo o receio de se ver abandonado por este grupo o levou a se aproximar de figuras estranhas, o que acabou alimentado divergências internas.

Por outro lado, aproveitando-se da baixa popularidade de Courominas e dessas divergências internas o deputado federal Geraldo Thadeu tomou para si a responsabilidade de estruturar o PSD de Kassab no Sul de Minas e iniciou articulações a fim de se colocar como candidato a prefeito de Poços de Caldas. Essa movimentação de Geraldo, embora Courominas jamais reconheça isso, e a clara predileção de Navarro e Mosconi por Geraldo foi a gota d’água para o rompimento de Courominas com seu novo-antigo grupo.

Para entendermos melhor as razões da predileção por Geraldo Thadeu é preciso clarear um pouco as coisas.

Com Geraldo Thadeu a frente do Executivo Municipal Mosconi fica com o caminho livre para tentar o retorno a Câmara dos Deputados e abrir sua (pseudo) vaga na Assembleia Legislativa para o filho Alcides (isso escutei de um afilhado do grupo dos caciques e que atualmente trabalha em BH com Anastasia). Por outro lado Navarro sonha em ver sua filha Tereza sucedendo-o nos passos políticos assim como ele sucedeu ao pai (o próprio Navarro já declarou isso diversas vezes, inclusive numa entrevista coletiva concedia na última sexta-feira). Courominas afirma que Navarro gostaria que Tereza fosse candidata à prefeita já em 2012, o que não acredito. Penso que Navarro está disposto a lançá-la candidata a deputada estadual daqui a dois anos.

Ademais Geraldo Thadeu como prefeito de Poços abre caminho para as pretensões dos principais caciques políticos do Sul de Minas e por ora acomoda as divergências internas, enquanto a manutenção de Courominas poderia ser um complicador e trazer ainda mais desgaste a um grupo já desgastado por anos agarrado ao poder.

Quanto à pré-candidatura de Navarro a prefeito, trata-se no momento de um blefe. Navarro já havia anunciado sua suposta aposentadoria, porém todos sabem que um político experiente, matreiro e, sobretudo, vencedor como ele não abandonaria tão docilmente a vida pública. Navarro nunca ficaria de fora das articulações do grupo de caciques para as eleições municipais, afinal é justamente ele o principal cacique desse grupo. Apesar disso Navarro sabe que sua hora enquanto homem de frente da administração municipal já passou e um embate entre cria e criador pode, junto ao natural desgaste de ambos, despertar uma outra alternativa, até então adormecida.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012: ano da rebelião

Por Tiago Barbosa Mafra

Certa vez, Mário Quintana escreveu: “Democracia é dar a todos o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um”. No ano de 1959, 53 anos atrás, começava a surgir para a América Latina a possibilidade de mudar a situação de exploração e desigualdade a que estava entregue (e em muitas áreas ainda está) o continente. Cuba e sua revolução vitoriosa mostravam ao mundo naquele 1º de janeiro que o poder do povo por nada pode ser barrado. Um país dominado por gangsters, interesses internacionais e uma elite entreguista e violenta, sustentava-se na miséria do povo e na opressão. Tudo isso começava a acabar naquele dia.

53 anos de socialismo não deram aos cubanos os melhores computadores, equipamentos ou quinquilharias tecnológicas propulsoras do consumismo da sociedade individualista atual. Mas deram muito mais. Deram trabalho, dignidade e o entendimento de que na coletividade se constrói o presente de todos. O socialismo cubano deu a seu povo o que falta a bilhões de pessoas no mundo, a milhões de brasileiros e a milhares de poços caldenses. Esses últimos, em especial, dominados pela política local clientelista, conservadora, arcaica. O socialismo deu ao povo cubano o mesmo ponto de partida, aquele citado por Quintana.

Ponto de partida para pensar, trabalhar, viver, escolher, refletir, criticar, se fazer como ser e compreender as contradições de seu tempo. Isso tudo nos falta pelas razões as quais todos conhecem, mas ignoram, se resignam.

Após mais de meio século de revolução, Cuba persiste como a utopia que não se entrega. Não é um modelo a ser seguido. É, no entanto, fonte de inspiração para a construção autêntica de cada povo, em cada lugar do mundo ainda dominado pela exploração e pela desigualdade, pelos pontos de partida destoantes. É a mostra de que outro mundo pode vir a ser real.

Assim, em comemoração ao feito mais importante dos cubanos no século XX, que comecemos 2012 na busca do mesmo ponto de partida para todos. Que a Revolução Cubana seja nosso exemplo.

Como escreveu o líder máximo da Revolução, Fidel Alejandro Castro Ruz, durante sua defesa quando preso pela ditadura pré revolução, “Quando há muitos homens desonestos, há sempre outros que são portadores da dignidade da maioria. São esses os que se rebelam com força terrível contra os que roubam a liberdade ao povo, que é o mesmo que roubar dos homens sua dignidade”.

Que 2012 seja o ano de nossa rebelião.
Viva a Revolução Cubana!
01/01/2012 – Ano 53 do Triunfo da Revolução

Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.

domingo, 1 de janeiro de 2012

Conjuntura Política em Poços de Caldas: rupturas, mudanças e apatia esquerdista

Pelo Prof. João Alexandre Moura Oliveira

A pouco mais de dois meses escrevemos neste espaço um artigo sobre a conjuntura política de Poços de Caldas, confesso que não esperava tamanha repercussão nas ruas, bancos escolares e principalmente em meu e-mail. Curiosamente após a publicação do devido artigo coincidentemente a maratona eleitoral sulfurosa teve início. Reuniões partidárias, pré-candidatos dando as caras, polêmicas em programas de TV, nas redes sociais, declarações em blogs e algo que poderia esquentar em meados de maio e junho de 2012 foi totalmente antecipado, o processo eleitoral 2012 está “bombando” no planalto de solo vulcânico, a promessa é de muitas erupções políticas até outubro de 2012.

A ruptura do prefeito Paulinho Couro Minas (PPS) com sua base de sustentação (DEM,PSDB e PV) provocou uma nova configuração para as eleições 2012. Cabendo lembrar que havíamos falado no artigo anterior da possibilidade de uma terceira via e outras forças políticas em Poços de Caldas com uma candidatura ao executivo do PSDB de Mosconi, DEM de Navarro ou do PSD de Geraldo Thadeu.

Interessante salientar neste quadro de mudanças a possibilidade do PMDB agregar junto à atual administração, partido este que até o momento era oposição. Porém quem conhece o PMDB nacional e estadual realmente poderá deduzir que a linha política do PMDB local não seria diferente, tudo pela tal “governabilidade fisiologista”. Saudades do Ulysses Guimarães.

E a esquerda em Poços? Realmente os partidos de esquerda estão apáticos ao processo eleitoral. O PT terá candidato ao executivo? Rumores sulfurosos relatam a possibilidade de uma chapa PSD de Geraldo Thadeu e PT ? Será? Neste caso como ficaria a situação PSDB e DEM? Teríamos três fortes candidaturas? Uma com Paulinho, outra com Geraldo e outra a se definir junto ao grupo Mosconi (PSDB) e Navarro (DEM)? Voltando a pergunta, e o PT? Será protagonista ou coadjuvante em 2012? E a articulação de esquerda em Poços? Existe ? Onde estaria o PSOL, PSB, PCB, PC do B ? E os movimentos sociais? Continuarão fragmentados? Ou a questão é estratégica?

Realmente acreditamos em um processo eleitoral saudável e democrático em Poços, portanto a apresentação de forças e articulações políticas é de extrema importância para promover o debate sobre os problemas da cidade e estimular a participação do eleitor (cidadão).

2012 promete ser a maior eleição da história de Poços de Caldas, número de vereadores a se decidir e indubitavelmente uma interessantíssima disputa rumo ao executivo municipal. Em breve cenas do próximo capítulo vulcânico-sulfuroso.

João Alexandre Moura Oliveira; Professor, apartidário e analista político nas horas vagas.
e-mail: joaoalexandremoura@yahoo.com.br