Não recomendei a ninguém e menos ainda votei em Cristovam Buarque nas últimas eleições presidenciais, no entanto não podia deixar de enxergar em seu discurso sobre a educação virtudes, e esperançava que essa retórica sensibilizasse parte da classe média, hoje preocupada exclusivamente com segurança e economia não entendendo ser a educação o caminho por onde se inicia a construção de uma sociedade verdadeiramente democrática ou minimamente aceitável. Acreditava ser Cristovam Buarque um homem público coerente, embora não comungasse da maioria de suas idéias, principalmente no campo econômico.
Todavia Cristovam Buarque apareceu no programa eleitoral da coligação “Poços no Caminho Certo” para declarar apoio e pedir votos para o atual vice-prefeito e candidato da coligação a prefeitura de Poços de Caldas. Tudo estaria conforme o script, afinal de contas a bisonha coligação tem entre outros partidos o PDT do senador brasiliense, os Demos, os verdes, os tucanos, além de na cabeça-de-chapa o ridículo PPS dos liqüidacionistas – dá para notar a impossibilidade de traçar um perfil ideológico para tal coligação. O que não está no script é o fato de Buarque ter ganhado certa relevância no cenário político nacional por defender apaixonadamente a educação e a citada coligação por sua vez defender com unhas e dentes a atual administração de Sebastião Navarro Vieira Filho.
Nessa administração é patente à perseguição aos servidores municipais, o professorado incluso. O desprezo pela educação está registrado no número de vagas em creches estar abaixo da demanda do município, na terceirização da merenda escolar, na ameaça de cerrar as portas da escola municipal Mamud Assan – projeto demovido após pressão da sociedade e moradores dos bairros adjacentes.
A atual administração, da qual Paulinho Courominas orgulha-se em fazer parte, também abandonou muitas escolas na periferia da cidade como no caso da E.M. Mariquinhas Brochado, onde foi encontrado há poucos dias um suposto foco do mosquito da dengue num terreno baldio em frente à escola e usado por moradores como lixeira a céu aberto. Ou como no caso da E.M. Irmão José Gregório, escola com instalações precárias e onde direção, professores, alunos e comunidade há anos vêm suplicando por uma reforma só iniciada agora no final da gestão Navarro/Courominas, num claro e desavergonhado intuito eleitoreiro. Por esse motivo as crianças tiveram o início do segundo semestre atrasado em uma semana e desde então têm tido horário reduzido de aulas (em uma hora diária). Agora com as fortes chuvas do último fim-de-semana parte da escola foi interditada deixando os alunos mais uma semana inteira sem aulas, sem contar outros malefícios causados por tanto descaso – uma criança chegou a cortar-se graças às ferragens da demorada reforma.
O descaso com a educação teve como ápice o ano passado, quando professores da rede municipal tiveram muitas aulas cortadas do dia para noite graças a uma portaria proibindo a extensão dessas. O resultado catastrófico foi a contratação as pressas de novos educadores para dar conta das aulas que haviam “sobrado” e a adaptação da grade de horário das escolas gerando uma completa balburdia, da qual alunos perderam praticamente um semestre inteiro.
Durante a campanha em vigor Courominas decretou a impossibilidade de implantação do passe livre no transporte público para estudantes desde o fundamental até o ensino superior, mesmo com dados da secretaria de Fazenda mostrando o contrário.
Falta ainda dizer que o mesmo grupo político que hoje controla a cidade e tem Courominas como o candidato da vez, em 1996 privatizou parte Autarquia Municipal de Ensino, justamente a parte contendo sete cursos superiores, entregando-a de mão beijada a PUC.
Um pouco mais sobre a política poços-caldense e o grupo que Buarque apóia nesse rincão das Minas Gerais pode ser dito aqui, como por exemplo o fato de o atual prefeito ser um digno representante dos tempos da ditadura militar. Ditadura a qual apoiou de modo enfático como deputado federal. Poços de Caldas só passou a ter eleições para prefeito após a derrocada da ditadura, até então éramos obrigados a conviver com prefeitos biônicos por tratar-se de uma estância hidromineral e o prefeito Sebastião Navarro é ligado umbilicalmente àqueles tempos de prefeitos biônicos.
Paulinho Courominas, fez história na política como opositor a Navarro – certa feita encenou o enterro político do hoje prefeito – mas há cinco anos saiu do PT – tendo razões para tanto – filiando-se ao ridículo e liqüidacionista PPS. Para espanto de muitos – mas nem todos – pulou a cerca rumo ao grupo de Navarro.
É difícil levar Courominas a sério conhecendo seu passado. O que ele diz no almoço pode desmentir no jantar. Assim como ficou difícil para eu levar Cristovam Buarque a sério depois de tamanha patotada.
3 comentários:
Olá!
Se eles fossem honestos, não eram políticos.
Parabéns.
Hudson, a cada dia sua lucidez política me impressiona, ainda que eu discorde de você em algumas coisas, algo totalmente natural.
Parabéns e vamos derrubar o fiel escudeiro do coronel!
Lucas Rafael Chianello
O IMBROGLIO DE CRISTOVÃO BUARQUE EM POÇOS DE CALDAS
Assim como o titular deste blog não sufragou nas urnas o nome do senador acima mencionado para a presidência da república, também me neguei fazê-lo por motivos puramente partidários embora me considere sem simpatia por qualquer agremiação política, e se o candidato é ligado de forma umbilical ao governo central do Sr. Lula, que acaba de “decretar” o fim do neoliberalismo, mais distância quero ter dele; não é nada pessoal. Tanto é que o meu candidato a vereador em Friburgo, onde vivo, pertence ao PT! Pode? Pode, se o postulante a uma cadeira na Câmara Municipal for pessoa íntegra, trabalhadora, inteligente, sempre amiga – como é comigo há mais ou menos 30 anos – e disposta a mudar, dentro de suas prerrogativas como edil, algumas situações embaraçosas e assaz comprometedoras em nosso Legislativo. Trocamos e-mails há mais de dois anos; ele, como presidente do Sindicato dos Bancários de Nova Friburgo – agora afastado – tem demonstrado seriedade e preparo para exercer a edilidade em nosso município, como vinha exercendo aquela função com bastante propriedade e desassombro perante o poderio dos banqueiros.
Voltemos, contudo, ao assunto tratado pelo digno Sr. Hudson em seu blog. Desconheço os bastidores políticos naquele município mineiro, mas dou todo o crédito que me seja possível dar à dialética sempre palatável desse sociólogo e educador daquele pujante rincão de Minas Gerais.
Ora, acompanho os debates no Senado até a hora de seu encerramento. Todo brasileiro deveria voltar seus olhos e suas atenções àquela augusta casa – berço das Leis e da ética que deveriam guiar a trajetória de nossa pátria por caminhos supostamente honestos e isentos de simulacros. No entanto, e apesar dos esforços de alguns sérios parlamentares, a didática ali praticada, por uma grande maioria, assume contornos apenas de uma retórica fraudulenta. E isto eles levam, como arautos da verdade e da lisura, aos municípios onde haja interesses apenas políticos. Quero dizer que não se desviam de seus caminhos facciosos para assumirem seus papéis de legisladores com seriedade e apuro. Não se pode aceitar parlamentar que assuma um posicionamento na tribuna do Senado usando, cá fora, um impressionismo disfarçado. Lá, o senador em pauta defende a classe dos educadores – é o seu único trampolim político – mas leva aos munícipes da pujante cidade que é Poços de Caldas uma outra conjuntura, um outro perfil, totalmente dissociado àquele que demonstra em seus discursos patéticos no Senado. E que mistura meu amigo de partidos notavelmente díspares em seus objetivos e em suas estruturas políticas! Se formos traçar o perfil ideológico dessa coligação teremos, diante de nós, uma pantomima de arrancar risos aos mais sérios dos cidadãos tornando-se inaceitável por parte do eleitor consciente de seu papel. Não podemos nem devemos nos ombrear a esses atores do risível repudiando tais conluios, entre iguais, que venham prejudicar professores e educadores já tão sacrificados e pouco valorizados em suas elevadas missões. E faz bem o senhor Hudson: não levar a sério, daqui para diante, a posição que assume na tribuna esse Sr. Cristovam Buarque, senador da República, que se revestiu de seu verdadeiro papel ao entrar na campanha de elementos perniciosos apoiando, depois de desastrada gerência municipal, elementos como o vice-prefeito Paulinho Courominas e o atual chefe do executivo Sebastião Navarro Vieira Filho, antes inimigos fidagais. CONSUMMATUM EST!
Morani
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