O jeitinho tucano de lidar com os movimentos sociais e com atores políticos antagônicos, nos assusta mais e mais a cada dia. José Serra, Yeda Crusius e Aécio Neves transformaram os estados onde governam em feudos, cuja lei e direitos humanos são balizados pelos interesses deles próprios.
Semana passada postei aqui uma excelente matéria do diário britânico The Economist sobre a falta de qualidade na educação pública brasileira e o pouco (ou nenhum) empenho de nossos governantes para reverter tal quadro catastrófico. (Especialmente em São Paulo, estado mais rico da federação e governado há 15 anos ininterruptos pelo PSDB, tempo mais que suficiente para colocar em prática projetos educacionais de longo prazo e que de fato visassem à melhoria do ensino público.)
Mas o tratamento que José Serra deu aos grevistas e alunos da USP, está há anos luz de ser apenas descaso com a educação, é atrocidade. Um governo estadual, em pleno estado democrático de direito, mandar a Tropa de Choque da PM invadir um campus universitário! E ainda dando aval para utilizar da truculência, que é própria da corporação, usando cães, lançando bombas de gás lacrimogêneo, atirando balas de borracha e espancando estudantes com porretes, transformando o Campus da maior universidade do Brasil em praça de guerra! Sinceramente, isso me pareceria impensável há bem pouco tempo atrás.
A atrocidade, ou infâmia, ou quem sabe, terrorismo de estado, cometida pelo chefe do executivo paulista, Sr. José Serra, pelo seu secretário de Educação, Sr. Paulo Renato de Souza, e o secretário de Segurança Pública, Sr. Antônio Ferreira Pinto, não pode passar imune aos olhos da sociedade e impune perante a Justiça.
No Rio Grande do Sul enquanto Yeda Crusius se afoga num mar de lama, os movimentos sociais são perseguidos e criminalizados.
Há aproximadamente 1 ano a governadora determinou ao então recém empossado comandante geral da Brigada Militar, coronel Paulo Mendes, que reprimisse duramente manifestações contra o governo estadual. E o coronel não demorou a colocar a orientação em prática. Na manhã de 11 de junho de 2008 pelo menos dezessete pessoas foram feridas e outras 17 detidas na ação da tropa de choque da Brigada Militar contra manifestantes que se dirigiam ao Palácio Piratini para protestar contra a corrupção no governo Yeda.
A ação violenta da Brigada Militar começou quando integrantes da Via Campesina, Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD) e Movimento Nacional da Luta pela Moradia, além de estudantes e sindicalistas iniciaram uma caminhada em direção ao Palácio Piratini. No trajeto, os manifestantes pretendiam fazer um protesto pacífico contra a alta dos alimentos no supermercado Nacional, do grupo Wal-Mart. A manifestação foi duramente reprimida com balas de borracha, bombas e gases lacrimogêneo e pimenta. Mais tarde, quando tentaram reiniciar a marcha, os manifestantes foram novamente impedidos de caminhar, empurrados para o Parque Harmonia e agredidos pela Brigada Militar. Um oficial da BM disse aos manifestantes que eles não iriam para frente do Palácio Piratini de jeito nenhum. Os principais ferimentos foram provocados por balas de borracha. Um agricultor teve o braço quebrado por um brigadiano.
Em Minas Gerais, na base da virulência e brutalidade obviamente, entre meados e fim do mês de maio último, Aécinho deu ordens para que cerca de 150 famílias de sem-terras fossem expulsas do único acampamento do MST existente no Sul de Minas. O acampamento localizado no município de Campo do Meio, dentro do latifúndio da antiga Usina Adrianópolis, viu PMs e jagunços derrubarem todos os barracos, muitos cobertos com telhas e feitos à base de cimento e tijolos - sem deixar qualquer possibilidade de reutilização.
Durante a expulsão das famílias, animais de criação foram lançados na vastidão da área e as cercas de arames destruídas por um trator da Prefeitura de Campo do Meio, sendo este operacionalizado por funcionários (ou jagunços?) da ex-usina Adrianópolis. A barbárie imperou de tal modo ali, naquele recanto do Brasil, que os relatos que nos chegam faz doer o peito e refletir sobre a miserável condição humana.
Nessa região está em curso uma disputa por território. De um lado, latifundiários do café, o atual prefeito, testas de ferro da ex-Usina, grandes plantadores de sorgo e tomate. Do outro lado, sem-terras do MST lutando por reforma agrária, por agricultura familiar dentro dos princípios da agroecologia. Não há exagero algum em afirmar que estamos na iminência de um massacre de camponeses em Minas Gerais.
Por isso, e infelizmente muito mais, hoje compartilho com Regina Duarte daquele sentimento de medo mostrado pela atriz global durante a campanha presidencial de 2002. Só que meu medo reside na chance, ainda longínqua, do retorno ao poder dos tucanos. Pois parece que a violência e repressão a todos que não comungam de suas idéias tornou-se modus operandi desse grupo elitista e conservador.
Fontes:
http://www.mst.org.br/mst/pagina.php?cd=6824
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=15049
5 comentários:
11/06/09
Testemunhando os acontecimentos na Campus da USP chegamos a uma simples conclusão:
A tucanada deve ser banida urgentemente do cenário político brasileiro e com eles todos aqueles ligados aos mesmos. Truculência é a palavra de ordem desses nazistas travestidos de democratas (ainda desprezo esse nome e esse processo por esconder as mais torpes canalhices que se podem descobrir entre esses pseudos governantes). Para quem governam eles? O ex-jovem Aécio, neto do falecido Tancredo Neves, atua para quem? Yeda CRUZES! Serra! Todos, a quem servem? Aos eles mesmos, a familiares e aos amigos. O povo... Que povo? Ora, o povo que se lixe!
11/06/09
Meu amigo Hudson: este não é o espaço para comunicados como o presente. Noquinha era o apelido de minha amada filha que nos deixou prematuramente aos 47 anos no dia 09 do corrente - Anamaria Fernandes Machado, seu nome. A minha referência à sua viagem é a uma mais longa e sem volta. Que Deus a tenha acolhido ao seu Seio. Quanto a mim, só desejo forças para suplantar essa dor sem esmorecer. Um abraço ao amigo.
A REItora da USP, Sueli Vilela, diz que mandou a polícia baixar o pau nos estudantes e nos trabalhadores em nome da Democracia, assim como o faziam os militares, a partir de 1964. Defende a democracia assim como o faziam os ativistas do IBAD (Instituto Brasileiro de Apoio a Democracia), ou a UDN (União Democrática Nacional). Quantas barbaridades foram cometidas em nome da democracia? E o que é democracia afinal? A muito tempo este conceito foi ressemantizado. No Brasil, democracia é justificativa para a barbárie, a muito tempo.
Olá, professor Hudson!
Por curiosidade acessei o twitter de nosso grande estadista José Serra (http://twitter.com/joseserra_) para ver talvez alguma declaração, comentário, opinião sobre os graves acontecimentos da USP.
Achei o post daquela quarta feira:
"Trabalho hoje ouvindo Esses Moços, de Lupicínio, com Gal Costa. Boa noite."
Ou seja, ele não se importa. Não é com ele.
Acorda, povo paulista!
Lamentável o ocorrido em Minas Gerais. A Usina de Adrianópolis está desativada a anos, suas terras sem qualquer produção. Usineiros devendo milhões ao governo e se recusando a negociar as terras com o Incra a fim de obterem proveitos próprios. Governador, prefeito de Campo do Meio, agindo em proveito próprio e de terceiros, em detrimento do interesse público. Justiça dando liminares aos usineiros, em terras totalmente improdutivas, em detrimento de toda a sociedade. PM utilizando de força para expulsar trabalhadores que tentam produzir para nosso país, sem qualquer análise de suas atitudes -por isso, entendo que a anistia dada durante a repressão aos torturadores deveria ser revista. Os Militares não podem utilizar-se de força contra a sociedade que procuram produzir para o país sem analisar as consequencias!!. Devem ser responsabilizados por tudo que fizeram e continuam fazendo!!. Os sem terra já estão lutando por estas terras já há 11 anos!!. Estas famílias devem ser fixadas à terra, produzir, pois precisamos exportar e não se justifica mais terras sem qualquer utilização em nosso país, servindo de interesses aos políticos, e latifundiários. Estes sim, a PM deveria atuar com rigor!!. É mais fácil expulsar família de trabalhadores, desarmados, com fome e cansados do que combater traficantes, ladrões, etc..
E o palácio do planalto, somente com propagandas..gastando nosso dinheiro com propagandas "pré-sal", etc..divulgando mentiras à população, em vias eleitorais!. Onde está Sr. Presidente sua promessa de efetivação do homem no campo?? por que tamta morosidade em se fixar estas famílias em Minas? Será por política ? Onde está as verbas para as desapropriações? Se não tiver dinheiro, por que não se desapropria simplesmente por interesse do poder público? A sobrevivencia do ser humano de forma dígna não é mais importante que uma fazenda sem qualquer produção?? Quem são os proprietários desta usina?? Será que já não tiraram muito de nosso país?? Estão querendo mais?? Estes usineiros somente tiraram, não produziram e vivem nas costas do governo procurando mamatas já faz muito tempo!!.
Vou ficando por aqui.
Edmilson Siqueira
São Paulo - Brasil .
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