sábado, 29 de outubro de 2011

Livro -- Che Guevara - Política


Por Paulo Henrique Marçaioli, no Socialismo e Liberdade

Ernesto Che Guevara foi e é um dos mais conhecidos dirigente da revolução cubana junto a Fidel Castro e Camilo Centrifuegos.

A imagem de Che foi assimilada por um amplo número de pessoas por meio da disseminação de um certo senso comum que combina o engajamento político revolucionário com uma espécie de "romantismo de juventude". Estas mediações correspondem não só a relatos e a história das lutas populares do séc. XX narradas em forma de livros e filmes, mas, principalmente, pela Indústria Cultural e publicidade comercial.

A imagem de Che, sua boina, as longas barbas e olhar expressando alguma severidade referenciada pelo comprometimento político "hasta la muerte" pela revolução, nem sempre evidenciam e favorecem o entendimento do sentido e das implicações históricas do movimento rebelde de 26 de Julho, da revolução cubana em seus diversos momentos e da construção do socialismo dentro de condições adversas – isolamento comercial em decorrência do embargo norte-americano e mesmo a própria violência bélica do imperialismo sob o a América Latina durante o séc. XX. Na verdade, os estereótipos afastam-nos de um maior entendimento dos personagens históricos, particularmente quando as caricaturas servem antes para vender camisetas do que para saudar e reivindicar as ideias do dirigente de uma das maiores revoluções populares do século passado. (Maiores em termos tanto de participação popular e camponesa, sem a qual a revolução não sairia vitoriosa, quanto no sentido do seu significado político naquela conjuntura).

O desafio aqui é o de trazer a tona em primeiro lugar o significado político da imagem de "Che" como um "idealista" ou "romântico": tratar-se-ia de um "romântico" por ser também um inconseqüente ou sem os devidos "pés no chão". Ainda conforme a caricatura, a inspiração de Che apenas serviria de inspiração desde que a ação política seja circunscrita a um quadro domesticado – a "rebeldia" daquele estereótipo teria levado o "romântico revolucionário" à morte, o que, ainda segundo a construção ideológica, sinalizaria a inviabilidade do projeto revolucionário nos dias de hoje.

Poderíamos, finalmente, fazer menção à própria significação dada pela direita ao Che Guevara, como um assassino cruel e bárbaro, igualmente sinalizando a forma como a interpretação acerca do passado revela expectativas de futuro.

Seja como for, a assimilação da imagem de Che Guevara por meio da publicidade comercial, por si só, contradita a percepção anti-capitalista que perpassa os textos e a prática política de Che, particularmente atento à construção de novos valores e de um novo homem sob o socialismo. O que gostaríamos de pontuar para introduzir e convidar o leitor a conhecer os textos originais de Che Guevara é que as diversas mediações a partir das quais a imagem de Che e a história da Revolução Cubana foram difundidas (seja para fins comerciais, seja como forma mais ou menos consciente de isolar o conteúdo revolucionário daquele movimento e sua projeção atual) podem ter esvaziado politicamente algumas premissas do pensamento e da prática daqueles que lideraram a Revolução Cubana de 1959.

E é a partir de uma leitura atenta dos escritos originais de Che Guevara que o livro (editado pela Expressão Popular) pode contribuir para uma melhor definição do sentido histórico daquele movimento e da própria participação de Che na Revolução Cubana, fugindo-se dos esteriótipos ou das mediações que buscam isolar a atualidade do projeto revolucionário dentro da perspectiva da construção do socialismo. E, ao mesmo tempo, interpretando aspectos do socialismo em Che que, na nossa opinião, não se mostraram eficazes historicamente, particularmente a tese do "socialismo em um único país".

Leitura dos textos originais do 'Che'

A seleção dos textos coube ao importante ativista político brasileiro Eder Sader – líder estudantil, militante da Liga Socialista Independente (de orientação luxemburguista) e da Polop. A seleção dos textos buscou contemplar em certa medida a própria evolução/amadurecimento político de Che. O livro começa a partir dos relatos da experiência das guerrilhas, o papel do campesinato e a teoria da revolução baseada em focos (o "foquismo", como estratégia política que, como se sabe, foi igualmente praticada por organizações guerrilheiras da América Latina).

Há, posteriormente, alguns textos interessantes sobre o problema da indústria, da economia e do trabalho na Cuba pós-revolução. Após a tomada do poder político pelo movimento revolucionário e sua posterior adesão ao campo socialista, são relatados, por meio de polêmicas em torno de questões práticas, as enormes tarefas colocadas àquele grupo de dirigentes políticos: a transformação das bases de produção e do sentido do trabalho em Cuba e a construção de um novo homem.

Muitas das respostas dadas pelo movimento, soube-se depois, não lograram obter os resultados esperados. Apenas a vontade individual ou de um punhado de militantes não logra substituir um movimento real de massas ancorados numa transformação em nível mundial da economia, da política e da sociedade. Entretanto, a leitura dos textos de Che ainda nos interessa e muito, seja para assimilar melhor os erros (para não repeti-los), seja para assimilar a mística revolucionária daquela figura pessoal cativante, sem se deixar levar pelo senso comum e pelos mitos criados pela Indústria Cultural.

[SADER, Eder (org.). Che Guevara - Política. Ed. Expressão Popular]

Onde comprar: Livraria Saraiva, apenas R$15,00

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Argentina amanhece com presidenta reeleita e ambiente festivo

Via Prensa Latina

Ainda que todas as pesquisas de intenção de votos a apontavam como ampla favorita, quando ontem à noite foram revelados os primeiros dados oficiais que a situavam com mais de 53 por cento dos votos abriram-se as comportas da euforia nesta capital, cuja população foi em massa e espontaneamente à Praça de Maio para iniciar os festejos que se estenderam até as primeiras horas de hoje.

Os presentes na concentração, em abrumadora maioria jovens, viraram toda sua energia em fazer ondear um mar de bandeiras e cantar frases e canções alusivas ao momento histórico que estavam protagonizando.

A própria presidenta reeleita, que avantaja com mais de 36 pontos percentuais seu mais próximo adversário, o socialista Hermes Binner, agradeceu essas demonstrações de júbilo.

Considerou-as um respaldo a seu gerenciamento até agora, mas também ao que virá em seu futuro governo, e exortou a alegre massa juvenil a se organizar em todo o país "para defender a Pátria, os interesses dos mais vulneráveis e, fundamentalmente, para que ninguém possa lhes arrebatar o que conseguimos e o futuro de todos vocês".

A ovação que emanou após estas palavras foi seguida pela contagiosa música "Avanti morocha", que a presidenta cantou e dançou com o improvisado coro gigantesco na Praça de Maio, uma interpretação da banda de rock local Los Caballeros de la Quema, utilizada como tema da campanha por sua letra se adequar à figura da presidenta.

Depois da retirada de Fernández de Kirchner do improvisado palanque -a bordo de um grande caminhão batizado com o nome de Cristinamóvel- continuou o festejo com fogos de artifício e mais música até as primeiras horas desta madrugada.

Hoje, passada a euforia pelo sabor do triunfo, espera-se uma jornada de reflexão de todas as forças políticas sobre o resultado das eleições, devido à maneira arrasadora como a Frente para a Vitória da presidenta se impôs em quase todas as províncias, inclusive em Santa Fé, onde seu mais próximo rival, Binner, é governador.

Será o dia das apurações finais e de fazer as contas sobre a futura composição da Câmara de Deputados e do Senado, que com estas eleições serão renovados pela metade e um terço, respectivamente, motivo pelo qual a expectativa se centra na possibilidade de uma maioria no Congresso favorável ao próximo governo, quando a presidenta reeleita tomar posse no dia 10 de dezembro.

domingo, 23 de outubro de 2011

Música de Domigo – Cymbaline (Pink Floyd)

Fim de noite dum domingão de ENEM. Vamos relaxar com o psicodelismo latejante do Pink Floyd, mesmo que devendo a biografia da banda (como se alguém nunca tivesse ouvido o poderoso Floyd!!!)

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

"Ocupe Wall Street" e o MST juntos: ocupar, resistir e produzir um novo mundo

Por Janaina Stronzake, na página do MST

De Nova York/Estados Unidos



Em setembro de 2011, alguns jovens tiveram a idéia de acampar em Wall Street, uma rua de Nova York, famosa por abrigar as maiores corporações financeiras do mundo, para exigir que os financistas devolvam o que haviam roubado.

Eles não receberam muita atenção. E uns dias depois, a polícia tentou despejá-los. Foi quando os holofotes se voltaram ao grupo e então já era uma multidão de caras e vozes ocupando a praça.

Com a convocatória mundial para ocupações no dia 15 de outubro, vem um novo fôlego, com sindicatos e grupos organizados se juntando à ocupação. Talvez o “Occuppy Wall Street” não seja a maior ocupação do mundo, não tenha mais pessoas, talvez não seja a mais organizada. Mas é a que está no coração financeiro do capitalismo.

Na praça está proibido o uso de microfones. Quando alguém fala à assembleia, as palavras vão sendo repetidas pela multidão.

Quando o MST levou sua solidariedade ao povo mobilizado em Wall Street, centenas de vozes repetiram, com os punhos levantados: “ocupar, resistir e produzir”.
De certa forma, é esse o compromisso do MST e de todos os que ocupam Nova York: ocupar o mundo, resistir coletivamente e produzir outra cultura e um outro mundo.



Ali na praça, a voz é aberta. De um lado, um grupo de asiáticos e asiáticas batem tambores e parecem rezar. Do outro, tambores africanos ressoam durante todo o dia. À esquerda, dois homens distribuem panfletos enquanto entoam sem parar “ajuda para as pequenas empresas”. Mímicos, jornalistas, hippies, estudantes, desempregadas... Alguns descansam, outros fazem reuniões. E a cozinha coletiva no meio de tudo.

Há quem está ali porque deseja mais empregos. Há quem queira parar a onda neoliberal. Todas e todos querem o fim do capitalismo, por meio da quebra do mercado financeiro. Ouvimos um homem de mais ou menos 40 anos dizer “estou aqui porque não posso olhar meus filhos e dizer que não lutei”.

Ainda não se sabe exatamente o rumo que as ocupações, que se multiplicam por outras cidades nos Estados Unidos e no mundo, vão tomar. Uma assembleia soberana decidirá em algum momento esse rumo. Por enquanto, expressões diversas vão galvanizando desejos de um outro mundo.

Parabéns ao leitores do Dissolvendo No Ar

A ótima análise feita pelo Professor João Alexandre Moura sobre a conjuntura política em Poços está rendendo comentários intelectualmente ricos, claros e cheios de compreensão.

A mim só resta agradecer ao irmão e companheiros de lutas João Alexandre por ter me dado o privilégio de publicar em primeira mão o artigo que também apareceu na imprensa escrita da cidade.

Valeu João, um forte abraço!!!

Valeu leitores do Dissolvendo No Ar!!!

“Uma fonte de males nas democracias modernas é o fato de que a maioria do eleitorado não tem interesse direto ou vital na maior parte das questões que surgem.”

(Bertand Russel; Ideais Políticos, 1917)

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

A tragédia grega

Grécia: o banco ou a vida

Por Saul Leblon na Carta Maior

Luta-se nas ruas da Grécia nesse momento. Mais de 120 mil pessoas protestam nessa 4ª feira, no 1º dia da nova greve geral contra o novo pacote de arrocho arquitetado pelo governo Papandreu em parceria ou sob as ordens da troika (FMI, Comissão Européia e BCE). Não importa mais saber quem é a mão e quem é o laço: é o pescoço da sociedade que está sob garrote implacável. Chegou-se a um ponto na Grécia em que as nuances do conflito não contam mais. Luta-se pela vida.

E contra ela, dispostos a tudo, estão os bancos credores que já deram e dão provas de seu empenho para reduzir ao mínimo as perdas com títulos de uma dívida de 300 bi de euros, cujo deságio (calote) o mercado já precifica em 50%. No papel de pescoço encontram-se 80% da população, sendo que 16% já em regime de desemprego aberto; os demais em uma espiral descendente aflitiva e devastadora.

O fato incontornável é que o ajuste imposto pelos credores, longe de afastar a sociedade grega da ruína, a cada dia empurra-a mais e mais para um sangradouro material e subjetivo que o instinto obriga a rejeitar (leia entrevista especial com o deputado da Coalizão de Esquerda, Michalis Kritsotakis, nesta pág).

Dados divulgados recentemente pela prestigiada revista da área médica, Lancet, são eloquentes: a) de 2007 a 2009, o número de suicídios saltou 17% na Grécia ; de acordo com o próprio governo, a tendência acentuou-se no primeiro semestre , quando essa taxa subiu mais de 40%; b) os homicídios e roubos quase duplicaram entre 2007 e 2009; c) o consumo de droga, heroína, em especial, disparou; d) a prostituição cresceu; e) o número de infecções de HIV decolou.

A crise do neoliberalismo atingiu na Grécia seu ponto de mutação. Deixou de ser apenas uma doença econômica para se transmudar em peste social. Por isso se luta nas ruas nesse momento.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

Recém-libertado, um dos 'cinco cubanos' escreve a Fidel e diz que seguirá lutando

Via Opera Mundi

René González, um dos cinco cubanos presos nos Estados Unidos em 1998 sob a acusação de espionagem, escreveu ao ex-presidente de Cuba Fidel Castro dizendo que vai dar continuidade ao combate "ao qual vocês me convocaram".

"Para mim, agora esta é uma trincheira na qual darei continuidade ao combate ao qual vocês me convocaram e vou até o final, até que seja feita justiça, seguindo suas ordens, fazendo o que tiver que fazer", escreveu González.

A carta, que foi publicada hoje na imprensa cubana, foi escrita nos Estados Unidos, já que González não poderá voltar à ilha caribenha devido a uma sentença que o obriga a passar três anos sob liberdade assistida em solo norte-americano.

González foi preso em 1998, junto a Gerardo Hernández, Ramón Labaniño, Antonio Guerrero e Fernando González. Eles foram condenados em 2001 por espionagem e envolvimento no abatimento de dois aviões de um grupo opositor radicado em Miami.

As autoridades cubanas admitiram que os "cinco heróis", como são conhecidos no país, trabalhavam como agentes, mas afirmaram que sua missão era impedir atos terroristas contra o então presidente Fidel Castro e que não ameaçavam a segurança dos Estados Unidos.

Na carta, o cubano diz que a missão "não foi nada mais que a continuação de tudo o que vocês têm feito pelo resto da humanidade".

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Conjuntura Política em Poços de Caldas: partidos, nomes e especulações.

Pelo Prof. João Alexandre Moura Oliveira

Após o término do prazo de filiações partidárias no início do mês e toda a movimentação nos bastidores políticos, troca-troca e surgimento de partidos, já podemos começar a especulação de nomes e coligações partidárias para as eleições de 2012.

Tomarei como referencial destas especulações as notícias veiculadas pela mídia, conversas de bares, sala de professores, churrascos de final de semana, reuniões após o futebol, conversas de ônibus, redes sociais, eleições 2008 e 2010 e toda informação de leigos, corneteiros de plantão, políticos e analistas políticos desta cidade.

Com o registro de PSD e PPL pelo Tribunal Superior Eleitoral o Brasil passou a ter 29 partidos políticos, em Poços de Caldas segundo o site do TSE a cidade têm 23 partidos registrados na Justiça Eleitoral entre diretórios municipais e comissões provisórias. Observamos no site do TSE a não vigência das comissões provisórias de três partidos de oposição a atual administração o PCB, PSL e o PSOL, destaque para o último que em 2008 teve como destaque a candidatura de Waldir Inácio obtendo mais de quatro mil votos sendo um dos candidatos proporcionalmente mais bem votados do partido em Minas Gerais. Se caso estes partidos regularizarem suas situação junto ao Tribunal Regional Eleitoral poderão participar das eleições de 2012 normalmente.

Seria confuso listar conjuntamente todos os 23 partidos políticos de Poços de Caldas. Portanto subdividimos em três grupos (grandes, médios e pequenos) levando em conta a conjuntura municipal e não em escala estadual ou nacional, utilizamos o critério baseado em nomes de expressão, representatividade política e participação nas últimas eleições.

O grupo dos grandes partidos é composto por Democratas, PMDB, PPS, PSDB, PT e o PSD, este último nasce forte na cidade com nomes de expressão como os vereadores Dr. Rogério e Paulo Eustáquio e o Deputado e ex-prefeito Geraldo Thadeu. Podemos afirmar que estes seis partidos decidirão as eleições 2012?

Os partidos médios seriam quatro, formado por PTB dos ex-vereadores Lical e Dr. Cioffi, PC do B que caminhou sozinho em 2008, porém se posiciona como um aliado do PT em várias esferas políticas. O PSOL com uma provável candidatura alternativa como foi Waldir Inácio em 2008, apesar de que observamos o PSOL de Poços muito distante do PSOL Nacional que vem apresentando parlamentares questionadores e uma ampla campanha de combate a corrupção. O PSB talvez seja o fiel da balança quando falamos em forças médias da política local, além da vereadora Ciça, o mais novo filiado é o vereador Marcus Togni, especula-se até uma candidatura a prefeito, fato que poria o PSB como força alternativa em 2012.

Enquanto os pequenos partidos, provavelmente irão compor a coligação das forças articuladas entre os grandes e médios partidos com candidatos a câmara municipal e participação na gestão do grupo vencedor, muitos destes partidos exercem funções estratégicas no pleito principalmente agregando tempo ao horário eleitoral com destaques para o PDT, PP, PR e PV que certamente caminharão junto ao grupo da atual administração.

Pautando-se na tese que os grandes partidos decidirão as eleições do ano que vem podemos especular alguns nomes que serão os atores tanto para o executivo, quanto para o legislativo em 2012. Os Democratas (antigo PFL) têm toda uma história construída na cidade pelo ex-prefeito Sebastião Navarro e bons nomes em seu quadro com destaque para os vereadores Antônio Carlos Pereira, Urutu, Pastor Valdir, a vice-prefeita Gláucia e um trabalho de renovação que vem sendo feito em seu quadro liderado por Tiago Cavelagna. O embrião do PMDB nacional são seus diretórios municipais em Poços destacamos o presidente do legislativo Waldemar e o empresário Laércio Martins.

PT e PSDB que nos últimos 20 anos vem decidindo o futuro do país, serão peças importantes no tabuleiro político de Poços. Os tucanos através de seu maior articulador o Deputado Mosconi angariou bons nomes para seus quadros como Sérgio da Coopoços, Dr. Marcos Eduardo e Flavinho Togni que se juntarão a nomes como Jonei Eiras, Alvaro Cagnani e aos secretários Marcos Sansão e Maria Lúcia Mosconi. No Partido dos Trabalhadores novos nomes como do dentista Eloísio Lourenço e de duas Maria Claúdia, a primeira diretora de uma das maiores escolas do Sul de Minas (Colégio Municipal) e a segunda filha do ex-prefeito Paulo Tadeu merecem destaque. O ex-vereador Rogério Carillo e o próprio ex-prefeito Paulo Tadeu são forças dentro partido, mais a maior delas atualmente é do vereador Professor Flávio que têm um grupo de apoio muito forte no partido e nas organizações sindicais, base histórica da militância petista.


Por fim o PPS do atual prefeito Paulinho Couro Minas que perdeu dois vereadores (Marcus Togni e Dr. Rogério) tem o prefeito como seu principal articulador. Regina Cioffi é a força feminina no PPS que poderá ter Marlene Couro Minas disputando uma vaga no legislativo.

Algumas pessoas acreditam em duas fortes candidaturas para o executivo em 2012, uma ligada à situação (Paulinho Couro Minas) e outra ligada à oposição (PT e aliados), porém devemos levar em conta candidaturas alternativas como do PSOL ou de partidos pequenos que seriam interessantes para o processo democrático e fortaleceria o debate sobre os principais problemas da cidade. Devemos observarmos nos próximos meses a probabilidade de uma terceira via política, seja o PSD de Geraldo Thadeu, o PSB de Marcus Togni e Ciça, o PSDB de Mosconi, o retorno do DEM a cabeça de chapa ou até mesmo o PMDB. Ainda têm muita água sulfurosa pra jorrar nas fontes de Poços de Caldas até o dia 7 de outubro de 2012.

Quem viver verá, muitos agora irão negar, o tempo dirá, e, por favor, saibamos votar.

* O autor não é filiado a partido político.
* Cursou extensão universitária em Doutrinas Políticas Contemporâneas e Análises Políticas no Instituto Legislativo Brasileiro (ILB/Senado Federal).
* Atua como professor na rede privada na área de ciências humanas.
* Atua como gestor cultural no terceiro setor.
* Mestrando em Desenvolvimento Sustentável e Qualidade de Vida.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O transe de Aécio

Via Minas Sem Censura

Depois do registro da ombusdskinna da Folha de São Paulo, que reclamou por seus artigos autolaudatórios, Aécio Neves assina um outro tipo de texto nesta segunda-feira, 10 de outubro de 2011.

Até o estilo muda: frases e expressões como, a padroeira “parece singrar suavemente sobre o mar de cabeças devotas”, “eletricidade emocional”, “conversível branco com estofamento de couro vermelho” e outros tró-ló-lós indicam a pretensão, aeciana, de se credenciar à Academia Brasileira de Letras. Que não anda lá muito criteriosa assim. Mas esse é outro assunto.

O cenário da prosa de hoje teria ocorrido durante a procissão de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém, 1984. Nela, Tancredo dividia com Nossa Senhora, as atenções da multidão, segundo o neto em transe. Que formava um cordão com mais de um milhão de pessoas, em torno do Aero Willys onde estavam, “agasalhados pelo afeto da multidão”, ele e o avô. Insinua ele que a multidão o reconhecia e o “agasalhava”. Risível pretensão. Detalhe: eram mais de dois milhões de pessoas a pé, sendo impossível o “desfile” em carro aberto, que só ele viu!

Ah, a multidão, segundo o texto, saudava Tancredo como o “presidente da redemocratização”, numa campanha que “arrebatava corações e mentes dos brasileiros”. Aécio funde, de forma leviana, a assassinada campanha pelas “Diretas Já”, com o início titubeante da “campanha” pelos votos no restrito colégio eleitoral. Registre-se: a intensa devoção no Círio de Nazaré sempre acolheu manifestações políticas: em 1985, as duas que pontificaram foram pela reforma agrária e contra a discriminação racial. A manifestação política pró-Trancredo ocorrera no Sindicato dos Estivadores, à margem do evento religioso.

Mas, vamos lá. A gororoba de seu escrito é para dizer que Tancredo abdicaria de toda aquela “popularidade”, em nome das reformas estruturais, algumas delas antipáticas que teria que fazer, mas que distinguiriam o estadista. Aquele que não se rende a interesses paroquiais. Como quem recebe um espírito, ele foi longe buscar uma frase antes inaudita, do avô.

A escorregadela advinda da referência depreciativa às paróquias, em meio a um artigo tão cheio de fé e religiosidade, é perdoada. Ato falho de quem usa e abusa da fé alheia para introduzir seu sermão político.

Ao final, ele insinua que Dilma não é estadista. Que ele aprendeu a lição do avô. Logo, ele seria estadista. Silogismo aristótélico de primeiro grau.

Primeiro, ele poderia dizer qual medida antipopular que Tancredo adotou em Minas Gerais, abdicando de sua popularidade, que aliás só ocorrera em face de sua agonia e morte trágica. Em dois anos de seu governo (1983/84), nenhuma ousadia foi cometida. Tancredo não era dado a ousadias.

Em segundo, falando de interesses paroquiais, ele poderia descrever o porquê de ter nomeado como presidente da CODEMIG em Minas Gerais, o dono do jatinho que fica à sua disposição, ou as nomeações de Papaléo Paes (AP), Jungmann (PE), ou Wilson Santos (MT) como “aspones” em empresas públicas mineiras. Isso sem falar em dezenas de “fichas-sujas” impostos ao governo de seu sucessor, sendo que alguns deles condenados, outros com bem indisponíveis, alguns presos e muitos outros sob investigação.

Achando que sua historiografia farsesca passará impune, Aécio tenta se apresentar como “líder” político desde 1985. Chegou a bancar um documentário, que foi retirado do ar da TV Cultura de São Paulo, onde ele era apresentado como líder da juventude nas Diretas-já (SIC). Na verdade, à época, ele liderava boas festas em Belo Horizonte. Elegeu-se no rastro da comoção pela morte do avô. Deputado-surfista, nunca propôs as reformas ousadas que ele agora diz serem necessárias. Como governador sucateou o estado de Minas Gerais, que se afunda numa dívida de 70 bilhões!

Seus artigos cifrados e criptografados dizem, para poucos que entendem, o seguinte: eu acabarei com direitos trabalhistas, férias anuais, passarei a aposentadoria para os 70 anos, liquidarei a estabilidade de servidores públicos concursados, venderei o BB, a Caixa e a Petrobrás etc. É isso que resta aos “estadistas” neoliberais!

Eis o recado subliminar que ele manda à agiotagem financeira, às grandes construtoras, aos usineiros, ao FMI e similares. De quem pretende ser pároco.

sábado, 8 de outubro de 2011

UDN = ARENA = PDS = PFL = DEM = PSD

Kassab ressuscita o Pefelê com o PSD


Por Renato Rovai no seu blog

A eleição de Lula em 2002 fez com que boa parte das oligarquias que se organizavam em torno do PFL tivesse de ir para a oposição. Algo inédito, pelo menos desde 1964. Afinal, o PFL saiu da costela do PDS para criar a Aliança Liberal, que construiu a vitória de Tancredo Neves contra Paulo Maluf.

Antes disso, durante toda a ditadura, os pefelistas estiveram no poder,como Arena e depois PDS. Quando o governo Sarney começa a fazer água, o PFL não se intímida. Fica até o final do mandato e lança Aureliano Chavez à presidência,rompendo com o PMDB que foi às urnas com Ulisses Guimarães.

Mas a candidatura de Aureliano não era para valer. E os líderes do PFL sabiam disso. Alguns tentaram, com a anuência de Sarney, lançar o apresentador Silvio Santos. Mas boa parte foi para a canoa da campanha de Fernando Collor. Avistando no líder alagoano a possibilidade de continuar na situação e no governo. O que aconteceu.


O governo Collor dura pouco, mas o PFL participou ativamente daquela “empreitada”. Sendo que o ex-senador Jorge Bornhausen, que agora leva seu grupo político para o PSD, foi o principal ministro do final do período final da era Collor.

Com a posse de Itamar Franco o PFL se mantém no poder.E depois fecha uma aliança com o PSDB,indicando Marco Maciel para vice de FHC.

Com a chegada de Lula à presidência, os pefelistas imaginavam que iriam ter um pequeno tempo de férias, mas que em breve voltariam ao centro do poder nacional por conta da inexperiência do petista.

Até por isso em 2005, os pefelistas foram os mais raivosos na cruzada para derrubar Lula. Fizeram política com sangue na boca e o mesmo Bornhausen chegou a decretar que “era o fim dessa raça”, no caso, do PT e dos petistas. A tentativa de criar um clima de impeachment não deu certo e o pior (para eles) aconteceu. Lula se reelegeu e depois veio Dilma.

Nesse interim o PFL ainda mudou de nome para ver se conseguia recuperar a imagem e se adaptar aos novos tempos.

Mas o DEM nasceu como um partido de oposição ao governo. E isso não resolveu o problema daqueles que sempre estiveram no poder.

Kassab percebeu que havia um vácuo. E como em política não há vácuo nem espaço vazio ele decidiu criar um partido pronto para ser situação.

Em todos os lugares. Independente de quem estivesse no governo.

Esse é o grande poder de atração do PSD, que está aliado em todas as partes com aqueles que são governo. Independente se os governos são liderados por petistas, tucanos, peemedebistas ou por gente de qualquer outro partido.

Kassab recriou o PFL. Um partido que não é de centro, nem de direita e nem de esquerda. É de governo.No estilo mais fisiologista possível.

O PSD não veio para acabar com o DEM. Engana-se quem pensa assim.
Ele nasce para rescussitar o PFL.

Isso pode ser conjunturalmente bom aqui ou ali. E até para o atual governo federal parece que vai ajudar a ampliar a base. Mas para o país e para a qualidade da nossa política partidária é péssimo.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Maringoni: Quando a política vira coisa “técnica”

Por Gilberto Maringoni, via Carta Maior


A virtual quebra da economia grega representa o grau máximo de submissão de uma autoridade pública aos ditames do mercado. Ou seja, ao mundo privado. Embora as relações de troca se deem na esfera pública, suas regras, dinâmicas e procedimentos acontecem a partir daquela pequena mas poderosa parcela da sociedade que concentra capital e, por conseguinte, poder.


O governo grego, capitaneado por um partido que tem a denominação de “socialista” – o que hoje não significa muita coisa – resolveu tomar lado no dilema colocado à sua frente. Se suspendesse os pagamentos do serviço de sua dívida pública, estaria ameaçado de sofrer uma retaliação brutal por parte dos bancos credores – em sua maior parte europeus – e de ser tratado como um pária no sistema financeiro internacional. Uma espécie de leproso da Idade Média, de quem nada ou ninguém quer se aproximar e muito menos oferecer linhas de crédito.

Uma escolha soberana desse tipo teria também efeitos devastadores para a economia européia. Uma moratória ou default por parte do país, além de arrastar bancos franceses e alemães, contaminaria toda a zona do euro (na dupla acepção do termo) e poderia dizimar a credibilidade da moeda única, dizimando economias maiores que enfrentam problemas fiscais de difícil solução.

O governo grego tomou a não decisão: aceitar todas as exigências das autoridades monetárias européias e dos bancos credores. Arrebentarão o país, mas serão reconhecidos como bons pagadores.

O bom senso da rendição
Entre as duas opções, a administração de George Papandreou escolheu a alternativa tida como a mais sensata. Na novilíngua global, bom senso quer dizer render-se às circunstâncias ou caminhar passivamente para o matadouro (apesar das multidões não quererem isso).

Alguns governos europeus, de esquerda e de direita, trafegam pela mesma senda diante do tsunami da crise. A administração de José Luis Zapatero, na Espanha, chegou ao cúmulo de pretender colocar uma apertadíssima meta de déficit público na letra da Constituição, para se adequar às orientações do sistema financeiro.

Um ponto tem unido governos de distintas colorações: arrocho fiscal, redução do papel social do Estado e absoluta prioridade ao atendimento das demandas do mercado. Cada vez mais se buscam “consensos” que tornam as ações econômicas de distintos partidos no poder quase indiferenciadas entre si.

Neutras e limpas
A justificativa para o grande público é que as medidas adotadas seriam “técnicas” e nada teriam a ver com a esfera política. Algo semelhante ao que é decidido nas reuniões do Copom, do Banco Central brasileiro. Elevações estratosféricas das taxas de juros seriam decisões tomadas por um pessoal especializado que não se deixa dominar pelas paixões da política. Paixão, todos sabem, é aquela força estranha, algo irracional, que nos deixa em estado catatônico e nos faz pensar o dia inteiro na pessoa amada.

Opções técnicas seriam feitas em ambientes neutros, limpos, de pura racionalidade, quase esterilizados, repletos de indicadores, estatísticas, balancetes e várias engenhocas de última geração. A decisão seria tão isenta quanto trocar o pneu furado de uma bicicleta.

O reino da política, por sua vez, seria sujo, cheio de interesses inconfessáveis, corrupto, parcial e tocado por gente da pior espécie. Se fosse num filme, poderia ser retratado como um local esfumaçado, repleto de vícios, drogas, álcool e negociatas variadas. Pior ainda se fosse contaminado pelo vírus da ideologia, essa praga que só serve para confundir as coisas e evitar que se faça o que tem de ser feito. Aliás, este era o slogan da campanha de Mario Covas (PSDB-SP) à reeleição para governador, em 1998: “Fazendo o que tem que ser feito”.

A diretriz tecnicista é tão óbvia e de fácil entendimento, que costuma se tornar popular. Por isso, o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, gerou enorme empatia ao dizer que seu novo partido, o PSD. Ele “não é de direita, nem de esquerda e nem de centro”. É uma agremiação que fará o que tem de ser feito, um partido sem esse vício pernicioso da política. Um partido técnico, enfim.

É a política, é a política!
Poucos se aventuram atualmente a investir contra esse cipoal de meias verdades tecnicizantes.

Um deles é o ex-presidente Lula. Ele disse, durante a solenidade em que recebeu o título de doutor honoris causa do Instituto de Estudos Políticos de Paris, no último dia 27, que a crise econômica se resolve essencialmente no terreno da política. "A hora não é de negar a política, e sim fortalecê-la”, completou ele.

A frase toca num dos pontos mais caros aos conservadores e às lideranças políticas que buscam justificar medidas impopulares. Para eles, cortes orçamentários, restrições salariais, taxas de juros estratosféricas, entre outras iniciativas, seriam medidas “técnicas”, não “contaminadas” pelas “paixões políticas ou ideológicas”. Age-se como se existisse uma economia desprovida de ganhadores e perdedores, algo distante do arbítrio das decisões humanas.

História antiga
A distinção entre a política e medidas tidas como técnicas não nasceu com os ultraliberais de hoje. Como dizia o ex-governador Leonel Brizola, essa formulação vem de longe.

Uma das principais referências teóricas do pensamento conservador em economia é o Tratado de Economia Política, escrito pelo francês Jean-Baptiste Say (1767-1832),. Escrito em 1803, o trabalho é tido como um dos pilares do liberalismo. Say é um seguidor de Adam Smith (1723-90).

Say coloca no papel teses que se tornaram caras aos liberais ao longo dos séculos, como, por exemplo, a completa separação entre economia e política:

“Durante muito tempo, confundiu-se a Política propriamente dita, a ciência da organização das sociedades, com a Economia Política, que ensina como se constituem, se distribuem e se consomem as riquezas que satisfazem as necessidades das sociedades. Entretanto, as riquezas são essencialmente independentes da organização política. Desde que bem administrado, um Estado pode prosperar sob qualquer forma de governo”.

Em certa medida, é o que o economista liberal brasileiro Eugenio Gudin (1886-1986) defende em 1938, em um texto chamado Aspecto econômico do corporativismo brasileiro. Ali ele comenta a história do capitalismo nos séculos XIX e XX:

“Quem acompanhou a marcha e a evolução do chamado regime capitalista de 1875 a 1914, até rompimento da Guerra Mundial, constatou que o enriquecimento geral prosseguia seu ritmo natural e benéfico, a difusão de capitais se processava com regularidade, as condições de trabalho melhoravam por toda parte, o comércio internacional melhorava todos os anos. E se guerra houve, foi inteiramente gerada pelas paixões e ambições políticas e militares e em que os fatores econômicos menor papel representaram, essa foi a guerra de 1914, que desencadeou sobre o mundo uma das maiores crises econômicas da história”.

Gudin também separava economia de política. O conservadorismo vê a sociedade formada por partes estanques entre si.

Desconfie dos técnicos. O Brasil de 1964 estava cheio deles. Eram todos apolíticos, mas não vacilaram em aderir ao golpe triunfante e compor a tecnoburocracia da ditadura. Hoje encastelam-se no sistema financeiro, têm colunas na imprensa e continuam defendendo privatizações, desregulamentações, superávits primários, arrochos variados e recomendando fazer o que tem de ser feito.

Todos são sensatos, isentos e recionais. Longe da sujeira da política.


Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).


sábado, 1 de outubro de 2011

Pochmann: Somos um país de cultura autoritária, com 500 anos de história e menos de 50 anos de vivência democrática

Via site da UFPR

O economista Marcio Pochmann, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), classificou ontem à noite em Curitiba como “heróis” os brasileiros de famílias pobres capazes de conciliar o trabalho com o estudo.

“No Brasil, dificilmente um filho de rico começa a trabalhar antes de terminar a graduação ou, em alguns casos, até mesmo a pós-graduação”, observou Pochmann.

“Os brasileiros pobres que estudam e trabalham são verdadeiros heróis. Submetem-se a uma jornada de até 16 horas diárias, oito de trabalho, quatro de estudo e outras quatro de deslocamento. Isso é mais do que os operários no século XIX.”

O presidente do Ipea foi um dos palestrantes na abertura da terceira edição do Seminário Sociologia & Política, ao lado da professora Celi Scalon (UFRJ), no Teatro da Reitoria da UFPR. “Repensando Desigualdades em Novos Contextos” é o tema geral do seminário. Promovido pelos programas de pós-graduação em Sociologia e em Ciência Política da instituição, o evento termina nesta quarta-feira (28).

Pochmann lembrou que o Brasil levou cem anos, desde a proclamação da República, em 1889, para universalizar o acesso das crianças e adolescentes ao ensino fundamental. “Mas esse acesso foi condicionado ao não crescimento dos recursos da educação, que permaneceram em torno de 4,1% ou 4,3% do PIB. Sem ampliar os recursos, aumentamos as vagas com a queda da qualidade do ensino.”

Essa universalização do ensino fundamental, no entanto, não significa que 100% dos brasileiros em idade escolar estejam estudando. Segundo dados apresentados pelo dirigente do Ipea, ainda existem 400 mil brasileiros com até 14 anos fora da escola. Se essa faixa etária for estendida para 16 anos, a cifra salta para 3,8 milhões de pessoas.

“A cada dez brasileiros, um é analfabeto. E ainda temos cerca de 45% analfabetos funcionais. É muito difícil fazer valer a democracia com esse cenário.”

Em sua fala, Marcio Pochmann também abordou temas como a redução da taxa de fecundidade das mulheres brasileiras, o crescimento da população idosa, o monopólio das corporações privadas transnacionais e a concentração da propriedade da terra.

“O Brasil não fez uma reforma agrária, não democratizou o acesso à terra. Temos uma estrutura fundiária mais concentrada do que em 1920, com o agravante de que parte dela está nas mãos de estrangeiros”, afirmou o economista. “De um lado, 40 mil proprietários rurais são donos de 50% da terra agriculturável do país, e elegem de 100 a 120 deputados federais. De outro, 14 milhões trabalhadores rurais, os agricultores familiares, elegem apenas de seis a dez deputados.”

Para Marcio Pochmann, a desigualdade é um produto do subdesenvolvimento. “Não que os países desenvolvidos não tenham desigualdade, mas não de forma tão escandalosa.”

Nem revolucionário, nem reformista

Segundo o presidente do Ipea, a participação dos 10% mais ricos no estoque da riqueza brasileira não mudou nos últimos três séculos. Permanece estacionada na faixa percentual em torno de 70 a 75%.

“Somos um país de cultura autoritária, com 500 anos de história e menos de 50 anos de vivência democrática. O Brasil não é um país reformista e muito menos revolucionário”, sentencia Pochmann. “A baixa tradição de uma cultura partidária capaz de construir convergências nacionais nos subordina a interesses outros que não os da maioria da população.”

Marcio Pochmann afirmou que os ricos não pagam impostos no Brasil. “Quem tem carro, paga IPVA. Quem tem lancha, avião ou helicóptero, não paga nada. E o ITR [Imposto Territorial Rural] é só pra inglês ver”, exemplificou. “Quem paga imposto no Brasil são basicamente os pobres.”

Um estudo do Ipea teria demonstrado que os moradores de favelas pagam proporcionalmente mais IPTU do que os brasileiros que vivem em mansões. “Quem menos paga é quem mais reclama de imposto. Tanto que impostômetro foi feito no centro rico de São Paulo.”

Pochmann observa que o tema das desigualdes não gera manifestações, não gera tensão. “Não há greve em relação às desigualdades.”

Trabalho imaterial

Na avaliação de Márcio Pochmann, a sociedade mundial está cada vez mais assentada no que ele chama de “trabalho imaterial”, associado a novas tecnologias de informação, como aparelhos celulares e microcomputadores. “O trabalhador está cada vez mais levando trabalho pra casa.”

Essa sociedade do trabalho imaterial, conforme o dirigente do Ipea, pressupõe uma sociedade que tenha como principal ativo o conhecimento. “Pressupõe o estudo durante a vida toda, e o ensino superior apenas como piso.”

Pochmann criticou ainda a forma como a comunidade acadêmica tem tratado o tema das desigualdades no país. “O tema tem sido apresentado de forma muito descritiva e pouco de enfrentamento real e efetivo. Em que medida a discussão está ligada a intervenções efetivas, a políticas que possam de fato alterar a realidade como a conhecemos?”

Na avaliação dele, a fragmentação e a especialização das ciências sociais aprofundariam o quadro de alienação sobre o problema das desigualdades.

“As pesquisas não mudam a realidade. Quem muda a realidade é o homem. Agora, as pesquisas, as teorias mudam o homem. Se mudarem o homem, ele muda a realidade. Nada nos impede de fazer isso, a não ser o medo, o medo de ousar.”