terça-feira, 2 de julho de 2013

O hino pela mudança

Por Ana Paula Ferreira

Há alguns anos atrás Rita Lee escrevera que “Mais vale um craque de gol do que dois de araque no ministério” e hoje, o Brasil sendo o país acolhedor da Copa de 2014 tem motivos de sobra para mostrar o contrário.
Embora ainda muitos brasileiros acompanhem os jogos da seleção, pode-se dizer que o sucesso atualmente não está nos campos, está nas ruas.
São milhares de brasileiros que foram às ruas de suas cidades com cartazes e multiplicidade de vozes para erguerem suas bandeiras de educação, saúde, respeito às diferenças e transporte público. Foram tantas as demandas que um imenso grupo se erguia, fugia-se do controle e ora se via cartazes vagos e burgueses como “Fora Corrupção!” (De quem? Contra quem? Qual proposta se faz?), ora com faixas conservadoras “A favor da pena de morte!”. Entretanto, isso é a ilustração de uma adormecida mobilização popular brasileira em massa, pós-ditadura.
O mais interessante é que esse movimento foi ganhando corpo e objetivo específico: lutar a favor de um transporte público que caminhe na mesma direção das necessidades do povo.
Sem querer se fazia política!
No meio da multidão se ouvia “Não queremos política”, mas se ignorava que a própria pressão popular é também um ato político. Política não está relacionada a apenas o período eleitoral. É um processo em que grupos disputam o poder e decisões são tomadas para resolução de conflitos no que concerne a bens públicos. O movimento faz política quando se mostra enquanto grupo que usufrui de um transporte público caro e ineficiente e que, portanto, disputa o poder contra os empresários desse ramo. O governo faz a política oferecendo a resposta, seja ela truculenta, figurada na tropa de choque de Alckmin, ou ainda na ridícula liminar de Anastasia, proibindo manifestações em época de Copa das Confederações. Mas, política pode também ser uma tomada de posicionamento dialógico, que busca atender as demandas da população. E quando a presidenta Dilma retira impostos sobre as empresas de transporte público, ela cumpre esse papel de diminuição da tarifa.
Se estivéssemos no mundo Antigo poderíamos dizer que estamos armados junto com Ares, o deus grego da guerra. Não que estejamos depredando patrimônio, ou agindo com violência. Contudo, muitos estão inflamados pela ação de participar, sob a agitação da pressão popular e o anseio da antítese. Vivenciamos um momento histórico em que cantamos o hino nacional nas ruas, que longe de dar início a um jogo futebolístico, está na verdade abrindo as portas para a voz do povo, que ama seu Brasil e clama por mudanças.
Essas mudanças não vêm apenas com milhares de pessoas indo às ruas. É ingenuidade pensar assim. Talvez por isso os gregos tenham inventado Atena, contraponto de Ares. Essa deusa, embora seja pertencente ao sentimento de guerra, age com inteligência, sabedoria e negociação.
Enquanto povo, vimos nossa força nas ruas. Vimos que somos sujeitos de nossa história e dos que virão. Vimos que somos atores desse grande palco, mas que sem a sabedoria de Atena não conseguiremos dar ênfase a pontos chave. Será apenas uma grande massa desorganizada e desarticulada. Por isso, não tem como fugir da política: precisamos de representantes que respondam por nós em políticas públicas de qualidade.
Façamos, portanto, que Ares e Atena estejam com o povo nessa empreitada!
Ana Paula Ferreira é Pedagoga, Coordenadora Pedagógica do Pré Vestibular Comunitário Educafro e professora da rede municipal de ensino de Poços de Caldas. 

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