sábado, 31 de julho de 2010

Datafolha e o “voto útil” para o governo de SP em 1998

E não é que os números do Ibope se aproximam mais dos divulgados pelo Vox Populi do que os do Datafolha!!!

Surpreendente!!!

Mas relembrando o passado e refrescando um pouco a memória, vamos a um episódio curioso ocorrido nas eleições para o governo de São Paulo no não tão longínquo ano de 1998. Naquele ano foram realizadas eleições gerais no Brasil e concorriam ao governo do estado de São Paulo, dentre outros, o ex-prefeito da capital Paulo Maluf (PPB), Mario Covas (PSDB) tentando a reeleição, o ex-prefeito de Osasco Francisco Rossi (PDT), o ex-governador Orestes Quércia (PMDB) e a deputada federal em primeiro mandato Marta Suplicy (PT).

Para Paulo Maluf e Orestes Quércia não dispensarei maiores comentários. Francisco Rossi tinha como base de sustentação o segmento evangélico e garantia possuir dons metafiscos capazes até de suspender congestionamentos na grande São Paulo. Marta Suplicy, como dito antes, era deputada em primeiro mandato e se ancorava na boa atuação que tivera na Câmara dos Deputados, sobretudo em defesa dos direitos humanos. O seu grande cabo eleitoral era o então marido, o Senador Eduardo Suplicy. Claro que Marta tinha luz própria e pode parecer machismo de minha parte ligá-la assim ao ex-marido, todavia é impossível negar o papel importantíssimo que o Senador, àquela época em campanha vitoriosa pela reeleição, desempenhou na campanha de Marta.

A campanha se desenrolara com uma incerteza e duas seguranças. As seguranças: Haveria segundo turno e Maluf detinha cacife o suficiente para disputá-lo graças ao nicho do eleitorado que mantivera por décadas. A incerteza: quem seria o oponente de Maluf no segundo turno.

Covas eleito em 1994 para ocupar o Palácio dos Bandeirantes detinha baixos índices de aprovação ao seu governo e não conseguia transmitir ao eleitorado motivos plausíveis para continuar a frente do governo paulista. Marta contava com parcos recursos financeiros para uma campanha daquela magnitude e lutava contra a tradicional aversão que o eleitorado paulista nutre pelo PT. Quem surgia como favorito para disputar o segundo turno contra Maluf era Francisco Rossi, um demagogo com posições bastante conservadoras e um canastrão religioso (cristão).

Na antevéspera da eleição, numa sexta-feira, 2 de outubro, o Instituto Datafolha divulgou o seguinte resultado duma pesquisa sobre intenção de voto: Maluf,31%; Rossi,18%; Covas,17%; Marta,15% e Quércia, 6%.

Maluf, bem a frente de seus adversários, dificilmente perderia a passagem para o segundo turno. Já a segunda vaga encontrava-se em aberto e seria disputada entre Rossi e Covas, com aquele tendo ligeira vantagem sobre este.

A única salvação, apontada pelo Datafolha, para impedir um eventual segundo turno entre Maluf e Rossi residia nos eleitores mais atentos e que repudiavam tanto Maluf quanto Rossi, fazerem uso do chamado “voto útil”. Esse voto útil consistia em convencer os eleitores que originalmente intencionavam votar em Marta a votarem em Covas. E em boa parte, realmente, os votos de Marta migraram para Covas antes mesmo de a candidata petista recebê-los. Não foram poucos aqueles que acreditaram piamente no Datafolha e, cheios de boa intenção e com medo dum catastrófico segundo turno entre Maluf e Rossi, se utilizaram do voto útil em prol de Mario Covas.

Transcorrida a eleição no domingo, 4 de outubro, e iniciada a apuração o que se presenciou foi um cenário deveras diverso daquilo pintado dois dias antes pelo Datafolha. Se Maluf abria vantagem sobre seus adversários e se isolara na primeira posição como já se esperava, era Marta quem surgia na segunda posição tendo Covas em seu encalço e ambos deixando Rossi bem atrás.

A apuração, que naquele ano ainda era manual na maioria das localidades, prosseguiu em clima de suspense e com fortes emoções. No final Covas ultrapassou Marta e graças a míseros 0,9% de votos a mais se garantiu no segundo turno.

Veja o resultado oficial e note como ele difere do apresentado dois dias antes pelo Datafolha: Maluf, 5.351.035 (32,12%); Covas, 3.813.186 (22,95%); Marta, 3.738.750 (22,5%); Rossi, 2.843.515 (17,11%) e Quércia 714.097 (4,1%).

O Datafolha simplesmente não acertou um único resultado em cheio. E o pior, no erro mais grosseiro o instituto deu a Marta Suplicy 7,5% menos do que ela obteve, isso numa pesquisa realizada a menos de cinco dias da eleição. O eleitor de Marta confiante no Datafolha se viu na seguinte posição: escolher entre os males o menor ou simplesmente lavar as mãos. Dá pra imaginar, depois de abertas as urnas, a cara de idiota de muitos eleitores que ludibriados pelo Datafolha deram o “voto útil” a Covas na certeza de que Marta não tinha chances de ir ao segundo turno.

Não há dúvidas que o Instituto Datafolha interferiu na intenção de voto dos paulistas naquele ano. E interferiu a favor do então governador Mario Covas, um dos lideres do tucanato que corria o risco de entrar para a História como um governador que não conseguiu se quer passar para o segundo turno na sua tentativa de reeleição – seria vexaminoso.

Mais uma vez repito o que já venho dizendo há algum tempo. É impossível medir a credibilidade dos institutos de pesquisa, em pesquisas eleitorais, simplesmente por inexistir dados que comprovem, ou não, sua veracidade faltando tanto tempo para as eleições. Contudo nesse caso especifico, a credibilidade dos serviços prestados pelo Datafolha ficou em xeque.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Garcia: "Serra caminha para um fim de carreira melancólico"

O Professor Marco Aurélio Garcia é um dos nomes mais respeitados da esquerda brasileira e responsável direto por muitas das coisas que de melhor – e mais à esquerda – existe no governo Lula.

É professor licenciado do Departamento de História da Unicamp, fundador do Partido dos Trabalhadores, organizador do Foro de São Paulo e atualmente assessor especial para assuntos internacionais da Presidência da República. Foi também o coordenador geral da campanha de Lula durante o segundo turno de 2006.

Garcia sempre foi um dos alvos preferidos da direita, seja por suas posições seja por ter coordenado a surra que Lula deu em Alckmin naquele segundo turno – o Príncipe do Atraso e Picolé de Chuchu realizou a proeza de ter menos votos no segundo turno daqueles que havia tido no primeiro.

Agora Garcia deu uma entrevista a TVPT onde lamenta o fato de José Serra ter se convertido de vez a ultradireita.

Veja a entrevista:

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Serra, o novo herói da ultradireita, ataca o MST

Começa a ficar claro que a flecha sem rumo disparada pelo Índio da Costa não era barbeiragem dum deslumbrado candidato à vice. Serra está mesmo adotando, de caso pensado, o “discurso do medo”.

Fosse apenas o DEMO adotando esse discurso não teria nada de novo, afinal o DEMO é herdeiro em linha direta da ARENA. Mais, depois do panetonegate do Arruda não sobrou nada pro partido a não ser usar a verborragia ultradireitista. Mas ver Serra, com o passado que tem, sujando sua biografia avalizando o que o DEMO diz, é de embrulhar o estômago.

Agora Serra ataca o MST. É o mesmo discurso que o PSDB no desespero tentou alavancar em 2002 – lembram-se da Regina ‘Eu Tô Com Medo’ Duarte?

Vale lembrar que recentemente o Congresso Nacional instalou uma CPMI sobre supostas irregularidades nas verbas destinadas ao MST, todavia NADA foi comprovado.

MST fará mais invasões com Dilma no poder, diz Serra

CAROLINA FREITAS - Agência Estado

O candidato do PSDB à Presidência da República, José Serra, afirmou hoje que, caso sua adversária Dilma Rousseff (PT) seja eleita, a atuação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) vai se intensificar. Em palestra a cerca de 400 empresários do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo, Serra lembrou que Dilma conta com o apoio do líder do MST, João Pedro Stédile, nessas eleições. "O Stédile declara apoio à Dilma porque, com ela, eles (sem-terra) vão poder fazer mais invasões, mais agitações", afirmou.

Serra classificou o MST como um "partido revolucionário socialista". "Não é para a reforma agrária que o MST existe", afirmou. Segundo o tucano, não há problema em defender a "revolução", mas sim em fazer isso com dinheiro público. "O MST é um movimento de acumulação de forças revolucionárias", analisou.

Serra voltou a apontar a existência de loteamento político e partidário em agências e empresas federais. Ele qualificou o aparelhamento como um "patrimonialismo bolchevique". "Está tudo loteado. Tudo, tudo. Precisamos de um Brasil governado por partidos, não para partidos", disse.

domingo, 25 de julho de 2010

Porque tenho mais fé no Vox Populi

O grande debate do fim de semana ficou mesmo por conta da divulgação dos números das pesquisas Vox Populi e Datafolha.

A discrepância entre os números está dando pano pra manga. Já escrevi o que penso sobre pesquisas e que me abstenho de ficar interpretando-as pelo simples fato de ser impossível medir a qualidade destas. No entanto, mesmo assim, estou com uma pulga atrás da orelha em relação aos dados do Datafolha e vejo mais coerência nos da Vox Populi.

Vejamos os números e depois eu mostro os meus porquês.

Pesquisa Estimulada:

Datafolha = Serra 37%; Dilma 36%; Marina 10%; Plínio 1%; Zé Maria 1%; brancos/nulos/nenhum 4%; não sabe/não respondeu 7%.
Vox Populi = Dilma 41%; Serra 33%; Marina 8%; brancos/nulos 4%; outros 1%, não sabe/não respondeu 13%.

Espontânea :

Datafolha: Dilma 21%, Serra 16%; Marina 4%; Lula 4%, candidato de Lula 3%; candidato do PT 1%; indecisos 46%.
Vox Populi: Dilma 28%, Serra 21%; Marina 4%; Lula 4%; candidato de Lula 1%.

A discrepância dos números é grande. Não obstante o que mais me chamou a atenção é o fato de Dilma estar, comparativamente, bem melhor na pesquisa espontânea do Datafolha do que na estimulada. No universo de eleitores de Dilma Rousseff, 58% já declaram o voto antes de ouvir o nome da candidata por parte dos entrevistadores. Já entre os eleitores de Serra, apenas 43% seguem essa lógica. Estranho.

Os números do Vox Populi parecem mais lógicos, mais próximos da verossimilhança. Nele, ao fazermos o cruzamento entre ‘estimulada’ e ‘ espontânea’, o percentual dos eleitores de Dilma que votam nela mesmo sem serem lembrados do nome da petista é de 68%. Para Serra esse percentual é de 63%.

Tudo bem que haja diferenças de metodologia e o Vox Populi antes de perguntar o candidato preferido do entrevistado – na pesquisa estimulada – lhe sugira uma lista de nomes dos presidenciáveis e faça perguntas sobre o desempenho do governo Lula. Todavia as diferenças são grandes demais para acreditarmos que apenas diferenças metodológicas influenciaram o resultado final. No mais, apenas os números do Vox Populi parecem verossímeis por conta, justamente, do percentual de eleitores, tanto da petista quanto do tucano, que respondem espontaneamente o nome de seus candidatos.

Outro detalhe. Se levarmos em conta que a pesquisa espontânea mostra a consolidação do voto, o que faz todo o sentido, e somarmos, pelos números do Datafolha, Dilma + Lula + candidato de Lula + candidato do PT temos o seguinte resultado: 29%. Não há registros, ou ao menos o Datafolha não divulgou, de eleitores declarando intenção de voto em candidato anti-PT ou anti-Lula, então José Serra continua estacionado nos mesmos 16%.

Dito de outra forma. É extremamente improvável, pelos próprios números do Datafolha, Dilma Rousseff não estar à frente, inclusive já fora da margem de erro, de seu principal oponente. Portanto, o Datafolha pode ter cometido algum tipo de equivoco, e grave, ao consolidar a pesquisa. Resta saber se foi acidental ou intencional.

Van Morrison, Bife à Parmegiana e Vinho Tinto

Mais um domingão (e ainda estou de férias). Hoje é dia de degustar um belo Bife à Parmegiana, tomar um pouco de vinho tinto meio-seco e ouvir o bardo irlandês Van Morrison.

sábado, 24 de julho de 2010

As eleições de 2010 e as de 1945

O governo Lula é assim interpretado por dois dos principais pensadores da atualidade: Para o sociólogo franco-brasileiro Michael Löwy a melhor definição é a de um governo social-liberal. Já o filosofo húngaro István Mészáros reconhece avanços em alguns campos e ao mesmo tempo a manutenção, noutros campos, do establishment tradicional.

Mas o que será um eventual retorno dos tucanos ao palácio do Planalto? Uma segunda onda neoliberal, dessa vez mais empedernida a fim de evitar o retorno das forças progressistas, conjugada ao alinhamento automático com os EEUU na política externa.

Talvez ainda não tenhamos superado aquilo que Florestan Fernandes, fundador do PT, chamou de modernização conservadora. Contudo analisando dados divulgados pela recente pesquisa Vox Populi sobre os programas iniciados pelo governo Lula com melhor avaliação vemos o seguinte: Bolsa Família, 31%; Minha Casa Minha Vida, 22%; ProUni ,9%; Luz para Todos, 6% e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), 6%. Todos esses são programas sociais de larga escala, fato inédito no país que um dia Eric Hobsbawm chamou de ‘monumento à desigualdade social’.

E é agora em 2010 que o Brasil decidirá o seu futuro. A decisão a ser tomada pelo povo brasileiro em outubro próximo será crucial para a próxima década e geração. Em outubro estará em jogo os rumos políticos da América Latina, o destino da maior reserva de petróleo descoberta nos últimos 30 anos, além, obviamente, da continuidade ou não dos programas de resgate social.

Pode até parecer esdrúxula, mas é nesse bojo que ouso fazer uma analogia entre a atual campanha à Presidência da República e a de 1945, pois ambas guardam alguns traços peculiares entre si.

Em 1945 Getúlio Vargas, detentor de popularidade que nenhum político brasileiro obtivera até então, apoiou o candidato do Partido Social Democrático a sua vaga. O nome deste candidato, Eurico Gaspar Dutra, general do Exercito e um sujeito tacanho, fleumático, provinciano, débil, néscio e desprovido de qualquer carisma. Seria não fosse o poderoso cabo eleitoral, um candidato anódino.

Pela oposição aglutinava-se em torno da União Democrática Nacional parte da intelectualidade brasileira de centro e direita, além de setores do mais fino conservadorismo tupiniquim. Grandes latifundiários e empresários, profissionais liberais e as viúvas da “República do Café com Leite”. Todos ciceroneando o Brigadeiro Eduardo Gomes, presidenciável da UDN. Eduardo Gomes era o inverso de Dutra. Herói nacional, um dos sobreviventes do “18 do Forte”, simpático, carismático, católico fervoroso e ainda por cima ‘boa pinta’ – solteiro, conquistou o voto de muitas mulheres graças ao porte garboso.

Eduardo Gomes era tido e havido como franco favorito. Tanto que num discurso no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, declarou: Não necessito dos votos dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da república!

A malta de desocupados a que se referia o ilustre Brigadeiro era o movimento queremista e, em última análise, os trabalhadores brasileiros que identificavam em Getúlio o ‘Pai dos Pobres’.

Todavia a popularidade de Getúlio, sobretudo entre as classes mais baixas, levaram Dutra à vitória com 55% dos votos válidos, enquanto o Brigadeiro teve apenas 35%.

Claro que qualquer analogia ente o Brasil de 1945 e o de hoje, entre Getúlio e Lula ou entre Dutra e Dilma é forçar a barra. Porém, as forças que envergam as candidaturas – Serra de um lado, Dilma de outro – a popularidade de Lula e, o mais importante, a identificação que o povo brasileiro tem para com ele, me levam a crer que, embora os cenários sejam diversos, há também espaço para muitas semelhanças.

Dilma está muito mais preparada para eventualmente assumir a Presidência da República do que Dutra estava em 1945. O país hoje conta – dento daquilo que Mcpherson chama de democracia formal – com instituições bem mais sólidas e preparadas que àquelas relegadas pelo Estado Novo.

Já nas semelhanças, Dilma representa a continuidade – o que Dutra tanto queria representar e depois tentou romper – dum modelo de nacional desenvolvimentismo adaptado para a conjuntura do século XXI. Já Serra representa as elites atadas aos interesses internacionais de uma ordem (neoliberal) que ruiu em todo o planeta – assim como Eduardo Gomes representava um Brasil amarrado ao passado meramente exportador de matérias primas, não por acaso Roberto Campos era um dos intelectuais preferidos da UDN.

A identificação do trabalhador brasileiro para com o Presidente Lula poderá levar Dilma Rousseff, a mulher de confiança de Lula desde a crise do ‘mensalão’, a uma vitória sobre as forças políticas atadas a um Brasil que jamais serviu aos trabalhadores.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

De João Ubaldo Ribeiro para FFHH

Não é do meu costume bater em ‘cachorro morto’, mas essa carta de João Ubaldo Ribeiro sobre uma eventual pretensão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de se candidatar a Academia Brasileira de Letras não pode passar batida por mais tempo.

Triste o inverno de FFHH. Depois dos oito anos de governo em que prestou sacrifícios e se vergou perante o deus – de barro – Mercado, sendo reconhecido pelo povo brasileiro como um dos períodos sociais e econômicos mais tristes de nossa história, FFHH agora é enjeitado pelos próprios pares e ex-discípulos. É como se FFHH portasse uma doença contagiosa, capaz de afastar votos.

FFHH sonhava em ser reconhecido como grande estadista e conseguiu entrar para a História como “grande entreguista”. Sonhava em ser um Churchill, um Roosevelt, mas se tornou um Quisling.

Enquanto Dilma declara-se orgulhosa de ter feito parte do governo Lula, Serra tenta esconder que fez parte do governo FFHH.

Mas, não fique triste não FFHH. Acho que essa vergonha é mal de tucano e não é nada pessoal contra o senhor. Cá em Minas Aécio e seu boneco de ventríloquo (Anastasia) sofrem de mal semelhante e querem esconder que o PSDB tem presidenciável e o nome deste é Serra.

Leiam a carta de João Ubaldo Ribeiro, retirada do Brasília, eu vi do Leandro Fortes.


Guardei, por 12 anos, em meio à minha papelada imunda de recortes de jornais e revistas velhas, numa caixa de papelão em frangalhos, um artigo de João Ubaldo Ribeiro datado de 25 de outubro de 1998, porque esperava justamente esse momento: a hora em que Fernando Henrique Cardoso, alijado da política e na iminência de cair no esquecimento público, se candidatasse a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. O artigo, intitulado “Senhor Presidente”, foi escrito logo depois da vitória de FHC, no primeiro turno das eleições de 1998, graças ao Plano Real e à aprovação, no Congresso Nacional, da Emenda Constitucional da reeleição, conseguida à custa de um escandaloso esquema de compra de votos. O texto é pau puro e, surpreendentemente, foi escrito numa época em que a mídia nacional era, praticamente, uma assessoria de imprensa do consórcio PSDB/PFL. Não por outra razão, foi inicialmente censurado em “O Estado de S.Paulo”, para onde o cronista escrevia, embora o jornal tenha sido obrigado a publicá-lo, uma semana depois, para evitar se envolver em um escândalo de censura justo com um dos mais respeitados escritores do país. Num tempo de internet incipiente, a repercussão do artigo foi mínima, ficando restrita às redações e ao meio intelectual, de resto, também acovardado pela força do pensamento único imposto à sociedade pela imprensa e pelo governo de então.

Esse retalho jornalístico ficou comigo tanto tempo porque, no fundo, eu tinha certeza que a vaidade intelectual de FHC iria levá-lo, em algum momento, a pleitear uma vaga na ABL, como agora se noticia em notas discretas de colunas de jornal, certo de que se trata de uma confraria historicamente vulnerável a influências políticas, quando não à bajulação pura e simples, como qualquer um pode constatar, embora abrigue grandes escritores, como o próprio João Ubaldo Ribeiro. Contudo, lá também estão escribas do calibre de José Sarney e do cirurgião plástico Ivo Pitanguy. No passado, também circulavam entre os imortais o general Aurélio de Lira Tavares (codinome “Adelita), eleito em 1970, com o apoio do ditador Emílio Médici, e Roberto Marinho, das Organizações Globo. A presença de FHC, que pelo menos escreveu uns livros de sociologia não seria, portanto, um escândalo em si. O problema é o artigo de João Ubaldo.

No texto, o escritor baiano, entre outras considerações, refere-se assim a Fernando Henrique Cardoso: “(…) o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico”. Mais adiante, relembra um dos piores momentos da vida de FHC: “(…) o senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo”.

E por aí vai, até se lembrar, a certa altura do texto, que FHC, em algum momento da vida, poderia se interessar pela vida imortal da ABL. João Ubaldo, então, cospe uma fogueira de brasas para cima de Fernando Henrique: “(…) E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais”.

Eu posso estar errado, já se passou mais de uma década, a ira de João Ubaldo pode ter se perdido na poeira do tempo, mas a julgar pelo teor do imortal artigo do escritor e jornalista baiano, FHC vai ter que pensar duas vezes antes de se candidatar a uma vaga na ABL. Ou considerar o fato de que só vai entrar lá por cima do cadáver de João Ubaldo Ribeiro. A conferir.

Abaixo o artigo completo, para quem quiser se deleitar:

Senhor Presidente – João Ubaldo Ribeiro
25 de outubro de 1998


Senhor Presidente,

Antes de mais nada, quero tornar a parabenizá-lo pela sua vitória estrondosa nas urnas. Eu não gostei do resultado, como, aliás, não gosto do senhor, embora afirme isto com respeito. Explicito este meu respeito em dois motivos, por ordem de importância. O primeiro deles é que, como qualquer semelhante nosso, inclusive os milhões de miseráveis que o senhor volta a presidir, o senhor merece intrinsecamente o meu respeito. O segundo motivo é que o senhor incorpora uma instituição basilar de nosso sistema político, que é a Presidência da República, e eu devo respeito a essa instituição e jamais a insultaria, fosse o senhor ou qualquer outro seu ocupante legítimo. Talvez o senhor nem leia o que agora escrevo e, certamente, estará se lixando para um besta de um assim chamado intelectual, mero autor de uns pares de livros e de uns milhares de crônicas que jamais lhe causarão mossa. Mas eu quero dar meu recadinho.

Respeito também o senhor porque sei que meu respeito, ainda que talvez seja relutante privadamente, me é retribuído e não o faria abdicar de alguns compromissos com que, justiça seja feita, o senhor há mantido em sua vida pública – o mais importante dos quais é com a liberdade de expressão e opinião. O senhor, contudo, em quem antes votei, me traiu, assim como traiu muitos outros como eu. Ainda que obscuramente, sou do mesmo ramo profissional que o senhor, pois ensinei ciência política em universidades da Bahia e sei que o senhor é um sociólogo medíocre, cujo livro O Modelo Político Brasileiro me pareceu um amontoado de obviedades que não fizeram, nem fazem, falta ao nosso pensamento sociológico. Mas, como dizia antigo personagem de Jô Soares, eu acreditei.

O senhor entrou para a História não só como nosso presidente, como o primeiro a ser reeleito. Parabéns, outra vez, mas o senhor nos traiu. O senhor era admirado por gente como eu, em função de uma postura ética e política que o levou ao exílio e ao sofrimento em nome de causas em que acreditávamos, ou pelo menos nós pensávamos que o senhor acreditava, da mesma forma que hoje acha mais conveniente professar crença em Deus do que negá-la, como antes. Em determinados momentos de seu governo, o senhor chegou a fazer críticas, às vezes acirradas, a seu próprio governo, como se não fosse o senhor seu mandatário principal. O senhor, que já passou pelo ridículo de sentar-se na cadeira do prefeito de São Paulo, na convicção de que já estava eleito, hoje pensa que é um político competente e, possivelmente, tem Maquiavel na cabeceira da cama. O senhor não é uma coisa nem outra, o buraco é bem mais embaixo. Político competente é Antônio Carlos Magalhães, que manda no Brasil e, como já disse aqui, se ele fosse candidato, votaria nele e lhe continuaria a fazer oposição, mas pelo menos ele seria um presidente bem mais macho que o senhor.

Não gosto do senhor, mas não tenho ódio, é apenas uma divergência histórico-glandular. O senhor assumiu o governo em cima de um plano financeiro que o senhor sabe que não é seu, até porque lhe falta competência até para entendê-lo em sua inteireza e hoje, levado em grande parte por esse plano, nos governa novamente. Como já disse na semana passada, não lhe quero mal, desejo até grande sucesso para o senhor em sua próxima gestão, não, claro, por sua causa, mas por causa do povo brasileiro, pelo qual tenho tanto amor que agora mesmo, enquanto escrevo, estou chorando.

Eu ouso lembrar ao senhor, que tanto brilha, ao falar francês ou espanhol (inglês eu falo melhor, pode crer) em suas idas e vindas pelo mundo, à nossa custa, que o senhor é o presidente de um povo miserável, com umas das mais iníquas distribuições de renda do planeta. Ouso lembrar que um dos feitos mais memoráveis de seu governo, que ora se passa para que outro se inicie, foi o socorro, igualmente a nossa custa, a bancos ladrões, cujos responsáveis permanecem e permanecerão impunes. Ouso dizer que o senhor não fez nada que o engrandeça junto aos corações de muitos compatriotas, como eu. Ouso recordar que o senhor, numa demonstração inacreditável de insensibilidade, aconselhou a todos os brasileiros que fizessem check-ups médicos regulares. Ouso rememorar o senhor chamando os aposentados brasileiros de vagabundos. Claro, o senhor foi consagrado nas urnas pelo povo e não serei eu que terei a arrogância de dizer que estou certo e o povo está errado. Como já pedi na semana passada, Deus o assista, presidente. Paradoxal como pareça, eu torço pelo senhor, porque torço pelo povo de famintos, esfarrapados, humilhados, injustiçados e desgraçados, com o qual o senhor, em seu palácio, não convive, mas eu, que inclusive sou nordestino, conheço muito bem. E ouso recear que, depois de novamente empossado, o senhor minta outra vez e traga tantas ou mais desditas à classe média do que seu antecessor que hoje vive em Miami.

Já trocamos duas ou três palavras, quando nos vimos em solenidades da Academia Brasileira de Letras. Se o senhor, ao por acaso estar lá outra vez, dignar-se a me estender a mão, eu a apertarei deferentemente, pois não desacato o presidente de meu país. Mas não é necessário que o senhor passe por esse constrangimento, pois, do mesmo jeito que o senhor pode fingir que não me vê, a mesma coisa posso eu fazer. E, falando na Academia, me ocorre agora que o senhor venha a querer coroar sua carreira de glórias entrando para ela. Sou um pouco mais mocinho do que o senhor e não tenho nenhum poder, a não ser afetivo, sobre meus queridos confrades. Mas, se na ocasião eu tiver algum outro poder, o senhor só entra lá na minha vaga, com direito a meu lugar no mausoléu dos imortais.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Lula e Brasil: avanço na redução da miséria



Por Antonio Lassance, na Carta Maior

O gráfico acima merece ser emoldurado. Ele representa os avanços que o Brasil alcançou até o momento na luta pela redução da miséria.

Antes de mais nada, é preciso dar os devidos créditos. O gráfico tem como base os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), colhidos, organizados e divulgados pelo IBGE. São sistematicamente trabalhados pelo IPEA, que tem grandes estudiosos sobre o tema da pobreza, assim como pelo Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas-RJ.

Graças a esses estudos se pode, hoje, visualizar se estamos avançando ou retrocedendo; se o Brasil está resgatando seus pobres ou produzindo quantidades cada vez maiores de pessoas que ganham menos que o estritamente necessário para sobreviver; gente que se encontra sob situação de insegurança e vulnerabilidade.

Os números e a trajetória que os liga permitem não só uma fotografia da miséria, mas também um retrato do que os governos fizeram a esse respeito. Serve até de exame para um diagnóstico do bem estar ou do mal estar que as políticas econômicas podem causar à nossa sociedade.

Descritivamente: esta linha sinuosa decresce em ritmo forte em 1994 e 1995, quando estaciona. Depois de 1995, a queda deixa de ter continuidade e, salvo pequenas oscilações, os patamares de miséria ficam estáveis pelos sete anos seguintes, até 2002. Depois de 2003, ocorre uma nova trajetória descendente e, desta vez, sustentada, pois se mantém em queda ao longo de sete anos.

Na trajetória dos últimos 18 anos, só o governo Lula reduziu a pobreza de forma contínua e acentuada. Itamar e FHC tiveram, cada qual, apenas 1 ano de efetiva redução da pobreza: Itamar (que teve pouco mais de 2 anos de governo), em seu último ano (1994), e FHC, em seu primeiro ano (1995).
O gráfico desmente categoricamente a afirmação de que a miséria e as desigualdades no Brasil vêm caindo “desde o Plano Real”, como é comum encontrar inclusive entre analistas econômicos, principalmente aqueles que são mais entusiastas do que analistas e, a cada 5 anos, comemoram o aniversário do plano como se fosse alguém da família.

O Plano Real conseguiu reduzir a miséria apenas pelo efeito imediato e inicial de retirar do cenário econômico aquilo que é conhecido como “imposto inflacionário”: o desconto compulsório, que afeta sobretudo as camadas mais pobres, ao devorar seus rendimentos. Retirar a inflação do meio do caminho foi importante, mas insuficiente.

No governo FHC, a miséria alcançou um ponto de estagnação. Uma estagnação perversa, que deu origem, por exemplo, à teoria segundo a qual muitos brasileiros seriam “inimpregáveis”. Para o discurso oficial, o problema da miséria entre uma parte dos brasileiros estaria, imaginem, nos próprios brasileiros. A expressão era um claro sinônimo de “imprestáveis”: pessoas que não tinham lugar no crescimento pífio daqueles 8 anos. Era um recado a milhões de pessoas, do tipo: “não há nada que o governo possa fazer por vocês”. “Se virem!”

O governo Lula iniciou uma nova curva descendente da miséria no Brasil e a intensificou. Sua trajetória inicial foi mais íngrime do que a verificada no início do Plano Real e, mais importante, ela se manteve em declínio ao longo do tempo. Por trás dos números e da linha torta, está o regate de milhões de brasileiros.

A razão que explica essa trajetória está no conjunto de políticas sociais implementadas por Lula, como o Fome Zero, o Bolsa Família, a bancarização e os programas da agricultura familiar, além da melhoria e ampliação da cobertura da Previdência.

No campo econômico, além de proteger as camadas sociais mais pobres da volta do imposto inflacionário (estabilidade macroeconômica), houve uma política sistemática de elevação do salário mínimo e, a partir de 2004, patamares mais significativos de crescimento econômico, com destaque nas regiões mais pobres, que cresceram em ritmo superior à média nacional – em alguns casos, superior ao ritmo chinês.

O governo FHC, sem políticas sociais robustas e integradas e com índices sofríveis de crescimento econômico, exibiu uma perversa estabilidade da miséria. Se lembrarmos bem, ao final de seu mandato, a economia projetava inflação de dois dígitos, os juros (Selic) superavam os 21% ao ano (haviam batido em 44,95% em 1999), a crise da desvalorização cambial fizera o dólar disparar, as reservas estavam zeradas e o País precisara do FMI como avalista. Por isso se pode dizer que a característica principal do Governo FHC não foi propriamente a estabilidade macroeconômica. Foi o ajuste fiscal e a estabilidade da miséria.

Por sua vez, a tríade crescimento, estabilidade e redução da miséria, prometida por Lula na campanha de 2002, aconteceu. Se alguém tinha alguma dúvida, aí está a prova.


Antonio Lassance é pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) e professor de Ciência Política.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Trogloditas de língua solta

Depois de Índio da Costa, vice de José Serra, descambar a falar asneiras num sítio ligado a campanha de ambos, eis que Paulinho Bornhausen – filho de Herr Jorge Bornhausen, aquele que em 2005 previu um segundo turno da eleição presidencial, dali a um ano, entre um candidato do PSDB e outro do (finado) PFL, além do “fim dessa raça”, alusão ao PT e aos movimentos populares -- soltar a língua de troglodita.

Índio da Costa no final de semana, em entrevista ao sítio Mobiliza PSDB, declarou que todos sabem da ligação entre o PT e as FARC.

A declaração acendeu a luz amarela no comando da campanha demo-tucana. O próprio Serra tergiversou do assunto. Cesar Maia, mentor intelectual e padrinho político de da Costa, tentou amenizar as declarações do pupilo e tudo indicava que o assunto fosse obliterado.

No entanto o deputado federal Paulinho Bornhausen (DEMO - SC) aproveitou para também obter seus 15 minutos de fama nessa campanha. Através do twitter repetiu as declarações de Índio da Costa e aproveitou para numa análise rastaqüera, sem pé nem cabeça, fazer sua própria coadunação acerca de Dilma Rousseff e do PT. Segundo Paulinho Bornhausen, o PT tem pendores antidemocráticos e odeia o “Estado de Direito”.

O mais interessante nisso tudo é tais declarações saírem da boca de quem saiu. O pai de Paulinho foi dos maiores entusiastas da ditadura militar, quando, dentre outros serviços prestados aos ditadores de plantão, foi governador biônico de Santa Catarina (1979-1983).

Ficam no ar as seguintes dúvidas. Quem na História recente do Brasil demonstrou pouco apreço pelo “Estado de Direito”? Quem possui pendores antidemocráticos? O PT? Lula? Dilma? Ou será a família Bornhausen?

domingo, 18 de julho de 2010

Domingão

Domingo é dia de lasanha, de futebol e de boa música...





sábado, 17 de julho de 2010

Mídia Oligopolizada versus Zé Povinho

Está declarada a guerra. O Partido do Capital (mídia oligopolizada) volta todo o seu aparato contra a candidatura Dilma Rousseff. Mas, O Partido do Capital já não havia declarado essa guerra há algum tempo atrás, desde que Dilma passou a ser reconhecida como a candidata escolhida por Lula e pelo Partido dos Trabalhadores? Sim. Entretanto acontece que agora a campanha, de ambas as partes, é oficial.

Em editorial desse sábado o jornal “O Globo” – intitulado singelamente de “Sindicatos cooptados lutam por votos” – usa o termo neopelegos para tratar as centrais sindicais. Faz todo o sentido, afinal as principais centrais sindicais redigiram no final de semana passado documento cujo teor torna nítida as mentiras decantadas por José Serra, o candidato oficial do Partido do Capital, quando o ex-governador de São Paulo tenta em vão assumir a paternidade do FAT (Fundo de Amparo aos Trabalhadores) e do Seguro-Desemprego. Então para desqualificar as centrais, nada melhor do que tratá-las como pelegas.

Mais. No pano de fundo está à visão turva de quem não sabe o que é democracia ao não aceitar o fato de essas centrais estarem em campanha aberta pela eleição de Dilma Rousseff. Isso é algo inadmissível para “O Globo”, para a família Marinho, para seus asseclas e para a elite nacional, acostumados a uma democracia meramente formal, de plástico, sem alma, enfim, uma democracia sem povo. O que essa elite defende é a antítese da democracia substancial apregoada por pensadores do quilate de Bertrand Russel, Jean Paul Sartre, C. B. Macpherson, Paulo Freire ou José Saramago. Na democracia formal o povo é convocado para apenas referendar as decisões já tomadas pelas elites dominantes, à participação é restrita a mera filiação em sindicatos, partidos políticos ou outras associações e a democracia só existe do portão da fábrica para fora. Associações políticas são aceitas desde que elas próprias reflitam o establishment.

Para o Partido do Capital, personificação dos anseios e preconceitos da elite dominante e da pequena burguesia reacionária, o governo Lula – mesmo possuindo aliança estratégica com alguns dos setores mais atrasados da sociedade brasileira, por exemplo, Sarney, Calheiros, Collor, IURD, agronegócio et caterva – simbolicamente representa a chegada do povo ao poder e em grande medida a democratização do Estado. Ou não foi no governo Lula que se realizaram milhares de Conferências Nacionais sobre os mais diversos assuntos, algo impensável há poucos anos? Não foi, também, no governo Lula que se verificou maior acesso a terra e moradia digna através de financiamentos só possíveis graças à ação do Estado? Ou não foi o governo Lula que adotou uma política de valorização do salário mínimo? (E não nos esqueçamos do discurso de direita que durante décadas viu justamente no salário mínimo o vilão de inflação, mesmo depois de esta ter sido debelada.) Não foi no governo Lula que o acesso à universidade e coisas mais trivias como, por exemplo, luz elétrica e três refeições por dia se tornaram possível para milhões de brasileiros?

Tudo isso é inadmissível para uma elite acostumada a monopolizar o Estado e que na última década foi obrigada a engolir ascensão do “Zé Povinho” e a dividir o Estado com ele. É inadmissível a ascensão social de uma antiga classe de miseráveis e todas as consequências, no presente e no futuro, que essa ascensão acarretará consigo.

Na guerra declarada pelo Partido do Capital, o Presidente Lula e as centrais sindicais põem em risco a democracia (formal) brasileira ao tomarem partido e escancarar sem pudor o nome de sua presidenciável. Não à toa que a Folhona Ditabranda destacou afirmação de Alejandro Aguirre, presidente da obscura Sociedade Interamericana de Imprensa, na qual o até então ilustre desconhecido afirma que governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva "não pode ser chamado de democrático".

Não por acaso o mesmo ilustre desconhecido também compara Lula a Hugo Chávez, Evo Morales e Cristina Kirchner, governantes que de forma similar, embora em maior ou menor intensidade, e pragmática lançaram seus respectivos países num processo inédito de democratização do Estado.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

O homem que teve coragem de enfrentar o neoliberalismo no seu auge

Olívio Dutra sempre foi exemplo de homem público. Possuidor de integridade e moral, inabaláveis, capaz de nos fazer orgulhar de haver homens públicos assim no Brasil. Não há dúvidas que Dutra reúne todas as condições exigidas a um chefe de estado e governo. Provavelmente mais que qualquer um dos presidenciáveis de 2010.

Todavia essas virtudes não o pouparam de infortúnios nos últimos anos. Não teve o devido reconhecimento do governo Lula que, em julho de 2005 no início da “crise do Mensalão”, o retirou do Ministério das Cidades – uma das melhores criações do primeiro mandato de Lula e antiga reivindicação dos movimentos populares ligados à questão da moradia – para acomodar em seu posto Márcio Fortes, indicado por Severino Cavalcanti com o aval do PP.

Antes, entre 1999 e 2002, governara o Rio Grande do Sul sendo bombardeado dia e noite pelo Partido do Capital – a mídia oligopolizada. Podemos inclusive afirmar que naquela ocasião o Partido do Capital usou o Rio Grande do Sul como cobaia, dali em diante colocaria em prática tática similar – denuncismo, difamação, calúnia, destruição de reputações, patrulhamento ideológico, disseminação de preconceito etc, – contra a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (nesse caso, como no de Dutra, com sucesso) e contra o governo do Presidente Lula (nesse caso com insucesso).

Dutra enfrentou com galhardia e obstinação o neoliberalismo no seu auge, por conta disso também viu seu governo estadual sofrer as mais diversas retaliações tanto do governo federal – à época FFHH – quanto da comunidade internacional adoradora do “deus Mercado”.

E é justamente sobre esse período, mais precisamente sobre a desistência da montadora estadunidense Ford de se instalar em solo gaúcho, que Dutra fala fartamente em entrevista exclusiva concedida a Agência Brasil de Fato. É sempre bom lembrar, antes mesmo de ler a entrevista, que tal desistência fora vendida pelo Partido do Capital como apocalipse para economia do estado.

Leiam e entrevista e aplaudam Olívio Dutra.

“O Rio Grande do Sul cresceu sem a Ford”, garante Olívio Dutra

Ex-governador gaúcho fala sobre os reais motivos que levaram a Ford a deixar de instalar sua fábrica no estado


Agência Brasil de Fato


Mais uma vez, a saída da montadora Ford do Rio Grande do Sul voltou a ocupar o posto das principais notícias nos meios de comunicação gaúchos. Uma decisão tomada pela juíza Lílian Cristiane Siman em dezembro de 2009, mas que somente se tornou pública no final de maio deste ano, condenou a montadora Ford Brasil Ltda a indenizar o estado do Rio Grande do Sul em mais de R$ 134 milhões (corrigido, o valor pode chegar a quase R$ 1 bilhão) por não instalar uma fábrica na cidade de Guaíba em 1999. Embora a decisão da juíza já tenha sido contestada pelo Tribunal de Justiça gaúcho, que anulou a sentença por ter sido julgada em separado de uma outra ação civil pública que tramita sobre o mesmo tema, a notícia serviu para reavivar um assunto que ainda é constantemente relembrado na política do Rio Grande do Sul. Após uma década, o governo (1999-2002) da Frente Popular (PT-PSB-PCdoB-PCB), encabeçado por Olívio Dutra (PT), ainda é rotulado como aquele “que deixou a Ford ir embora”. Confira, a seguir, entrevista com o ex-governador.


Brasil de Fato – Como o senhor recebeu a decisão da Justiça de exigir indenização da Ford ao estado do Rio Grande do Sul?

Olívio Dutra – A decisão foi importante, valiosa. Ela reforça uma visão que sempre tivemos e da qual não abdicamos: de que o desenvolvimento gaúcho não depende da atração de mega projetos às custas de uma alta renúncia fiscal, de que nós podemos desenvolver o Rio Grande de forma mais parelha, mais espraiada e até mesmo mais enraizada, valorizando a produção do estado, seu parque produtivo que é diversificado, numa relação entre os setores agropecuário, indústria, comércio e serviços, e valorizando as vocações locais. Esta visão nos fez tomar a medida que tomamos naquela ocasião. E penso, quero, desejo que os adversários de projeto possam discutir com mais qualidade a visão de desenvolvimento para o Rio Grande, porque é isso que está em jogo. E são visões diferenciadas. Nós fomos eleitos em um momento de ascenso do neoliberalismo aqui no estado, com a privatização. E fomos atacados por todos os lados; por grupos poderosos, órfãos desta multinacional, a Ford. Nós procuramos, numa linguagem bem gaúcha, “chinchar” esta empresa; trazê-la para uma mesa de negociação para renegociar um acordo que tinha sido feito com o governo anterior. Um acordo leonino para o estado devido aos seus parcos recursos; leonino para o seu orçamento, para os seus investimentos. Isso não era uma novidade porque outras empresas multinacionais instaladas em outras regiões do país também estavam tendo que negociar. É o caso do Paraná. Nós conseguimos chamar para a mesa de negociação a General Motors (GM), que aceitou conversar. Fizemos uma contraproposta e reduzimos em mais de R$ 100 milhões a permanência da GM no estado. Já a Ford não quis. Esta empresa tinha as costas largas, numa relação política com o grupo partidário-ideológico que foi derrotado pelo nosso governo. Também se revelou muito articulada com este grupo e seus partidos, com a sua bancada de oposição ao nosso governo e presente na Câmara federal. Aliás, desta bancada participava a atual governadora, Yeda Crusius (PSDB). E nem por isso deixamos de insistir em uma negociação. Para ver como estavam bem relacionados [a transnacional, o governo federal e a bancada de oposição no Congresso], conseguiram que o governo federal de FHC emitisse uma medida provisória que alterou o regime automotivo do Mercosul. Com as mudanças, foram dadas condições para que as fábricas fossem levadas para o Nordeste – o prazo estava expirado, renúncia fi scal era ainda maior do que a Ford tinha aqui no estado. E essa MP, que depois teve de ser votada, foi aperfeiçoada pelas oligarquias baiana e paulista e com o apoio da oposição, que votou a favor da Ford e contra o Rio Grande do Sul.

Por que revisar os contratos com as empresas?

Porque eram contratos que penalizavam o Estado e favoreciam enormemente uma empresa como a Ford, que tinha uma receita superior, várias vezes, ao orçamento gaúcho. Uma empresa que não precisava de favor nenhum de um estado que tinha recursos escassos para investimento na micro e na pequena empresa e até mesmo para pagar o funcionalismo. Tínhamos que repassar R$ 400 milhões à empresa e ficar sem condições de pagar os professores, por exemplo. Além disso, o contrato feito no governo anterior, de Antônio Britto (PMDB), não havia sido aberto para a opinião pública; tinha sido feito às escondidas, sombreadamente, com um grupo de executivos e de um grupo seleto dentro do governo na ideia de que podiam fazer tudo com o patrimônio público, inclusive comprometer o futuro. O acordo tinha umas 30 cláusulas, sendo que 29 eram a favor da empresa e apenas uma era compromisso com o estado [contrapartida]. Uma coisa leonina, altamente favorável para uma empresa que não precisava deste tipo de favor de um estado que tem outras prioridades e de um governo que tem uma outra visão de construção do desenvolvimento, que não é esta com base em megaprojetos descendo aqui com tudo o que é benefício: área facilitada, financiamento facilitado, renúncia fiscal, infra-estrutura a ser executada pelo próprio governo. Lembro bem de uma negociação que tivemos com a General Motors que penso que foi importante. O governo anterior tinha se comprometido e estava em execução a construção de uma estação de tratamento de água dentro da fábrica da GM. E está lá, quem passa hoje pela autoestrada em Gravataí (RS) vai ver uma estrutura da Companhia Riograndense de Abastecimento (Corsan) dentro do complexo automotivo da empresa privada e multinacional. Na época, fomos ver se a estrutura iria servir somente à empresa; uma estrutura a ser construída pelo estado sendo que tinha necessidade de saneamento para as vilas adjacentes. Colocamos isso na mesa para a GM e fizemos as alterações necessárias e aceitas na mesa de negociação. Só para citar um dos pontos que negociamos com esta empresa, além de outros.

Com quais alterações no acordo a Ford não concordava?

A Ford nunca entrou na mesa de negociação. Nunca contrapropôs. Ela simplesmente dizia “não, nós temos um contrato juridicamente perfeito e que precisa ser cumprido”. Nós dizíamos, bueno, então tem que apresentar o relatório dos recursos que já receberam, se foram aplicados segundo os compromissos que assinaram. Relutaram e muito em fazer este relatório, esta prestação de contas do dinheiro que já haviam recebido para a gente poder ver se justificava passar outra parcela. Relutaram, fi zeram de tudo, foram para a grande mídia para criar uma pressão ainda maior sobre nós. Nós insistimos, e a empresa acabou apresentando um relatório fajutado. Aquele relatório já mostrava como é que eles tinham gasto parcelas consideráveis do dinheiro obtido aqui; gastaram em outras coisas, não diretamente ligadas com o projeto. A área específica de avaliação do projeto disse que o relatório revelava que não dava para prosseguir assim, que a empresa não cumpre o que tem que cumprir. A Ford não contrapropôs nada.

Os críticos afirmam até hoje que a revisão dos contratos fez com que a Ford fosse embora do RS.

Não, o motivo de ela ter saído do estado foi porque ela não aceitou sentar nas mesas de negociações, como outras empresas, no caso a GM, aceitaram. O governo tinha legitimidade. Nós discutimos com a população na campanha eleitoral nossa visão de desenvolvimento para o estado, que não era baseada, como o governo anterior, no pique do neoliberalismo, da privatização, repassando recursos públicos para os grupos privados e poderosos. Esta questão estava bem clara, não viemos com ela escondida na manga. Nós tínhamos legitimidade, autoridade e responsabilidade para chamar estas empresas e dizer “olha, precisamos rever isto para colocar em bases mais adequadas para a nossa visão de desenvolvimento e até mesmo para o orçamento do estado, os recursos que temos disponíveis a médio e longo prazo”. O que importa dizer é que no período de governo da Frente Popular, nos quatro anos, o estado cresceu e se desenvolveu acima da média nacional. O Produto Interno Bruto (PIB) do estado cresceu acima da média nacional em todos os setores, inclusive no metalmecânico, no industrial. O companheiro, nosso secretário de Desenvolvimento da época, saudoso Zeca Moraes [falecido em 2009], trabalhou com paciência e determinação muito grandes estas relações. A saída da Ford não representou nenhum prejuízo para o Rio Grande, na visão do desenvolvimento sustentável, mais espraiado, porque nós desenvolvemos uma ideia dos sistemas locais de produção, valorizando vocações regionais, articulando setores entre si, ampliando a capacidade de investimento interno via Banco do Brasil, o próprio Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), ações desenvolvidas como a agência de fomento dentro do Banrisul que criamos. Isso tudo possibilitou que fizéssemos com que o estado tivesse não só crescimento econômico, como desenvolvimento social, com a renda crescendo mais e sendo melhor distribuída através de um salário mínimo regional acima do salário mínimo nacional. Tiveram empresas de outros estados que vieram para cá. A Latasa, que fica na cidade de Viamão (RS), é uma delas. Podem vir empreendimentos de outras regiões e até mesmo de outros países, mas sintonizados com a visão do desenvolvimento descentralizado, desconcentrado e que também venham buscando estas sintonias com as vocações regionais. Ao atrair uma empresa de determinado porte com uma enorme renúncia fiscal, primeiro você reduz o repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os municípios e concentra em uma região; segundo que cria favores para uma megaempresa às custas da micro, da pequena e da média empresa que têm que se acoplar àquela ou desaparecer. Mexemos no Fundopem, que é um fundo que antes apenas meia dúzia de empresas tinham acesso, fazendo com que centenas de pequenas e médias empresas de diversas regiões do Rio Grande acessassem este tipo de financiamento.

Por que este caso da Ford repercute ainda tanto no estado?


É evidente, é um campo ideológico. Temos dois projetos que estão em disputa, tanto no país quanto no Rio Grande do Sul. E aqui nós derrotamos este projeto quando ele estava no auge do seu discurso neoliberal. Ficaram de tal forma calistratos com esta derrota, que passaram a ter não mais o raciocínio político mas a quizila, o preconceito. São visões diferenciadas sobre o desenvolvimento. Temos a ideia de que o Estado, e nunca escondemos isto, tem um papel imprescindível na emulação do desenvolvimento. Não é o achincalhamento do Estado que possibilita um desenvolvimento sustentável e justo, mas a democratização do Estado, sob controle público e não privado, eficiente e capaz de fazer articulação.

Como avalias a cobertura da mídia corporativa quando a Ford decidiu não se instalar mais no estado?


É uma mídia comprometida ideologicamente, é uma mídia que tem lado, mas que sempre quer esconder, se apresentar como democrática, plural. A mídia tem interesses da publicidade, vive de recursos destes grupos que a sustenta. Nós também tínhamos uma visão diferenciada sobre recursos de publicidade. Chegamos com a visão de que tínhamos que reduzir o volume de recursos para publicidade e distribuir melhor entre as empresas, rádio, jornal, televisão. Além de reduzir o volume com a publicidade, para ter mais recursos para outras áreas mais necessárias, nós também não encaminhamos, como nos governos anteriores, 80% destes recursos para uma destas grandes empresas de comunicação do estado. Por aí também se indispuseram conosco por conta de nossa visão republicana e que estava ligada a valorizar a micro e a pequena empresa de comunicação. Há muitas micro-empresas de comunicação pelo RS afora e não pedimos nada de retorno, nenhum compromisso elogiando, bajulando o nosso governo. Pelo contrário, vemos que as micro e pequenas do interior do estado não têm estrutura e se alimentam das notícias editadas pelas grandes empresas ou do centro do estado, ou do centro do país. Não procuramos, com esta melhor distribuição dos recursos de publicidade, ter apoio da micro, da pequena e da média empresa de comunicação. Ela continuou com a sua estrutura, dependendo de notícias elaboradas e editadas pelos grupos empresariais dos grupos maiores. Mas também por aí veja que tinha uma relação de interesses que nós interrompemos.

Recentemente, o relator da CPI da Ford na época, deputado Berfran Rosado (PPS), afirmou que, por não haver ação na Justiça, a comissão exigiu que o governo gaúcho cobrasse a devolução dos recursos repassados pelo Estado. Foi isso mesmo?

O nosso partido fez parte da CPI, não fomos contra. Ao contrário, valorizamos a comissão. A CPI, que tinha um foco, no início, foi reconhecendo outras coisas. Mas o Executivo nunca deixou para depois e nunca tergiversou sobre a injustiça daquele contrato e a relutância petulante de uma empresa, diferente de outras, de não sentar na mesa de negociação. O governo tinha propostas e divulgava como reduzir os custos para a Ford permanecer no estado. Não esperamos decisão da CPI para tomar as medidas cabíveis de responsabilidade do Executivo. Mas que bom que esta CPI, à qual o governo não se opôs e da qual os partidos que também compunham o governo participaram, reconheceu, em alguma parte de seu trabalho, que a empresa tinha tido um comportamento, para dizer o mínimo, inadequado.

Na sua opinião, por que o governo de Yeda Crusius não se manifestou sobre a decisão anterior da Justiça, de a Ford indenizar o estado?


O governo se sentiu contrariado com a decisão da Justiça porque desmonta o discurso de que fomos nós que mandamos a Ford ir embora; vão ter que encontrar outras maneiras com a mesma cantilena. Mas o que importa é que o Rio Grande do Sul se desenvolveu no governo da Frente Popular, não dependíamos de um megaprojeto vindo de fora com tamanha renúncia fiscal. Esses tempos conversei com o Jacques Wagner (PT), governador da Bahia. Eu puxei conversa com ele sobre a Ford. Disse a ele: “os nossos opositores querem fazer uma placa para mim por trazer a Ford aqui para a Bahia. Vocês devem estar no melhor dos mundos”. Ele me disse que, com a crise financeira, a montadora chegou para o governo baiano colocando a necessidade de o estado repassar a ela R$ 400 milhões. Ao invés de ajudar a Bahia a enfrentar a crise, ela trouxe mais um problema. Estas empresas do setor automobilístico estão em crise no mundo, elas precisam se reciclar. Quando é que se reciclam? Quando têm guerras nas quais elas passam a, ao invés de fazer veículos particulares, produzir canhões, armas de guerra. Está na hora de as empresas se reciclarem porque elas são responsáveis, inclusive, por este tumulto que está virando as cidades, com este volume de automóveis particulares. E os governos tendo que se submeter a esta lógica da indústria automobilística, do rodoviarismo, da construção de viadutos caríssimos que não estão mais solucionando os problemas. Estas empresas podem produzir equipamentos para o transporte coletivo, mas isso é um debate. Nossa visão não é imediatista e particular, focando uma determinada empresa; é uma visão de desenvolvimento sustentável, em que o ser humano é o objeto principal e não a máquina ou o dinheiro. Mas existe toda uma circunstância, uma ideologia, o mundo globalizado, o mercado, o dinheiro em cima das pessoas dizendo que elas precisam consumir, ter as coisas. Nós não damos murro em ponta de faca, mas não somos também rebanho desta visão. Sabemos que ela só se altera à medida que construímos uma hegemonia com a participação cidadã para uma compreensão de um mundo diferente.

Oito anos após o encerramento do teu governo, como vês o Rio Grande do Sul de hoje?

O estado tem um parque industrial produtivo diversificado, isto faz parte da sua história econômica, social e política. Em outras ocasiões se tomaram decisões importantes. O governo Borges de Medeiros [no início do século 20], por exemplo, estatizou as estradas ferroviárias, que antes eram inglesas e passaram a ser serviço público. As posições que o Brizola [1959-1963] assumiu em relação à telefonia e que, depois, a ideologia privatista chegou e vendeu. A nossa atitude aqui também tem uma visão histórica. O estado tem raízes importantes no seu parque industrial diversificado que precisam ser valorizados. Uma vez valorizados, e às vezes até mesmo contra a ação de governos que não têm esta visão, o estado tem uma capacidade própria de enfrentar problemas. Os governos neoliberais criam mais problemas para o desenvolvimento do que soluções. O atual governo do RS está distorcendo este desenvolvimento, que poderia ser mais parelho e sustentável, para ser um desenvolvimento descompassado, de um setor sobre o outro. O Estado desqualificando a sua prestação de serviços na área da saúde, da educação e da segurança. Acho que o Rio Grande do Sul tem potencialidades enormes e vocações importantes, e precisa de um governo capaz de dar sintonia, articular e dar protagonismo para a sociedade gaúcha. E não o governo que avoque a si o dono da verdade e faça do aparelho do Estado uma extensão da propriedade dos mais poderosos e influentes. Acho que o Rio Grande do Sul está mal de governo. Após o golpe militar, tivemos dois governos do campo democrático-popular: o governo de Alceu Collares [PDT, 1991-1994] e o da Frente Popular. Fora disso, o campo do neoliberalismo é que tem governado.

A oposição ao seu governo, o primeiro do PT no Rio Grande do Sul, foi forte e incansável. Acha que um segundo governo hoje teria uma oposição menos ferrenha?

É para que eu torço e trabalho. Que não se repita. Aliás, a história só se repete como farsa, então tenho certeza que um segundo governo das forças que compunham a Frente Popular da época vai ser diferente. As condições hoje são sim mais favoráveis, até porque temos o governo do país e os dois mandatos do presidente Lula foram muito importantes para investimentos na infraestrutura do Rio Grande em educação e segurança pública, das ciências e da tecnologia. Criou um ambiente muito favorável que não tínhamos no nosso primeiro governo. Acho que até politicamente os adversários estão confusos entre si. Eles, no pragmatismo político, querem continuar tendo um governo como o do presidente Lula, que não distingue se o prefeito é daquele partido, só exige que o recurso público seja aplicado. Eles ficam meio divididos nesta questão quanto à candidatura em nível nacional. Mas eles temem que uma vitória casada Dilma-Tarso Genro possa ir mais longe nas mudanças mais substanciais que iniciamos naquele governo. Portanto, se articulam de forma diferente para a questão nacional e com relação à disputa estadual. No entanto, penso que o campo popular-democrático também aumentou a sua experiência, articulou melhor sua visão de se relacionar entre si, com a sociedade, e tem um conhecimento mais profundo das potencialidades do Rio Grande. Também tem quadros da melhor qualidade em todos esses partidos para gerir, com visão republicana e participativa, o espaço público. Acho que o próximo governador, que há de ser o Tarso, irá encontrar um quadro bem mais razoável do que o que tivemos que enfrentar naquele primeiro governo da Frente Popular.

Entenda o caso: empresa se negou a rever contrato

Em 28 de abril de 1999, a montadora Ford anunciou que não iria mais instalar sua fábrica no Rio Grande do Sul. O contrato de implantação do Projeto Amazon tinha sido assinado em 1998, no governo Antonio Britto (PMDB). Com a eleição da Frente Popular (PTPSB-PCdoB-PCB), iniciou-se uma revisão dos contratos com a montadora e a General Motors (GM). Quando a Ford optou por deixar o estado, ela já havia recebido a primeira parcela dos R$ 210 milhões que seriam financiados pelo Banrisul (banco estatal gaúcho), além de outros valores em subvenções (ajuda financeira). Os relatórios entregues na época pela empresa à Auditoria-Geral do Estado (CAGE), para prestar contas do dinheiro que já havia sido repassado, foram considerados insuficientes.

Ao deixar o Rio Grande do Sul, a Ford se instalou na Bahia. Na época, a empresa disse que o estado gaúcho atrasou, por questões ideológicas, a liberação da segunda parcela do financiamento. Em sua decisão recente à ação civil pública interposta pelo governo Olívio Dutra (1999-2002), a juíza Lílian Cristiane Siman decidiu que a Ford teria de devolver ao RS o dinheiro investido, com correção. A magistrada entendeu que a empresa tinha desistido, por iniciativa própria, do empreendimento. Com a anulação da decisão de Siman, a ação civil do governo Olívio aguarda sentença junto com outra ação popular, de um civil, que, além da empresa, também questiona os termos do contrato definidos pelo governador à época, Antônio Britto.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Folhona reconhece que Serra menti ao pedir paternidade do FAT e do Seguro-Desemprego

Até o braço midiático da candidatura tucana foi obrigado a reconhecer que Serra mente deslavadamente ao pedir a paternidade do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e do Seguro Desemprego.

No último fim de semana cinco centrais sindicais (CUT, CGTB, CTB, Força Sindical e Nova Central) divulgaram documento cujo teor acusa José Serra de engodo ao pousar como benemérito dos trabalhadores durante a Assembleia Nacional Constituinte de 1988. No documento as centrais sindicais acusam o ex-governador paulista de não ser nem o responsável pelo FAT nem pai do Seguro-Desemprego como ele vem mentindo há anos.

Agora a Folhona Ditabranda chegou a mesma conclusão após ter acesso a documentação da época em que nasceram tanto o FAT quanto o Seguro-Desemprego. A documentação foi obtida através de uma consulta realizada pelo PPS – aliado umbilical dos demo-tucanos – ao Cedi (Centro de Documentação e Informação da Câmara).

Quem escreve sobre o assunto é Josias de Souza (aqui).

terça-feira, 13 de julho de 2010

Dia Internacional do Rock

Pra comemorar o dia internacional do Rock!!!!

Led Zeppelin - Black Dog


While My Gitar Gently Weeps – George Harrison


The Beatles A Hard Day's Night – Beatles


Time Is On My Side – Rolling Stones


Wont Get Fooled Again – The Who



Wish You Were Here – Pink Floyd


Hurricane – Bob Dylan


Little Girl Blue ¬ – Janis Joplin


Light My Fire – Doors


Starman ¬– David Bowie


Sunshine of Your Love – Cream


London's Burning – The Clash


Foxy Lady – Jimi Hendrix


Smoke On The Water – Deep Purple


Hey Hey My My – Neil Young

domingo, 11 de julho de 2010

Centrais sindicais dizem que Serra é mentiroso

Serra: impostura e golpe contra os trabalhadores

O candidato José Serra (PSDB) tem se apresentado como um benemérito dos trabalhadores, divulgando inclusive que é o responsável pela criação do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) e por tirar do papel o Seguro-Desemprego. Não fez nenhuma coisa, nem outra. Aliás, tanto no Congresso Nacional quanto no governo, sua marca registrada foi atuar contra os trabalhadores. A mentira tem perna curta e os fatos desmascaram o tucano.

A verdade

Seguro-Desemprego -
Foi criado pelo decreto presidencial nº 2.284, de 10 de março de 1986, assinado pelo então presidente José Sarney. Sua regulamentação ocorreu em 30 de abril daquele ano, através do decreto nº 92.608, passando a ser concedido imediatamente aos trabalhadores.

FAT –
Foi criado pelo Projeto de Lei nº 991, de 1988, de autoria do deputado Jorge Uequed (PMDB-RS). Um ano depois Serra apresentou um projeto sobre o FAT (nº 2.250/1989), que foi considerado prejudicado pelo plenário da Câmara dos Deputados, na sessão de 13 de dezembro de 1989, uma vez que o projeto de Jorge Uequed já havia sido aprovado.

Assembleia Nacional Constituinte (1987/1988) -
José Serra votou contra os trabalhadores:
a) Serra não votou pela redução da jornada de trabalho para 40 horas;
b) não votou pela garantia de aumento real do salário mínimo;
c) não votou pelo abono de férias de 1/3 do salário;
d) não votou para garantir 30 dias de aviso prévio;
e) não votou pelo aviso prévio proporcional;
f) não votou pela estabilidade do dirigente sindical;
g) não votou pelo direito de greve;
h) não votou pela licença paternidade;
i) não votou pela nacionalização das reservas minerais.
Por isso, o Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), órgão de assessoria dos trabalhadores, deu nota 3,75 para o desempenho de Serra na Constituinte.

Revisão Constitucional (1994) - Serra apresentou a proposta nº 16.643, para permitir a proliferação de vários sindicatos por empresa, cabendo ao patrão decidir com qual sindicato pretendia negociar. Ainda por essa proposta, os sindicatos deixariam de ser das categorias, mas apenas dos seus representados. O objetivo era óbvio: dividir e enfraquecer os trabalhadores e propiciar o lucro fácil das empresas. Os trabalhadores enfrentaram e derrotaram os ataques de Serra contra a sua organização, garantindo a manutenção de seus direitos previstos no artigo 8º da Constituição.

É por essas e outras que Serra, enquanto governador de São Paulo, reprimiu a borrachadas e gás lacrimogênio os professores que estavam reivindicando melhores salários; jogou a tropa de choque contra a manifestação de policiais civis que reivindicavam aumento de salário, o menor salário do Brasil na categoria; arrochou o salário de todos os servidores públicos do Estado de São Paulo.

As Centrais Sindicais brasileiras estão unidas em torno de programa de desenvolvimento nacional aprovado na Conferência Nacional da Classe Trabalhadora, em 1º de junho, com mais de 25 mil lideranças sindicais, contra o retrocesso e para garantir a continuidade do projeto que possibilitou o aumento real de 54% do salário mínimo nos últimos sete anos, a geração de 12 milhões de novos empregos com carteira assinada, que acabou com as privatizações, que descobriu o pré-sal e tirou mais de 30 milhões de brasileiros da rua da amargura.

Antonio Neto – presidente da CGTB
Wagner Gomes – presidente da CTB
Artur Henrique – presidente da CUT
Miguel Torres – presidente da Força Sindical
Jose Calixto Ramos – presidente da Nova Central

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Plebiscito Popular sobre a “Função da Terra”

De Mateus Zani

Entre os dias 01 e 07 de setembro de 2010, será realizado o Plebiscito Popular pelo limite da terra, com o objetivo de pressionar o Congresso Nacional para que seja incluído um novo inciso no artigo 186 da Constituição Brasileira, que trata da Função Social da terra, para limitar o tamanho máximo da propriedade em 35 módulos fiscais. Essa medida foi sugerida pela campanha do Fórum Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo (FNRA), que tem como objetivo conscientizar e mobilizar a sociedade brasileira sobre a importância de se estabelecer um limite para a propriedade da terra no Brasil, que é o segundo maior concentrador do mundo, perdendo apenas para o Paraguai. Peço aqueles e aquelas que concorda com o limite máximo para as propriedades rurais e com o fim dos grandes latifúndios no Brasil, que entre no site da “Campanha Nacional pelo Limite da Propriedade da Terra” para conhecer a campanha, ajudar na divulgação e participar do abaixo assinado pelo limite da propriedade da terra.

Mateus Zani, mestrando em Antropologia na UNICAMP e companheiro de lutas popualres aqui em Poços de Caldas.

domingo, 4 de julho de 2010

10 coisas que o eleitor saber sobre o vice de Serra

Vendido pelo Partido do Capital – a mídia oligopolizada – como relator do “Ficha Limpa”, Indio da Costa, embora tenha apenas 39 anos, já possui uma carreira política marcada por polêmicas e controvérsias. Na vida pessoal namorava a filha do banqueiro Salvatore Cacciola em 1999, por coincidência no mesmo ano em que o banqueiro deu um rombo de 1,6 bilhão de reais aos cofres públicos.

Mas, vejamos mais sobre Indio da Costa, o deputado do DEMO escolhido por Serra como candidato a vice:

1- Em 1997, primeiro ano do seu primeiro mandato como vereador, apresentou projeto de lei para punir os cariocas que dão esmola a pedintes. "Fica proibido esmolar no município, para qualquer fim ou objeto", sentenciava o texto. "Quem doar esmola pagará multa a ser definida." A proposta chegava a chamar a mendicância de "vício". Foi considerada inconstitucional e acabou numa gaveta da Câmara Municipal.

2- Ainda enquanto vereador carioca, tentou proibir o comércio ambulante das ruas, o que varreria da paisagem carioca as figuras tradicionais dos vendedores de mate e biscoito de polvilho.

3- Foi secretário municipal de Administração da Prefeitura do Rio de Janeiro entre 2001 e 2006 com o prefeito César Maia. Na época, Indio da Costa teve seu nome envolvido em suspeitas de fraude na licitação em merendas escolares compradas. Para investigar a denuncia formou-se uma CPI na Câmara Municipal do Rio onde ficou comprovado que o esquema de fraude previa vazamento de informações, que permitia a uma empresa apresentar os menores preços para a compra dos alimentos com valores superfaturados e o processo licitatório contemplava apenas ela na disputa. Ao findar os trabalhos a CPI pediu a responsabilização civil e criminal do ex-secretário de Administração que, de acordo com o relatório da vereadora Andrea Gouvêa Vieira (PSDB), comandou a licitação.

4- Indio defendeu, da tribuma da Câmara dos Deputados, um plebiscito sobre a pena de morte.

5- Intercedeu em favor do Banco Cruzeiro do Sul, de propriedade de seu primo Luís Octávio Indio da Costa, no recredenciamento de contratos junto ao Senado Federal. O banco foi envolvido nas denúncias contra o ex-diretor do Senado João Carlos Zoghbi e por isso acabou descredenciado.

6- Foi sub-relator da CPI dos Cartões Corporativos (a CPI da Tapioca), uma artimanha da direita farisaica com intuito exclusivo de desgastar o governo Lula e que, no final das contas, não chegou a lugar algum.

7- Disse que o governo parecia "beber cachaça" ao financiar tropas no Haiti enquanto o Brasil vivia uma "guerra civil".

8- Votou contra os projetos que visam à exploração do Pré-Sal.

9- Usou a tribuna da Câmara dos Deputados para defender a proibição de coxinhas e pirulitos em cantinas escolares.

10- O Partido do Capital o vende como relator do “Ficha Limpa”. A Lei flerta com o fascismo e autoritarismo tão admirados pela burguesia nacional e recebida como panaceia para nossos males e vícios políticos de uma democracia meramente formal. No entanto nem isso Indio da Costa foi. A redação final do “Ficha Limpa” aprovado na Câmara foi apresentado tendo como relator o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP).

sábado, 3 de julho de 2010

“Celeste Olímpica renasce" ou "Porque o futebol é esse esporte tão emocionante"

Surpreendente a campanha do Uruguai, a "Celeste Olímpica", nesta Copa. Numa chave onde a maioria apostava na França e no México como favoritos a avançarem para as oitavas de final, com os anfitriões sul-africanos correndo por fora, o Uruguai era tido e havido como o patinho feio. O Uruguai não só avançou como ainda por cima passou em primeiro lugar e invicto, além, de não ter sofrido nenhum gol na primeira fase e ter o melhor jogador do Mundial, o meia-atacante Fórlan.

Após bater a Coréia do Sul nas oitavas de final, protagonizou nessa sexta-feira, já pelas quartas de final, o jogo mais emocionante da Copa até aqui.

Diante da boa equipe de Gana o Uruguai saiu em desvantagem. Muntari chutando de longa distância no finzinho o primeiro tempo pegou o ótimo goleiro Muslera de surpresa. Todavia no inicio do segundo tempo Fórlan em cobrança de falta perfeita igualou o placar.

O jogo se manteve com boas chances para ambos os lados, contudo com a Celeste Olímpica jogando pouco melhor e pressionando mais. Mas o tempo regulamentar terminou empatado e a partida foi para a prorrogação.

Gana dominou boa parte da prorrogação, o Uruguai parecia não ter pernas e sua defesa sentia a falta do capitão Lugano, que teve de ser substituído após uma contusão. No derradeiro minuto uma bola levantada na área obrigou o artilheiro Luiz Suarez, dentro do gol, a interceptá-la com a mão. Expulsão do centroavante e penalidade máxima marcada pelo árbitro.

Suarez saiu chorando e seus compatriotas tentaram consolá-lo. Mas o consolo só veio quando, da entrada para o vestiário, viu Gian, o craque ganes, estourar o travessão na cobrança da penalidade.

Muslera beijava o travessão, agradecendo-o, enquanto o árbitro encerrava a partida que desta forma caminhava para as cobranças alternadas de pênaltis.

Forlan, Uruguai 1 a 0;
Gian, Gana 1 a 1;
Vitorino, Uruguai 2 a 1;
Apiah, Gana 2 a 2;
Uruguai, 3 a 2;
Mensah sem tomar distância deu a Muslera à oportunidade de defender a cobrança, Uruguai 3 a 2;
Pereira errou feio e chutou pro alto, Uruguai 3 a 2;
Muslera defendeu mais uma, a quarta cobrança de Gana.

Loco Abreu, de cavadinha, igual fez pelo Botafogo contra o Flamengo na final da Taça Rio, levou o Uruguai à outra semifinal de Copa depois de 40 anos.


sexta-feira, 2 de julho de 2010

Ganhou a melhor equipe

Até hoje em toda a história de Copas do Mundo, o Brasil somente em duas oportunidades havia sofrido um revez após abrir o marcador. A primeira no ‘Maracanazo’, a célebre derrota do Brasil perante o Uruguai na partida final do Mundial de 1950, em pleno estádio do Maracanã. Naquela oportunidade Friaça aos dois minutos do segundo tempo anotou o gol brasileiro, mas depois aos 21 e aos 34 da mesma etapa, respectivamente Schiaffino e Ghiggia silenciaram os 200 mil brasileiros que lotavam o Maracanã e deram o bicampeonato mundial a Celeste Olímpica.

O outro revez canarinho – aliás, a seleção brasileira adotou o uniforme verde-amarelo justamente após o ‘Maracanazo’ – ocorreu no mundial da França em 1998, numa partida contra a Noruega e que nada valia para os brazucas. O Brasil já estava classificado para as oitavas de final e garantira com antecedência o primeiro lugar na chave após duas vitórias e a combinação dos resultados dos demais integrantes. Bebeto anotou o gol brasileiro aos 33 da etapa final e pouco depois, aos 38 minutos, Tore Andre Flo empatou e já aos 43 minutos Rekdal, cobrando pênalti cometido por Júnior Baiano, virou para os noruegueses. A vitória acabou dando aos escandinavos a segunda vaga na chave.

No entanto, nessa sexta-feira a seleção brasileira sofreu sua terceira derrota por virada em Copas do Mundo.

Depois de um primeiro tempo onde o Brasil jogou o que ainda não havia jogado nessa Copa, tanto na marcação quanto na criação, abrindo o marcador logo aos 9 minutos, viu a superioridade técnica da equipe laranja sobrepujar a defesa verde-amarela no segundo tempo. Felipe Melo, contra, aos 8 minutos e Sneijder, de cabeça, aos 23 despacharam a equipe de Dunga.

Digo superioridade técnica holandesa porque odeio ufanismos. A Holanda é realmente superior ao Brasil. Ou caso você fosse presidente de um dos milionários clubes europeus e precisasse contratar reforços para a próxima temporada, contrataria Felipe Melo ou De Jong? Gilberto Silva ou Van Bommel? Luís Fabiano ou Van Persie? Alguém acha, de fato, Robinho melhor que Robben? Quem está em melhor condição técnica, Kaká ou Sneijder?

De resto, apenas aconteceu aquilo que todos previam – ah, como o futebol hoje em dia é tão previsível !!! – Felipe Melo entregando o ouro e sendo expulso, Kaká longe da melhor forma sem substituto a altura e um time, embora aguerrido, pouco criativo e desequilibrado emocionalmente – a cara do Dunga treinador.

Por falar em Dunga, preciso dizer algo. Nunca comunguei de parte da mídia alternativa e segmentos da esquerda que transformaram Dunga em herói nacional depois da briga deste com a Globo. No que pese todo o passado negro da maior rede de telecomunicação do país e Dunga, indubitavelmente, ter razão na refrega, o técnico da seleção brasileira não passa dum tremendo casca grossa ufanista, adepto do futebol pragmático cujos resultados privilegiaram jogadores de pouco técnica e discutível qualidade amarrados a um esquema tático covarde.

Mais, no imaginário de Dunga fica fácil confundir a seleção brasileira de futebol com a própria nação. Declarações histéricas do tipo: “Todos que estão na seleção brasileira estão preparados e prontos para se doar para o nosso país”;” Vai doer, nós vamos sofrer, nós vamos sangrar”, exacerbavam essa confusão.

Se um sujeito com este imaginário se torna herói da esquerda, é porque, realmente, muitos na esquerda brasileira andam sem rumo.