Impossível ver o julgamento do chamado
“mensalão” e não me lembrar do famoso caso Dreyfus.
O capitão do exército francês Alfred
Dreyfus é em 1894 acusado e posteriormente condenado por crime de
alta traição e espionagem. Toda a instituição do Exercito francês
se voltou contra o oficial que acabou sofrendo um julgamento à
portas fechadas, cheio de vícios e fraudes, baseado em documentos
falsos. Não obstante, a população francesa insuflada pela imprensa
conservadora se viu transformada em turba ensandecida clamando pelo
linchamento moral do oficial.
Após o julgamento Dreyfus é enviado
para a Ilha do Diabo a fim de cumprir lá sua pena. Todavia sua
família inicia uma investigação por conta própria e descobre o
verdadeiro espião.
Porém, o Exército mostra-se reticente
em reconhecer seus equívocos e usa de todos os artifícios buscando
salvaguardar sua própria instituição.
Nesse momento uma grande corrente de
intelectuais abraça a causa – Émile Zola escreve o famoso
J'accuse, cujo teor acusa vários oficiais e o gabinete de Guerra de
terem sustentado um erro judiciário condenando um inocente – até
que em 1906, doze longos anos após o primeiro julgamento, Dreyfus é
finalmente reabilitado.
O caso rendeu vários livros e pelo
menos um ótimo filme “O julgamento do capitão Dreyfus” de 1958,
estrelado e dirigido por José Ferrer. Entre os livros cito “O
século dos intelectuais” de Michel Winock, Editora Bertrand
Russel.
Na França do século XIX o principal
no julgamento de Dreyfus era preservar a instituição Exército. Já
no Brasil do início desse século, o importante é salvar o que
resta de credibilidade do oligopólio midiático.
O filósofo marxista italiano Antonio
Gramsci chamou a grande mídia de Partido do Capital. E é essa
instituição o verdadeiro polo aglutinador da oposição farisaica e
entreguista, que clama ensandecidamente pelo apedrejamento em praça
pública de José Dirceu, José Genoino, João Paulo Cunha e demais
petistas envolvidos no chamado “mensalão”.
Aqui vale lembrar de outra coisa mais,
uma frase estampada pelo jornal suíço
Neue
Zürcher Zeitung
em 2009: “(...)
a
imprensa brasileira é conhecida internacionalmente por trazer
regularmente notícias de fatos totalmente
inventados, acusações que já destruíram a vida de outras
pessoas(...)”.
Aí
fica a pergunta: qual democracia de fato pode teimar em existir num
quadro onde o maior tribunal de Justiça do País é pautado pelo
Partido do Capital?
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