Existem discos e mais discos e existe um disco cujo poder suplanta seu criador. “The Rise And Fall Of Ziggy Stardust And The Spiders From Mars”. Obra prima de David Bowie e do Glam Rock dos anos 1970 o disco não é tão somente um clássico, muito além disso, firmou-se como referência e contra-ponto – negativo ou positivo – para quase todo o tipo de música que o sucederia por longo tempo. Trouxe inovação estética e conspirou em 1972 para alucinações típicas daquele período onde o sentimento de perda da esperança num novo mundo e a queda na cruel realidade muito distinta da imaginada “Era de Aqaurius” punham fim ao flower power. A inspiração de Bowie tornou-se verdadeira sintomatologia da geração pós-Beatles, pós-Woodstock, pós-hippie.
Também é difícil dizer qual a relação exata entre a obra de Bowie e o multidirecional filme de Stanley Kubrick Laranja Mecânica (Clockwork Orange) de um ano antes. No que a obra de Kubrick influenciou o compositor britânico. O certo é a completude de ambos e a riqueza estética inclusa em cada um.
O visual andrógeno e a encarnação por parte de Bowie – então um músico com dois álbuns lançados com pouco ou nenhum impacto na crítica e no público – em um ser de outro mundo caído na terra, guitarrista canhoto e frontman de uma banda extraterrestre, não só primava pela originalidade inusitada como também pela estética inovadora sem puxar para o psicolidelismo.
As letras e músicas escritas com fino esmero, sarcasmo e cinismo, a utilização de aparelhos eletrônicos, a falta de medo da postura escancaradamente pop e a incorporação – quase transcendental – de David Bowie em Ziggy Stardust, transformam o álbum numa relíquia da musica pop. Aclamado no seu tempo, eternizado pela posteridade, o universo musical já lhe rendeu tributos dos mais diversos e Bowie pôde a partir daquele momento trilhar uma carreira das mais notáveis no cenário internacional ao mesmo tempo em que passava por inúmeras mutações sendo conhecido como o “Camaleão” do Mainstream.
Difícil também saber se Bowie encontrou em Ziggy e Lady Stardust um refúgio para suas opções e em suas próprias palavras cantadas “fazendo amor com seu ego”, ou se o objetivo era tirar do armário aquilo que o bom-mocismo e industria cultural de massa tanto queria esconder. Exemplo de artistas perseguidos pela opção sexual nunca faltou – que o diga Hollywood – e no mainstream do universo da musica pop não era diferente.
Quanto às musicas do álbum, bem, como escolher apenas uma ou duas, ou três, ou quatro... para descrever e tentar decifrar nesse espaço? Um álbum não só coeso e possuidor de uma amalgama tão grande capaz de torná-lo indivisível, que para mim seria tarefa árdua fazer tal escolha.
Faixas
1- Five Years
2- Soul Love
3- Moonage Dream
4- Starman
5- It Ain´t Easy
6- Lady Stardust
7- Star
8- Hang On To Yourself
9- Ziggy Stardust
10- Sufragaette City
11- Rock´N´Roll Suicide
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