quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Crise no DEMO

Esperei um pouco para dar o meu pitaco sobre os últimos acontecimentos no Distrito Federal. Afinal como bom mineiro que sou, sempre fico ressabiado com algo que não consigo compreender muito bem. No caso especifico do governador José Roberto Arruda e o “panetonegate” até agora não compreendi o porquê da mídia oligopolizada gastar tanta tinta e imagens. Obviamente não estou criticando o direito da imprensa de divulgar um esquema de corrupção dos maiores que vimos nesses últimos tempos. Pelo contrário, até aí não só acho louvável e aplaudo, como gostaria que essa mesma imprensa fizesse desse exercício algo de praxe, o que infelizmente não ocorre. Para comprovar isso basta lembrar que no Rio Grande do Sul o mar de lama (xô Carlos Lacerda) jorra varrendo o (des)governo Yeda Crusius. Ou então a forma tímida (sic) como a imprensa cobriu a cassação do governador paraibano Cássio Cunha Lima. Ou, voltando ao “panetonegate”, o porquê da midiazona não apurar pra valer a ligação entre o esquema montado por Arruda no DF e empresas que prestam serviço para a prefeitura da capital paulista.

Entretanto depois das cenas de truculência praticadas pela Polícia Militar ao reprimir o sagrado direito de manifestação da população contra um governo eleito por ela própria, resolvi dividir com meus leitores algumas dúvidas. Aliás, por falar em truculência da polícia nos governos demo-tucanos, me parece que essa é uma das marcas registradas dessas administrações. Invasão do campus da USP pela tropa de choque da PM paulista, governo José Serra. Repressão a manifestantes e assassinato pelas costas de um integrante do MST pela Brigada Militar gaucha, governo Yeda Crusius. Expulsão e humilhação, permeados por atos de terrorismo de Estado praticados pela PM mineira contra sem-terras num acampamento em Campo do Meio, governo Aécio Neves. Disseminação de preconceito contra povos indígenas e movimentos sociais roraimenses, além de leniência com atos de vandalismo perpetrados por arrozeiros contra bens da União (explosão de pontes,por exemplo), governo José Anchieta Júnior. Em comum todos esses governadores têm o ninho do qual saíram para administrar seus respectivos estados, o ninho tucano. Como Arruda foi o único governador eleito pelo PFL, atual DEMO, só faltava ele pra mostrar seu lado autoritário. Esse é modo demo-tucano de governar.

Falando sobre o “panetonegate” há muitas dúvidas, algumas elucubrações, porém poucas certezas até o momento. Uma das certezas é a de que realmente foi instalado no DF um enorme esquema de corrupção. No entanto penso ser cedo ainda para afirmar que esse esquema fora de fato montado no atual governo. O passado de Joaquim Roriz, ex-governador do DF, mostra-nos o quanto é provável que esse esquema venha de antes. Aliás, como os eleitores do DF têm uma capacidade para eleger e ressuscitar figuras tão funestas! Roriz parecia fadado ao estertor político na metade dos anos 90, mas voltou e numa das eleições mais apertadas da história recente do país sobrepujou o então governador Cristovam Buarque, candidato a reeleição. Elegeu e reelegeu-se para depois conquistar uma cadeira no Senado. A essa cadeira teve de renunciar para não ser cassado poucos meses após assumi-la, pois se vira acossado por diversas suspeitas de caixa dois usando como fonte o Banco de Brasília.

Arruda também já teve a sua “volta por cima”. Em 2001 o então líder do governo FFHH no Senado viu seu nome envolvido na violação do painel eletrônico do Senado Federal, utilizado na votação que cassou o mandato do ex-senador brasilense Luís Estevão. Negou, chorou e apresentou como álibi uma declaração do hoje blogueiro Ricardo Noblat de que haviam jantado juntos na noite em que ocorrera o crime. Porém, ao final, encurralado, usou a tribuna do Senado para admitir a culpa e depois para renunciar ao cargo, evitando assim o processo de cassação do seu mandato, que poderia torná-lo inelegível por aproximadamente nove anos.

No ano seguinte trocara o PSDB pelo PFL (o que na prática não muda nada) e voltou de forma triunfante para o Congresso Nacional. Dessa vez eleito deputado federal com mais de trezentos mil votos e a maior votação proporcional do país. Em 2006 leva ainda no primeiro turno o governo do DF e é congratulado pela nossa mídia oligopolizada como o homem que “deu a volta por cima”, do inferno ao paraíso.

Desde então até o final do mês passado era tratado como administrador sério e conciso, ciente do papel reservado ao Estado frente o capitalismo moderno e exemplo de gestor público. Lideranças tanto do DEMO (PFL) quanto do PSDB corriam a Brasília para elogiar o governador Arruda, selar acordos e contratos de parceria, e aproveitavam para tirar fotos ao seu lado. O governador do DF estava no seu auge e bem na fita. Era inclusive cotado para assumir a vaga de vice numa eventual chapa de José Serra como presidenciável tucano.

Por que então depois de ser tão ovacionado pela mídia, essa mesma resolveu mostrar a podridão e a lama fétida que tomaram conta do Palácio dos Buritis? Será que ninguém no DF nunca ouviu falar, nem de longe, num esquema tão grande? Um esquema assim não surge do dia para a noite. Será que a imprensa foi descuidada ao ser tão benevolente com Arruda mesmo sabendo do seu passado nada auspicioso, sobretudo quando analisamos sua proximidade com Roriz?

É também curioso que o DEMO tenha seu único governador atingido por um mega-escândalo no momento em que algumas lideranças do partido vêm o público externar a preferência por Aécio Neves como cabeça de chapa na disputa pela presidência da República no próximo ano. E mais, são justamente essas lideranças, Cesar Maia e o filho Rodrigo, que têm mostrado uma posição mais ambígua sobre a expulsão ou não de Arruda.

A exposição das fraquezas do DEMO em rede nacional vem a calhar a partir do instante em que ele pretende interferir nas decisões tucanas contrariando o que almeja o governador paulista. Cesar Maia chegou a afirmar, em entrevista concedida ao Último Segundo do IG que José Serra lembra os piores caudilhos. “Um caudilho do passado apontava o dedo para o candidato. Agora o próprio candidato aponta o dedo para si.”
[http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/2009/11/16/cesar+maia+elogia+aecio+e+diz+que+serra+lembra+os+piores+caudilhos+9104950.html]

Contudo não seria uma tática suicida essa? Afinal as denúncias contra Arruda podem respingar não só na formação da aliança PSDB-DEMO como pode atiçar ainda mais o fogo amigo. Mas também pode ser uma jogada da ala tucana liderada por Serra para minar o DEMO do DF e buscar a formação de um palanque com Roriz – há algum tempo rompido com Arruda – candidato declarado a governador e líder nas pesquisas de intenção de voto. Pode ser.

Pode ser também que o escândalo do “panetonegate” já estivesse prestes a explodir e tenham resolvido detoná-lo (ou seria correto dizer implodi-lo???) agora, um anos antes da eleição, assim têm mais tempo para limpar a sujeira.


Tampouco descarto a possibilidade da implosão do governo Arruda ser um aviso de Serra a Aécio Neves. O governador mineiro, concorrente de Serra na disputa pela indicação tucana ao Planalto tem o telhado de vidro, porém, manteve a imprensa de seu estado entre amordaçada e devendo-lhe fidelidade canina durante os últimos sete anos. Imaginem vocês se alguém, na mídia nacional, se interessa em escafunchar as ligações de Aecinho com as empreiteiras contratadas para a construção da maior obra que os tucanos fizeram por Minas, a Cidade Administrativa? Quem sabe se não há ali um potencial tremendo de soterrar as aspirações futuras do neto de Tancredo? Curiosamente, foi só o “panetonegate” ser detonado que Aécio adotou um discurso mais conformado com a eventualidade de Serra ser o presidenciável de seu partido. Inclusive já deixou no ar a possibilidade de retirar a pré-candidatura ainda nesse ano.

São dúvidas que dificilmente terão respostas a curto prazo, por isso ando tão ressabiado que nem escrevi no começo do texto.

Antes de terminar gostaria de ressaltar aqui é a postura de vestal do DEMO dizendo que nessa crise terá a oportunidade de se diferenciar do PT que não expulsou seus “mensaleiros”. Nem vou entrar no mérito da questão em si, afinal como posso ter certeza que o “mensalão” petista existiu da forma como foi denunciado por Roberto Jefferson? A denúncia de Jefferson é o que há de mais concreto, e abstrato, sobre o mensalão petista, a denúncia dum deputado ressentido e com interesses escusos. Todavia, mesmo que o DEMO venha a expulsar Arruda e expô-lo para suplícios em praça pública isso não torna a legenda mais ética e honesta que qualquer outra. Foi o PFL, agora repaginado para o nome de DEMO, quem abrigou e saudou Arruda como novo herói após a violação do painel do Senado. No mais, o comparsa de Arruda naquele crime foi ACM, que além de também renunciar ao mandato para não ser cassado, foi novamente eleito senador pela Bahia e continuou por até a morte como um dos caciques do partido, inclusive deixando herdeiros.

Em tempo.
José Roberto Arruda tem o direito de se defender frente as acusações que lhe recaem no momento, ainda que o caso pareça indefensável. Só assim se poderá afirmar que houve justiça de fato. Além disso, o ideal é que não paire dúvidas sobre a culpabilidade do réu para que mais tarde não seja tratado como falso mártir, o que não parece muito difícil dadas as circunstâncias. Contudo, em casos como esse, o problema pode ser a dilatação do prazo para a defesa, cabe ao DEMO definir um prazo razoável para o desfecho do caso, pelo menos de sua parte. Expulsão sumária como parte de mídia, da sociedade e do DEMO querem, apenas reforça a reminiscência de vezos autoritários. O direito a defesa e ao contraditório fazem parte do rito democrático, no entanto algumas pessoas e instituições ainda não se acostumaram a tanto.

3 comentários:

Anônimo disse...

teste 2

Blog do Morani disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Blog do Morani disse...

10 de dezembro de 2009 13:54
Blog do Morani disse...

Uma coisa é certa, meu caro amigo Hudson: esse Arruda - vamos ter, todos nós brasileiros, que carregar atrás da orelha esquerda um galho de arruda - já é reincidente. Pegaram-no com a mão à botija no Senado e para não perder a possibilidade de se eleger qualquer coisa renunciou. Depois, apareceu como candidato ao governo de Brasília. Ganhou e levou. E agora aparece ai recebendo "propina" de algum interessado importante, além de comprar, à base de troca de "emendas" parlamentares, os votos necessários aos seus interesses. O caso do Sul - Yeda Crusius - foi outra "lama" a emporcalhar a política - ciência excelente se praticada seriamente. Como pode ele receber uma importância para distribuir "panetones" aos famintos de Brasília, que são tantos quanto são em todo Brasil, se isso deveria estar a cargo de qualquer secretaria de governo - a Social, p. exemplo?
Dar ainda a ele o direito de defesa? Eles já tem "Foro Privilegiado" - acho que é o único país do mundo a oferecer essa regalia - o que lhe dá ampla cobertura, quando o que merece, na verdade, é a condenação sumária!
Já estamos estressados por tantos escândalos sem soluções; por CPIs em que o governo central controla os principais lugares, e nada vai adiante. Só dá em pizza! De tanto se usar a "máquina" forte do governo, ela acabará um dia por quebrar uma engrenagem. Aí, meu amigo, as vacas vão pro brejo!
11 de dezembro de 2009 14:45

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