Greve dos 112 dias dos professores da rede estadual em 2011
Como
professor de Sociologia da rede estadual de Minas Gerais, não
posso me calar
diante
dos métodos pouco pedagógicos e nada democráticos como
a
Educação tem
sido tratada em meu estado nos últimos doze anos e
cujos nefastos reflexos todos nós, educadores e educandos, temos
sentido na pele.
Em
26
de março último, por
unanimidade os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) declararam
inconstitucional a Lei Complementar (LC) 100, que efetivou, em 2007,
cerca de 98 mil servidores do estado de Minas Gerais. A corte
analisou a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI), proposta
pela Procuradoria-Geral da República (PGR), que questionou a forma
de ingresso na administração pública. A PGR pediu a derrubada da
legislação que igualou os antigos designados, contratados com
vínculos precários e lotados, em sua maioria, na área da educação,
aos efetivos. No entendimento do Supremo, devem deixar o cargo, a
partir da publicação do acórdão, todos aqueles que não prestaram
concurso público para a função que ocupam.
Não
obstante o STF só tenha julgado a LC-100 há poucas semanas, a
decisão era prevista e aguardada por grande parte dos profissionais
em educação, atingidos diretamente ou não pela decisão, e o
Sind-UTE
(Sindicato Únicos dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais)
já havia apontado para tanto, sem jamais deixar de se solidarizar
com os profissionais que em 2007 receberam esse verdadeiro “presente
de grego” que desde o início claramente
feria a Constituição Federal.
Ademais,
a postura do Sind-UTE sempre foi a de entender que os “efetivados”
– termo
que traz em si uma conotação pejorativa e que passou a ser
empregada pelo próprio governo mineiro – jamais poderiam ser
culpabilizados por um arrobo de ataque a Constituição, antes, a
total responsabilidade deveria, e ainda há tempo para isto,
recair sobre quem de fato agiu de maneira inconstitucional,
demagógica,
imoral e patrimonialista, ou
seja, o governo de Minas Gerais na figura do seu então governador, o
senhor Aécio Neves.
Mas a lambança não
acaba por aí. Enquanto perdurou a inconstitucional LC-100 muitos
professores aprovados em concurso, tal como rege a Constituição de
1988, tiveram cerceado o direito à nomeação, pois inúmeras vagas
encontravam-se preenchidas de maneira ilegítima.
Segundos
dados da própria Secretaria Estadual de Educação de Minas Gerais,
hoje mais de 1/3 dos professores da rede estão na condição de
beneficiados pela LC-100, todavia até o presente momento o governo
tem se esquivado de responder as duvidas desses professores e a
secretária Ana Lúcia Gazzola sequer procurou dar uma resposta –
ou mea
culpa
– aos milhares de profissionais atingidos “não” pela decisão
do STF, mas “sim” pela irresponsabilidade do governo mineiro que
insistiu numa tentativa torpe de burlar a Carta Magna.
Pode-se
afirmar, sem medo de engano, que nos últimos doze anos a educação
em Minas Gerais tem sido tratada de forma irresponsável
e portanto nada
condizente com a importância que representa para a construção de
uma sociedade mais justa e livre ou para a autonomia do indivíduo. A
derrubada da LC-100 é, desafortunadamente, somente mais um
capítulo do modo Aécio de tratar a Educação.
Para
citar apenas mais alguns capítulos,
podemos rememorar
a divisão das turmas de Ensino Médio em áreas de Humanas, Exatas e
Biológicas. Um projeto
polêmico, esdrúxulo e criticado por estudantes, professores e pais,
que fadado ao fracasso não vingou por mais de quatro anos. Ou então
quando em 2010 quando
o
governo do estadual
já com o ano letivo em andamento, promoveu ao Ensino Fundamental II,
sem qualquer planejamento, estudantes que no ano anterior haviam sido
retidos nas séries iniciais. Ou ainda, o Reinventando o Ensino
Médio, projeto embutido de vários pontos positivos, que, no
entanto, está em fase de implantação sem o mínimo de estrutura,
não trazendo as ferramentas necessárias para cativar os estudantes
e que
denota
uma incrível falta de planejamento pedagógico.
Poderia citar diversos
outros exemplos como o congelamento do plano de carreira, a
transformação do salário dos profissionais da Educação em
subsídio, a retirada de benefícios conquistados ao longo de décadas tais como quinquênio, pagamento em espécie de férias
prêmio ou a da gratificação do pó de giz.
Por fim, os professores
mineiros estão angustiados, perplexos e decepcionados com os rumos
que a Educação em Minas tem tomado.
Finalizo com as palavras
do mestre Paulo Freire:
“Seria
uma atitude muito ingênua esperar que as classes dominantes
desenvolvessem uma forma de educação que permitissem às classes
dominadas perceberem as injustiças sociais de forma crítica”
Hudson Luiz Vilas
Boas, cidadão, educador, professor de Sociologia das redes estaduais
de Minas Gerais e São Paulo, professor de Cultura e Cidadania e
coordenador do Pré-Vestibular Comunitário Educafro.
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