Mês passado conversando com um amigo lhe garanti que Mahmoud Ahmadinejad viria ao Brasil por aqueles dias, e que havia sim sido divulgada a noticia do cancelamento da visita, mas ao fim da tarde o chefe de governo iraniano voltou atrás e confirmou a vinda a América Latina. Um amigo perguntou-me de onde tirei tal informação, ao que lhe respondi, do Blog do Noblat. Tive que agüentar piadas e risos sobre minha ingenuidade ao crer no que Ricardo Noblat publica em seu blog.
O jornalista e blogueiro Ricardo “Barriga” Noblat tem construído uma sólida carreira na internet. Uma carreira marcada por aquilo que no jargão jornalístico chamam de “barrigada”. Ou seja, noticiar fatos que ou não se consumam, ou que simplesmente não são verdadeiros.
Exemplos existem aos montes.
Além do já citado “cancelamento” do “cancelamento” da visita de Mahmoud Ahmadinejad, há também o vexame de publicar em primeira e única mão, a queda de um avião da Pantanal em São Paulo – na verdade tratava-se dum incêndio numa fábrica de colchões –; o ataque de neonazistas sofrido por uma brasileira na Suíça – a própria brasileira forjou o ataque e se auto-mutilou –; a noticia de que um probo empresário estaria processando o ministro Joaquim Barbosa pela verborragia usada durante a célebre discussão com Gilmar Mendes – pouco depois foi mostrado que o empresário era na verdade um famoso estelionatário. Outro caso que me fez rolar de rir foi o pânico que o jornalista pernambucano passou durante a recente gripe suína. Ele próprio postou fotos nas quais sua casa aparecia povoada de pessoas com máscaras de proteção contra a tal gripe.
Não bastasse tudo isso para qualificar o blogueiro e empregado das Organizações Globo como profissional famoso por não apurar as noticias que publica, ou seja, por desleixo, lambança e fazer pouco de seus incautos leitores, ainda pesa sobre sua mulher o fato de possuir ligações intensas com líderes da oposição e o envolvimento dela com o escândalo de desvio de verbas do INCRA, na época em que Raul Jungmman presidia aquele órgão. Aliás, o próprio Noblat recebe salário do Senado para se ocupar da programação musical Rádio Senado. Nada demais, não fosse o fato da prestação de serviços dar-se através de um contrato sem licitação.
Agora o “Barriga” se arrisca a fazer analises políticas mais “profundas” sobre a recente leva de pesquisas de intenção de voto para presidente da República. Noblat, com uma lupa só sua, enxergou detalhes nas entrelinhas das pesquisas Sensus, Vox Populi, Ibope e Datafolha que nenhum outro analista conseguiria enxergar.
Leiam um dos argumentos usados por Noblat para dizer que a candidatura de Dilma Rousseff ao planalto não vai tão bem:
(...) Algo por ora inexplicável atrapalha o crescimento mais rápido e consistente de Dilma. A pesquisa Sensus, divulgada na semana passada, apontou que ela é conhecida por 72% dos brasileiros, mas que 32% a rejeitam para a vaga de Lula.
No caso de Serra, o índice de conhecimento dele é de 95% e o de rejeição, 26%. Na pesquisa Datafolha de final de maio, a rejeição de Dilma é de 49% contra a de Serra de 25% entre os eleitores que ganham acima de 10 salários mínimos (...)
Aí o “Barriga” não apercebeu que entre os 72% dos eleitores que conhecem Dilma Rousseff, estão todos aqueles que compram Folha, O Globo, Estadão, Veja, e congêneres. Todos sabem que os veículos da mídia oligopolizada entraram numa cruzada anti-políticas públicas e se tornaram estandartes da oposição, muitas vezes mostram mais volúpia que a própria oposição parlamentar. Portanto, os consumidores desses meios de comunicação, que desde a eleição de Lula no segundo turno de 2002 têm satanizado o PT e seus aliados, passam involuntariamente, ou não, por uma lavagem cerebral e a essa altura do campeonato estão predispostos a votar em qualquer candidato que não tenha o número o treze, número da besta.
Agora, o mais interessante nesses dados é que Dilma está próxima do nível tradicional de rejeição do PT e ao mesmo tempo é praticamente desconhecida do eleitorado situado na faixa de renda mais baixa da população, onde, justamente, tende a angariar mais votos e menor rejeição. Conquanto, não é dar tiro no escuro afirmar que o índice real de rejeição de Dilma é na verdade menor que a do governador bandeirante e assim a tese do “Barriga” carece de verossimilhança e maiores explicações.
Noutro ponto Noblat escreve:
(...) Lula viu algumas mulheres chegarem ao poder na Europa e na América Latina. E concluiu que isso seria uma vantagem para Dilma. Pelo jeito não é (...)
Pois muito bem. Então somos governados há sete por um apedeuta, ignorante, um néscio, um boçal, que só porque viu umas mulheres chegarem ao poder ao redor do mundo resolveu indicar a ministra da Casa Civil à sua própria sucessão. Francamente, “quando o “Barriga” escreveu que o Obama estava fazendo chacota com a cara do Lula por tê-lo chamado de ‘the guy”, eu disse que talvez ele tivesse tomado “umas a mais”, o que dizer então dessa analise tão complexa e cheia da mais profunda filosofia e ciência política. Caso o “Barriga” não tivesse escrito essas duas linhas até poderia levar sua análise mais a sério, mas assim fica complicado.
O “Barriga” já escreveu antes que a candidatura Dilma não passa dum capricho de Lula. Pelo jeito ele se esqueceu que Zé Dirceu, o nome natural do partido a sucessão presidencial, caiu por conta do mensalão – cadê as provas que o mensalão realmente existiu da forma como nos foi contado??? – e depois foi à vez de Antonio Palocci, outro provável candidato a sucessão, cair por conta da quebra do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa. (Palocci está em vias de ser absolvido no julgamento que corre no STF, entretanto, não sabemos ainda – e a oposição não quer nem ouvir falar – quem depositou a dinheirama na conta do caseiro.) Após esses acontecimentos é verdade que o Partido dos Trabalhadores se viu sem um nome forte para continuar as políticas públicas, a integração regional, o processo de desenvolvimento de nossa economia, o ataque a desigualdade social e outros projetos iniciados na gestão de Luiz Inácio Lula da Silva.
O PT se viu na difícil situação de ter de construir em pouco tempo uma candidatura conhecida nacionalmente e competitiva tendo contra si a mídia oligopolizada. Ao mesmo tempo o partido possuí o presidente da República mais popular da história do Brasil, e este presidente não se mostrou, em nenhum momento, disposto a deixar a discussão sobre sua sucessão apenas a cargo do PT. Quem mais usufrui de confiança tão grande por parte de Lula a ponto de ser indicado por ele? Talvez mais dois ou três nomes, no entanto é Dilma quem saiu na frente e o partido acabou cedendo. Desde o inicio de 2007, portanto no comecinho do segundo mandato de Lula, o nome de Dilma Rousseff foi colocado a disposição do PT para ser a presidenciável do partido em 2010. O primeiro veículo de comunicação a noticiar isso foi o espanhol “El País”. (“Hoje em dia se você quiser saber ou entender melhor o que ocorre no Brasil, e caso você confie apenas na grande imprensa, é melhor procurar veículos estrangeiros como o “El País”, a “Pagina 12”, ou o The Economist”.) A escolha pode não ter ocorrido da forma mais democrática, contudo, a conjuntura e o risco dum racha, levou ao consenso em torno da ministra da Casa Civil.
Deixando o “Barriga” de lado e analisando de forma séria as últimas pesquisas, podemos dizer, nem tanto ao mar, nem tanto a terra. É exagero grosseiro dizer que a ministra Dilma está tecnicamente empatada com José Serra levando em conta apenas os números da pesquisa espontânea – os números diferem de instituto para instituto, mas algo em torno de 5% para o governador paulista e 4,5% para Dilma. Assim como simplesmente dizer que Serra terá céu de brigadeiro porque conta hoje com algo em torno de 35% a 40% das intenções de voto, é puro discurso sem compromisso algum com a realidade política. Serra está empacado nesse patamar há uns 6 anos. De lá pra cá foi candidato a prefeitura e prefeito da capital paulista, candidato ao governo e governador de São Paulo. Além, claro, de ter por parte da mídia oligopolizada, enorme projeção nacional. Projeção essa, diga-se de passagem, blindada a qualquer crítica mais ácida, ou que possa macular a imagem de grande gestor.
Qualquer um que seja o candidato do PT e de Lula a sucessão presidencial contará no primeiro turno com algo entre, pelo menos, 25% e 30%. Isso estaria de acordo com o patamar histórico do partido em pleitos nacionais.
Uma parcela significativa do eleitorado se identifica com as propostas do Partido dos Trabalhadores. Outra parcela, em torno de 30% do total de eleitores, rechaça qualquer candidato petista e vota em quem quer que seja que levante a bandeira do antilulismo e antipetismo. Sobram cerca de um terço dos eleitores que votam de acordo com necessidades momentâneas, ou então, de acordo com a avaliação que fazem das duas correntes opositoras, comparando administrações e políticas públicas. Outro fator que pesa, e muito, na hora do voto pra essa parcela, é a conjuntura econômica, uma enorme incógnita considerando que estamos muito longe do pleito. São esses eleitores que decidiram quem sobe a rampa do Palácio do Planalto em 1º de janeiro de 2011.
Analisando pela ótica de hoje e com as ferramentas que dispomos, há 16 meses da eleição, posso dizer que a disputa não encerrará no primeiro turno, que o segundo turno deve ser o mais disputado de nossa história, e que outra candidatura da base governista talvez deixe a oposição farisaica aturdida, perdida e imobilizada.
Mas, claro, até lá, ainda teremos pela frente 16 meses, ou 480 dias, ou 28800 horas ou 1728000 minutos, ou ...
Um comentário:
Olá, professor Hudson!
Outra vantagem de Dilma é que o governo Serra está sendo muito ruim para São Paulo: 1) ele se coloca contra o funcionalismo público, rejeitando reajustes, mandando a polícia em cima de grevistas e recusando-se terminantemente a negociar; 2) está relegando a Educação para o 15º subplano do inferno astral, deixando que seja distribuído material impróprio às crianças e fazendo centenas de milhares de assinaturas de panfletos da Abril. Detalhe: sem licitação; 3) está deixando o caos se instaurar no trânsito na grande São Paulo.
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