quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Breve leitura histórica, política e trabalhista

Por Ana Paula Ferreira

É correto avaliarmos que a desvalorização docente não é de agora. Sabe-se que foram anos sem percentual significativo de aumento e inclusive gestões em que nem o repasse inflacionário foi coberto.

Muitos culpabilizam o sindicato e por mais que se deva tecer as críticas, fragilizá-lo não é a melhor opção uma vez que o patronato se utiliza disso para reforçar sua tirania sobre os trabalhadores. A história mostra isso! Como o desfalque do presidente do sindicato no período de 2004 a 2007, várias pessoas se desfiliaram, contribuindo para o esvaziamento das assembleias e manifestações sem grandes repercussões no ano de 2009 e 2010. Consequência: Neste período de 2009 a 2012 nem o ajuste salarial para acompanhamento da inflação tivemos.

Enquanto utópica e militante na educação estive presente nesse momento decadente do sindicato e participando também da Comissão para revisão do Estatuto do Magistério, iniciado em outubro de 2010, pensei que tal medida democrática poderia se traduzir em uma valorização dos profissionais da educação.

O engraçado é que tocaram no assunto da revisão justo numa época em que a prefeitura mobilizava esforços para que os funcionários públicos aceitassem o regime estatutário. Não houve a concordância de troca de regime trabalhista e também não houve qualquer devolutiva do texto final elaborado pela Comissão como produto de dois anos de reuniões. O engavetamento foi uma nítida indiferença aos trabalhadores da educação.

Mas o cenário era outro! O sindicato voltava a se fortalecer no ano de 2011 sob uma ameaça do cancelamento do concurso 2008 em que foi possível o ingresso de centenas pessoas no setor público. O medo de perder seus direitos trabalhistas motivou que 64 servidores se filiassem no sindicato e buscassem apoio jurídico.

O sindicato não só tinha mais filiados como também uma maior participação, diante de posturas ousadas e transparentes, escancarando em plena campanha política municipal no ano de 2012, out doors que denunciavam o descaso da administração pública (cujo prefeito na época era candidato) em relação aos funcionários públicos.
O estudo de história não serve para mero memorialismo. A história nos conta as raízes daquilo que é atual e nos permite visitar erros passados para se evitar inclusive erros similares no presente.

Num passado não tão distante os funcionários públicos negaram o regime estatutário. A nova administração contratou uma empresa por um valor abusivo para fazer um novo documento e ouvir de novo um “não” dos trabalhadores, uma vez que o ganho salarial real nem é mencionado.

A administração anterior fez uso de uma comissão justificando a horizontalidade para tratar a valorização docente, o que é ético, plural, democrático e plausível de louvor, se não fosse o fato que ambas administrações engavetarem as propostas advindas de numerosos encontros, demonstrando um enorme desapreço aqueles que se reuniram em calorosas discussões e em relação aqueles que esperavam a materialização das propostas.

Através do exposto, a imagem do atual prefeito desgasta-se incluindo aí o não cumprimento da Lei do Piso para os professores, direito esse de ter 1/3 da sua carga horária sem alunos, para realização de planejamento, estudo e avaliação. Nem menciono o direito de um salário de R$ 1917,78, pois isso caberia em outra apreciação, mas o que se nota é uma incoerência com o nome do partido, incoerência com as promessas de campanha e falta de leitura de uma história recente.

O ano de 2016 terá eleições municipais novamente. Que o prefeito reflita sobre a trajetória de seu antecessor político em relação aos direitos trabalhistas. Há um curto espaço de tempo para um funcionalismo tão descrente em mudanças profícuas e por isso que a valorização do trabalhador em educação deve ser pauta urgente, pois se a finalidade é a reeleição que lembre a voz de Elis Regina cantando “Cai um rei de ouro, cai um rei de espada, cai um rei de paus, cai num fica nada”.


Ana Paula Ferreira é companheira de lutas populares, Professora da rede pública de Poços de Caldas e coordenadora do Educafro.

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