quinta-feira, 3 de julho de 2008

Dúvidas na Colômbia

Ainda é muito cedo e pretendo evitar tirar conclusões apressadas, mesmo porque as notícias que nos chegam da Colômbia estão em sua maioria nas mãos da midiazona mazombeira em versão PIG e não passam de mero repetidor das agências internacionais. No entanto existe uma complexidade na libertação da senadora Ingrid Betancourt que ainda não consegui decifrar e vem me encabulando desde a tarde de quarta-feira (02/07/2008). Qual teria sido o acordo firmado entre desertores das Farc, governo colombiano e talvez, insisto talvez, a senadora a fim de garantir a soltura dessa e mais alguns outros reféns? Qual o real interesse (repentino) de Uribe em resgatar Betancourt uma vez sabido que há muito tempo ele vem usando de todas as artimanhas para boicotar negociações visando justamente essa libertação?

A ilação mais certa subtraída do recente acontecimento é que as Farc indubitavelmente estão no seu pior momento, em menos de seis meses perderam seu principal negociador (Raul Reyes), um homem-chave (Ivan Ríos) e seu fundador (Manuel Marulanda), além de ver vários desertores e ter ficado no epicentro de uma crise entre Colômbia, Equador e Venezuela. Agora perde sua moeda de troca mais preciosa. Os guerrilheiros das Farc hoje estão encurralados e com força de reação diminuta em relação a poucos anos atrás. Pode-se usar dum ditado bem popular aqui em Minas, “estão num mato sem cachorro”, pois insistindo continuar em armas, fatalmente serão trucidados pelo exército colombiano amparado por Washington e subserviente aos interesses do imperialismo estadunidense. Por outro lado depondo armas e firmando uma trégua qualquer, têm consciência que se tornarão alvo de grupos paramilitares incentivados e com ligações estreitas com o atual governo. Na prática isso já ocorreu na década de 1980 com a importunação e assassinato de vários simpatizantes e integrantes das Forças Revolucionárias e a certeza da repetição de atos tão hediondos faz recair sobre os principais nomes da guerrilha o medo da “legalidade”.

No desenrolar dessa história, embora o fantoche e lacaio de Bush apareça como o grande triunfador no episódio, fica de certa forma exposto o momento de atribulações pelo qual vem passando o governo colombiano. Inegavelmente olhando pela ótica conservadora Álvaro Uribe logrou êxito em alguns pontos com sua virulenta política de combate as Farc, a recusa em qualquer forma de negociação com o grupo e o recrudescimento da perseguição a líderes populares – quantos sindicalistas são mortos por ano na Colômbia? No entanto as recentes denúncias recaídas sobre sua administração e seus aliados – importantes membros da base de sustentação do governo no Congresso e homens próximos ao presidente já foram cassados e encontram-se na cadeia ou fugiram para Miami, enquanto outros enfrentam processos por envolvimento com narcotráfico, chacinas e grupos paramilitares de direita – põem em xeque a condição de paladino da justiça galgada junto à opinião pública interna e externa. Adota-se então como medida de contra-ponto, mas sem nenhuma inflexão, a libertação da líder carismática, o próprio marido de Betancourt acusou Uribe por diversas vezes de dificultar o diálogo para libertação da agora ex-refém.

Além do mais está sendo levado a cabo pelo próprio presidente um projeto de re-reeleição já dado como inconstitucional pela Suprema Corte daquele país, fato que levou Uribe a convocar um plebiscito para consultar o povo colombiano sobre tal alteração na Carta Magna – vale lembrar que a Constituição colombiana não previa a execução de reeleições e o atual presidente a alterou e não teve pudor algum em se beneficiar diretamente de tanto. A taxa de rejeição ao atual mandatário e as instituições políticas anda em baixa no país vizinho, como revelam pesquisas recentes, portanto já que a guerra contra Equador/Venezuela não veio, melhor encontrar outro fato que una a nação, em especial algo bem comovente.

Ficará no ar a dúvida sobre o que realmente motivou a ação do Exército colombiano libertando a senadora e o que move o chefe-do-executivo nesse episódio. O tempo ajudará a elucidar essa dúvida, sobretudo após acompanharmos a postura de Ingrid Betancourt enquanto o lacaio se empenha numa provável campanha por um terceiro mandato.

2 comentários:

Lucas Rafael Chianello disse...

Hudson, P A R A B É N S pelo texto. É preciso mostrar as pessoas a farsa que é esse tal de Uribe.

Blog do Morani disse...

06/07/08

Hudson, igualmente eu o parabenizo pelo brilhante texto em pauta. Na minha humilde consideração acho que as Farc, após perderem em tão curto espaço de tempo seus líderes - assassinados pela mão hedionda e intrometida do governo norte-americano sempre enxeridos em questões alheias -, o exército das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia nunca mais foi o mesmo. Nesse resgate recente da ex-candidata à presidência da Colômbia, além de outros sequestrados, ficou patente a "ajuda" de Uncle Sam. Sem dúvida, o povo colombiano levará em conta a influência de seu atual presidente, Sr. Uribe, que pretende um terceiro mandato, fato rotineiro dessa América Latina na mania da reeleição,aqui inconstitucional, que virou "moda". E por certo o grande amigo do Bush tirará proveito do sucesso recente, mas nem seria preciso porque a CIA e outros órgãos políticos e estratégicos (os da Colômbia ligados umbilicalmente
aos dos EEUU), farão isso muito bem e com muita facilidade. Há elementos venais nas Farc, e uma debandada de homens que já não vêm nenhum proveito se exporem às perseguições covardes que acontecerão por lá. Sentindo-se acéfalo, os paramilitares do praticamente extinto Exército Revolucionário, e, ainda, na certeza de elementos dos governos/sócios (Uribe-Bush) infiltrados em seu meio - cada
qual lutando por seus interesses, mas de comum acordo - melhor é levar "vantagem pecuniária" e ter a possibilidade de futuro perdão por parte do govêrno Uribe, "gentileza" que deverá fazer parte de sua campanha. Foi fácil demais a retirada da ex-senadora e de outros americanos. Agora, na França, sob cuidados médicos e exâmes, constatou-se que a liberta senhora nada tinha das doenças tropicais adquiridas com a sua permanência na selva por tantos anos. Lembre-mo-nos de Pinochet: "doente, muito doente para ser levado a julgamento"; nada tinha a não ser a desfaçatez e a covardia de todos os títeres de republiquetas sem laivo de arrependimento pelos que mandou assasinar.
O Tempo é o Mestre de todas as tramóias. Esse episódio ainda virá à tona no coeano das verdades. Um abtaço.
Morani