Uma nova ordem mundial findando o período de absoluta hegemonia estadunidense começa a ser desenhada no ar. Embora ainda não saibamos de fato qual será a correlação de forças nesse século que nem viu sua primeira década passar, é certo que o mapa geopolítico está sendo redesenhado, trazendo novidades diante daquele perdurado entre o colapso da antiga URSS e a invasão do Iraque. Novas forças emergem nesse cenário e sobem ao palco como protagonistas. Uma é sem dúvidas a China, que deu a luz à bisonha combinação entre capitalismo de Estado e competitividade comercial a qualquer custo, onde a burocracia colocou o Estado a serviço do capital privado e constrói uma economia sustentada na exportação de produtos industrializados relegando a sua enorme população condições de trabalho similar aos primórdios da revolução industrial. Sem deixar de lado, claro, a repressão política e o cerceamento as liberdades individuais. Outra, é a União Européia, desunida, vacilante, dúbia, claudicante, cínica e ainda tendo de livrar-se das sabotagens partidas do outro lado do Canal da Mancha. Outro ator de peso nesse novo cenário geopolítico é a Rússia. Após duas décadas de silêncio e resignação vendo sua antiga esfera de influência esfacelar-se – como no caso da Iugoslávia – ou ser assaltada por forças ocidentais – forças econômicas – ressurge no cenário mundial com a mesma velha volúpia imperialista.
O ressurgimento russo já era algo esperado, pelo menos desde o momento em que deu vida nova a sua economia – o país passa por um boom econômico – e tornou a Europa Ocidental sua refém na delicada questão energética. Contudo esperou o momento certo para um retorno triunfante – ao menos para o neoczar Vladimir Putin – e mostrar ao mundo aquilo que os chechenos já conhecem, o quão forte e preparado é o exercito russo. Se bem que EEUU e Geórgia colaboraram bastante para esse retorno.
Do lado estadunidense, Bush insisti reiteradamente em isolar a Rússia e abrir as portas da OTAN – embora o fato ainda não tenha se consumado – para a Geórgia de Mikhail Saakachvili e a Ucrânia de Viktor Yushchenko, duas ex-repúblicas soviéticas, dando arrepios a União Européia temente da reação russa em caso da idéia ser levada adiante. Na mesma conjuntura há também a aproximação do imperialismo ianque com outros países da antiga “cortina de ferro”, visando à criação de um novo “cordon sanitaire” em torno da Rússia e um escudo antimísseis através de tratados firmados com Polônia e Republica Tcheca. Contribui ainda para animosidade entre Kremlin e Casa Branca, declarações de altas autoridades da política externa ianque – falcões da plumagem dum Dick Cheney – e o desejo declarado do candidato republicano a sucessão presidencial, John McCain, de excluir a Rússia do chamado G8 , afirmando que em vez de tolerar a chantagem nuclear desse país ou os seus 'cyberataques', as nações ocidentais deveriam deixar claro que a solidariedade da OTAN, do Báltico ao Mar Negro, é indivisível e que as portas da organização permanecem abertas a todas as democracias comprometidas com a defesa da liberdade. Tudo isso predispondo uma antiga disputa com nova roupagem, pois não é difícil vislumbrar num horizonte próximo, a ameaça representada pelo imperialismo russo aos interesses ocidentais no Cáucaso e na Ásia Central.
Do outro lado – da mesma moeda – está o tresloucado presidente aventureiro da Geórgia, Mikhail Saakachvili. Esse bajulador de ianques, chegou ao poder em 2003 através da chamada “revolução rosa”, foi reeleito em janeiro último num processo eleitoral maculado por fraudes diversas, é responsável por um governo autoritário e desrespeitador das liberdades individuais e políticas, além de notabilizar-se como violador dos direitos humanos ao perseguir minorias étnicas, cometeu dois equívocos estratégicos que lhe custarão caro. O primeiro foi acreditar nas promessas de George “Cawboy” Bush que lhe daria socorro militar em caso de necessidade. O segundo, esse um erro grasso, o de pensar poder sozinho provocar para depois enfrentar a Rússia, enquanto a ajuda da OTAN não chegasse, subestimando o poderio bélico de seu oponente que não titubeou em reagir contra o bombardeio a Ossétia do Sul – Em 1992 após uma guerra civil, a Ossetia do Sul tornou-se uma república autônoma, independente de fato do governo de Tbilisi, embora não reconhecida pela ONU, União Européia e Estados Unidos e com tropas russas exercendo o papel de forças de paz na região.
Agora Saakachvili terá de amargar uma derrota acachapante, ficará mais longe da OTAN – qual potência européia irá chancelar tal admissão e comprar briga com a Rússia? – verá tropas russas ocupando parte do território georgiano por dias, meses ou quem sabe anos a fio, enquanto luta para manter-se no poder, uma vez que Moscou não poupará esforços para arrancar-lhe da cadeira presidencial.
Uma suposição plausível para os recentes acontecimentos talvez seja que, os EEUU incentivaram e deram apoio logístico para que Tbilisi atacasse os separatistas ossetas visando envolver a Rússia num conflito militar no Cáucaso com o intuito – obviamente não declarado – de testar a força do exército russo. No momento Washington não teria nem condições políticas e nem caberia no seu orçamento militar, sustentar um conflito de altas proporções, como um provável contra a Rússia – é interessante constatar que desde o ensejo da IIª Grande Guerra não se registrou guerra alguma entre potências, as guerras a partir de 1945 ficaram sempre restritas entre centro versus periferia ou entre dois países periféricos.
Nesse contexto a Geórgia estaria sendo usada como bucha de canhão. Ademais o Ocidente poderá usar o “intervencionismo russo”, como justificativa para continuar a política de isolamento de Moscou e acelerar a construção de gasodutos e oleodutos para tirar energia da região do Mar Cáspio sem passar por território russo. Ainda deixaria o Kremlin atarefado com a Geórgia, enquanto discute a possibilidade ou não de um ataque liderado pelo Uncle Sam ao Irã.
É nesse caldo de preconceito e interesses gigantes que se meteu o aventureiro georgiano crente de que, o treinamento dado a seus militares pelas forças ianques e a Mossaud (serviço secreto israelense) lhe valeria no caso de bombardear a Ossétia do Sul, acendendo o estopim de um conflito contra os russos. Na verdade deu o pretexto que a Rússia tanto almejava. No mais, Moscou sempre disporá do argumento que Washington, Paris, Londres, Roma, Ancara e Berlim reconheceram a independência de Kosovo à revelia da Sérvia.
2 comentários:
Em 20/08/08
SOBRE “HÁ ALGO DE MUITO PODRE NO
CÁUCASO”
Tenho a minha frente dois “Atlas Geográfico e Político” de 1976 um, e o outro de 2005. É notória a diferença dos desenhos geopolíticos da Europa, Ásia e de continentes circunvizinhos no espaço de 32 anos, bem como diferentes são as situações econômicas e sociais dos países europeus e asiáticos. A “Velha Senhora” Europa sempre foi o cadinho de drásticas mudanças na História da humanidade. Parece-me estar o Continente europeu fadado a levar adiante essa emblemática postura de agitações, levantes, revoluções, guerras civis, guerras mundiais e desmembramentos de países com prejuízos a todos os povos, mesmo àqueles que se acham separados por oceanos, por culturas, religiões e por economias tão diferenciadas. As diferenças são gritantes, entre aqueles do Velho Continente e os que compõem o Continente Sul-Americano.
Por lá, a URSS foi uma das primeiras a sofrer drásticas mudanças com violentas e definitivas decisões de antigas repúblicas soviéticas libertando-se do seu jugo. Os anos de 1991 e 1992 foram de extremadas iniciativas para Letônia, Ossétia do Sul, Turcomenistão, Kirghistão (Ásia Central), Lituânia, Geórgia, e outros (Não sem guerras civis com perdas incríveis em todos os sentidos a esses povos), desligando-se da antiga Pátria-mãe. Está mais do que provado que povo algum se sujeita à condição de dura servidão por muito tempo. Em 1649 Ivan, o Terrível (era o primeiro czar russo) introduziu o estado de servidão na URSS obrigando a plebe ao trabalho no campo para os senhores da elite, mas Catarina, a Grande, aboliu-a em 1861 sem, contudo, diminuir o abismo entre camponeses e a elite. Colimando uma série de outros graves problemas a URSS deixou de existir para se tornar apenas RUSSIA, também em 1991. Iniciou-se em território russo a abertura econômica com a entrada de multinacionais, como a cadeia de lanchonetes MacDonalds e outras; isto funcionou como um rastilho de pólvora em direção a China que, por seu lado, abria as suas portas, depois de anos fechadas, às multinacionais. Se a Rússia passa por um boom econômico, este não foi padrasto com a China. Hoje, vemos largas avenidas com problemas de congestionamentos, não de bicicletas, mas de veículos importados, edifícios e logradouros belíssimos e, atualmente, nos Jogos Olímpicos deste ano, nos mostra uma outra China em ascenção. A disposição de seus atletas anda a braços dados com o crescimento econômico de 10% ao ano. Na Rússia, os “Ladas” vão cedendo lugar a veículos fabricados além de suas fronteiras. É realmente um novo “desenho” que se impõe às vistas dos estudiosos.
A China só não apresenta evolução social na relação trabalho-capital. Os salários são baixos, inexiste uma Previdência que capacite os velhos a terem seus próprios ganhos ao invés de dependerem de seus filhos, que são poucos, devido às políticas sobre geração de filhos nos casamentos. Se a família chinesa não cresce por outro lado temos uma industrialização em massa numa competição desigual aos demais países industrializados. Deixou para trás a Grã-Bretanha e a Alemanha como países campeões em produção de bens de capital e de bens duráveis. Mas, principalmente na China, vivem-se ainda os tempos da Revolução Industrial iniciada na Inglaterra no final do século XVIII, com o financiamento importante de Meyer Amschel Rothschild, de Frankfurt, Alemanha, cuja família dominou a economia bancária até a 2ª. Grande Guerra Mundial. Contudo, a Revolução Industrial – que tomou impulso maior com as novas invenções como o processo de irrigação de Arkwright, a máquina de fiar de James Hargreaves e a de vapor de Watt – não trouxe benefício algum às classes trabalhadoras, começando pelas péssimas condições de trabalho, horário além do normal, o uso da ocupação infantil, alojamentos paupérrimos e saneamento insuficiente.
O ressurgimento russo – no dizer do sociólogo Hudson, autor do “Há Algo de Muito Podre no Cáucaso” – era de se esperar. O neoczar Vladimir Putin ainda dá as ordens e estabelece as regras tornando a “Europa Ocidental refém na delicada questão energética”. Outro novo Napoleão – norte-americano – pretende um isolamento a nova Rússia, abrindo as portas da OTAN (Organização do Tratado do Atlântico Norte) para a Geórgia de Mikhail Saakachvili e para a Ucrânia de Vicktor Yushchenko – duas ex-repúblicas soviéticas – com “arrepios a União Européia” se levadas à frente tal decisão.
Teme-se por reação explosivas dos russos, não como aquela de Nikita Kruschev batendo com o grosso sapato sobre o tampo da tribuna na ONU. Reações desta natureza já não cabem mais no cenário atual da política internacional. Outros meios já foram mostrados na Geórgia pelas tropas russas, sem que o “cowboy” George Bush levantasse a mão em favor de seu protegido Mikhail. E o que fará ele, Bush, no caso de uma ameaça “representada pelo imperialismo russo aos interesses ocidentais no Cáucaso e na Ásia Central?” Muito poucas coisas, acreditam-se. É um Napoleão desterrado a uma Elba moral, e desacreditado como a própria EU no cenário atual dos embates pela hegemonia de seus dogmas.
A região caucasiana é formada por um conjunto de povos – os chamados “brancos” – que incluem vastos grupos populacionais na Europa, Norte da África, Sudoeste da Ásia e subcontinente indiano, mas podemos incluir, ainda, os aborígines australianos e os índios americanos. (Fonte: “Enciclopédia Ilustrada do Conhecimento Essencial” – Reader´s Digest).
Com uma face tão heterogênea como essa, de que maneira podem os países líderes conduzir uma política de não agressão àquelas nações já independentes, ou às que desejem o mesmo?
Desaconselháveis, nesse momento delicado, são fechar acordos trazendo retaliações àqueles que se sintam prejudicados – no caso, a Rússia – pois se sabe que essa não irá aceitar, de maneira alguma, ser relegada a um segundo plano em detrimento às novas repúblicas tão somente como ato de atiçar mais suas reações para autenticar de modo sutil, e diplomacia canhestra, seu isolamento na OTAN.
Os cientistas políticos e sociais precisam estudar mais profundamente a influência do DNA dos povos mencionados neste comentário. O que se viu, durante séculos seguidos, foram nações poderosas continuando suas trajetórias de êxitos políticos, econômicos e sociais – salvo erro ou omissão – e as nações pobres pisando os mesmos pântanos das desgraças, a mesma caminhada às submissões e explorações numa contínua peregrinação para um isolamento total e avassalador. São como as famílias poderosamente abastadas que sobrevivem há séculos amontoando mais bens, mais riquezas, mais poderes sem que haja solução de continuidade. Não se deseja suas desgraças, mas o que se quer, e é o que deveria ser, é que haja mais igualdade no trato a esses povos chamados “inferiores”, não brancos, e atrasados pela própria iniciativa malévola de impérios que se taxam de salvadores da raça humana. A Humanidade vive ainda, para mim, a Idade da Pedra, com passagem no obscurantismo da Idade Média, não parecendo ter atingido o Renascimento e Idade Moderna. Até quando? Torno a repetir a pergunta, cansado de tantos desentendimentos entre os povos. Já nos chegam os Genghis Khan, Alexandre Magno, Napoleão, Adolf Hitler e o Bush. Chega!
Agora, abro um espaço especial para abordar os quatro últimos itens do comentário inteligente do sociólogo Hudson:
Levando-se em conta que nem uma só potência européia irá chancelar tal medida, proposta pelo imperador Bush, para não se envolverem em problemas com a Rússia, é provável que Mikhail Saakachvili testemunhe tropas vermelhas ocupando boa parte de seu território – como na Hungria e no Afeganistão (Se a minha memória não falha) – enquanto envida esforços para se manter as rédeas do poder (palavras do sociólogo Hudson em seu estudo). Mikhail não deve, por sutileza, confiar nem em Bush ou em Putin. Aquele é bem mais esperto que uma raposa; é bem possível – se não for verdadeiro – que o novo Napoleão queira mesmo testar as forças do exército russo. Se este não demonstrar férrea vontade e indomável arranco para sustentar um conflito militar no Cáucaso, então o grande conquistador estrelado porá suas mangas de fora. Mas são muitos os fatores contrários a que o exército norte-americano, já depauperado pela campanha no Iraque, venha a se assanhar com uma invasão protecionista aos interesses da Geórgia ou a uma contra o Irã que faz parte do Anel do Mal. Outros fatores acham os estudiosos são as próximas eleições nos EUA. O orçamento militar dos americanos necessita de uma emenda constitucional para ser aumentada ou esperar um novo Orçamento, partindo do governo de Barack Obama que deverá ser sufragado na próxima eleição, porque o atual Orçamento já se exaure. Não há condição de levar adiante tal aventura bélica em duas frentes, e com duas potências. Esperamos que o presidente da Geórgia tenha juízo bastante para se conformar com o seu mandato e se envolver mais com os problemas de sua República, que não são poucos como não são os de muitas outras espalhadas pelo globo terrestre. Israel já tem muitas “coceiras” com os palestinos no seu calcanhar. O que tinha a dar a Geórgia já deu. Os georgianos que nada esperem mais deles a não ser: “Já ensinamos, agora ajam por conta própria.”
a frase "democracias comprometidas com a defesa da liberdade" soa tao ridiculo vindo dos "esteites"!!!
soh eles acreditam que sao uma democracia e prezam a liberdade! e os eua apoiam paises super democraticos como arabia saudita e paquistao!
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