quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Nada de novo no front. Será?

Eduardo Guimarães em seu ótimo blog Cidadania [http://edu.guim.blog.uol.com.br] havia alertado há quase um mês sobre uma possível armação do PIG e da oposição farisaica em conluio com alguns institutos de pesquisa a fim de mostrarem o quão a crise desencadeada no Senado teria afetado as pretensões do Palácio do Planalto em eleger Dilma Rousseff. O mesmo blogueiro afirmava que havia problemas para colocar em prática tal projeto (pesquisa fajutas), pois o Vox Populi se mostrava reticente em participar da maracutaia.

Sinceramente, sempre duvidei da teoria que os institutos de pesquisa dançam de acordo com o samba, ou seja, manipulam resultados em prol de candidatos da sua preferência ou então simplesmente vendem as pesquisas com resultados já prontos antes mesmo de saírem a campo. Lembro-me duma conversa com meu irmão, publicitário com passagem por grandes agências, onde ele dizia que o que está em jogo em pesquisas de caráter nacional ou em um estado ou cidade rica e importante, é a credibilidade do instituto, fiador dos números que ele próprio divulga.

Embora não acredite em manipulação pura e simples, não tenho como negar erros gritantes(ou grosseiros) cometidos pelos institutos de pesquisa, além, claro, de muitas vezes esses institutos tornarem-se despudoradamente tendenciosos.

Basta lembrar a pesquisa divulgada pelo Ibope em 1998 dando conta que Mário Covas era o único com força para impedir um lastimável segundo turno entre Paulo Maluf e Francisco Rossi na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes. Ao final presenciamos uma disputa voto a voto pelo segundo lugar entre o governador em campanha pela reeleição – que antes declarara ser contra o instituto da reeleição, mas, todos sabem, o pai da contradição é o oportunismo – e a deputada em primeiro mandato Marta Suplicy. Também nesse mesmo ano, só que no Mato Grosso do Sul, o candidato a governador José Orcírio Dias (PT) sempre apareceu em terceiro lugar na casa dos 10% das intenções de voto. Todavia o resultado final saído das urnas deu vitória, em primeiro turno com mais de 60% dos votos validos, ao candidato petista. E o que dizer então do caso Jaques Wagner, esse mais recente, de 2006. Nas pesquisas dos diversos institutos o então governador baiano Paulo Souto aparecia liquidando a fatura já no primeiro turno e discursando de maneira cada vez mais arrogante. Acabou com o petista Jaques Wagner enterrando dezesseis anos ininterruptos de dominação do carlismo. E o que dizer então do célebre caso Proconsult nas eleições fluminenses de 1982. Ali o esquema era um pouco diferente, tão vultoso, irresponsável e amador, que as Organizações Globo buscavam tumultuar a apuração e, quem sabe, conquistar um golpe no tapetão contra Leonel Brizola. Existem exemplos aos borbotões, mas esses estão entre os mais clássicos.

Agora, em todos esses exemplos que expus, só soubemos dos erros após a abertura das urnas e a contagem oficial dos votos. A credibilidade de cada instituto sobre as pesquisas de intenção de voto só pode ser aferida após o resultado oficial. Contudo, como estamos distante mais de um ano das próximas eleições presidenciais, como termos certeza se os números apresentados são realmente os checados ou apenas miragem? Desafortunadamente não há como comprovarmos esses números e, portanto, isso acaba por dar margens a manipulações, fictícias ou reais.

O máximo que se pode fazer é contrastar uma pesquisa com outra. Nisso o resultado da pesquisa Vox Populi, divulgado ontem, mostra algo que o Datafolha, divulgado no fim de semana, também mostrou, ainda que de maneira mais tímida. A candidatura José Serra passa por um momento de tibieza. Há quanto tempo o próprio Datafolha coloca o governador tucano na casa dos 40%? Pelo menos desde que ele era prefeito da capital paulista. Ou então pior, desde o início do governo Lula, antes de Serra usar a prefeitura da maior cidade do hemisfério Sul como trampolim para a corrida presidencial – passando também pelo Palácio dos Bandeirantes. Uma coisa era Serra ostentar esses números diante dum nome como o de Lula, conhecido nos quatro cantos do país, tantas vezes candidato à presidência e enfim presidente da República. Outra coisa é não superar esse patamar diante dum quadro praticamente estável, onde a principal rival é, de certa forma, uma incógnita para quem a conhece, enquanto a grande massa não sabe de quem se trata.

Outro dado a corroborar a tese que a candidatura Serra não vai bem das pernas é que num dos cenários pesquisados pelo Datafolha para a disputa do governo de São Paulo o atual governador tem “apenas” 36% das intenções de voto. Digo “apenas” porque embora lidere o cenário, seu desempenho fica 7 pontos atrás do obtido por Geraldo Alckmin, líder absoluto no cenário, por ora, mais provável, contra Marta, Maluf, Erundina, Valente e outros nomes de menor expressão. Se um político tão insosso, inábil e nada carismático tem uma intenção de voto para governador maior que Serra, é sinal que o eleitorado paulista ameaça ficar enfadado de Serra ou então que sua administração está deixando a desejar.

Se Serra, mesmo com toda a benevolência que a mídia lhe confere, governando o estado mais populoso e rico do Brasil, com todo o marketing concedido pela campanha antifumo, além do fato de já ter disputado a presidência da República – portanto contar com aquilo que os especialistas em pesquisas desse tipo chamam de recall –, não conseguiu superar a barreira dos 41% e por último vem sofrendo uma retração, pelos números do Datafolha, contra adversários aparentemente tão débeis, realmente, há de se arrostar, a pré-candidatura Serra está encontrando mais dificuldades que tanto aliados quanto opositores podiam imaginar.

Não obstante, pelos números divulgados pelo Vox Populi, o quadro se mostra ainda mais desolador para o governador paulista. Neles Serra surge com 30% das intenções de voto, enquanto Dilma Rousseff rompe a barreira dos 20 pontos e chega a 21%. Numa leitura mais otimista para a candidata petista e inversamente mais sombria para o tucano, considerando os 2,2% da margem de erro, Serra pode ter 27,8% e Dilma 23,2, então apenas 5,6% separa ambos, muito pouco levando em conta os fatores pró-Serra elencados anteriormente.

O Vox Populi não submeteu o nome da Senadora Marina Silva aos entrevistados e como a provável candidatura da acreana ainda é – perdão pelo trocadilho – verde e ela sequer se desfilou do PT, é impreciso saber qual seria seu impacto sobre as intenções de voto ou se ela pode, de fato, vir a ser a novidade tão alardeada nos últimos dias.

De qualquer maneira as conclusões que podemos chegar não diferem muito das de antes da divulgação dessas pesquisas. Dilma se encontra numa curva ascendente, mesmo com Ciro tentando viabilizar-se, e Serra numa curva decrescente. E, ao menos por enquanto, a maioria do eleitorado se mostra identificada com uma plataforma mais progressista. Senão vejamos. Dilma (16% Datafolha e 21% Vox Populi), Ciro (15% Datafolha e 17% Vox Populi), Heloisa Helena (12% em ambos) e Marina Silva (3%, apenas Datafolha) têm em comum propostas à esquerda da aliança demo-tucana. Outro ponto, os quatro possuem alguma identificação ou com o governo Lula ou com o PT, o que leva a imaginar que mesmo com Serra vencendo o primeiro turno, com digamos 35% dos votos válidos, será uma tarefa hercúlea amealhar votos num segmento que se mostra nada disposto a encarar um projeto marcadamente conservador.

2 comentários:

Blog do Morani disse...

19/08/09

Meu amigo Hudson:

A Marina Silva se desligou do PT!!!!
Foi a notícia dada, agora, na TV Bandeirante - jornal das 07:20h.
Com isso, acredito que naufragou a chance de Dilma Roussef e praticamente desestabilizou a força do Lula, conforme foi dito hoje na CCJ: "Se a senadora Marina Silva deixar o PT, as chances de Lula emplacar Dilma à Presidência são remotas e o PT pode fechar o seu caixão"
Parece coisa de profeta. Quem disse isso? O presidente do PSDB, o senador Guerra.
Agora parece que as lutas de ambos os lados serão renhidas. Uma pergunta: Marina Silva deverá ir para o PV? Torço para que não aceite o convite nem do DEM, PSDB ou do PMDB. Desse, então, nem em pesadelo. Ali, ela jamais sairá candidata. Deve fugir do PMDB como o Diabo foge da Cruz!
Vão começar os "rounds" de uma longa batalha política. E em tudo há um envolvimento na "teimosia" de Sarney em não se defender das acusações e a do Lula em defendê-lo, custe o que custar. Custou, e o preço foi alto. Marina Silva é mulher de caráter firme e saiu magoada do governo onde filiado se encontra um MINC - o mais truculento Ministro do Lula, já que nada respeita em matéria de Amazônia e do Acre. Lembrei-me de imediato de sua carta a ela. Seria, já, uma "visão" do futuro?

Unknown disse...

Caro Morani

A saída de Marina Silva por mais dolorosa que seja não significa nem o fim do PT ou tampouco o da candidatura Dilma Rousseff. Marina está de malas prontas pro PV cujo lider na Câmara atende pelo nome Zequinha Sarney, filho do oligarca maranhense e ex-ministro do Meio Ambiente de FFHH. Marina será mais uma ingênua útil aos interesses escusos.