Numa entrevista ao Guardian, Alex Tsipras defendeu que “a
derrota é uma batalha não travada”, sendo que o povo grego está a “lutar para
vencer". A derrota do capitalismo não será, para Tsipras, “apenas uma
vitória para a Grécia, mas para toda a Europa".
"Eu não acredito em heróis ou salvadores", afirmou
Alexis Tsipras ao Guardian, sublinhando que acredita, isso sim, “em lutar por
direitos”. “Ninguém tem o direito de reduzir um povo orgulhoso a tal estado de
miséria e de indignidade", enfatizou o líder do Syriza.
Na entrevista ao jornal britânico, Tsipras realçou que o que
está em marcha não é uma guerra “entre as nações e povos". Na realidade,
avançou, este é um conflito que opõe “os trabalhadores e a maioria das pessoas”
aos “capitalistas globais, banqueiros, especuladores nas bolsas de valores, os
grandes fundos”. “É uma guerra entre os povos e o capitalismo", frisou
Alex Tsipras, adiantando que, “tal como acontece em cada guerra, o que ocorre
na linha de frente define a batalha, que será decisiva para a guerra noutros lugares".
O presidente do Grupo Parlamentar da coligação de esquerda
Syriza sustentou que a Grécia foi escolhida como balão de ensaio para a
implementação das políticas de choque neo liberais e que os gregos “foram as
cobaias" e alertou também para o facto de, caso a experiência continue,
ela será “considerada um sucesso e as políticas serão aplicadas noutros
países”. “É por isso que é tão importante interromper a experiência”, frisou
Tsipras, realçando que pôr fim a este ataque “não será apenas uma vitória para a
Grécia, mas para toda a Europa".
“Nunca estivemos tão
mal"
"Após dois anos e meio de catástrofe”, e depois de
sofrerem um longo bombardeamento de "choque neo-liberal" - aumentos
de impostos draconianos e cortes nas despesas implementados sem quaisquer
remorsos – “os gregos estão de joelhos”, referiu Tsipras.
“ O Estado Social entrou em colapso, um em cada dois jovens
está desempregado, há cada vez mais pessoas a emigrar, o clima psicológico é de
pessimismo, depressão, suicídios em massa", relatou, avançando que o povo
grego nunca esteve “tão mal”.
Interrogado sobre se teria medo, Alex Tsipras respondeu que
teria, de facto, caso “continuássemos por este caminho, um caminho para o
inferno social”, contudo, destacou, “quando alguém luta tem uma grande hipótese
de ganhar e nós estamos a lutar para vencer".
O Syriza não é contra
o euro ou a união monetária
Durante a entrevista, o líder do Syriza sublinhou que não é
contra o euro ou a união monetária e que essa chantagem está a ser utilizada
para que as pessoas se sintam aterrorizadas de modo a manter o status quo.
"Não somos contra uma Europa unificada ou a união
monetária", “nós não queremos fazer chantagem, queremos convencer os
nossos parceiros europeus, que o caminho que foi escolhido para enfrentar a
Grécia é totalmente contra producente. É como jogar dinheiro num poço sem
fundo", esclareceu.
Para Tsipras, é importante que os europeus saibam que o
dinheiro com que contribuem para a suposta resolução da crise grega não está a
ser aplicado em investimento e crescimento nem a ser utilizado para,
efetivamente, fazer face ao problema da dívida.
Na realidade, se a Grécia se mantiver no mesmo rumo, “em
seis meses seremos forçados a discutir um terceiro pacote e depois um
quarto", alertou o dirigente da coligação Syriza.
Por outro lado, também é importante para Alex Tsipras que os
europeus compreendam que o Syriza não tem “qualquer intenção de avançar num
movimento unilateral”. “Nós [só] seremos forçados a agir, se eles agirem de
forma unilateral e derem o primeiro passo", afirmou. “Se eles não nos
pagarem, se pararem o financiamento, então não seremos capazes de pagar os
credores. O que estou a dizer é muito simples", adiantou ainda o político
grego.
Alex Tsipras fez também questão de lembrar que a crise da
Grécia não é somente um problema do país. "Keynes disse-o há muitos anos.
Não é apenas a pessoa que pede emprestado que pode ficar numa posição difícil,
mas também a pessoa que empresta. Se você deve 6.200 euros ao banco, é um
problema seu, mas se você deve 620 000 euros, é problema do banco",
ilustrou Tsipras.
"Este é um problema comum. É o nosso problema. É o
problema de Merkel. É um problema europeu. É um problema mundial", rematou
o líder do Syriza.
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