Por Tiago Barbosa Mafra
Cercas, muros quilométricos, escassez de produtos básicos à sobrevivência, racionamento de energia elétrica, controle sobre a água, barreiras de contenção e checkpoints para monitorar as movimentações da população. Somadas à dominação territorial e à intolerância, parece um descritivo da situação europeia no ápice da II Guerra Mundial. Mas não é. As táticas são parecidas, mas as vítimas de ontem são hoje os algozes e cada empecilho à uma vida digna citado acima nada mais é do que parte do retrato cotidiano das últimas seis décadas da vida dos palestinos, massacrados em um território descontínuo, mas unidos pela repressão, violência e genocídio aplicados à Cisjordânia e a Gaza.
Mais uma vez, o Estado de Israel e suas forças armadas assassinas avançam implacavelmente sobre Gaza, assassinando indiscriminadamente a população, bombardeando hospitais e escolas e contando com apoio das potências ocidentais, a inoperância da ONU e o silêncio do mundo.
Corpos destroçados, espalhados, crianças ensanguentadas, a chuva de fósforo branco (banido desde 1980 - Genebra) nos céus de Gaza. Imagens e vídeos que correm o mundo graças às possibilidades do fluxo das notícias, que ampliam tanto nosso arcabouço de informações quanto nosso sentimento de impotência frente a mais uma incursão genocida, dentre tantas já perpetradas na Palestina.
Edward Said já dizia: “O mais difícil é ser a vítima das vítimas”. Mais uma vez a frase se materializa.
No prefácio do livro “Os condenados da Terra”, Sartre diz que tem “a esperança como sua concepção de futuro”. As cenas recorrentes do massacre em Gaza, mais uma vez escancaradas ao mundo durante a nova ofensiva, fazem com que até mesmo a esperança na humanidade se esvaia frente ao espetáculo da barbárie.
A vida nada mais vale. Mas o mercado bélico se aquece. Impedidos de ser, de simplesmente existir, os palestinos agonizam mais uma vez enquanto suas escolas, casas, hospitais são bombardeados com uma arma letal proibida pelas convenções internacionais. Mas não há convenções, não há nada que pare Israel e sua máquina militar. Além de ocupar os territórios numa escalada gradativa, os sionistas dão, de tempos em tempos, a mostra de que aprenderam bem com os nazistas o que significa a blitzkrieg.
E sempre “cede” e “cessa”, quando a matança começa a gerar mal estar. Então para, se retira, os holofotes se apagam no dinamismo da informação globalizada, e mais uma vez a Palestina respira, espera, agoniza, em destroços, uma vez mais como inúmeras outras nos últimos 60 anos. O “exército da paz” se vai enquanto os “terroristas” do Hamas podem voltar tranquilamente a maquinar o fim de Israel.
Enfim, tem dias que são de descrença na humanidade, que tiram o sono, a utopia, a força, a vontade. Hoje a esperança morreu um pouquinho, junto com os mais de 80 palestinos já assassinados. Dois terços dessas vítimas são mulheres e crianças. Hoje só resta lembrar o maluco beleza: “Tem dias que a gente se sente, um pouco talvez menos gente”.
Tiago Barbosa Mafra é professor de Geografia na rede pública municipal de Poços de Caldas e membro do pré vestibular comunitário EDUCAFRO.
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