Por Tiago Barbosa Mafra
O Brasil tem reduzido, na última década, os índices de pobreza e melhorado seu posicionamento geopolítico e econômico no cenário do mundo globalizado. O desemprego em queda, a economia crescendo, não obstante a crise, além do aumento do poder de compra da população ano a ano. Os programas sociais dão o caráter de governo comprometido com o povo e interessado no fim ou redução da miséria.
Isso tudo tem composto, junto com diversos outros países da região, o grupo de governos progressistas ou ditos de esquerda que se espalham pela América Latina. De fato, nosso país nunca passou por tantas transformações em tão pouco tempo, principalmente dentro dos moldes da democracia capturada pelo poder financeiro, tanto nas campanhas eleitorais quanto na condução da economia.
Os críticos mais ferrenhos e intransigentes, não veem no Brasil, diferença entre o período tucano e o petista: acusam o governo cooptação dos movimentos sociais (vale lembrar que onde isso ocorre é por entrega própria dos movimentos), morosidade no processo de reforma agrária, atenção demasiada ao superávit primário em detrimento de setores como saúde, previdência e educação, ampliação dos lucros das grandes empresas privadas e corporações, além da manutenção da estrutura primário-exportadora vigente. Não passa, portanto, em última análise, de mais um governo neoliberal com indumentária humanista.
Óbvio que as mudanças na proporção esperada pelos intelectuais e pela esquerda não vieram. As acusações acima até certo ponto procedem. É claro também que há grandes diferenças entre o período tucano e os últimos 10 anos de PT no Brasil. Mas a estrutura não foi alterada, e isso, deve ser reconhecido. O modo de condução da política nacional aplicado pelo PT tem se pautado em uma certa “colaboração de classes” onde os dois lados ganham, mesmo em proporções diferentes. Assim, amaciando a direita, os programas sociais avançaram, as vagas em universidades foram ampliadas, chegando em 2012 a 1 milhão somente para o ProUni, além do crescimento gradativo do salário mínimo e do poder de compra.
Porém, essa condução que tenta agradar a todos, não durará eternamente. Os maiores indicativos de que os partidos que se declaram socialistas mundo afora tem que se posicionar e terminar com esta “paralisia” da luta de classes, são os governos Bachelet (Chile), Zapatero (Espanha) e Papandreu (Grécia). Governos estes vistos como esquerda, mas que estruturalmente não alteraram o sistema. Os avanços sociais não diferenciaram os socialistas dos neoliberais, a ponto de Pinera, representante da direita chilena, esmagar os socialistas nesse país, enquanto Zapatero saiu derrotado e sem apoio popular e Papandreu entregou o país falido aos cortes sociais propostos pela UE e pelos organismos financeiros para salvar o mercado às custas da soberania e da sangria do povo grego.
Caso o PT não avance nos interesses coletivos e adote uma postura mais favorável ao povo, não sobrepondo o privado ao público e rompendo com a estrutura atual, o rumo que tendemos a adotar é o mesmo dos anteriores citados: o fim aparente das diferenças entre direita e esquerda e a construção de um entendimento de que tudo se pauta no modo distinto de administrar o próprio capitalismo.
A proposta de “Revolução dentro da ordem” faz sentido para um contexto onde as ideias socialistas podem alcançar o controle do Estado por meio de eleições. Adotando uma defesa dos trabalhadores, gerando ganho real e qualidade de vida, distribuição de renda e emprego, nenhum trabalhador retrocederá nos ganhos adquiridos, e a revolução dentro da ordem, tende a se converter em ação contra o sistema instaurado, a partir do momento em que a classe dominante se recusar a avançar nos ganhos trabalhistas e sociais.
Assim sendo, cabe ao PT, avançar na proposta socialista prevista em seu estatuto e findar a miragem do crescimento baseado na conciliação de classes. Isso não existe, não perdurará. Ou se caminha rumo à esquerda, ou a única diferença entre o partido que governa o país hoje e os demais será a visão mais “social” de como conduzir a estrutura capitalista, nada mais. No máximo reformas, mas sem revolução.
Que não sejamos uma reprise de Chile, Espanha ou Grécia, mas um exemplo de mudança pautado na defesa da dignidade e da justiça, oferecendo igualdade de condições a todos No Brasil, é preciso aprofundar as reformas. Precisamos transformá-las em REVOLUÇÂO!
Tiago Barbosa Mafra, Professor de História e Geografia na rede municipal de ensino de Poços de Caldas e no pré-vestibular comunitário Educafro.
2 comentários:
Ao senhor Tiago Barbosa Mafra, via blog "Dissolvendo no Ar":
Ainda aguardo com a mais viva expectativa ver crescer o meu poder de compra; a cada ano, os meus proventos de aposentado - como os de outros milhares e milhares de idosos -, só fazem "encolher", graças ao sistemático cálculo a menor aos que recebem acima do salário mínimo pela época dos "reajustes", que só incidem sobre os que ganham um mínimo. Ora, meu amigo: se eu até 1997 recebia cerca de 7,5 salários por direito não só ao "contrato" junto à Previdência Social, que é bilateral, hoje amargo ver a minha entrada, muito brevemente, ao grande círculo de proventos do tamanho de um mínimo apenas. Isso pode ser considerado "distribuição de renda" justa? Onde ficarão os direitos - consoantes nossa Carta Magna de 1988, e das muitas antes - de que não se podem, sejam por quais motivos alegados, diminuir, paulatinamente, quaisquer salários, proventos ou benefícios?! No entanto, se esse for o espírito do Socialismo que se queira instalar, através desse atual governo Dilma, em breve teremos aumentada a classe de miseráveis idosos e doentes sem possibilidades de entrarem nesse concorrido mercado de trabalho, tão mais exigente do que a necessidade real de um país ainda em desenvolvimento. Veja os índices de desenvolvimento humanos que são atribuídos ao Brasil.
Não, meu amigo. Chega-se à triste conclusão de que aqui, neste país que se pretende rico, os idosos são tratados como se fossem rebotalhos, ou dejetos sem uso prático, de uma sociedade que se pretende mudar à força de palavras apenas. Saiba sobre a PEC que se deseja votar no Congresso a favor dos funcionários públicos com deficiências físicas, e que o Senador Álvaro Dias pretende estender a todos os aposentados, da iniciativa privada, nas mesmas condições dos primeiros. Quer dizer: pretende-se, com a tal PEC, estabelecer na Previdência privada duas classes de aposentados: uma “elite” bem remunerada, e com todas as prerrogativas de paridade aos da ativa em detrimento à outra classe de iguais direitos e necessidades. Será esse o Socialismo que se deseja para os brasileiros? De repente, estaremos nós, idosos aposentados com mais de um salário mínimo, impossibilitados de comprar, sequer, o mais simples medicamento. Pode-se confiar no nosso Sistema de Saúde?
Passados dez anos da chegado do PT ao poder realmente já temos dados o bastante para uma análise das transformações que o país atravessou. Se por um lado o pragmatismo exacerbado (muitas vezes mesclado ao mais puro fisiologismo e alianças com representantes do conservadorismo tupiniquim) detém as reformas a um ritmo lento, por outro é inegável que houve sim avanços na área social, inclusive colocando as políticas inclusivas no centro do debate nacional. Igualmente inegável é a construção (de novo lenta, porém existente) de uma plataforma na qual a participação popular apareça (quantas conferências nacionais sobre os mais diversos assuntos tivemos nos últimos anos???, e importância do inovador Conselhão???). Na pior das análises talvez não estejamos caminhando rumo ao Socialismo pela via institucional, mas estejamos institucionalizando a Democracia.
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