domingo, 7 de março de 2010

Chapa “mula-sem-cabeça”


A insistência dos grão-tucanos e do Partido do Capital (mídia oligopolizada) em fazer de Aécinho candidato à vice-presidência, além de fazê-los passar por constrangimentos dantescos como o presenciado durante a inauguração da obra faraônica da Cidade Administrativa em BH, ainda consegue expor todas as fraquezas duma oposição farisaica, sem rumo e sem projetos para o país. No mais desgasta Serra – que ainda não se declarou candidato a nada –, além do próprio Aécinho e deixa no ar que sem o segundo o primeiro não conseguirá empunhar uma candidatura robusta.

Sempre considerei, na disputa interna entre ambos os governadores, o nome de José Serra como a opção menos ruim para o Brasil. Aécio Neves, como já escrevi antes, não passa dum yuppie, neoliberal de carteirinha, mas o mais importante, um produto de marketing muito bem feito. Já Serra representava uma certa tradição cepalina de desenvolvimentismo e me parecia ser uma criatura política séria e coerente – muito embora não comungasse de suas idéias –, isso até ele se envolver com o que há de mais conservador (e nojento) na política tupiniquim e com os famosos cães de guarda da burguesia, encastelados na mídia oligopolizada.

Pelo andar do carruagem, depois dos demo-tucanos terem passado o vexame de 2006 com o Picolé de Chuchu – quando Geraldo Alckmin obteve no segundo turno menos votos do que no primeiro –, agora querem lançar a chapa “mula sem cabeça”, Aécinho, que queria ser presidenciável, aceita ser vice sem ter um candidato na cabeça de chapa.


JANIO DE FREITAS [da Folha de São Paulo]

Via blog do Luis Nassif


Serra contra Serra

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura à Presidência

A PRIMEIRA resposta à expectativa criada pela tática de José Serra, de manter-se por tanto tempo como uma incógnita, não lhe é favorável. O desenrolar das circunstâncias políticas criou-lhe mais embaraços do que as vantagens esperadas por sua permanência, com aparências apáticas, no governo paulista. Nem as ocorrências em seu território de responsabilidades governamentais o pouparam, criando-lhe mais situações de desgaste do que colhendo reflexos eleitorais de seus pequenos eventos administrativos e políticos.

O principal efeito positivo da permanência de Serra no poder falhou de todo: sua exposição, favorecida pela condição de governador, ficou muito aquém do conveniente ao candidato. E, no entanto, era arma de grande importância, talvez fosse mesmo decisiva, para mantê-lo na altitude que as pesquisas lhe davam, enquanto Lula e Dilma Rousseff sairiam pelos caminhos pedregosos à cata de grãos percentuais.

Mas não foi a exposição, em si, que falhou, nem, muito menos, jornais e TV que não corresponderam a estímulos. A falha foi do próprio Serra, carente da criação de atrações para câmeras e notícias.

Nisso até chegou ao cúmulo. Nas várias semanas de calamidade fluvial dentro de São Paulo, oportunidade extraordinária -sem se considerar o dever- para juntar-se ao prefeito e demonstrar a capacidade de iniciativa ágil e eficaz esperada de um governante e de um candidato, Serra sumiu. Do ponto de vista da população, não só a paulista, não foi governante nem candidato. E não é preciso falar-se das péssimas notícias que têm vindo da sensível área de educação, de crianças sentadas no chão por falta de cadeiras e mesas à greve de professores.

A permanência no governo em nada favoreceu, até agora, a ainda quase admitida candidatura de José Serra à Presidência. Só lhe permitiu protelar até ao limite a decisão entre ser candidato a presidente ou à reeleição. O que, para uma psicologia hamletiana, seria mesmo o fundamental.

A dinâmica da política poderia trazer compensações para Serra, mas não o fez. Ou só o fará, segundo a opinião dominante, caso Aécio Neves se conforme com a candidatura a vice. A julgar pelo ambiente em Minas a esse respeito, exposto em editorial de “O Estado de Minas” no gênero dos que só saem raramente, a decisão nem cabe mais a Aécio Neves, apenas. Extravasou do âmbito político para o da emocionalidade, com algumas razões coerentes.

Mas nessa historiada de vice cabe outra hipótese: crer que Serra deseje, de fato, a candidatura de Aécio é uma dedução de jornalistas, que a ele transferiram o que se sabe, no máximo, ser desejo de alguns outros peessedebistas. A Aécio não conviria uma vice sem luz própria, para brilho exclusivo de Serra, nem conviria ficar como figura secundária em esperável candidatura de Serra à reeleição presidencial. Serra, por certo, sabe disso, como sabe que a ninguém é conveniente um vice com brilho.

Não sendo Aécio, quem quer que entre como vice de Serra já chega desvalorizado ao lugar, tamanha tem sido a caracterização do governador mineiro, inclusive no PSDB, como indispensável às possibilidades de Serra. É outro, e grave, efeito da tática de Serra de manter-se por tanto tempo como incógnita. E dentre todos os efeitos ainda há o que sobressai aos olhos do eleitorado: a queda forte nas pesquisas contra a subida forte de Dilma Rousseff, já os dois, considerada a margem de erro, em situação de empate técnico.

Se candidato, José Serra terá muito trabalho para reverter os males de sua tática até aqui.

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