Por Ivan Lessa na BBC Brasil
Velhos slogans borrados nas paredes vêm-me à mente quando flagro, como um subversivo na noite, a notícia do que estão tramando as altas fontes do país.
Altas fontes, em geral, sabe-se, é cascata.
O que me é confirmado por alguns amigos ou melhor informados do que eu, ou, mais provável, agentes do SNI, do DOPS e seus atuais equivalentes nesta Grã-Bretanha que a cada dia que passa me lembra o Bananão, apelido intimista e desairoso com que era chamado nosso país, o mesmo que deu ao mundo o mais pesado que o ar e as poéticas cidades verticais a que chamam de favelas, onde mora uma gente boa e trabalhadora que vive mais pertinho do céu.
Voltando ao solo do Reino Unido, país onde resolvi armar minha barraca, em dia mais pessimista com distensões, lentas ou graduais, ando levando tanto susto quanto naqueles dias, no Rio de 1968, quando batiam-me à porta não sabia se era a senhora do apartamento 506 ou um funcionário à paisana do Cenimar.
A culpa será dos jornais? Estarão todos sob censura prévia criativa? Algum motivo deve haver para tanto celebrar o naufrágio do Titanic. Escolado, ocorre-me que a tragédia do embate embarcação contra pedra de gelo nada mais é do que uma preparação psicológica para os dias que vêm aí.
Os dias que vêm aí. Lá estava no jornal do dia 2 de janeiro em 2 sucintas colunas a notícia, supostamente especulativa, de que está em fase de estudo uma lei, já contando com uma boa maioria de parlamentares e autoridades, que tornaria os cidadãos britânicos e todos que nestas ilhas habitam sujeitos a uma sofisticadérrima vigilância na internet que tornaria este país mais rígido com seus cidadãos informatizados do que a China.
Sim, claro, há uma campanha por gente de bem que dá o sinal de alerta. Conheci muita gente de bem, nos brasileiros anos de chumbo, que caiu do helicóptero ou pelo gato foi comida. Prezo e temo por eles.
Aquilo que se propõe tornar lei é simples e direto como 200 volts nas partes pudendas ou pau-de-arara.
A principal agência de informações, a GCHQ (a central de comunicações do governo), teria, ou terá, o direito de monitorar todas as chamadas, todos os e-mails, textos, pesquisas e visitas a websites feitas por qualquer residente neste país.
As firmas que lidam com a internet poderiam, ou poderão, receber ordens ("Tejo preso!") no sentido de fornecer à agência de informações acesso em tempo real a toda e qualquer comunicação que lhe for ordenada.
Por Ivan Lessa via BBC Brasil
Diversos ministros insistem no fato de que é essencial para os serviços policiais e de segurança ter acesso aos dados enumerados acima afim de combater o terrorismo e proteger o público.
No momento, tudo isso pode ser obtido mediante mandado oficial, o que, pensam muitos, dá uma trabalheira danada e tempo para a subversão marchar para cima e para baixo com Deus e a Família pelo país inteiro espalhando a brasa viva e ardente da Tradição e da verdadeira Liberdade.
Com uma nova legislação mais rigorosa e ágil como Messi ou Cristiano Ronaldo disparando pelo miolo do campo adversário (esses terroristas...), as coisas se tornariam mais simples.
E a simplicidade – pergunte a qualquer chinês – é a alma do negócio dos pastéis.
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