sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Mais um golpe contra a liberdade de imprensa em Minas: Retirado do ar site jornalístico que continha denúncias contra Aécio Neves

Fonte: Biscotio Fino e Massa

http://www.idelberavelar.com

Por Idelber Avelar

O site de notícias Novo Jornal, conhecido pelas denúncias que tem veiculado contra o governador Aécio Neves, foi retirado do ar ontem, em ação conjunta da Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos e da Polícia Militar. Foram apreendidos os computadores do site. Ao acessar a página, o internauta chega a esse aviso do Ministério Público de Minas, que anuncia que a página foi “suspensa” e que está sob investigação por “indícios de prática de crimes”. A imprensa noticiou que a ação foi fruto de uma representação recebida pela Procuradoria que alegava que o site publicava matérias atentatórias à honra de autoridades públicas como o Procurador Geral de Justiça do Estado, Jarbas Soares Junior, e principalmente o governador Aécio Neves . Nenhum veículo de imprensa noticiou quem foi o autor da representação.

No momento em que foi retirado do ar, o Novo Jornal trazia em sua primeira página uma matéria com pesadas críticas ao Presidente do STF, Gilmar Mendes. A matéria ainda pode ser lida no cache do Google. O Novo Jornal também denunciou que o governador Aécio Neves pagou US$ 269 milhões de dívidas da Rede Globo de Televisão na compra da Light. A denúncia, feita em minucioso detalhe, mostra que o governo mineiro criou uma empresa, a RME -- Rio Minas Energia Participações S/A -- que teria pago por 79,57% das ações da Light e adquirido somente 75,40% das mesmas, transferindo para fundos credores da Globo nos Estados Unidos o montante de 269 milhões de dólares. Simultaneamente, Aécio nomeava o ex-presidente da holding do Grupo Globo, Ronnie Vaz Moreira, presidente da tal RME e diretor-financeiro da Light.

Ainda é possível, também, ler no cache do Google o editorial do Novo Jornal que denunciava a censura à imprensa em Minas Gerais, assim como uma missiva de um leitor com críticas a Gilmar Mendes. Ainda pelo cache do Google, é possível rastrear nos arquivos do site censurado 21 menções ao Governador Aécio Neves e 11 menções ao Procurador Jarbas Soares Junior. O Novo Jornal acusa o Procurador de barrar toda e qualquer apuração de denúncias. Evidentemente, é de grande importância preservar esses textos.

Com a subserviência que lhe é própria, a “grande” imprensa mineira noticiou a criação da Promotoria Estadual de Combate aos Crimes Cibernéticos dizendo que com o crescente número de crimes praticados por usuários da rede, o MPE decidiu pela sua implantação, sem oferecer ao leitor qualquer fundamentação da veracidade da premissa de que o número de crimes online é mesmo “crescente”. Com a mesma subserviência, o grupo Diários Associados noticiou que o Procurador Jarbas Soares encaminhava ao PG da República uma ação que removia obstáculos à atuação dos promotores sob a incrível manchete MP luta contra a mordaça em Minas – título que adquire tons bastante irônicos à luz da última ação do MP mineiro.

Desnecessário é dizer que o Biscoito se solidariza com o jornalista responsável pelo Novo Jornal, Marco Aurélio Flores Carone, a última vítima da ditadura aecista. Seria muito, muito divertido ver esses textos reproduzidos por aí à exaustão. Este blog já gravou três ou quatro dos mais incisivos e vai republicá-los em breve.

Um comentário:

Blog do Morani disse...

Em 16/08/08

É isso aí meu caro Hudson:

Tendo conhecimento diário de elos que formam uma corrente única de medidas arbitrárias podemos chegar à conclusão de que realmente vivemos um regime autoritário, ditatorial e, naturalmente, de exceção e,também, de excisão. Prova esse meu pensamento o que o amigo me relata em seu último comentário sobre a "suspensão" do site de notícias "Novo Jornal", por práticas de "crimes cibernéticos".
Ora bolas, e os crimes de pedofilia, cujas páginas estão sempre em evidência no Orkut? Que tipo de crime é esse? Qual é o mais contundente, o mais imoral e o que mais afronta a opinião pública? O de pedofilia - um cancro que abrange uma nação - ou as críticas que repudiam as "baixarias" de um governo que não se pode ver confrontado às verdades? Eu não sou ninguém, mas dou meu total apoio ao sr. Idelber Avelar e a você por nos dar a conhecer que ainda existe a "tesoura" da CENSURA em mãos de homens que não desejam que vingue, de uma vez por todas, a "democracia e liberdade na Imprensa" brasileira. Serei franco ao afirmar que jamais me foi simpático o neto do falecido Tancredo Neves; quem ouviu, antes da morte do referido, falar em Aécio Neves? Ele se projetou à sombra de um defunto e hoje extrapola o direito constitucional à liberdade de imprensa. É só alguém mexer na "panela" das patifarias para ser descredenciado ao seu direito de cidadão. Vergonhosa essa ajuda do governo Aécio ao Grupo Globo. O que esses governos deveriam fazer de mais sensato seria o de pagarem seus "débitos" com a sociedade, que não são poucos, mas eles sabem que terão o apoio no momento de
uma campanha eleitoral. Mas se tal não nos bastasse, ainda temos exemplos de "desobediência" à nossa Carta Magna pelo executiv federal. Refiro-me aos problemas das demarcações dos quilombolas que há muito deveriam ser levados a sério, pois que consta na Cosntituição de 1988 quando se completava 100 anos do fim do regime de escravidão. Se o executivo federal - cabeça principal de todo o nosso regime - não dá trato às bolas àquilo que lhe está afeto diretamente no momento da montagem do Orçamento da União, como vamos querer que o simples executivo estadual (simples é uma maneira de falar, porque tem tanta responsabilidade regional como tem o primeiro em relaçao aos assuntos nacionais)dê, ao menos, o exemplo àquele agindo de forma a se encaixar dentro das nossas Leis Constituicionais?
Se uma denúncia é verdadeira nada mais normal às autoridades investigarem a procedência e a veracidade dos fatos (e são sempre verdadeiros). Dou, abaixo, tópico do artigo "IDENTIDADE,RACISCO E DISCRIMINAÇÃO", para que saibamos das diversas discrepâncias no atual governo federal e, por extensão, nos estaduais e provavelmente nos municipais, passo a registrar aqui o tópico em foco, que foi retirado do artigo acima mencionado e publicado na página da "Fundação Lauro Campos":

IDENTIDADE, RACISMO E DISCRIMINAÇÃO (parte)


"A contribuição do governo Lula para a paralisia do preceito constitucional não é menor que as contribuições de governos pregressos. A lentidão com que dá andamento aos processos de regularização fundiária é uma evidência de que esta atividade nunca foi uma prioridade deste governo: em março de 2008, 87% dos processos abertos no Incra (450 processos) aguardavam pelo relatório de identificação do território, que constitui a etapa inicial da regularização fundiária, e no ano passado foram publicados apenas 20 relatórios técnicos de identificação e delimitação. É óbvio que a causa mais imediata de tamanha lentidão é a escassez de recursos orçamentários efetivamente aplicados na atividade, que em nenhum destes anos de governo chegou a pelo menos metade do que constava no Orçamento Geral da União. É o que se espera de um governo que não abre mão da política de geração de elevado superávit primário que inviabiliza a integralidade e continuidade das políticas públicas, em especial aquelas destinadas ao atendimento dos direitos sociais. Mas seria ingênuo acreditar que essa lentidão se deve tão somente à política de contenção do gasto público que atinge o conjunto das políticas sociais devidas pelo estado; é evidente que se trata de política deliberada para não desagradar ou mesmo para favorecer na prática os grupos interessados nas áreas quilombolas."

Vemos, pois, a evidente indiferença do governo Lula aos anseios dos negros descendentes dos escravos cuja preocupação precípua é a demarcação dos quilombolas para que vivam e continuem suas culturas, crenças e meios de sobrevivência. Isto também mereceria, de jornais ou revista sérios, uma denúncia clara e constante, como a feita pelo site ora "suspenso" pela censura do governo Aécio. O comentário por mim veiculado em parte é de Gerson
Rodrigues.
Um abraço.
Morani