segunda-feira, 11 de julho de 2011

Tamanho disparate

Por Gilvan Rocha

Ultimamente temos denunciado que o socialismo científico foi seriamente distorcido para dar lugar ao dogmatismo stalinista. Nesse último período, após a queda do Muro de Berlim, passaram a ocupar o espaço de pretensos teóricos do socialismo, não mais os filhos diretos da Terceira Internacional Comunista. Ressuscitou-se o “marxismo-legal”, e algumas figuras de vasta erudição passaram a ser veneradas como expressões autorizadas de um marxismo pretensamente atualizado.

Tivemos a oportunidade de ler um ensaio de um desses louvados acadêmicos da escola do “marxismo-legal”, Perry Anderson, e todo o seu raciocínio político partia da falsa premissa tão divulgada por Trotsky e o movimento trotskista de que o stalinismo nascera após a morte de Lênin. Isso é um disparate que trouxe graves prejuízos para a história do movimento socialista e contribuiu para a consolidação das distorções, na medida em que insinuava ser o fenômeno do stalinismo produto do papel de um indivíduo ou outro, no decorrer da dramática história da Revolução Russa.

Noutro momento, tivemos a oportunidade de ouvir uma palestra do tão festejado trotskista Tariq Ali, em que ele fazia empenho de explicar uma possível aliança do socialismo com o fascismo do Irã, da Síria, da Al Qaeda, do fundamentalismo islâmico. Isso porque, os stalinistas de diversos vieses, inclusive os trotskistas, aceitaram a manobra dos ortodoxos, quando substituíram a luta de classes como eixo da história, para colocar em seu lugar a luta ‘nação opressora versus nação oprimida’. E dessa forma, elegeram o imperialismo, particularmente o imperialismo ianque, como inimigo principal, sem se dar conta do fato de que ser antiimperialista não implica, necessariamente, ser anticapitalista. O talibã, a Al Queda, o fundamentalismo islâmico, são testemunhas desse fato.

Não bastassem tantos disparates provindos e alimentados por “marxistas legais”, subvencionados pela academia burguesa, tivemos a oportunidade de ler uma entrevista do beatificado István Mészáros. Na manchete do jornal O Povo, do dia 27 de junho do dia corrente, ele houvera afirmado que o socialismo é o futuro inevitável para o mundo.
Ora, o ser Mészáros, esperamos, não haveria de mergulhar em tamanho disparate. Isto seria não saber fazer a distinção entre o determinismo e o fatalismo histórico. Sobre o advento do capitalismo, Friedrich Engels disse que ele trazia consigo um dilema: o socialismo ou o caos. São duas saídas que se excluem e nos causa perplexidade e tristeza ver que alguns “marxistas legais” não compreendem que o socialismo é, tão somente, uma proposta para a superação do capitalismo, mas para se consumar essa proposta é necessária a força para fazê-lo.

O socialismo não é uma utopia, um sonho, um desejo. O socialismo é um projeto que poderá realizar-se ou não. Aceitá-lo com fatalismo fez-me lembrar os tristes dias de minha juventude quando, militante do clandestino Partido Comunista Brasileiro, ouvia de seus dirigentes, em alto e bom som: “o socialismo é tão certo quanto o nascer do sol”, e isso era um tamanho disparate que trouxe prejuízos irreparáveis para a humanidade. E a se prosseguir na trilha desses disparates, estaremos contribuindo para que o capitalismo, não podendo se eternizar, venha a destruir a vida.

Gilvan Rocha é membro do CAEP- Centro de Atividades e Estudos Políticos.
Blog: www.gilvanrocha.blogspot.com/

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