quarta-feira, 28 de agosto de 2013

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

o petê e O PT

Por Paulo Cássio Pereira
Constantemente a mídia direitista/golpista e alguns partidos tentam culpar e imprimir de petê a tudo aquilo que não presta, ou seja, às mazelas das heranças culturais e politiqueiras que existem no Brasil, entre elas a falta de ética, a corrupção, a desigualdade social, etc. A pecha petê só existe na mentalidade de alguns gatos pingados que desconhecem a história coletiva das pessoas que incansavelmente e de forma aguerrida lutaram para a mudança da realidade brasileira. A mídia tendenciosa e alguns partidos de cultura conservadora de direita deveriam saber que alcunha ou apelidos não carinhosos geralmente são dados a bandidos e, por isso, precisam rever conceitos éticos das suas ações.
Por outro lado o PT (Partido dos Trabalhadores) possui identidade/DNA, tem o nome respeitado porque é o Partido Político que na década de 80 teve seu nascedouro junto ao clamor popular direto das ruas com a participação efetiva dos movimentos sociais comprometidos com a esquerda, entre eles os sindicatos, as comunidades eclesiais de base da igreja ligada a teologia da libertação e ao movimento estudantil. Promoveu no país uma revolução no jeito de fazer política, dando oportunidade aos companheiros/militantes de resgatarem a esperança e debaterem a conjuntura política, num momento em que pensar de forma antagônica e ser crítico era crime contra o status quo do governo militar.
Os verdadeiros companheiros não eram militantes só nos finais de semana. Eles não usavam o termo “vestir a camisa” porque isso é marketing empresarial capitalista, pois consideravam que nossa própria pele já é a nossa vestidura, muitos transpiraram e transcenderam os valores da vida e deram o sangue pela utopia de uma nova sociedade e política em suas comunidades.
No Partido dos Trabalhadores os debates sempre foram acalorados, mas com riqueza ideológica devido a pluralidade de idéias. O PT era o grande arcabouço dos movimentos sociais de esquerda que funcionava como um grande plenário, porque a formação política e ideológica acontecia no enfrentamento vivido no cotidiano dos seus militantes nos lugares onde trabalhavam, estudavam e moravam.
O PT no campo das idéias é carregado de valores e significados, além de representar uma transformação nos meios políticos do país. Primeiro porque ele nasceu nas bases e tem riqueza nos debates das causas populares. Só para lembrar de algumas das várias tendências dentro do próprio Partido: Articulação, Convergência Socialista, Trotskista e Lenilista, PT mais a Esquerda etc., sem aprofundar ainda que dele se originou várias lideranças que criaram outros partidos ou atuaram nas organizações não-governamentais que contribuíram para o fortalecimento da democracia.
Os ventos das mudanças no mundo estão aí. Conotações religiosas à parte, percebam os sinais vindos desde a renúncia do papa conservador Bento XVI e a eleição do novo Francisco, latino-americano que celebrou uma missa para as comunidades eclesiais de base em Aparecida quando veio no concílio antes de ser papa, as denúncias e o destaque das legítimas manifestações populares e os anseios pela reforma política.
Para concluir e fazer uma reflexão junto às críticas e as questões éticas na política, aos problemas internos do Partido e pensarmos qual PT queremos, gostaria de lembrar da seguinte história do avô em relação a seu neto adolescente que estava em crise existencial, brigava muito com seus colegas e deixava de frequentar a escola, que é a seguinte:
- O avô convidou o neto para tomar um chá, pegou o bule e foi tornando o chá na caneca, que foi enchendo, enchendo até transbordar. O neto assustado gritou que a caneca estava cheia e que o chá derramado queimava a sua mão. Calmamente, o avô respondeu que aquela caneca significava a vida do neto que estava cheia de tudo e por isso transbordava arrogância, prepotência, sabe-tudo etc. O avô disse ainda que em determinados momentos da vida é preciso esvaziar-se para aprender, se abrir ao novo e ter mais sabedoria, e ensinou uma parábola de que dentro do ser humano teria dois cães na sua estrutura psicológica/emocional. Contou que dentro de nós existe um cão dócil, fiel, seguro, que sabe o que quer, que possui ternura com as pessoas, que é festivo, que trabalha, que tem segurança e que ajuda olhar a casa; mas também existe o outro cão inseguro, violento, que suja o ambiente, que é agressivo, que mete medo e que ataca as pessoas. O neto curioso perguntou: _ E afinal, qual dos dois vence vovô? E o velho sábio respondeu: Vence aquele que a gente cuida e alimenta melhor...

Paulo Cássio Pereira  é  Professor de História e companheiro de Lutas aqui em Poços.