Por Tiago Barbosa Mafra
“O Partido dos Trabalhadores (PT) é uma associação voluntária de cidadãs e cidadãos que se propõem a lutar por democracia, pluralidade, solidariedade, transformações políticas, sociais, institucionais, econômicas, jurídicas e culturais, destinadas a eliminar a exploração, a dominação, a opressão, a desigualdade, a injustiça e a miséria, com o objetivo de construir o socialismo democrático”.
Essas palavras do artigo 1° do capítulo I do Estatuto do Partido dos Trabalhadores, contribuíram decisivamente para minha filiação ao partido em 2006. Hoje, frente a tanta turbulência e transformações, que parecem nada alterar, faço a breve reflexão que se segue.
Tanto em discussões nacionais quanto locais sobre a política e a participação popular, é perceptível a crítica de intelectuais, militantes e do povo em geral, aos instrumentos de luta histórica e ideologicamente construídos, como tendo sido dominados e manobrados para favorecerem pequenos grupos ou particulares. Isso vale especialmente para todos os partidos políticos, tidos atualmente ou como extremistas, como o PCO ou como partidos de aluguel, sem comprometimento ideológico e que favorecem a elite nacional, como se diz do PT.
Essa realidade cheia de denúncias e descrença (ambas legítimas) tem causado um gravíssimo problema: a falta de discernimento entre o particular e o institucional, e, por conseguinte, o abandono de tais instrumentos de promoção dos objetivos de classe.
Não é raro constatar sindicatos, associações, partidos, perdendo aos montes seus sindicalizados, associados e filiados, por razão da “personificação” da instituição para fins particulares. É inegável que isso tem se repetido com absurda freqüência em nosso país, mas carece capacidade para perceber que a direção de um sindicato ou de um partido não é ela mesma a própria instituição. Devido a essa confusão (que muitas vezes é omissão disfarçada) os mecanismos de luta dos pobres estão a cada dia mais fracos e vazios. E na visão dos que a tudo abandonam, quem permanece também está corrompido pelo poder.
Assim sendo, em relação à política partidária, é como se toda pessoa que busca transformações da realidade via partido político, fosse portanto, condizente com os erros, com as falcatruas, com a corrupção que é evidenciada a todo instante.
Aos que permanecem, e me insiro nesse grupo como filiado, petista e militante, resta ouvir a todo momento dois tipos de argumento: o primeiro, da maioria da população, embasado simplesmente nos “jornais nacionais” das ótimas emissoras de TV que temos no Brasil; o segundo, dos desiludidos que não aceitam mínimas mudanças ou conquistas, que já abandonaram as várias formas de luta pelas quais passaram e que acusam os remanescentes de fantoches, “que não concordam, mas aceitam”.
Em nenhum desses dois grupos encontramos propostas. E não me entendam mal, propostas não são saídas ou verdades prontas e absolutas, são possibilidades que necessitam de seres humanos para serem postas em prática. Seres humanos que atuam, que acertam e que, na maioria das vezes, erram.
É claro a todos os “angustiados”, ávidos por mudanças, que o que precisamos são transformações estruturais, que não estão acontecendo (e digo isso como petista consciente, por mais que pensem o contrário), haja visto nos últimos anos o aumento da concentração fundiária, a precariedade cada vez maior dos serviços públicos básicos, a retração e criminalização dos movimentos sociais, em especial o MST, o uso da mídia como instrumento da direita. São poucos exemplos que mostram a miríade de pilares que sustentam essa estrutura suja, mas que é forte e se renova.
Renovação que aliás, falta à esquerda. Orgulhosa, personificada, CONSERVADORA, quase não é esquerda. É muito difícil a muitos de nós, que discursamos aos quatro cantos sobre processo, mudanças, movimento, dialética, aceitar, compreender e vivenciar todos esse conceitos, que devem ser na realidade, perspectivas.
Cabe a todos, a humildade para aceitar críticas, para aprender com os erros, para conciliar com os companheiros.
Não deve dissociar como sempre faz a esquerda brasileira. É preciso unir nos pontos comuns, discutir democraticamente as divergências, contribuir no desmanche da estrutura. De nada adianta que o capitalismo crie seus próprios coveiros, se os coveiros estão tirando um cochilo. Acordem coveiros.
A nossa revolução não se fará de políticos profissionais nem de quadros. O povo é a contradição instalada. O povo é o político. O povo é o quadro. A revolução é de mentes.
Mudemos as nossas primeiro.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na Rede Municipal de Ensino e no curso pré-vestibular comunitário Educafro.
tiago.fidel@yahoo.com.br
5 comentários:
Camarada Tiago, falar que os partidos de esquerda não tem proposta não condiz com que observo. O PSOL, PCB, PSTU e até PCO como também o PT tem propostas sim e boas. O problema está na política mesmo, no Sistema que sobrivive para sustento do Sistema. Na linguagem petista diríamos que o problema está na governabilidade, que amarra as propostas. Nesse caso, quando as propostas não se aplicam temos duas soluções: ou termos a maioria nesse Sistema ou revolução. No Brasil atual nenhuma as duas funcionam porque a esquerda está desarticulada e revoluçã não temos participação popular.
Saudade de Jango, que também foi barrado pelo Sistema. Essa impossibilidade de ação leva muitos intelectuais a pensar: esperemos uma luz - isso não é omissão.
Abraço para ti e parabéns pelo artigo....
ass: Prof. Yuri Almeida
Ainda não havia lido, em todo esse tempo em que navego pela net - forcejando blogs e sites para me deparar a um comentário com isenção de fanatismo - uma nota tão bem desenvolvida de um declarado petista
que valoriza sua filiação sem, todavia, levá-la ao campo do egocentrismo partidário. Abandonei alguns blogs justamente pelos exacerbados comentários colocando o PT acima de tudo e de todos. Não irei contra ao que explanou tão bem o senhor Tiago Barbosa,
Mafra, Professor de Geografia da Rede Pública Municipal, como aceito a observação muito clara do Prof. Yuri Almeida. Acredito que nas hostes do PT se encontrem elementos capazes de aglutinar boas propostas para dar um novo perfil ao Sistema; encontraremos os mesmos objetivos no PSOL, PCB, PSTU. Só que "esperar" não é poder porque poder se ganha nas refregas das verdadeiras paixões sadias para a construção de uma nova sociedade visando, como um "norte", o clímax
comum da Justiça aliada ao bom senso sobre quaisquer outros pilares que por acaso se ergam sempre a favor das errôneas metas particulares de grupos, sejam eles partidos, organizações privadas, públicas e as conhecidas ONGs, algumas acobertadas pelo governo que vige atualmente em nossa Nação. Acredito na esquerda e na direita no Brasil, mas o que sangra do Sistema deixa muitas dúvidas confundindo a população atônita e muitas vezes indiferente ao Processo que se insinua pelos meandros do "faz de conta que acontece". Hoje, no Brasil, não se tem nem participação popular, nem uma possível revolução. Goebbels, o articulador de propaganda ao Sistema Nazista, dizia sempre: "uma mentira muitas vezes repetida tende a caracterizá-la como verdadeira". São essas mentiras que desviam os interesses dos verdadeiros patriotas se as aceitam como verdades.
20 de Outubro de 2009 16:36
Yuri, nada mais propus do que buscar a luz atraves da tentativa de transformãção das mentalidades, e isso, não é esperar, é atuar. Assim se constrói participação popular, que não cairá do céu se ficarmos esperando a luz divina fazer um trabalho que é nosso. A vida é curta e entendo que esperar a tão confortante luz é omissão sim, pois retira a carga de decisão e responsabilidades de nossas costas.
Abraço amigo
Morani, fico satisfeito em saber que é possível admitir e crescer com as falhas.
Agradeço os elogios e espero que possamos num futuro breve compartilhar com mais e mais pessoas nossas perspectivas de mudança dos padrões sociais.
Abraço.
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