Embora o falecido Senador Itamar Franco nunca tenha se metido diretamente em maracutaias e até onde sei não tenha usado da atividade política para acumular bens pessoais -- segundo uma amiga minha, Itamar sempre foi um homem pobre, inclusive de espirito --, sua característica marcante sempre foi uma mescla de pusilanimidade e intempestividade que acabava se desdobrando em incoerência, indecisão, teimosia e incompetência. Essas características, obviamente, mais lhe atrapalharam do que ajudaram nas horas cruciais de sua carreira política: quando assumiu a presidência da Republica após a queda de Collor e quando se elegeu governador de Minas Gerais.
Na presidência Itamar Franco ocupou um cargo quase simbólico, uma vez que a administração de fato esteve durante boa parte do tempo nas mãos de um grupo liderado por Fernando Henrique Cardoso – e, diga-se de passagem, esse foi um dos momentos altos de FHC, pois deixar a presidência da República a cargo de Itamar seria uma temeridade talvez muito maior que o entreguismo tucano. Aqui vale lembrar que antes de FHC ser apadrinhado por Itamar para sucedê-lo (sic) na presidência, o nome favorito do homem de topete era Antônio Brito, aquele que futuramente empreenderia um dos maiores projetos neoliberais no Brasil desmontando o Estado no Rio Grande do Sul.
Já no governo de Minas Itamar foi uma figura pífia, rancorosa e pequena. Um governo cheio de desencontros, sem uma linha-mestra ou planejamento. Itamar não se importou em transparecer todo o seu caráter antirrepublicano ao deixar ao léu regiões onde havia sido derrotado por Eduardo Azeredo. Na verdade Itamar via o governo de Minas como um consolo por não ter disputado a presidência em 1998 e, num grande devaneio, o Palácio da Liberdade como uma espécie de reclusão até poder voltar ao Palácio do Planalto.
Dois exemplos da mesquinhes e pequenez de Itamar. Em 2000 mesmo tendo em seu governo uma ampla coalizão de centro-esquerda – que acabaria se esfarelando – ficou em cima do muro nas eleições municipais e só declarou apoio a Célio de Castro em BH nas vésperas do segundo turno, quando pesquisas de opinião de voto eram unânimes em projetar uma vitória tranqüila do então prefeito sobre o tucano João Leite. Antes, em 1994, Itamar deu a FHC o espaço necessário para se candidatar à presidência da República no papel de favorito, porém pouco mais tarde demonstrou publicamente um profundo ressentimento por este ter se negado a lhe retribuir o favor em 1998, como se a presidência fosse um acordo entre compadres.
Se Itamar nunca usou da atividade política para acumular bens pessoais, sempre incorreu na incoerência de ser companheiro de chapa de homens que não comungavam dos mesmos ideais. Provas dessa incoerência e da incapacidade que o ex-presidente tinha em escolher de forma melhor seus companheiros de chapa não faltam.
Candidato e eleito vice-presidente na chapa de Fernando Collor em 1989, posteriormente teve como vice-governador Newton Cardoso em 1998, e mais recentemente, no ano passado, aceitou Zezé Perrela como suplente na também bem sucedida disputa pelo Senado.
E é justamente Zezé Perrela quem assumirá a cadeira de Itamar Franco no Senado Federal. Um homem investigado pela Polícia Federal por indício de lavagem de dinheiro na compra e incorporação de benfeitorias numa propriedade rural avaliada em 60 milhões de reais, por enriquecimento ilícito na gestão do Cruzeiro Esporte Clube e por evasão de divisas na negociação de jogadores.
Infelizmente, o grande legado de Itamar será a participação, ainda que de certa forma involuntária, na privataria e nos tenebrosos anos FFHH e o fato de deixar Zezé Perrela numa cadeira no Senado Federal, um verdadeiro presente de grego para os mineiros e o Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário