sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Carta Aberta à Senadora Marina Silva

Exma. Sra. Senadora Marina Silva

Tomo a liberdade de escrever-lhe esta carta em caráter pessoal e individual.

Há anos que acompanho vossa luta e caminhada política em prol de um mundo melhor, mais justo, mais solidário e a vossa defesa intransigente da ética, da honestidade e outros valores de cidadania. De minha parte não poderia dizer nada além do que o imenso respeito que nutro por Vossa Excelência.

Tenho plena convicção que a senhora não só está à altura de servir nosso país em qualquer função que lhe for confiada, como tenho a mesma convicção que uma campanha visando à disputa pela presidência da República tendo vosso nome, engrandecerá a disputa e ajudará no fortalecimento da democracia e do debate sobre a construção de novas alternativas além das já aceitas.

No entanto, venho pedir-lhe, não que desista de vossa candidatura, pelo contrário, que a leve as bases do Partido dos Trabalhadores ¬ – ao qual sou filiado. Assim poderemos cacifar vosso nome, mobilizar as bases, elaborar um programa não de campanha, mas sim de governo. Colocaremos na pauta nacional o debate sobre a defesa da Amazônia e o desenvolvimento sustentável. Ademais, conseguiremos trazer de volta para o jogo político à presença de diversos movimentos populares, hoje distantes ou desiludidos.

Obviamente sou conhecedor das dificuldades de tudo isso que lhe proponho caso esse processo venha a transcorrer dentro do Partido dos Trabalhadores. O alto-comando do PT, todos sabemos, já decidiu por outro nome para ser seu presidenciável. Todavia isso não quer dizer que Vossa Excelência, com o apoio de várias correntes internas e inúmeros movimentos populares, não consiga reunir forças para exigir uma consulta às bases. Caso não seja candidata em 2010, a projeção nacional que Vossa Excelência já possui, mais a coragem de ter colocado vosso nome a disposição da base do partido, com certeza garantirão frutos a senhora e principalmente à sociedade.

Agora, perdoe-me, serei o mais honesto o possível. Entenderia caso Vossa Excelência saísse candidata por outro partido do espectro de esquerda da política nacional que não o PT. Entenderia se a senhora se dispusesse a adentrar no pleito pelo PSOL, pelo PSTU ou pelo PCB. Mas sair candidata pelo Partido Verde, tenha certeza disso Senadora, não honrará em nada vossa biografia. Pois qualquer um desses partidos, com todas as contradições que lhe são pertinentes ou inerentes, representam muito mais que o PV.

O Partido Verde sempre teve como aliados preferenciais o PSDB e o DEM (antigo PFL). Faz parte tanto da administração Kassab na capital paulista quanto da administração Serra no estado de São Paulo. Aliás, o PV paulista nunca foi mais que um apêndice do covismo naquele estado. Em Minas Gerais o PV é aliado incondicional de Aécio Neves e dentre os cargos que ocupa está à presidência da COHAB-MG na figura de Sebastião Navarro Vieira Filho.

Essa figura da política mineira é de minha cidade Poços de Caldas. Firmou-se na política local e estadual – já foi prefeito municipal em duas oportunidades, além de deputado estadual e federal por diversas vezes – como fiel aliado da Ditadura Militar. Posso garantir-lhe, com todas as letras, o quanto o PV poços-caldense é escancaradamente uma legenda de aluguel cujo maior feito foi abrigar Sebastião Navarro quando este se desentendeu com a executiva nacional do DEM. Tanto é verdade que a presidente do diretório municipal do DEM é Tereza Navarro, filha e braço direito de Sebastião Navarro. Este senhor, quando da última passagem pela prefeitura de Poços de Caldas (2005-2008), tentou privatizar parte das águas minerais do município e comprou, numa transação no mínimo obscura, uma área de reserva ambiental para alojar o futuro Paço Municipal.

Não irei alongar ainda mais essa carta. Peço-lhe somente que reflita sobre essas palavras a fim de compreender o que a Senadora significa para a sociedade brasileira e o que o Partido Verde de fato significa.

Agradeço vossa atenção.

Hudson Luiz Vilas Boas, Cientista Social
Poços de Caldas, MG

7 comentários:

Blog do Morani disse...

Na impossibilidade de elegermos a notável ex-senadora Heloisa Helena, minha candidata a qualquer época à Presidência da República pelo PSOL, achei a sua sugestão, meu caro amigo Hudson muito oportuna. Marina Silva, conquanto pertença aos quadros do PT - não daquela ala suja e capaz de todos os meios para alcançar o posto máximo de nossa incipiente República democrática - pode ser um bom nome ao cargo máximo. Veja você que não tenho nada contra o PT desligado a Lula,mas o partido independente e, se possível, longe do PMDB, que se descaracteriza por jamais desejar ser poder, mas ficar à sua sombra mexendo seus "pauzinhos" para levar vantagens.
Sou mais a favor da batalhadora Heloisa Helena, mas daria, sim, meu voto à Marina Silva se eu sentir que ela se deligou umbilicalmente às diretrizes com o espírito do LULA! Sinto dizer, mas esse é um deslumbrado pelo Poder, inebriado pelos elogios de poderosos do Primeiro Mundo, que lhe tocam o "ego vaidoso", mas ao qual não se alojam a palavra e os termos próprios a um Presidente de uma Nação como o Brasil. Veja a discussão dele com alguns de seus Ministros por causa de problemas internos dos países irmãos da América do Sul e que ele, não desejando imitar a truculência imperialista dos norte-americanos, não deseja agir da mesma forma como sempre agiram os Presidentes do país estrelado. Eles têm "cacife"; sempre o tiveram! Lula quer dar um de "estadista" de Primeiro Mundo já, agora! Para tudo há um limite a ser obedecido. Nós, brasileiros, precisamos muito mais que os nossos "hermanos guaranís". Que ao apagar das luzes de seu governo ele volte seus olhos e suas atenções às nossas causas, aos nossos problemas, que não são poucos, e às nossas necessidades que, essas sim,são prementes e devem ter a primazia aos investimentos que estão sendo "exportados" sem nenhum sinal de "dor na consciência".

Um bom nome, o de MARINA SILVA, dentro das perspectivas apontadas por um brasileiro preocupado por tantos desmandos.

Renan disse...

Já pensei que você estava se deixando levar pelas matérias da Mídia Golpista.

Eu não sei o quão diferente seria um governo do PSOL ou de Marina Silva, enquanto o PMDB ainda for o maior partido e, por isso, o mais fisiológico (ressalvando uns poucos ótimos quadros).

Por isso que a preocupação de José Dirceu é mais com as eleições legislativas do que com as eleições para o Executivo.

Afinal, numa democracia moderna como deve (ou deveria) ser a nossa, o Legislativo é o verdadeiro representante do povo.

Concorda, Hudson?

Anônimo disse...

Se Marina Silva sair do PT e ingressar no PV para candidatar-se a Presidente da República, vou confirmar aquilo que eu sempre imaginei sobre a ideologia dessa senhora: ela não passa de uma xiita ambientalista.
A exploração do trabalho no regime capitalista, a fome, a reforma agrária, o trabalho escravo, a exploração sexual infantil, a moradia para os sem-teto, a saúde pública, a especulação financeira, a soberania nacional, as cotas raciais, a educação pública, a cultura popular, etc,etc, são questões que ficam subordinadas às soluções dos problemas ambientais.
Não voto nela, nem se sair candidata pelo PT.

RLocatelli Digital disse...

Muito bem colocado, prof. Hudson. É nessa hora que as pessoas revelam sua verdadeira índole.
Será Marina Silva uma nova Soninha Francine? Se ela assim decidir, a mídia fará com que ela brilhe muito por alguns meses, para depois desaparecer na obscuridade.

Unknown disse...

Renan

Como parlamentarista que sou não posso deixar de concordar com você sobre a importância do Legislativo. Contudo quando me refiro que entenderia se Marina Silva saísse candidata pelo PSOL, PSTU ou pelo PCB, é porque esses partidos (na mioria dos casos, não regra geral) não se dixaram levar pelo fisiologismo característico da politica brasileira, enquanto o PV não passa duma legenda de aluguel. Digo isso enquanto petista oriundo do PCB.

Inté

Unknown disse...

O fator Marina Silva

A ex-ministra do Meio Ambiente ganhou as graças da mídia. A tendência começou quando ela pediu demissão, e pode se transformar num fenômeno publicitário caso o PV consiga realmente seduzi-la para concorrer a presidente em 2010.
Dizem que ela surgiria como a novidade que o eleitorado procura, com biografia, perfil e plataforma de fácil apelo popular. Será? Para que Marina tenha qualquer chance real, seria necessário que compusesse uma chapa abrangente, com acúmulo de tempo na propaganda gratuita e alianças nacionais – além de afastar a concorrência da interminável Heloísa Helena. São muitas variáveis para uma disputa que já começa polarizada, da qual nomes de grande reconhecimento, como Ciro Gomes, preferem se abster.
Cabe lembrar que o PV possui quadros como Zequinha Sarney e outros de sua cepa. O partido é aliado de quase todos os governos demo-tucanos do país, principalmente em São Paulo, onde apóia tanto Gilberto Kassab quanto José Serra.
A invenção de Marina é puro ensaio, uma espécie de idílio, nascido na necessidade de inventar alguém para bater em Dilma Rousseff impunemente, facilitando uma vitória de Serra no primeiro turno. Faz parte de um esforço preliminar a ser empreendido pelo governador até o final do ano, através de viagens e pesquisas de opinião, buscando aferir suas reais possibilidades na disputa presidencial. E, pelo visto, elas são menos sólidas do que se imagina.

Blog do Morani disse...

Senhor Scalzilli:

Nutro o maior respeito por Vsa.Sa. como um blogueiro de peso e por quem é, mas por que os termos "além de afastar a concorrência da interminável Heloisa Helena?"

Há algum temor sobre a possibilidade de vitória da ex-senadora aguerrida ao exercício de seu mandato?

Ela e Marina Silva dispensam conluios previamente empestados de vícios corrosivos dessa grei de agremiações políticas que vigem no país. Marina Silva misturar-se a um dos Sarney? Diria mais: Uma das duas à Presidência da República com a outra saindo vice. Por que não?

É preciso de uma vez por todas acabar com os "donos" de nossa Política, dos "manda-chuva" da opinião pública direcionando subliminarmente a cabeça dos eleitores. Uma abrangente "vassourada" de limpeza nessa corja e o Brasil se verá defrontado com a sua mais lídima realidade: um governo a quatro mãos de duas mulheres valorosas.