Por Tiago Barbosa Mafra
É tempo de paradoxos:
enquanto milhões ligados a movimentos sociais ocupam as ruas constantemente, um
sentimento coletivo de descrença em relação à política ganha corpo e força. É
histórico que sociedades que negaram a política como instrumento de gestão da
vida pública enveredaram por caminhos totalitários, profunda ou sutilmente.
Um ódio às entidades
partidárias é notório. E argumentos não faltam, pois as mais de 30 siglas têm
pouco de conteúdo ideológico e muito de empresarial: foram capturados pela
lógica financeira, plutocrática, da manutenção do controle político via
estruturas públicas com finalidades privadas. E mesmo os que operaram reformas
se valeram da lógica mercantil vigente para fazê-lo.
Longe de entrar no
mérito dos meios, o fato é que tudo tem demonstrado que essa forma de conduzir
a vida e as decisões públicas ( na maioria das vezes sem o povo) apresenta um
profundo esgotamento.
E nesse ponto crucial,
de necessidade de novos arranjos e opções, convivem proposições diametralmente
opostas, desde os que pedem mais participação, democracia efetiva aos que
deixam revelar o ódio à política, confundindo as criticas aos partidos a uma
aversão ao republicanismo como um todo.
A criminalização da
política, em um país que vive há poucos anos um ensaio de democracia, tende a
evidenciar o caráter totalitário de setores elitistas, atrelados ao capital
internacional e que usam o oligopólio dos meios de comunicação para propagar
uma visão única sobre a crise, bem como sobre seus antídotos, com a garantia da
útil disseminação pela classe média apolítica e desprovida de privilégios que
tanto pelos quais tanto preza, bem como por trabalhadores despolitizados,
inseridos no consumo, mas não na vida pública.
Nesse cenário de caos,
pouca reflexão encontra espaço. Sobram resposta fáceis, políticas de
austeridade, equilíbrio fiscal, sempre é claro, à custa das partes mais pobres
da população. No país do “povo cordial”, avesso ao conflito, falar em luta de
classes é heresia. Chega de crise, “vamos trabalhar!”.
Mas não se resolve
crise com mais crise. Vivemos na prática, uma onda fascista, saudosa
(conscientemente ou não) de outros totalitarismos. São características evidentes, mas
travestidos de normalidade, ou no máximo, de um “mal necessário”. Restrição de
direitos, criminalização de movimentos sociais e partidos, ataques à cultura,
desmonte de uma tentativa de bem estar social de 13 anos. Mas tudo pelo bem da
nação.
É notório que o modelo
de conciliação não se sustentará. Muito menos com relações promíscuas entre
entidades privadas. Não retornaremos mais à mesma situação. O país está em
disputa. Só não se sabe em que direção, profundidade e em benefício de quem
caminharemos.
O que já sabemos é que
a história e a política não devem ser negadas. A sociedade não deve continuar
encarando a desigualdade como algo natural ou aceitável. O Brasil vive a evidenciação da luta de classes.
O resultado? Algo entre
o poder popular e a violência totalitária. Que os pobres não paguem a conta
novamente.
Tiago
Barbosa Mafra é professor de geografia na rede pública municipal de ensino e
voluntário no pré vestibular comunitário Educafro.