domingo, 29 de julho de 2012

Música de Domingo – We Will Rock You (Queen)

Olimpíadas mostram um mundo esportivo próspero e alheio à crise financeira mundial



Com a tradicional festa de abertura repleta de representações teatrais sobre a história e cultura locais, adornadas por um vasto desfile de manifestações estéticas e artísticas, teve início em Londres nesta sexta-feira, 27, a 30ª edição dos Jogos Olímpicos, a última antes de serem realizados pela primeira vez na América do Sul, mais precisamente no Rio de Janeiro, daqui a quatro anos.

Com cerca de 10.000 atletas de 203 países, a disputarem 26 modalidades esportivas, os jogos tiveram orçamento de aproximadamente 30 bilhões de reais, financiados evidentemente pelos cofres públicos ingleses em sua maioria. Já o Comitê Olímpico Internacional, deverá arrecadar a bolada de 23 a 25 bilhões de reais na soma de direitos de televisão, vendas de produtos licenciados e patrocínios.


Por conta disso, o evento terá uma das marcas dos tempos modernos, a despeito de velhos “lemas olímpicos”, que apesar de iniciados na Grécia Antiga não escapam do culto ao “deus” contemporâneo, o mercado. Medidas de exceção foram tomadas para preservar os interesses comerciais dos patrocinadores oficiais, notadamente os da área alimentar, como o McDonalds, que só após muita pressão “liberou” o fish and chips que tanto marca o cardápio dos britânicos.


Com isso, verifica-se claramente a velha equação de custos públicos com lucros privados. O governo e, consequentemente, a sociedade locais bancam a maior parte dos custos e a arrecadação vai majoritariamente para o bolso do COI e seus respectivos aliados, mantendo tal renda nas esferas de controle da cartolagem internacional, a exemplo das práticas da FIFA no futebol e suas confederações de aliados.


Diante da magnitude do evento, há expectativas de audiências globais extraordinárias. Estima-se que só a cerimônia de abertura pode ter sido assistida por 4 bilhões de seres humanos! Decisões das principais modalidades, com alguns dos ídolos mundiais, devem superar a casa do bilhão de telespectadores. Clichês à parte, um momento único de congraçamento dos povos e envolvimento coletivo em torno de uma causa universal, o que tanto urge em tempos de crises do capital e de regimes políticos, rodeadas por cada vez mais alarmes ambientais.


Exatamente por isso, reforçou-se outra marca da atualidade: um aparato de guerra para prover a segurança desejada aos jogos, parte ponderável do orçamento total. Apesar disso, a G4S, empresa encarregada de treinar e dispor 10 mil profissionais da área para trabalhar nos cuidados e monitoramento dos eventos e pessoas, fracassou em sua tarefa, causando uma considerável consternação int

O fiasco veio à tona quando a apenas duas semanas da abertura o governo inglês não teve mais como esconder sua falta de confiança na empresa e convocou em caráter de urgência 3.500 integrantes de suas forças armadas para trabalharem nas ruas de Londres. O fato causou indignação no parlamento e na população, uma vez que vários recrutas tinham outras missões a cumprir, ou delas voltavam, dentre elas o nada “olímpico” Afeganistão. Fora o fato de terem se passado sete anos desde a escolha da cidade como sede.


Com isso, passou a se notar certo clima de tensão, até relatado pela mídia, entre os novos “voluntários” dos jogos e os torcedores, vindos de todos os cantos do mundo, de todos os estilos e espécies turísticas. Aliado a estratégias neuróticas de revista e monitoramento dos presentes nas competições e à enorme lista de proibições de objetos e alimentos tolerados nas arenas (inclusive qualquer imagem de Che Guevara), tornam-se um tanto ostensivas as facetas comerciais e militares, dentro de algo que deveria ser presenciado em clima de despreocupação e festa, ao menos se comparamos com outras questões mais complexas da vida humana. Mas a bomba que matou duas pessoas e feriu outras 100 nos jogos de 1996, em Atlanta (EUA), não saem da memória, sem esquecer, mais atrás, do trágico assassinato de 11 atletas israelenses em Munique, 1972, por membros do Setembro Negro.


De toda forma, antecipa as mesmas operações de segurança que veremos por aqui, com a diferença que nossas forças de segurança são acostumadas a atuar na mais absurda ilegalidade e truculência contra seu “inimigo interno” de cada dia. Precisaremos estar atentos a possíveis violências contra os habitantes mais pobres do Rio de Janeiro, que certamente serão tratados como seus congêneres baianos em trios elétricos de carnaval, vendo do lado de fora uma festa para poucos e visitantes.


Para preservar os interesses dos patrocinadores oficiais, uma série de leis de exceção já são editadas desde já (assim como o foram em Londres), tornando crime diversas formas prosaicas de comércio, a partir de mínimas associações de seus produtos com as Olimpíadas, seus símbolos e imagens icônicas. Toda concorrência “extra-oficial”, entre aspas para evitar um tratamento “marginal” aos milhares de comércios e trabalhadores que não podem assinar contratos com o COI, será combatida e afastada dos locais de competições.


Tratando da parte aprazível, não faltará diversão aos telespectadores, pois não há época igual para acompanhar e se entusiasmar com modalidades sempre ignoradas do noticiário, heróis de ocasião cujas histórias impregnam nas mentes humanas e as esperadas consagrações de atletas que ficarão imortalizados em suas especialidades.


Com competições que começam e geralmente se definem em um ou dois dias, não haverá instante em que alguma medalha não esteja sendo colocada no peito de algum(a) atleta. A maioria das competições tem disputas ou performances de curta duração, de modo que se pode acompanhar de forma mais palpitante os esportes com os quais temos menos intimidade – e avançar um pouco em sua compreensão e divulgação, se o Brasil realmente se pretende uma potência olímpica. São poucos esportes, como o futebol, o basquete ou a vela, em que uma disputa dura tanto tempo, nesses casos, duas ou mais horas.


Além do mais, não faltará cobertura midiática. Pela primeira, e provavelmente única, vez na história a Rede Globo não transmitirá o maior evento do esporte mundial, ao lado da Copa do Mundo. Por 60 milhões de dólares, a Record ganhou a corrida e ficou com os direitos exclusivos de transmissão, o que na prática só valerá para a televisão aberta.


A Sportv, emissora fechada da própria Globo, desembolsou 22 milhões de reais e disporá de quatro canais diários cobrindo os eventos 24 horas por dia. ESPN (três canais), Band (dois canais, Sports e News), Esporte Interativo e o próprio braço da TV de Edir Macedo, a Record News, formam a lista dos canais que cobrirão as Olimpíadas na televisão por assinatura. Uma overdose, a ser reforçada pela mesma Globo em 2016, que redobrou esforços para não ficar de fora da festa dentro de seu próprio quintal.


Ao todo, o COI arrecadou 4 bilhões de dólares em direitos de televisão, número com alta probabilidade de ser superado pela edição carioca, que já garantiu 3,7 bilhões, com quatros anos ainda pela frente, tempo de sobra para novos contratos. Os ingleses fecharam 11 patrocinadores; para 2016, já existem 10 garantidos, o que também ressalta o momento econômico das grandes, e cada vez mais transnacionais, empresas brasileiras.


Rompendo definitivamente com certas ilusões, a terceira Olimpíada londrina (as outras foram em 1908 e 1948) não dará contribuição alguma, a não ser moral, “espiritual”, à complicada conjuntura econômica britânica. Servirá como um bom anestésico a ser aplicado por 17 dias consecutivos no combate às agruras do mundo capitalista em crise. Aliás, crise financeira é algo que não existe no principal escalão do mundo esportivo.

terça-feira, 24 de julho de 2012

Cinema: On The Road





As referências beat nortearam minha formação literária de maneira mais intensa e duradoura do que as da contracultura hippie, sua herdeira imediata, que encantava boa parte da juventude da época. Éramos demasiados boêmios, iconoclastas, agressivos e pessimistas para as utopias do pacifismo cabeludo, e por isso, instintivamente, preferíamos nortear nossos devaneios experimentalistas e libertários pelas figuras quase místicas de Jack Kerouac, Allen Ginsberg e William Burroughs. E Bob Dylan, sempre.

O legado do universo beat é inestimável. Os repertórios musicais, visuais, literários e até mesmo filosóficos da chamada pós-modernidade possuem ramificações que levam diretamente àquele espírito. Se não podemos simplificá-lo em fórmulas estéticas homogeneizantes, porém, é um erro grotesco negar sua influência a partir do repúdio ao individualismo (como faz a esquerda mais bitolada) ou desses purismos formais que a crítica conservadora usa para se proteger das incertezas cotidianas.

Não era pequena, portanto, a responsabilidade que Walter Salles assumiu ao transpor a notória saga de Kerouac. E o diretor soube resolver dignamente quase todos os desafios inevitáveis do projeto. Muniu-se de um elenco inspirado, apesar da juventude e da complexidade dos papéis, com destaque para Garrett Hedlund (Dean Moriarty/Neal Cassady), Tom Sturridge (Carlo Marx/Ginsberg), Viggo Mortensen (Old Bull Lee/Burroughs) e Elisabeth Moss (Galatea Dunkel/Helen Hinkle). A fotografia de Eric Gautier explora bem as paisagens inóspitas e se movimenta com desenvoltura nos interiores dos veículos, tão difíceis de filmar. A direção de arte é excelente e a trilha sonora de Gustavo Santaolalla harmoniza-se com o privilegiado fundo musical da época.

Há problemas na adaptação. O roteirista Jose Rivera optou por uma estrutura demasiado convencional, mais preocupada em esmiuçar a cronologia dos relatos (mantendo fidelidade à biografia dos envolvidos) do que em reproduzir o turbilhão episódico da narrativa original. Esse tratamento intermediário prejudica a identificação do espectador com os personagens e arrasta o desenvolvimento da trama, impondo-lhe uma falsa divisão de atos e anunciando conflitos e rupturas que não se realizam. Trata-se de uma expectativa desnecessária, pois Salles costuma utilizar um tempo narrativo muito característico, dado à contemplação e às pausas reflexivas, realçadas aqui (e em diversos momentos de sua obra) na clara homenagem a Wim Wenders, outro apaixonado pelos relatos de viagem.

É um trabalho bonito, provocativo, relevante sob diversos aspectos. Maior audácia formal e menos reverência histórica o transformariam no filmaço que o tema exigia. Mas talvez fosse muita transgressão para os padrões e costumes hollywoodianos.

domingo, 22 de julho de 2012

Música de Domingo – O que sobrou do Céu (O Rappa)

 Excelente música de O Rappa, com letra do agoa candidato a vice-prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Yuka.


Se todo o político tivesse uma alma de artista o Brasil seria outro???

sexta-feira, 20 de julho de 2012

As vergonhosas campanhas eleitorais, de novo!



Editorial da edição 490 do Brasil de Fato


Na semana passada venceram os prazos de convenções partidárias e registro dos candidatos e coligações na Justiça Eleitoral. Agora, vai começar o vale-tudo da caça aos votos, a qualquer preço. Depois, em agosto começam os 45 dias do campeonato entre os marqueteiros de plantão, sobre quem consegue melhor perfumar seu candidato aos olhos do povão, nos programas de televisão.


No registro das candidaturas das principais cidades do país, nenhuma novidade. Há todo tipo de coligações, as mais estapafúrdias e inesperadas, entre os mais diferentes partidos. Talvez a única novidade positiva foi o rompimento do PT com a candidatura de Lacerda em Belo Horizonte (MG). Lacerda representa os setores petistas comandados pelo ministro Pimentel, que vinham unindo setores do PT com os tucanos (PSDB) de Aécio Neves, há muito tempo. E haviam transformado as eleições de Belo Horizonte em chapa única, onde cabiam todos, menos o povo! Talvez assustados pelas pretensões de Aécio em 2014, fez com que os dirigentes do PT mineiro avaliassem, e assim pelo menos haverá alguma disputa por lá, que vai colocar em chapas diferentes ministros, e inclusive petistas, pois o ministro Pimentel manteve seu apoio ao candidato tucano. Nesses casos nunca se apela à coerência e comissões de ética.


Há, no entanto, um fato muito preocupante que está assolando todas as eleições, principalmente nas capitais e grandes cidades. O registro de gastos previstos para a campanha feito pelos candidatos nos tribunais eleitorais. Em São Paulo, José Serra prometeu gastar “apenas” até R$ 98 milhões. Fernando Haddad, nada menos que R$ 80 milhões. E cada vereador - de todos os partidos – sinalizaram que podem gastar até R$ 3 milhões! Ora, os recursos dessas candidaturas virão certamente de empresas. Muitas delas concessionárias de serviços públicos, na cidade ou em nível nacional. E o mais grave: todos dizem que é dentro da lei.


A população está indignada. Como podem gastar R$ 90 milhões numa campanha de três meses? Quem está financiando depois vai cobrar a fatura, que certamente será paga com recursos do povo.


O custo das campanhas eleitorais no Brasil tornou-se, segundo especialistas, o terceiro mais caro do mundo. Só perdemos para Estados Unidos e França. Uma vergonha! Esses milhões de reais serão usados justamente para usar técnicas de propaganda que iludem e enganam o cidadão. Não se trata de disputa de ideias, programas ou projetos para as cidades. A propaganda é cara, porque é necessário iludir, enganar, distorcer a realidade.


O fato é que só há um remédio para curar essa situação que ofende a sociedade e distorce a democracia. Uma reforma política profunda, que garanta o princípio da constituição: todo poder pertence ao povo. E o povo precisar ter garantias de normas e métodos que lhe garanta o exercício pleno de sua vontade política, através de quem eleger. E dentro dessa reforma política incluir: financiamento público de campanha; pena de prisão e perda de patrimônio a quem usar recursos privados; direito do povo convocar plebiscitos e referendos (hoje restrito aos deputados federais); direito do povo convocar plebiscitos de cassação de mandatos daqueles que não honrarem com as promessas; registro em cartório sob as penas da lei, dos programas e metas a que os candidatos se comprometem perante os eleitores; fortalecimento dos partidos, e com candidaturas em listas partidárias e perda de mandato com as mudanças de siglas; fim da reeleição em qualquer nível.



Os chamados políticos “profissionais”, são assim chamados porque vivem da vida pública e dos recursos públicos, transformaram a arte de enganar o povo numa profissão. Não têm categoria de trabalho nem vínculo real com outra profissão. Eles continuam impedindo a aprovação da reforma política, dos vários projetos que estão nas gavetas do Congresso. Continuam sorrindo com as enganações do povo.


Mas isso não poderá ser eterno. A atual e crescente separação entre a vida da sociedade, seus interesses e os interesses desses políticos está se agravando aos olhos de um número cada vez maior de cidadãos. Está se aprofundando uma contradição que algum dia vai se transformar em alguma rebelião popular. Basta de Demóstenes e enroladores. É necessária uma verdadeira reforma política, já!

domingo, 15 de julho de 2012

Música de Domingo – 50 anos de Rolling Stones

50 anos e toda uma carreira cheia de histórias, fatos marcantes, alegrias, decepções e tragédias. Além, é claro, de muito sucesso e quebra de paradigmas. E, afinal, quem representa melhor o espírito do Rock´N´Roll do que os próprios Stones???

Ficar aqui delongando sobre eles será apenas chover no molhado, pois tudo o que já foi escrito sobre eles tem um pouco de verdade e muito de exagero. Compreensível, porque talvez nenhuma outra banda tenha sido tão falada e certamente nenhuma outra teve longevidade tão grande.

Parabéns a Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts, Ron Wood, Brian Jones, Mick Taylor, Bill Wyman e também a Ian Stewart que na prática foi o sexto Stone durante as décadas de 1960 e 1970.

Parabéns também ao mundo da música popular por ter nos dado uma banda com tanta criatividade e energia capaz de compor letras e arranjos surpreendentes, por marcar gerações e gerações com hinos que refletem o sentimento dessas gerações.

Pra finalizar escolhi a música que talvez melhor represente os Rolling Stones, mesmo sendo uma composição de Jerry Ragovoy, anteriormente gravada por Kai Winding e Thomas Irma, essa canção ficou marcada pela extraordinária interpretação dos Stones e tornou-se hino e símbolo do quinteto britânico.

Porque, afinal de contas, dá pra negar que o Tempo está ao lado dos Stones???

PS. Dica de livro: Sexo, Drogas e Rolling Stones de Jose Emilio Rondeau e Nelio Rodrigues, editora Agir (esse já tá na minha estante há um tempinho!!!).



quinta-feira, 12 de julho de 2012

Beagá merece Patrus mais uma vez: o que é bom vale repetir

por Fátima Oliveira

Médica – fatimaoliveira@ig.com.br

Patrus é um prefeito inesquecível no imaginário popular belo-horizontino. É raro o dia em que alguém não fale “No tempo do Patrus”… “Se fosse Patrus o prefeito”… Conversas num pronto-socorro entupido de gente em macas dias e dias a espera de um leito que teima em não aparecer…

O que povo fala sobre Patrus prefeito, do que significou e fez diferença em suas vidas, evidencia que ele “carrega o selo de mito fundador, com poder de convencimento político que ainda arrebata corações e mentes” e também revela um capital político inconteste daquele que foi considerado o melhor gestor do SUS no Brasil, pois reformatou a atenção à saúde em Beagá de tal modo que a incompetência e o descompromisso de alguns que vieram depois não conseguiram destruir os alicerces da atenção à saúde estabelecida na gestão Patrus: o lastro do acesso universal como direito.

Eu disse em “Memória, compromisso e via-crúcis: do ‘Resgate’ ao Samu” que Patrus é pai do Resgate e avô do Samu. “Lembra do ‘Resgate’? Vou contar. É de onde foi parido o Samu 192 (marca Governo Lula, 2003). Lembra de Belo Horizonte sem ‘Resgate’? Nem vale a pena.

Em 1995, o prefeito Patrus Ananias, do alto de sua incomensurável sensatez humanista, entendeu que uma cidade do porte da nossa não poderia prescindir de um serviço público móvel para as urgências médicas e depender apenas do trabalho abnegado do Corpo de Bombeiros. Era convicto que a ressurreição da atenção digna à saúde exigia desatar aquele nó. Foi uma sacada de mestre! E colocou gente para correr atrás, ver experiências mundiais. Não ficou contando tostão por tostão. Decidiu ter uma política assim, custasse o que custasse”. Assim nasceu o Resgate: “ideia pioneira no Brasil, modelo para o Samu 192 em âmbito nacional”. (TEMPO, 02.03.2010).

Escrevi em “Equidade para as duas Beagás: mais para quem precisa de mais” que “Sabemos que ser belo-horizontino é um estado mental” e filosofava: “Nada mais instigante do que as eleições municipais para desencadear em mim o pensar e pensar. Porém, o caráter sui generis de alguns fatos da política mineira desafiam meus neurônios. Que bicho surgirá do cruzamento do ‘jeito petista de governar’ com o ‘choque de gestão’? Como duas vias tão díspares de administrar bens públicos poderão ampliar a cidadania? Quando da escolha de um prefeito ou uma prefeita, o que faz sentido é indagar o que queremos da futura administração da cidade”.  (O TEMPO, em 16.09 2008).

Mas “Aécio e Pimentel queriam apoiar um candidato que aprofundasse a relação entre a prefeitura e o governo estadual. ‘O objetivo era dar um caráter mais técnico e profissional’”, disse em recente entrevista o atual prefeito (O TEMPO, 07.07.2012).  Entenderam agora por que votei nulo? Ai, meus sais! E desde quando ser prefeito é isso?

Escrevi em 2008, mas vale para 2012: “Digo, com esperanças renovadas, que a gestão Patrus demonstrou em palavras e atos que priorizava a busca de soluções para os problemas mais prementes da cidade, em áreas nas quais as políticas sociais fazem a diferença, notadamente na educação, saúde, saneamento básico, habitação e alimentação dignas e saudáveis. Sobretudo, comprometida com as duas Beagás, considerando que o caminho da cidadania implicava em diminuir o fosso que separa uma da outra, adotando a equidade: mais para quem precisa mais”.

A manchete “Patrus Ananias dá novo rumo à eleição em BH” primou pela precisão, pois o que Beagá precisa é de mais uma dose de Patrus. Vale repetir!


domingo, 8 de julho de 2012

Música de Domingo – The Thrill Is Gone (B.B. King)

Poços de Caldas - "Alea jacta est"


"Alea jacta est". Expressão em latim que significa “a sorte está lançada” define bem o sentimento dos seis candidatos a prefeito de Poços de Caldas nesse 2012.

Na história recente de Poços não houve outra eleição municipal com as principais forças políticas tão divididas. O grupo dos caciques formado em 1996 com o objetivo de evitar a chegada do PT ao poder se vê rachado e o responsável por esse racha é o trunfo que este mesmo grupo teve em 2004 para retomar o poder perdido para o PT quatro anos antes. 


O arco de alianças que elegeu Sebastião Navarro em 2004 e Paulinho Courominas  em 2008 se dividiu em dois grupos: de um lado os partidários de Courominas (PPS) – o antigo trunfo – e que formaram um novo e eclético arco de alianças trazendo antigos adversários como o PMDB  e o PCdoB. Do outro os partidários do deputado federal Geraldo Thadeu (PSD) que contam com o apoio dos outros dois principais caciques da política local, o deputado estadual Carlos Mosconi (PSDB) e o ex-prefeito Sebastião Navarro (DEM).

Aqui vale resaltar que o grupo dos caciques – Geraldo, Navarro e Mosconi –  embora pareça unido e coeso passou por vários sobressaltos, inclusive com o deputado Geraldo Thadeu tentando de várias formas se aproximar do PT – mesmo com este afirmando e reafirmando que teria candidatura própria –  e criando uma indefinição sobre quem de fato o apoiaria até quinta-feira passada, prazo final para a inscrição das candidaturas na Justiça Eleitoral.

O interessante no caso desses dois grupos, o dos caciques e o de Courominas, agora opositores e adversários no pleito de outubro próximo, é que até dezembro passado todos caminhavam juntos e o rompimento público só veio após Courominas exigir o apoio integral dos caciques ao seu projeto de reeleição ou a entrega de todos os cargos que apadrinhados desses mesmos caciques ocupavam na máquina pública municipal. Um rompimento com ares de fisiologismo generalizado por ambas as partes.

Outras quatro candidaturas disputam a preferência do eleitorado e o direito de governar Poços pelos próximos quatro anos. O vereador no sexto mandato Marcus Togni (PSB) ­– remanescente do baixo clero do grupo dos caciques – que já havia há tempos declarado a disposição de trocar o Legislativo pelo Executivo e para essa empreitada chegou a trocar de partido – fora eleito pelo PPS – correndo o risco de perder o mandato por conta da fidelidade partidária, enfim se colocou como prefeitável.

A quarta candidatura é a de Rovilson de Lima (PMN). Antigo vereador que agora tenta retornar ao cenário político local numa candidatura que ao que dizem, terá a incumbência de fazer forte campanha contra Geraldo Thadeu.

A quinta candidatura é a de Waldir Inácio (PSOL) que em 2008 surpreendeu ao obter cerca de 5% dos votos válidos com uma campanha simples e modesta.

A sexta e a última a ser divulgada dentro do prazo estipulado pela Justiça Eleitoral é a de Eloisio Lourenço (PT). Odontólogo por profissão e ex-presidente do Conselho Municipal de Saúde, Eloisio terá a tarefa de marcar sua campanha pelo projeto de renovação na política local e ao mesmo tempo enaltecer os avanços sociais pelos quais o Brasil passou na última década após a ascensão do Partido dos Trabalhadores ao governo federal, demonstrando que Poços lamentavelmente não tem seguido no mesmo caminho.

A campanha de Eloisio deverá também mostrar que é possível fazer uma política diferente da que existe em Poços. Uma política voltada para o cidadão, para as classes mais humildes, para o desenvolvimento realmente sustentável – aquele que leva em conta os vetores ambientais, econômicos e sociais. Essa candidatura representa, acima de tudo, uma renovação necessária para a política local, já cansada do mais do mesmo e de um tipo arcaico e ultrapassado de se fazer política e lidar com a coisa pública. 

domingo, 1 de julho de 2012

Música de Domingo – Nós (Cássia Eller)


América Latina, 50 anos depois

Fisgado do Blog do Emir


Em 1962, os EUA impuseram à OEA a expulsão de Cuba desse organismo. A moção conseguiu 14 votos a favor, o voto contrario de Cuba e 6 abstençoes (Argentina, Bolivia, Brasil, Chile, Equador e Mexico). Mais tarde, já com o golpe militar de 1964 no Brasil, os EUA impuseram a ruptura de relações com Cuba, medida que foi seguida de forma subserviente por todos os governos do continente, menos o México.

Tudo isso se dava paralelamente à tentativa fracassada de invasão de Cuba por tropas mercenárias coordenadas pelos EUA, com o apoio direto da Nicarágua de Somoza e da Republica Dominicana de Trujillo, em 1961, e do cerco militar a Cuba, em 1962.

Para termos uma ideia de como mudou o continente desde então, praticamente todos os países retomaram relações com Cuba, a OEA decidiu convidar Cuba de volta ao organismo, mas o governo cubano se recusou ao que Fidel chamou de Ministério das Colônias dos EUA. E, ao mesmo tempo, o continente dispõe de organismos sem a participação dos EUA, como o Mercosul, a Unasul, o Banco do Sul, o Conselho Sulamericano de Defesa, a Comunidade de Estados Latinoamericanos. Já não existirão reuniões da Comunidade Ibero Americana sem a participação de Cuba.
A OEA sobrevive, mas com representação e legitimidade cada vez menores.

Em situações de crise como a do Paraguai, o Mercosul e a Unasul decidiram suspender a participação do governo golpista, em decorrência da cláusula democrática, acordada pelos governos que compõem esses organismos. Em outras, como o conflito da Colombia com o Equador e a Venezuela, o Conselho Sulamericano de Defesa encontrou a solução politica. 

Os tempos passaram e mudaram, os EUA têm cada vez menos voz e aliados no continente. Como cantava Cuba:

“Con OEA o sin OEA, y aganamos la pelea".