Mês passado, para ser mais exato no dia 12 de janeiro, completaram-se 40 anos do lançamento do primeiro álbum da maior banda de rock de todos os tempos. O Led Zeppelin lançava seu disco homônimo, conhecido historicamente por Led Zeppelin I. Antes de falarmos sobre a obra ou a banda em si, é necessário analisarmos o contexto no qual surgiram.
Em 1969 o mundo preparava-se para Woodstock e nas rádios britânicas e estadunidenses dominavam bandas cuja criatividade e a generosidade musical fez daquele um momento ímpar na história da música e da cultura pop. Artistas já consagrados como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Who, Cream, Jeff Beck, Janis Joplin, Neil Young, CSN, Doors, Jefferson Airplaine, Joni Mitchell, Frank Zappa, Van Morrison ou outros em início da careira como Pink Floyd, Deep Purple, Black Sabbath e muitas outras formações ou artistas solos mostravam o quanto era possível fazer uma música (arte) ligada à masscult, mas que trouxesse embutida uma qualidade insofismável.
O Led Zeppelin surgiu exatamente para encarnar a síntese dos movimentos que esses artistas representavam e para anunciar o que seria o rock and roll nos anos seguintes. E, em termos comerciais, é bom lembrar, foi a única banda capaz de ameaçar o reinado dos fabfour em vendagem nos anos 60.
A proposta inovadora de misturar o acid rock ao psicodelismo, ao blues mais crú,além de R&B, folk, country, jazz e assim dar a cria ao Hard Rock – e mais tarde ao Heavy Metal – saiu da mente de James Patrick Page, um músico de estúdio que durante a década de 60 participou de algumas famosas gravações do rock inglês. Entre outras seria dele a guitarra solo de You Really Got Me (The Kinks), I Can´t Explain (Who), e ainda teria tocado em faixas de John Mayal e Eric Clapton. Em 1965 foi chamado à substituir o próprio Clapton nos Yardbirds, mas recusou e indicou Jeff Beck.
Pouco tempo depois Jimmy aceitou novo convite e se juntou aos Yardbirds antes da saída de Jeff Beck, mas a disputa de egos acabou com a banda e justamente Page seria o responsável por juntar os cacos e cumprir um contrato para alguns shows restantes. O guitarrista, entretanto, queria mais e como já conhecia de estúdio um ótimo e experiente baixista/tecladista, John Paul Jones – que entre outros trabalhos participara quase que integralmente do disco de estréia do Jeff Beck Co. e da brilhante gravação de She´s A Rainbown no Their Satanic Request Majesties dos Rolling Stones –, não perdeu tempo e recrutou-o . Aos dois se somaria ainda o jovem vocalista Robert Plant (com quem Page viria a formar uma das maiores duplas de compositores até aqueles tempos, e os vindouros também, e cujas interpretações e performances ficariam marcadas a ferro e fogo no Olimpo dos deuses do Rock) e o baterista peso-pesado John Bonham, ambos oriundos de bandas do underground londrino.
O nome New Yardbirds não durou muito e devido a uma comparação feita por Keith Moon – aquela nova banda tocava pesado e parecia que voava – surgiu o nome Lead Zeppelin, depois alterado para o trocadilho Led Zeppelin. Em outubro de 1968 tocam pela primeira vez com esse nome.
Entre o final do ano de 1968 e o comecinho de 1969 entram em estúdio e em apenas 20 dias gravam o primeiro disco.
Page, cheio de estilo e criatividade, mudou os rumos da guitarra nas canções, "You Shock Me" (um blues de arrastar a cara na sarjeta chorando um amor impossível) e "I Can´t Quit You Baby", ambas de Willie Dixon, já mapeando o futuro do rock dos anos 1970, que ficaria eternizado por uma infinidade de ótimos grupos e artistas diretamente influenciados pelo som do Led. Algumas músicas se tronariam clássicos da banda, como a atormentada e eficaz "Dazed and Confuzed" - com uma robusta linha descendente de baixo, obrigatória no set list dos shows da banda onde parecia infindável - e "Communication Breakdown", com um riff de guitarra claro e limpo, cheio de malícia, técnica e sentimento.
O Led Zeppelin I é mais do que um disco. É uma obra de arte. Atemporal, preciso, robusto. O álbum, como numa catarse, uniu talentos que produziram o melhor do rock através de décadas, coisa impensável no rock atual, cheio de gafes, fraudes e falta de competência. Muita pose e pouco som. John Paul Jones, em "Good Times Bad Times", um hard blues elétrico de arrasar o quarteirão, faz tremer o chão com seu baixo bem pontuado. Ele, com John "Bonzo" Bonhan, imortalizou a melhor cozinha do rock, só comparável a do The Who, com Keith Moon e John Entwinstle (ambos mortos pelos excessos). Bonzo tornou as músicas do Led mais grandiosas com sua quebradeira e viradas espontâneas, o que se tornou parte do trademark LZ.
Os riffs e solos memoráveis de Page, a magia de criar o que nunca antes havia sido feito, fez do guitarrista um dos mais reverenciados do mundo, até hoje. Assim como, as texturas sonoras, as alternâncias de dinâmica e tempos, tornaram o disco um exemplo de como se fazer música inventiva, viva, ainda atual. "Your Time is Gonna Come" é uma balada modelo de hard rock perfeito. "Dazed and Confuzed" é um blues com uma carga de psicodelismo e com um solo de guitarra veloz, violento, técnico e sensacional, que apresenta de forma lúcida a onda proposta pelo Led. "Black Mountain Side" tem forte influência de folk music inglesa e "Communication Breakdown" soa como um ataque punk antecipado em uma década. "Good Times Bad Times", a primeira faixa, tem um dos solos mais encorpados e precisos que já se criou. O maior mérito deles foi transformar o noise quase jazzístico do Cream de Clapton, as experiências psicodélicas de Hendrix e o rock anárquico do The Who, em uma música inovadora. Fazendo assim nascer um gênero, estilo, ou como quer que se chame, nunca antes ouvido e visto.
Led Zeppelin I plantou as sementes do heavy metal intuitivamente e deu vida ao que não existia. Não é a toa que o álbum foi reeditado cerca de onze vezes. Tenho dúvidas sobre se esse é o melhor álbum zeppeliano ou se está atrás do Physical Graffiti (1975) e do IV (1971). Todavia o certo é que mesmo na sua época – quando os deuses do rock ainda caminhavam na terra – foi difícil alguém fazer algo semelhante. Fico imaginando a sensação de um apaixonado por Rock And Roll vivendo todo aquele clima borbulhante do final dos 60´s e ouvindo pela primeira vez aquela banda de estilo – embora síntese de todo o movimento anterior como escrevi antes – inovador e atordoante tomar de assalto seus ouvidos. Infelizmente uma experiência impossível hoje em dia.
Track List:
Good Times Bad Times
Babe I'm Gonna Leave You
You Shook Me
Dazed and Confused
Your Time Is Gonna Come
Black Mountain Side
Communication Breakdown
I Can't Quit You Baby
How Many More Times
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