Rápido pinga-fogo, em cima do lance. O Globo de
hoje mostra foto do presidente do Uruguai, José PepeMujica, cortando o cabelo em sua pequena chácara
nos arredores de Montevidéu. De origem camponesa, Mujica é um exemplo de
dignidade e coerência. Não traiu sua classe, rejeitou todas as benesses do
cargo, não aumentou o patrimônio, manteve a suavidade (apesar das torturas
monstruosas que sofreu durante a ditadura militar uruguaia). Viaja em aviões
comerciais e vai para o trabalho num velho Fusca 1987.
Parênteses: antes dele, Tabaré Vasquez, que é oncologista, também
da Frente Ampla, abria espaço na agenda oficial e reservava algumas horas por
semana para atender seus pacientes. Não se mudou para um Palácio, nem se
beneficiou de mordomias. Sabia que presidência não é profissão, nem trampolim
para boa vida. Liturgia do cargo ? Isso é para deslumbrados, que trocam,
gostosamente, a informalidade por ternos de grife e carrões oficiais. Mujica
não sabe o que é uma gravata e, sobretudo, respeita o dinheiro público. Não tem
o menor carisma e isso apenas reforça minha enorme admiração pelo povo que o
elegeu. Os uruguaios são politizados (ah, que inveja …) e preferiram a
ideologia aos truques da marquetagem. A luta dentro da Frente Ampla é política
e não, como tristemente vemos no Brasil, de fundo tediosamente eleitoreiro.
Alguém consegue imaginar coisa parecida por aqui, paraíso do ilusionismo, da
malandragem, da falta de escrúpulos, das intermináveis traições de classe, das
fantasias conciliatórias, do paternalismo ?
Por falar em malandragem, no pior sentido da palavra, volto ao
futebol. Hoje, Lionel Messi destruiu as ilusões patrioteiras. Dá gosto vê-lo
jogar. Não temos nada nem remotamente parecido com ele. Neymar ? Não gosto de
ser profeta de nada, mas arrisco um palpite: esse cara não vai dar em nada. É
um moleque desonesto e pretensioso, desconhece que futebol é jogo coletivo. Vai
ganhar muito dinheiro nessa indústria, mas não deixará saudade. Podem me cobrar
daqui a alguns anos.
Abraço e um ótimo domingo.
Jacques
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