Por Maria Izabel Azevedo Noronha no Viomundo
A divulgação das notas médias que compõem o Índice de
Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), publicadas no dia 14 de agosto pelo
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (INEP) do Ministério da Educação
aponta uma melhora na qualidade do ensino, que vem se desenvolvendo ano a ano.
Devemos,
no entanto, rememorar que, desde o ano de 1999 vem ocorrendo por parte de
setores do Estado brasileiro um processo de culpabilização dos professores
pelos problemas e deficiências da educação nacional. Somos submetidos a
avaliações excludentes e tachados de despreparados por alguns governantes.
O
fato, porém, é que essas deficiências e problemas da educação decorrem das
políticas e medidas educacionais implementadas por autoridades e gestores
educacionais em vários estados e municípios, entre eles o Estado de São Paulo,
como a “aprovação automática” dos alunos, cujas consequências o nosso Sindicato
denunciou e denuncia desde o início da sua implementação.
Nós,
professores, defendemos que a aprendizagem dos alunos seja avaliada, não para
reprová-los, mas para contribuir com o seu sucesso escolar, localizando suas
dificuldades e agindo sobre elas. Da mesma forma, tendo em perspectiva a
qualidade do ensino, lutamos pela valorização dos professores e demais
profissionais da educação.
Para
nós, qualidade do ensino e valorização dos professores são faces de uma mesma
moeda. A qualidade do ensino está intrinsecamente ligada às condições de
trabalho dos professores e às condições de ensino-aprendizagem dos alunos. Para
nós, os resultados do IDEB evidenciam o papel dos professores e a necessidade
de avançarmos em políticas que assegurem a melhoria da educação brasileira.
Devemos
nos perguntar, então: ao que podemos atribuir este processo progressivo de
melhoria da qualidade do ensino na educação básica?
Consideremos,
em primeiro lugar, que a estrutura das escolas da rede estadual nada mudou em
muitos anos. Ao mesmo tempo, diante de nossas reivindicações salariais, o
governo respondeu com um reajuste escalonado em quatro anos, sendo que, na
parcela de 2012, anunciou um índice de 10,2% mas, efetivamente, pagou apenas
5,2%, pois os demais 5% se referem à incorporação da Gratificação por Atividade
de Magistério, objeto de lei específica, aprovada em 2009 pela Assembleia
Legislativa. Finalmente, como resultado de nossa luta histórica, conseguimos a
incorporação de todas as gratificações ao salário base e lutaremos para que não
retorne este tipo de “política salarial” que, na verdade, corrói nosso poder
aquisitivo.
O
reajuste escalonado e a incorporação das gratificações significam ainda muito
pouco diante da desvalorização do poder de compra de nossos salários. Nós, da
APEOESP, dizemos que, apesar das condições existentes, o pouco de qualidade que
existe na rede estadual de ensino se deve ao trabalho e compromisso dos
professores e não às políticas educacionais do Estado. Por isto, indagamos:
como esperar melhorias mais substanciais em São Paulo, que não possui sequer um
Plano Estadual de Educação.
Falta
em São Paulo um Plano elaborado democraticamente por um Fórum Estadual de
Educação, assim como em nível nacional existe o Fórum Nacional de Educação.
A
análise dos resultados do IDEB, particularmente no Estado de São Paulo, deve se
refletir em mais reajustes salariais, na democratização da gestão educacional e
em tratamento mais digno para os professores, sobretudo no caso dos
temporários, denominados de “categoria O”, que não tem praticamente nenhum
direito profissional. Deve levar também à imediata aplicação da jornada do
piso, com a destinação de 33% da jornada de trabalho para atividades como
preparação de aulas, elaboração e correção de provas e trabalhos, formação
continuada no local de trabalho. Queremos ainda, de imediato, a recomposição do
reajuste de 10,5% prometido para 2012 e a reposição de 36,74%, referente as
nossas perdas salariais acumuladas.
No
que se refere ao ensino médio, os resultados mostram que este é um dos maiores
desafios educacionais do País. Desta forma, deve mesmo o Estado de São Paulo
insistir em implementar escolas de ensino médio de período integral ou deveria
investir na melhoria de todas as escolas de ensino médio, para alavancar este
nível de ensino, o que se refletirá na melhoria geral da educação?
Lançamos
um desafio: se o governo se sensibilizar com nossas demandas e propostas, de
valorização profissional e condições de trabalho, não teremos uma nota média de
5,4 no ensino fundamental, mas poderemos chegar à nota 8,0. A nossa categoria,
então, será aplaudida de pé por toda a sociedade.
*Maria
Izabel Azevedo Noronha é presidenta da APEOESP, vice-presidenta da Câmara
de Educação Básica do Conselho Nacional de Educação e membro do Fórum Nacional
de Educação.
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