Por Tiago Barbosa Mafra
Chávez surgiu no cenário
abruptamente, contrariando Fukuyama ao mostrar que nem todos aceitavam que o
“fim da história” chegara e querendo combater a bula neoliberal do Consenso de
Washington. A tentativa frustrada de golpe o projetou politicamente e as vias
democráticas o levaram ao cargo mais alto da Venezuela após várias décadas de
entreguismo, subserviência e ausência de uma política de soberania real.
As ações tomadas sob comando
de Hugo Chávez após uma década realmente perdida na América Latina sobre as
orientações das corporações, bancos e arautos do livre mercado, simbolizavam
que o modus operandi tido como
obsoleto após o fim da Guerra Fria estava mais vivo do que nunca. Tomavam corpo
novamente a partir de fins dos anos 1990 conceitos e propostas outrora deixados
de lado. Voltava à tona o povo, a participação popular, o combate à
desigualdade, o imperialismo, a soberania, a cooperação entre os povos e a
possibilidade de uma tão sonhada unificação entre os países da América, pensada
por Bolívar há mais de 150 anos.
Tendo Cuba como referência,
Fidel como mentor, Bolívar como inspiração, Chávez era tido como um ser
anacrônico, apegado a modelos e pensamentos já superados. O determinismo do
livre mercado era inquestionável, o capitalismo indestrutível. Aos poucos o
Tenente Coronel Chávez mostrou ao mundo que outra via era possível e construiu
em seus 14 anos de liderança da Venezuela um exército poderosíssimo de líderes
progressistas que adotaram uma linha de ação que colocou em cheque a supremacia
estadunidense e o modelo econômico da América do Sul.
É por isso, que a vitória e
a permanência dele no poder é a representação de um descontentamento, um
inconformismo que tomou conta de uma terra por tanto tempo explorada.
A partir dele e com ele,
surgem grandes líderes que ainda hoje mostram a possibilidade de um caminho
econômico e social diferente para o mundo. Evo, Mujica, Kirchner, Lugo, Correa,
Humalla, Ortega, Lula, Dilma. Todos fazem parte dessa corrente de renovação.
Por isso, o presidente Hugo
Chávez não pode e nem deve ser analisado meramente como populista ou figura
isolada de um socialismo personificado. É ao contrário disso, um dos líderes
mais expressivos e corajosos de um tempo que não sabe lidar com o que é controverso
e que pune o contraditório com uma mídia deformadora da visão real da estrutura
de poder.
Com Chávez a desigualdade
diminuiu através dos programas distributivos de renda, fazendo o PIB per capta
ir de US$ 3.800 (1998) a US$11.000 (2012). A pobreza extrema caiu de 20% para
7% e o desemprego de 11% para 8%. Na economia, apesar da dependência do
petróleo, a Venezuela se firmou no cenário internacional. Numa década em que o
preço do litro do petróleo foi de 24 dólares (2002) a 110 dólares (2012), o
presidente canalizou cada vez mais fundos da PDVSA (estatal do petróleo) para
os programas sociais, chegando a 39 bilhões no último ano.
No campo internacional, fez
grandes inimigos como os EUA, mas também consolidou muitas parcerias. Garantiu
subsídio ao petróleo para Cuba, com quem trocava por médicos, apoiou a
Nicarágua e subsidiou também a distribuição de petróleo nesse país, aumentou o
comércio com o Brasil em 575%, comprou títulos da Argentina para combater os
períodos de crise, aprofundou relações com o Irã na geopolítica
anti-estadunidense, ganhou força dentro da OPEP, suspendeu relações com Israel
frente às atrocidades cometidas contra os palestinos, além de aprofundar
relações comerciais com a China e militares com a Rússia.
Por isso Chávez incomoda
tanto e é tão desmoralizado pela grande mídia através de alcunhas de ditador,
populista, caudilho ou coisas do gênero, porque representa um outro modelo de
sociedade, uma outra proposta de organização da economia, uma via não prevista
pelo fim da história. Chávez acabou, mas a ideia está mais viva que nuca. Hasta
Simpre Comandante!
Tiago Barbosa Mafra é
professor de geografia na rede municipal de ensino e coordenador do pré
vestibular comunitário Educafro.
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