Por
Ana Paula Ferreira
É muito comum na mesma área de trabalho haver
pequenas rivalidades, dissabores, ausência de diálogo entre profissionais.
Exemplificando o campo da educação que é o terreno onde piso, há certo mal
estar entre professores da lei 100, os concursados e os designados. Em termos
municipais há a incoerente diferença salarial entre as professoras regentes de
turma do Ensino Fundamental I (quase todas com nível superior) e os professores
regentes de aula, os PII, que provoca comparações e cria espaço para uma
hierarquia simbólica onde na verdade ela não existe. Nesse cenário nos aprisionamos
em nossos afazeres cotidianos e nos impossibilitamos de superar os percalços da
educação.
Quantos de nós já não ouvimos: “Fecho a porta
da sala e faço o meu trabalho”? Não quero dizer com isso que o professor dessa
linha de pensamento não faça um bom trabalho pedagógico, mas se nega a
aprofundar o que a educação nos mostra ser: um caminho para nos libertarmos em
comunhão.
Liberdade consiste em ter tempo livre; em não
precisar ser escravo de dois ou três períodos para lecionar diante da miséria
salarial; de termos dinheiro suficiente para o lazer; para além de educarmos os
filhos de outros, termos tempo para nossos filhos; tempo livre para formação
política para sabermos de nossos direitos e não só dos deveres.
Seríamos então livres diante da ditadura de
uma sociedade que sucateia o trabalho docente ao ponto de lhe cercear a
produção intelectual e transformá-lo em mero executor de programas? Estaríamos
exercendo a liberdade ao sermos obrigados a trabalhar dois turnos ou mais
diante do peso das responsabilidades financeiras contrastando com salários
insuficientes?
Se os problemas entre os professores não são
individuais, mas marcas de uma categoria, o posicionamento de embate deve ser
de um coletivo como expressão de um grupo que não apenas ensina conteúdos, mas
ensina com o exemplo da luta.
Ser educador é acreditar em mudança! Ser
educador é criticar quando necessário, mostrando que a contradição que dinamiza
o processo, embora a não concordância para aqueles que ocupam o poder cause um
mal-estar.
Queremos liberdade não a conta-gotas,
queremos mais tempo para o lazer, para o estudo, para formação humana e
profissional. Temos a lei 11.738 que nos ampara! Temos o PNE que pontua em uma
de suas metas a equiparação salarial do docente com outros profissionais que
tenham curso superior.
Para exercermos a liberdade de escolha por um
cargo apenas de 30hs – tal qual a proposta do Executivo - precisamos de um
salário realmente compensatório, pois caso contrário é nos aprisionarmos nas
amarras financeiras. Ninguém quer cansar de trabalhar! Precisamos! E talvez
representantes políticos fechem os olhos para isso.
Não há processo de libertação se não for para
todos. Por isso, o projeto encaminhado pelo Executivo municipal de Poços de
Caldas não satisfaz haja vista que em termos concretos beneficia só uma parcela
dos profissionais da educação. Faz parte da prática dominante o “dividir para
conquistar”! Mas, perante isso, que não nos rendamos a discursos mesquinhos e
individualistas, principalmente daqueles que já se beneficiaram uma vez da
redução da carga horária e hoje novamente querem fazer esse movimento. Que
continuemos na luta para que a educação deixe de ser mero discurso político em
época de eleição e passe a ser atenção verdadeira daqueles que nos representam.
Ana Paula Ferreira é Pedagoga
e mestranda em Educação pela UNIFAL.