Pelo Professor Idelber Avelar no seu ótimo blog:
http://www.idelberavelar.com/
Acho que não uso a palavra “alienação” desde minha época de militância trotskista. Mas não há outro termo para definir essa irresponsável campanha disseminada na internet por Daniela Thomas e Marcelo Tas. É a alienação e o conformismo em sua típica versão Morumbi-Leblon: quero mudar tudo o que está aí, desde que eu não tenha que me dar ao trabalho de procurar informação ou tirar as pantufas. "Não reeleja ninguém" significa: Tire todos os 513 deputados de lá e coloque outros 513 que exercerão seus mandatos sem serem incomodados. Assim você poderá passar mais quatro anos vociferando indignação vazia e repetindo a cantilena de que todos os políticos são corruptos, enquanto fura mais uma filinha, sonega mais um imposto e joga mais uma embalagem de Doritos pela janela do seu Toyota Camry.
Fiz uma busca no Google. Há 6.650 ocorrências da sandice. A única coisa coerente que encontrei foi o texto de Marcelo Soares, Saiba por que a campanha “Não reeleja ninguém” é de uma burrice atroz. O resto é bateção de lata sem qualquer raciocício que vá além do quero acabar com todos esses políticos que estão aí.
Um jornalista esportivo adere à campanha. Logo depois, demonstra ter mais de dois neurônios lançando a pergunta: se não reelegermos ninguém, vamos eleger quem? Não consegue encontrar uma resposta para a pergunta que ele próprio formulou, mas mesmo assim mantém o selinho da campanha. É o retrato da pobreza política da nossa classe média.
Um profissional da área de Direito adere à campanha. Tampouco demonstra convicção, mas afirma que isso compensaria a decisão do STF que permitiu a candidatura de políticos com “ficha-suja”. O que se está chamando “ficha-suja” aqui não é a existência de sentenças condenatórias transitadas em julgado. É a existência de um processo em trâmite. Era só o que nos faltava: proibir a candidatura de quem está sendo processado. Se você quisesse eliminar a candidatura de alguém, bastaria inventar um motivo e processar o sujeito. Até que você perdesse o processo, a candidatura estaria impugnada. Como é possível que um profissional do Direito seja incapaz de fazer esse raciocínio?
Como afirmei no Twitter, a campanha “Não reeleja ninguém” é típica de quem não se lembra em quem votou. Minha Deputada Federal, Jô Moraes (PC do B), não está revolucionando a Câmara, mas está honrando seu mandato. Recebo semanalmente um informativo detalhado. Ela trabalha agora na emenda à Constituição 438/01, que expropria terras onde houver trabalho escravo. O escritório político de Jô em Belo Horizonte fica ali no Santo Agostinho, na Rua Araguari, 1685/05. Está em funcionamento permanente. Nunca deixo de ser atendido pela sua assessora de imprensa, Graça Gomes. Qual desses indignados sabe o que anda fazendo o seu Deputado? Qual desses indignados lembra-se sequer em quem votou?
Que tal, indignados, lançar a campanha "Não reeleja nenhum membro da bancada ruralista"? Que tal "Não reeleja donos de concessões de rádio e televisão"? Que tal, Daniela Thomas, uma campanha "Não reeleja membros da bancada evangélica", esse grupo em guerra permanente contra a saúde das mulheres? Ah, isso dá muito trabalho, né? Tem que pesquisar, ir atrás, essas coisas. É mais fácil vociferar contra tudo o que está aí.
A campanha “Não reeleja ninguém” ganhou bastante ímpeto com o colapso do gabeirismo. Despolitizado até a medula, o gabeirismo só tinha o discurso da “ética” -- entre aspas e em minúscula, claro, porque não há nada ali que tenha que muito que ver com esse ramo da Filosofia. Com a história das passagens aéreas, o que mais se encontra nas caixas de comentários do “Não reeleja ninguém” é gabeirista desiludido. Não lhes ocorre pensar que o problema não é Gabeira, nem Zé Dirceu, nem Delúbio, e sim um modelo de compreensão da política que a reduz completamente à cantilena moralizante.
Sim, é evidente que há muita coisa que se moralizar no Congresso. Discutir qual é a reforma política que nos possibilitaria ter partidos fortes e representativos, reduzindo assim o fisiologismo e as negociatas, são outros quinhentos. Para essa discussão, não contemos com as Danielas Thomas e Marcelos Tas. Eles não estão interessados nisso. Essa discussão dá muito trabalho e nela ninguém pode posar de vestal da pureza.
Comentário meu: Também votei na Jô Moraes, também sigo o seu trabalho na Câmara dos Deputados e até aqui não vi, ou soube de nada, que pudesse desaboná-la.
2 comentários:
Campanha besta esta, lembra o "Cansei!" e certos abraços a lugares ameaçados de poluição. Programa de fim-de-semana. No dia-a-dia esta gente é complacente com a corrupção, assina o que há de pior na imprensa, consome qualquer lixo importado achando que é "moderno", e se lixa para a injustiça social (cadê o movimento contra o cerco às favelas no RJ ou a expulsão dos moradores de rua em SP?).
Votei em Luiza Erundina, acompanho seu trabalho e minha confiança tem sido correspondida. Espero que seja reeleita enquanto não lhe derem a chance de um cargo maior, pois seriedade e inteligência não lhe faltam.
28/05/09
Realmente é verdadeira a existência de uma campanha a que não se reeleja ninguém do atual cenário político brasileiro. Convenhamos, esses que aí estão deixam a desejar. Ou são mesmo incompetentes ou verdadeiros cretinos macomunados às corrupções que escondem por debaixo do pano da seriedade, do altruismo e do patriotismo.
Não creio que a campanha tenha maior desenvoltura entre os eleitores, mas aprovo umas que conclamem: "Não reeleja membros da bancada ruralista"; "Não vote em donos de concessões de canais de rádio e de TV".; "Não coloque na política membros de bancadas evangélicas".
Contudo, o que deixa os eleitores indignados é que elegem determinado elemento, tido como homem probo, que vai para os palcos das assembléias políticas cheio de boas vontades e de seriedade e lá sofrem a metamorfose tão comum a muitos deles: corrompe-se, enlamea-se a troco de nada, torna-se venal e subserviente ao governo central, tudo em troca de "verbas", que esse governo distribui a rodo e sem qualquer cerimônia. Infelizmente, os candidatos não trazem em suas testas a afirmação: "SOU HONESTO, TRABALHADOR, INTERESSADO NO SOCIAL E A TODOS OS SEGMENTOS, E SEMPRE SEREI ASSIM: SEM MUDANÇAS, FIEL AO MEU MANDATO E AOS ELEITORES".
Eu anulo o meu voto conscientemente, todavia não faço campanha particular a que outros copiem o meu gesto. Ou se faz uma Reforma Política séria, para valer, ou continuarão campanhas como essa atual.
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