O terrorismo de Estado de Israel tomou proporções ainda maiores nessa madrugada de domingo – horário de Brasília – ao cometer a insanidade de atacar um flotilha que levava ajuda humanitária a Faixa de Gaza.
A flotilha, alcunhada de “Frota da Liberdade” e cujo barco líder ostentava bandeira turca, dirigia-se rumo a Faixa de Gaza com ajuda humanitária e algumas centenas de pessoas que procuravam furar o bloqueio imposto por Israel àquela região do Médio Oriente.
Num ataque cinematográfico registrado por câmeras amadoras e celulares as forças armadas israelenses tomaram os navios usando uma truculência descomunal, e o pior, esse ataque ocorreu em águas internacionais, portanto, Israel mais uma vez infligiu tratados e acordos internacionais.
Por ora não há um número exato de mortos e feridos, especula-se em quase duas dezenas de mortos e em três vezes mais o número de feridos.
Os sionistas prosseguem firme e forte no propósito de legitimar o Estado de Israel através da força e violência, desrespeitando continuamente a comunidade internacional.
Após a tomada navios e tripulação foram escoltados para o porto de Ashdod, o maior de Israel.
Todavia, dessa feita, os sionistas parecem ter ido longe demais, a maioria dos tripulantes da Frota da Liberdade era composta por turcos e cidadãos europeus – vale lembrar que a Turquia é membro da OTAN praticamente desde a criação desta – e as manifestações em toda Europa tendem a esquentar as relações entre a União Europeia e Israel, aumentando o coro dos países que pedem sanções duras contra o Estado sionista.
A Turquia classificou como inaceitável, “Israel vai sofrer as consequências por este seu comportamento”, frisou o ministro turco dos Negócios Estrangeiros. O embaixador israelita em Ankara já foi chamado pelo governo turco.
A Grécia está preocupada com a situação dos seus cidadãos que estavam na flotilha e interrompeu o exercício militar conjunto a que levava a cabo com a marinha israelense.
Em Paris cerca de 500 pessoas se reuniram em frente à embaixada israelense e acabaram entrando em confronto com polícia local. Já no reino Unido o ministro das Relações Exteriores, William Hague, pediu a Israel que ponha fim às "inaceitáveis e contraproducentes restrições impostas às ajudas encaminhadas ao território palestino". "Há uma clara necessidade de que Israel atue com moderação e de acordo com as normas internacionais", declarou.
Obviamente que os pedidos de sanções duras contra Israel poderão ter resultado nulo caso os EEUU continuem a ratificar a política terrorista dos sionistas. Não obstante o fato é que dessa vez Israel ultrapassou limites até então tolerados pela União Europeia e um clamor nacionalista de fundo islâmico pode eclodir em Ankara. Então é hora de perguntar, a Casa Branca está disposta a pagar um preço tão alto para não acoimar um aliado tradicional, mas que teima em agir a sua revelia?
PS. Já que José Serra está se esforçando tanto para ser "o homem da direita" dando declarações afirmando que não receberia nem conversaria com Mahmoud Ahmadinejad e que o governo boliviano é cúmplice do tráfico de cocaína, poderia o nobre prócer tucano nos dizer o que acha do ataque a Frota da Liberdade.
Israel tem ou não razão? Os palestinos merecem ou não morrerem de fome? Ajuda internacional a Faixa de Gaza viola ou não a soberania de Israel?
Estou curioso para saber a opinião do presidenciável tucano!!!
segunda-feira, 31 de maio de 2010
O perigo da volta do Serra que “já foi”
Por Brizola Neto em seu ótimo blog Tijolaço
O projeto que a direita brasileira traçara, cuidadosamente, para tentar retormar o poder total – porque totalmente do poder ela jamais saiu – está arruinado.
A essência deste projeto era a desinformação e o esfriamento do debate político. O desconhecimento de Dilma, o seu quase anonimato, era o seu trunfo. E, convenhamos, isso correspondia a uma realidade.
Um realidade que prevaleceria, se dependesse apenas do processo político convencional, inclusive das estruturas partidárias que apóiam Dilma, perdidas em composições eleitorais, disputas por “cabeças de chapa” e disputas de “espaço interno”. As estruturas políticas convencionais da nossa “esquerda” estão acomodadas, sofrendo da “modorra” criada por anos de governo, de cargos, de praticar uma política que, embora diferente do ponto de vista dos seus objetivos, ia se tornando semelhante, em matéria eleitoral, à dos políticos conservadores.
Alguns fatores, porém, mudaram esta situação.
O primeiro, e mais importante deles, é que Lula nem de longe trabalhou com a tese de que seu retorno ao poder em 2014 fosse o objetivo central e, portanto, nunca adotou a posição de d’après moi le deluge (depois de mim, o dilúvio, que teria sido uma frase dita por Luís XV, rei da França). E olhem que isso não é raro com governantes populares e bem avaliados, e os mais velhos podem traçar paralelos com o que ocorreu com JK.
Ao contrário. Lula, desde o momento em que escolheu Dilma sinalizou que quem enfrentaria o processo eleitoral não seria o PT ou os partidos da base do Governo, mas ele, pessoalmente. Ele, que pela sua origem e estatura, sabe que o sucesso de seu governo deveu-se não à máquina, mas a si mesmo, quis alguém externo à máquina partidária, que não tinha como desafiá-lo e a quem não restava alternativa de, mesmo sem grande ânimo, senão aderir – para alguns com certo contragosto – à candidatura Dilma.
Tenho certeza que foi enorme o sofrimento pessoal do presidente ao sacrificar Ciro Gomes- que não apenas foi um aliado fiel como é uma figura humana cativante – em nome desta identificação única: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
E Lula enfrentou, pra valer, o processo eleitoral. Expôs-se até ao um risco de quebra de sua “unanimidade”, jamais recolheu-se a uma falsa posição de árbitro ou de alheio ao processo, não seguiu o modelo “Bachelet” de manter-se um tanto quanto afastado da dinâmica eleitoral para que um eventual insucesso eleitoral não maculasse sua “canonização” política, o que era algo tão forte que até mesmo Serra – o prévio Serra – não hesitava em exaltar.
Ficou claro o que Lula queria deixar claro: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
O segundo fator foi, por conta disso, a lucidez do povo brasileiro. Na sua simplicidade, soube – e está sabendo cada vez mais – ler o que dizia o presidente e corresponder a este entendimento. A adesão à candidatura Dilma espalhou-se como uma imensa hera, incontrolável, por vezes – para escândalo dos sabichões elitistas – de forma aparentemente irracional (mas, no fundo, totalmente lógica e razoável, por identificação a um momento novo na vida do país). Era “a muié do Lula”, termo que nossos “punhos de renda” desprezavam, mas que para o nosso povão, na sua sincera e genial compreensão, resumia perfeitamente o significado da candidatura que ele propunha às massas. Ah, como este nosso povo é lúcido quando os líderes se oferecem a ele como referência!
Ficou-lhe claro que Lula é Dilma e que Dilma é Lula.
O terceiro fator, menos importante do ponto de vista de massas, mas importantíssimo para que o debate formal e midiático não ficasse totalmente sob as rédeas da direita – como sempre aconteceu – foi esta nossa incipiente comunicação via web. As manobras, a parcialidade da mídia, as manipulações das pesquisas, tudo isso que sempre se fez impunemente nos processos eleitorais, de repente, viu-se sob o crivo de dezenas de milhares de olhos e suas contradições foram expostas, escritas num lugar em que centenas de milhares ou até milhões de pessoas poderiam ver.
Se a crise do capitalismo mundial abalou o mundo do pensamento único, foi aqui – e não na mídia convencional – que os outros pensamentos, as outras análises, os outros enfoques, as outras verdades encontraram o seu canal de expressão aberta, já não mais restritas aos circulos acadêmicos, partidários, corporativos.
Uma leitora, num depoimento que me comoveu profundamente, disse outro dia aqui que tinha largado as panelas do jantar de sua família para ler uma determinada análise política. Será que os nossos analistas políticos se dão conta do que vem a ser isso? Será que se dão conta do sentido sublime e genial desta participação de alguém que, para eles, é uma pessoa amorfa, conduzida de forma inciente pelo marketing?
A mudança de posição de Serra, abandonando o “lulismo”, tem dois significados.
O primeiro é que desabou a pretensão da direita de, sob mil artifícios de mídia e de pesquisas (e ambas se confundem, não é?), inaugurar a campanha eleitoral, com o “favoritismo” de Serra. Este favoritismo seria sua legitimação. Seria sua “ligação com o povo”, que o absolveria de ser, como é, o candidato anti-povo.
Ele a perdeu. Ele está fadado a começar a campanha como o candidato das elites , do “grand-monde” , ordem interna e da obediência externa.
E isso quer dizer que seu “teto” baixou para algo como os 30% dos votos que a direita, em geral, consegue reunir em qualquer pleito eleitoral. São estes que Serra busca consolidar. Ninguém ache que o sentimento anti-Lula se resuma aos 5 ou 6% que aparecem como avaliação de “ruim e péssimo” nas pesquisas sobre seu Governo. Ele é correspondente, isso sim, aos 24 ou 26% que não são classificados como “aprovação”.
Você mesmo pode verificar entre o seu círculo de relacionamentos que os que classificam o Governo como “razoável” são, em geral, eleitores do candidato anti-Lula.
Mas não se ganha eleição com 25 a 30%.
É preciso criar uma crise que desestabilize esta tendência natural.
Econômica, seria o ideal. Mas o caminho para isso parece estar fechado pela pujança que a economia brasileira tem, neste momento e, ao que tudo indica, terá nos próximos meses.
Resta a crise institucional. E ai, já vimos que estamos diante de alguém desligado de qualquer princípio ético e moral, que é capaz de mentir, de camuflar, de esconder ou de intrigar de todas as formas.
Nosso dever, aqui nesta nossa pequena janela que lança luz sobre os fatos, é não descuidar e nunca achar que o inimigo está derrotado. Porque ele não segue as regras do jogo democrático e eleitoral.
Vamos vencer, sim. Mas o preço desta vitória ainda nos será muito caro. Virão ainda mil e uma armações, além das que já estão em curso.
Talvez nos sirva o preceito bíblico: vigiai e orai. Mas com um acréscimo: vigiai, orai e lutai.
Comecemos mais uma semana de combate, meus amigos.
Com a serenidade dos que têm a razão a seu lado.
Mas com a dedicação e coragem dos que sabem que estão lutando uma grande batalha histórica.
O projeto que a direita brasileira traçara, cuidadosamente, para tentar retormar o poder total – porque totalmente do poder ela jamais saiu – está arruinado.
A essência deste projeto era a desinformação e o esfriamento do debate político. O desconhecimento de Dilma, o seu quase anonimato, era o seu trunfo. E, convenhamos, isso correspondia a uma realidade.
Um realidade que prevaleceria, se dependesse apenas do processo político convencional, inclusive das estruturas partidárias que apóiam Dilma, perdidas em composições eleitorais, disputas por “cabeças de chapa” e disputas de “espaço interno”. As estruturas políticas convencionais da nossa “esquerda” estão acomodadas, sofrendo da “modorra” criada por anos de governo, de cargos, de praticar uma política que, embora diferente do ponto de vista dos seus objetivos, ia se tornando semelhante, em matéria eleitoral, à dos políticos conservadores.
Alguns fatores, porém, mudaram esta situação.
O primeiro, e mais importante deles, é que Lula nem de longe trabalhou com a tese de que seu retorno ao poder em 2014 fosse o objetivo central e, portanto, nunca adotou a posição de d’après moi le deluge (depois de mim, o dilúvio, que teria sido uma frase dita por Luís XV, rei da França). E olhem que isso não é raro com governantes populares e bem avaliados, e os mais velhos podem traçar paralelos com o que ocorreu com JK.
Ao contrário. Lula, desde o momento em que escolheu Dilma sinalizou que quem enfrentaria o processo eleitoral não seria o PT ou os partidos da base do Governo, mas ele, pessoalmente. Ele, que pela sua origem e estatura, sabe que o sucesso de seu governo deveu-se não à máquina, mas a si mesmo, quis alguém externo à máquina partidária, que não tinha como desafiá-lo e a quem não restava alternativa de, mesmo sem grande ânimo, senão aderir – para alguns com certo contragosto – à candidatura Dilma.
Tenho certeza que foi enorme o sofrimento pessoal do presidente ao sacrificar Ciro Gomes- que não apenas foi um aliado fiel como é uma figura humana cativante – em nome desta identificação única: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
E Lula enfrentou, pra valer, o processo eleitoral. Expôs-se até ao um risco de quebra de sua “unanimidade”, jamais recolheu-se a uma falsa posição de árbitro ou de alheio ao processo, não seguiu o modelo “Bachelet” de manter-se um tanto quanto afastado da dinâmica eleitoral para que um eventual insucesso eleitoral não maculasse sua “canonização” política, o que era algo tão forte que até mesmo Serra – o prévio Serra – não hesitava em exaltar.
Ficou claro o que Lula queria deixar claro: Lula é Dilma e Dilma é Lula.
O segundo fator foi, por conta disso, a lucidez do povo brasileiro. Na sua simplicidade, soube – e está sabendo cada vez mais – ler o que dizia o presidente e corresponder a este entendimento. A adesão à candidatura Dilma espalhou-se como uma imensa hera, incontrolável, por vezes – para escândalo dos sabichões elitistas – de forma aparentemente irracional (mas, no fundo, totalmente lógica e razoável, por identificação a um momento novo na vida do país). Era “a muié do Lula”, termo que nossos “punhos de renda” desprezavam, mas que para o nosso povão, na sua sincera e genial compreensão, resumia perfeitamente o significado da candidatura que ele propunha às massas. Ah, como este nosso povo é lúcido quando os líderes se oferecem a ele como referência!
Ficou-lhe claro que Lula é Dilma e que Dilma é Lula.
O terceiro fator, menos importante do ponto de vista de massas, mas importantíssimo para que o debate formal e midiático não ficasse totalmente sob as rédeas da direita – como sempre aconteceu – foi esta nossa incipiente comunicação via web. As manobras, a parcialidade da mídia, as manipulações das pesquisas, tudo isso que sempre se fez impunemente nos processos eleitorais, de repente, viu-se sob o crivo de dezenas de milhares de olhos e suas contradições foram expostas, escritas num lugar em que centenas de milhares ou até milhões de pessoas poderiam ver.
Se a crise do capitalismo mundial abalou o mundo do pensamento único, foi aqui – e não na mídia convencional – que os outros pensamentos, as outras análises, os outros enfoques, as outras verdades encontraram o seu canal de expressão aberta, já não mais restritas aos circulos acadêmicos, partidários, corporativos.
Uma leitora, num depoimento que me comoveu profundamente, disse outro dia aqui que tinha largado as panelas do jantar de sua família para ler uma determinada análise política. Será que os nossos analistas políticos se dão conta do que vem a ser isso? Será que se dão conta do sentido sublime e genial desta participação de alguém que, para eles, é uma pessoa amorfa, conduzida de forma inciente pelo marketing?
A mudança de posição de Serra, abandonando o “lulismo”, tem dois significados.
O primeiro é que desabou a pretensão da direita de, sob mil artifícios de mídia e de pesquisas (e ambas se confundem, não é?), inaugurar a campanha eleitoral, com o “favoritismo” de Serra. Este favoritismo seria sua legitimação. Seria sua “ligação com o povo”, que o absolveria de ser, como é, o candidato anti-povo.
Ele a perdeu. Ele está fadado a começar a campanha como o candidato das elites , do “grand-monde” , ordem interna e da obediência externa.
E isso quer dizer que seu “teto” baixou para algo como os 30% dos votos que a direita, em geral, consegue reunir em qualquer pleito eleitoral. São estes que Serra busca consolidar. Ninguém ache que o sentimento anti-Lula se resuma aos 5 ou 6% que aparecem como avaliação de “ruim e péssimo” nas pesquisas sobre seu Governo. Ele é correspondente, isso sim, aos 24 ou 26% que não são classificados como “aprovação”.
Você mesmo pode verificar entre o seu círculo de relacionamentos que os que classificam o Governo como “razoável” são, em geral, eleitores do candidato anti-Lula.
Mas não se ganha eleição com 25 a 30%.
É preciso criar uma crise que desestabilize esta tendência natural.
Econômica, seria o ideal. Mas o caminho para isso parece estar fechado pela pujança que a economia brasileira tem, neste momento e, ao que tudo indica, terá nos próximos meses.
Resta a crise institucional. E ai, já vimos que estamos diante de alguém desligado de qualquer princípio ético e moral, que é capaz de mentir, de camuflar, de esconder ou de intrigar de todas as formas.
Nosso dever, aqui nesta nossa pequena janela que lança luz sobre os fatos, é não descuidar e nunca achar que o inimigo está derrotado. Porque ele não segue as regras do jogo democrático e eleitoral.
Vamos vencer, sim. Mas o preço desta vitória ainda nos será muito caro. Virão ainda mil e uma armações, além das que já estão em curso.
Talvez nos sirva o preceito bíblico: vigiai e orai. Mas com um acréscimo: vigiai, orai e lutai.
Comecemos mais uma semana de combate, meus amigos.
Com a serenidade dos que têm a razão a seu lado.
Mas com a dedicação e coragem dos que sabem que estão lutando uma grande batalha histórica.
domingo, 30 de maio de 2010
Dennis Hopper
E lá se foi Dennis Hopper, aos 74 anos. Foi uma surpresa para mim quando há uns anos atrás assisti a Giant de George Stevens – detesto o título que deram no Brasil, “Assim Caminha a Humanidade” – e percebi que era Hopper quem interpretava o papel do filho de Rock Hudson e Elizabeth Taylor. Giant foi o último filme de James Dean e é de 1956. Depois ainda percebi que um ano antes Hopper tivera uma ponta em outro clássico ao lado de Dean, Rebel Without a Cause – Juventude Transviada.
Mas Hopper ficará marcado mesmo é por ter dirigido e estrelado Easy Rider – Sem Destino.
Abaixo outros filmes com participação de Hopper e o trailer original de Easy Rider.
Sem Lei e Sem Alma (1957) John Sturges
Bravura Indômita (1969) Henry Hathaway
Apocalipse Now (1979) Francis Ford Coppola
Veludo Azul (1986) David Linch
Rebeldia Indomável (1987) Stuart Rosenberg
Juventude Assassina (1987) (Tim Hunter)
Amor a Queima Roupa (1993) Tony Scott
Mas Hopper ficará marcado mesmo é por ter dirigido e estrelado Easy Rider – Sem Destino.
Abaixo outros filmes com participação de Hopper e o trailer original de Easy Rider.
Sem Lei e Sem Alma (1957) John Sturges
Bravura Indômita (1969) Henry Hathaway
Apocalipse Now (1979) Francis Ford Coppola
Veludo Azul (1986) David Linch
Rebeldia Indomável (1987) Stuart Rosenberg
Juventude Assassina (1987) (Tim Hunter)
Amor a Queima Roupa (1993) Tony Scott
sexta-feira, 28 de maio de 2010
Escassez de tempo
Pessoal, estou me sentindo em divida com meus parcos leitores, afinal há algum tempo não publico nenhum artigo ou análise de minha própria autoria. No entanto a greve dos servidores da Educação de Minas Gerais me tomou bastante tempo. Viagens a Belo Horizonte, assembleias e Comando de Greve em Poços, além, claro, de outras atividades de meu cotidiano me deixaram bastante atarefado.
Bom, pelo menos a greve foi “suspensa”. Suspensa por vinte dias e dependendo do desenrolar dos acontecimentos em torno da comissão mista formada por representantes do “Boneco de Ventríloquo” – o governador tampão Antonio Anastasia, boneco de Aécio Neves – e do Sind-UTE – Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação – para avaliar as reinvidicações que nos levaram a deflagrar a mais longa greve do funcionalismo público de Minas na última década, poderemos, sim, retomar a greve. Todavia tenho outros mil afazeres e gostaria muito de fazer uma análise sobre a insistência do PSDB em ter Aécio como vice de Serra. Isso, por si só, muito mais que as pesquisas sobre intenção de voto, já é um indicador claro que as coisas não caminham muito bem pelo lado da candidatura do ex-governador paulista.
Então deixo com vocês mais um editorial da Carta Maior.
Boa leitura e assim que puder voltarei a escrever:
A direita, enfim, achou seu candidato
Editorial - Carta Maior
“A questão”, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem tantas coisas diferentes”.
“A questão”, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda. É só isso”.
Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas (cap.6).
As declarações do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, acusando o governo boliviano de ser “cúmplice de traficantes”, além de levianas e irresponsáveis, podem acabar se voltando contra o próprio autor. Pela lógica da argumentação de Serra, não seria possível a exportação de cocaína a partir da Bolívia sem a conivência e/ou participação das autoridades daquele país. Bem, se é assim, alguém poderia dizer também que Serra é cúmplice do PCC (Primeiro Comando da Capital), da violência e do tráfico de drogas em São Paulo. “Você acha que toda violência e tráfico de drogas em São Paulo seria possível se o governo de lá não fosse cúmplice?” – poderia perguntar alguém, parafraseando Serra.
Neste mesmo contexto, cabe lembrar ainda as declarações do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em 2007 no Brasil, que, em um depoimento à Justiça Federal em São Paulo, disse: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos)”. As denúncias de um traficante valem o que ele vale. Neste caso valeram, ao menos, o interesse da Justiça Federal em investigar a possibilidade de ligação entre o tráfico de drogas e a corrupção policial, possibilidade esta que parece não habitar o horizonte de Serra. O pré-candidato foi governador de São Paulo, mas afirma não ter nada a ver com isso. A culpa é da Bolívia.
Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.
Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine, Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável ... Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.
E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo...
E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:
A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (...) O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever - com perfeita lucidez - na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.
As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o Mercosul de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das
mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.
Bom, pelo menos a greve foi “suspensa”. Suspensa por vinte dias e dependendo do desenrolar dos acontecimentos em torno da comissão mista formada por representantes do “Boneco de Ventríloquo” – o governador tampão Antonio Anastasia, boneco de Aécio Neves – e do Sind-UTE – Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação – para avaliar as reinvidicações que nos levaram a deflagrar a mais longa greve do funcionalismo público de Minas na última década, poderemos, sim, retomar a greve. Todavia tenho outros mil afazeres e gostaria muito de fazer uma análise sobre a insistência do PSDB em ter Aécio como vice de Serra. Isso, por si só, muito mais que as pesquisas sobre intenção de voto, já é um indicador claro que as coisas não caminham muito bem pelo lado da candidatura do ex-governador paulista.
Então deixo com vocês mais um editorial da Carta Maior.
Boa leitura e assim que puder voltarei a escrever:
A direita, enfim, achou seu candidato
Editorial - Carta Maior
“A questão”, ponderou Alice, “é saber se o senhor pode fazer as palavras dizerem tantas coisas diferentes”.
“A questão”, replicou Humpty Dumpty, “é saber quem é que manda. É só isso”.
Lewis Carrol, Alice no País das Maravilhas (cap.6).
As declarações do ex-governador de São Paulo e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, acusando o governo boliviano de ser “cúmplice de traficantes”, além de levianas e irresponsáveis, podem acabar se voltando contra o próprio autor. Pela lógica da argumentação de Serra, não seria possível a exportação de cocaína a partir da Bolívia sem a conivência e/ou participação das autoridades daquele país. Bem, se é assim, alguém poderia dizer também que Serra é cúmplice do PCC (Primeiro Comando da Capital), da violência e do tráfico de drogas em São Paulo. “Você acha que toda violência e tráfico de drogas em São Paulo seria possível se o governo de lá não fosse cúmplice?” – poderia perguntar alguém, parafraseando Serra.
Neste mesmo contexto, cabe lembrar ainda as declarações do traficante colombiano Juan Carlos Ramirez Abadia, preso em 2007 no Brasil, que, em um depoimento à Justiça Federal em São Paulo, disse: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo, basta fechar o Denarc (Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos)”. As denúncias de um traficante valem o que ele vale. Neste caso valeram, ao menos, o interesse da Justiça Federal em investigar a possibilidade de ligação entre o tráfico de drogas e a corrupção policial, possibilidade esta que parece não habitar o horizonte de Serra. O pré-candidato foi governador de São Paulo, mas afirma não ter nada a ver com isso. A culpa é da Bolívia.
Há método na aparente loucura do pré-candidato do PSDB. O fato de ter repetido as acusações levianas contra o governo de um país vizinho – e amigo, sim – do Brasil mostra que Serra acredita que pode ganhar votos com elas. Trata-se de um comportamento que revela traços interessantes da personalidade do pré-candidato e da estratégia de sua candidatura. Em primeiro lugar, mostra uma curiosa seletividade geográfica: em sua diatribe contra governos latino-americanos, Serra esqueceu de acusar a Colômbia como “cúmplice do narcotráfico”. Esquecimento, na verdade, que expõe mais ainda o caráter leviano da estratégia. Trata-se, simplesmente, de atacar governos considerados “amigos” do governo brasileiro.
Em segundo lugar, mostra uma postura irresponsável do pré-candidato, tomando a palavra aí em seu sentido literal, a saber, aquele que não responde por seus atos. Antes de apontar o dedo acusador para o governo de um país vizinho, Serra poderia visitar algumas ruas localizadas no centro velho de São Paulo que foram tomadas por traficantes e dependentes de drogas. Serra já ouviu falar da Cracolândia? Junto com a administração Kassab, um governo amigo como gosta de dizer, fez alguma coisa para resolver o problema? Imagine, Sr. Serra, 200 pessoas sob o efeito do crack gritando sob a sua janela, numa madrugada interminável ... Surreal? Na Cracolância é normal. E isso ocorre na sua cidade, não na Bolívia. Ocorre na capital do Estado onde o senhor foi eleito para governar e trabalhar para resolver, entre outros, esse tipo de problema. Mas é mais fácil, claro, acusar outro país pelo problema, ainda mais se esse outro país for governado por um índio.
E aí aparece o terceiro e mais perverso traço da estratégia de Serra: um racismo mal dissimulado. Quem decide apostar na estratégia do vale-tudo para ganhar um voto não hesita em dialogar com toda sorte de preconceito existente em nossa sociedade. Acusar o governo de Evo Morales de ser cúmplice do tráfico, além de ignorar criminosamente os esforços feitos atualmente pelo governo boliviano para combater o tráfico, aposta na força do preconceito contra Evo Morales, que já se manifestou várias vezes na imprensa brasileira por ocasião das disputas envolvendo o gás boliviano. Apostando neste imaginário perverso, acusar um índio boliviano de ser cúmplice do tráfico de drogas parece ser “mais negócio” do que acusar um branco de classe média que sabe usar boas gravatas. Alguém com Álvaro Uribe, por exemplo...
E, em quarto, mas não menos importante lugar, as declarações do pré-candidato tucano indicam um retrocesso de proporções gigantescas na política externa brasileira, caso fosse eleito presidente da República. Mais uma vez aqui, há método na loucura tucana. Não é por acaso que essas declarações surgem no exato momento em que o Brasil desponta como um ator de peso na política global, defendendo o caminho do diálogo e da negociação ao invés da via das armas, da destruição e da morte. Como assinala José Luís Fiori em artigo publicado nesta página:
A mensagem foi clara: o Brasil quer ser uma potencia global e usará sua influência para ajudar a moldar o mundo, além de suas fronteiras. E o sucesso do Acordo já consagrou uma nova posição de autonomia do Brasil, com relação aos Estados Unidos, Inglaterra e França (...) O jornal O Globo foi quem acertou em cheio, ao prever - com perfeita lucidez - na véspera do Acordo, que o sucesso da mediação do presidente Lula com o Irã projetaria o Brasil, definitivamente, no cenário mundial. O que de fato aconteceu, estabelecendo uma descontinuidade definitiva com relação à política externa do governo FHC, que foi, ao mesmo tempo, provinciana e deslumbrada, e submissa aos juízos e decisões estratégicas das grandes potências.
As últimas linhas do texto de Fiori resumem o que está por trás da estratégia de Serra de chamar o Mercosul de “farsa”, de acusar o governo da Bolívia de cumplicidade com o tráfico, de criticar a iniciativa do governo brasileiro em ajudar a evitar uma nova guerra no Oriente Médio. Curiosa e tristemente, essa estratégia, entre outros lamentáveis problemas, sofre de um atraso histórico dramático. Para azar de Serra e sorte do Brasil e do mundo, a doutrina Bush chegou ao fim. No dia 27 de maio, o governo dos EUA anunciou sua nova doutrina de segurança nacional que abandonou o conceito de “guerra preventiva” como elemento definidor da estratégia da política externa norte-americana. Algum assessor com um mínimo de lucidez e informação bem que poderia avisar ao pré-candidato tucano das
mudanças que estão em curso no mundo, especialmente do final da era Bush. Mas se ele decidiu abraçar por inteiro a agenda da direita no Brasil, na América Latina e nos Estados Unidos, faz sentido lutar pela restauração da velha ordem. Pode-se dizer, então, que, enfim, a direita achou um candidato à presidência do Brasil.
domingo, 23 de maio de 2010
Ficha limpa é projeto demagógico, autoritário e flerta com o fascismo (a lição italiana)
Por Marco Aurélio Weissheimer
O inferno está pavimentado de boas intenções. A frase cai como uma luva para contextualizar o debate sobre os políticos “ficha-suja” e o projeto “ficha-limpa” que ganhou grande apoio no país, à direita e à esquerda. Pouca gente vem se arriscando a navegar na direção contrária e a advertir sobre os riscos e ameaças contidos neste projeto que, em nome da moralização da política, pretende proibir que políticos condenados (em segunda instância) concorram a um mandato eletivo. A primeira ameaça ronda o artigo 5° da Constituição, que aborda os direitos fundamentais e afirma que “ninguém será condenado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. César Schirmer reproduziu no Animot texto deTúlio Vianna (professor de Direito Penal na UFMG) sobre o tema. Ele escreve:
“Se o tal projeto Ficha Limpa for aprovado, o que vai ter de político sendo processado criminalmente só para ser tornado inelegível…Achei que o art.5º LVII exigisse trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Deve ser só na minha Constituição. Se o “ficha-limpa” não fere a presunção de inocência, é pior ainda, pois vão tolher a exigibilidade do cidadão mesmo sendo inocente. Êh argumento jurídico bão: nós continuamos te considerando inocente, mas não vamos te deixar candidatar mesmo assim! Que beleza! Ou o cara é presumido inocente ou é presumido culpado. Não tem meio termo. Se é presumido inocente, não pode ter qualquer direito tolhido”.
Na mesma linha, Marcos Rolim também chama a atenção para o fato de que o princípio da presunção da inocência é uma das garantias basilares do Estado de Direito e que o que o projeto ficha limpa pretende estabelecer é o “princípio de presunção de culpa”. Além disso, Rolim lembra que a idéia de ficha limpa não é nova e já foi apresentada no Brasil, durante a ditadura militar:
“Foi a ditadura militar que, com a Emenda Constitucional nº 1 e a Lei Complementar nº 5, estabeleceu a cassação dos direitos políticos e a inegibilidade por “vida pregressa”; vale dizer: sem sentença condenatória com trânsito em julgado”.
E se a idéia de ficha limpa é pra valer, acrescenta o jornalista e ex-deputado federal, por que não aplicá-la também aos eleitores:
“Se pessoas com “ficha suja” não podem se candidatar, por que mesmo poderiam votar? Nos EUA, condenados perdem em definitivo o direito de votar, o que tem sido muito funcional para excluir do processo democrático milhões de pobres e negros, lá como aqui, “opções preferenciais” do direito penal. E a imprensa? Condenações em segunda instância assinalam uma “mídia ficha suja” no Brasil?”
Mas talvez a ameaça mais grave, e menos visível imediatamente, que ronda esse debate é a incessante campanha de demonização dos políticos e da atividade política, impulsionada quase que religiosamente pela mídia brasileira. Rolim cita como exemplo em seu artigo uma charge sobre o debate da ficha limpa, publicada no jornal Zero Hora: nela, políticos são retratados como animais peçonhentos, roedores, aracnídeos e felinos.
Nos últimos anos, diversas pesquisas realizadas em vários cantos do planeta registraram um crescente descrédito da população em relação à política e aos políticos de um modo geral. Prospera uma visão que coloca a classe política e a atividade política em uma esfera de desconfiança e perda de legitimidade. A tentação de jogar todos os partidos e políticos em uma mesma vala comum de oportunistas e aproveitadores representa um perigo para a sobrevivência da própria idéia de democracia. O que explica esse fenômeno que se reproduz em vários países? A política e os políticos estão, de fato, fadados a mergulhar em um poço sem fundo de desconfiança? Essa desconfiança deve-se unicamente ao comportamento dos políticos ou há outros fatores que explicam seu crescimento?
É sintomático que o debate sobre a “ficha limpa” apareça dissociado do tema da reforma política. Eternamente proteladas e engavetadas, as propostas de uma mudança na legislação sobre as eleições e o financiamento das campanhas não obtém mesmo o alto grau de consenso e mobilização. Vale a pena lembrar de uma observação feita pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek acerca do papel da moralidade na política. Ele analisa o caso italiano, onde uma operação Mãos Limpas promoveu uma devassa na classe política do país. Qual foi o resultado? Zizek comenta (“Às portas da revolução”, Boitempo, p.332):
“Sua vitória (de Berlusconi) é uma lição deprimente sobre o papel da moralidade na política: o supremo desfecho da grande catarse moral-política – a campanha anticorrupção das mãos limpas que, uma década atrás, arruinou a democracia cristã, e com ela a polarização ideológica entre democratas cristãos e comunistas que dominou a política italiana no pós-guerra – é Berlusconi no poder. É algo como Rupert Murdoch vencer uma eleição na Grã-Bretanha: um movimento político gerenciado como empresa de publicidade e negócios. A Forza Itália de Berlusconi não é mais um partido político, mas sim – como o nome indica – uma espécie de torcida”.
A eleição de políticos de “tipo Berlusconi” mostra outra fragilidade dessa idéia. Marcos Rolim desdobra bem essa fragilidade:
Muitos dos corruptos brasileiros possuem “ficha limpa” – especialmente os mais espertos, que não deixam rastros. Por outro lado, uma lei do tipo na África do Sul não teria permitido a eleição de Nelson Mandela, cuja “ficha suja” envolvia condenação por “terrorismo”. Várias lideranças sindicais brasileiras possuem condenações em segunda instância por “crimes” que envolveram participação em greves ou em lutas populares; devemos impedir que se candidatem?
Agora mesmo, cabe lembrar, no Rio Grande do Sul e em São Paulo lideranças sindicais estão sofrendo condenações por protestos realizados contra os governos dos respectivos estados. Já não estão mais com sua ficha limpa. Os governantes dos dois estados, ao contrário, acusados de envolvimento em esquemas de corrupção, de autoritarismo e de sucateamento dos serviços públicos seguem com a ficha limpíssima. É este o caminho? Uma aberração político-jurídica vai melhorar nossa democracia?
O inferno está pavimentado de boas intenções. A frase cai como uma luva para contextualizar o debate sobre os políticos “ficha-suja” e o projeto “ficha-limpa” que ganhou grande apoio no país, à direita e à esquerda. Pouca gente vem se arriscando a navegar na direção contrária e a advertir sobre os riscos e ameaças contidos neste projeto que, em nome da moralização da política, pretende proibir que políticos condenados (em segunda instância) concorram a um mandato eletivo. A primeira ameaça ronda o artigo 5° da Constituição, que aborda os direitos fundamentais e afirma que “ninguém será condenado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. César Schirmer reproduziu no Animot texto deTúlio Vianna (professor de Direito Penal na UFMG) sobre o tema. Ele escreve:
“Se o tal projeto Ficha Limpa for aprovado, o que vai ter de político sendo processado criminalmente só para ser tornado inelegível…Achei que o art.5º LVII exigisse trânsito em julgado de sentença penal condenatória. Deve ser só na minha Constituição. Se o “ficha-limpa” não fere a presunção de inocência, é pior ainda, pois vão tolher a exigibilidade do cidadão mesmo sendo inocente. Êh argumento jurídico bão: nós continuamos te considerando inocente, mas não vamos te deixar candidatar mesmo assim! Que beleza! Ou o cara é presumido inocente ou é presumido culpado. Não tem meio termo. Se é presumido inocente, não pode ter qualquer direito tolhido”.
Na mesma linha, Marcos Rolim também chama a atenção para o fato de que o princípio da presunção da inocência é uma das garantias basilares do Estado de Direito e que o que o projeto ficha limpa pretende estabelecer é o “princípio de presunção de culpa”. Além disso, Rolim lembra que a idéia de ficha limpa não é nova e já foi apresentada no Brasil, durante a ditadura militar:
“Foi a ditadura militar que, com a Emenda Constitucional nº 1 e a Lei Complementar nº 5, estabeleceu a cassação dos direitos políticos e a inegibilidade por “vida pregressa”; vale dizer: sem sentença condenatória com trânsito em julgado”.
E se a idéia de ficha limpa é pra valer, acrescenta o jornalista e ex-deputado federal, por que não aplicá-la também aos eleitores:
“Se pessoas com “ficha suja” não podem se candidatar, por que mesmo poderiam votar? Nos EUA, condenados perdem em definitivo o direito de votar, o que tem sido muito funcional para excluir do processo democrático milhões de pobres e negros, lá como aqui, “opções preferenciais” do direito penal. E a imprensa? Condenações em segunda instância assinalam uma “mídia ficha suja” no Brasil?”
Mas talvez a ameaça mais grave, e menos visível imediatamente, que ronda esse debate é a incessante campanha de demonização dos políticos e da atividade política, impulsionada quase que religiosamente pela mídia brasileira. Rolim cita como exemplo em seu artigo uma charge sobre o debate da ficha limpa, publicada no jornal Zero Hora: nela, políticos são retratados como animais peçonhentos, roedores, aracnídeos e felinos.
Nos últimos anos, diversas pesquisas realizadas em vários cantos do planeta registraram um crescente descrédito da população em relação à política e aos políticos de um modo geral. Prospera uma visão que coloca a classe política e a atividade política em uma esfera de desconfiança e perda de legitimidade. A tentação de jogar todos os partidos e políticos em uma mesma vala comum de oportunistas e aproveitadores representa um perigo para a sobrevivência da própria idéia de democracia. O que explica esse fenômeno que se reproduz em vários países? A política e os políticos estão, de fato, fadados a mergulhar em um poço sem fundo de desconfiança? Essa desconfiança deve-se unicamente ao comportamento dos políticos ou há outros fatores que explicam seu crescimento?
É sintomático que o debate sobre a “ficha limpa” apareça dissociado do tema da reforma política. Eternamente proteladas e engavetadas, as propostas de uma mudança na legislação sobre as eleições e o financiamento das campanhas não obtém mesmo o alto grau de consenso e mobilização. Vale a pena lembrar de uma observação feita pelo filósofo esloveno Slavoj Zizek acerca do papel da moralidade na política. Ele analisa o caso italiano, onde uma operação Mãos Limpas promoveu uma devassa na classe política do país. Qual foi o resultado? Zizek comenta (“Às portas da revolução”, Boitempo, p.332):
“Sua vitória (de Berlusconi) é uma lição deprimente sobre o papel da moralidade na política: o supremo desfecho da grande catarse moral-política – a campanha anticorrupção das mãos limpas que, uma década atrás, arruinou a democracia cristã, e com ela a polarização ideológica entre democratas cristãos e comunistas que dominou a política italiana no pós-guerra – é Berlusconi no poder. É algo como Rupert Murdoch vencer uma eleição na Grã-Bretanha: um movimento político gerenciado como empresa de publicidade e negócios. A Forza Itália de Berlusconi não é mais um partido político, mas sim – como o nome indica – uma espécie de torcida”.
A eleição de políticos de “tipo Berlusconi” mostra outra fragilidade dessa idéia. Marcos Rolim desdobra bem essa fragilidade:
Muitos dos corruptos brasileiros possuem “ficha limpa” – especialmente os mais espertos, que não deixam rastros. Por outro lado, uma lei do tipo na África do Sul não teria permitido a eleição de Nelson Mandela, cuja “ficha suja” envolvia condenação por “terrorismo”. Várias lideranças sindicais brasileiras possuem condenações em segunda instância por “crimes” que envolveram participação em greves ou em lutas populares; devemos impedir que se candidatem?
Agora mesmo, cabe lembrar, no Rio Grande do Sul e em São Paulo lideranças sindicais estão sofrendo condenações por protestos realizados contra os governos dos respectivos estados. Já não estão mais com sua ficha limpa. Os governantes dos dois estados, ao contrário, acusados de envolvimento em esquemas de corrupção, de autoritarismo e de sucateamento dos serviços públicos seguem com a ficha limpíssima. É este o caminho? Uma aberração político-jurídica vai melhorar nossa democracia?
sexta-feira, 21 de maio de 2010
Brasil-Irã-EEUU
Os desejos virulentos da antiga imprensa brasileira
Editorial Carta Maior
Esta semana reforçou a percepção de que a chamada grande imprensa brasileira – ou antiga imprensa, como afirma, entre outros, o cineasta Jorge Furtado – está não apenas desempenhando o papel de uma “oposição fragilizada”, mas também defendendo, sem mediações ou sutilezas, os interesses da política externa dos Estados Unidos. Estariam fragilizados também estes interesses? Em um certo sentido, sim. A iniciativa do governo brasileiro, em conjunto com o governo da Turquia, de buscar uma solução negociada para a crise nuclear envolvendo o Irã mostrou que é possível outro caminho do que aquele das “guerras preventivas”, dos “bombardeios cirúrgicos”, do “choque e do pavor”. O presidente Lula, representando o Estado brasileiro, fez um movimento ousado e corajoso. E acertou em cheio.
Nas horas seguintes aos primeiros anúncios do acordo, começaram a surgir vozes e textos tentando diminuir ou simplesmente desqualificar o feito alcançado. A pressa é compreensível. Dias antes, o pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, havia dito durante uma entrevista em Porto Alegre, que jamais receberia ou se reuniria, caso fosse eleito, com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Além da postura submissa às ordens que o Departamento de Estado norte-americano ainda insiste em querer ditar ao mundo, a declaração de Serra mostrou a pequenez do horizonte de visão do postulante ao cargo mais importante da República brasileira e um dos mais importantes hoje para todos os países que apostam na desmilitarização da agenda política das nações.
Ao caminhar na direção oposta daquela defendida por Serra, Lula mostrou coragem pessoal, ousadia estratégica e, acima de tudo, compromisso com a construção de um mundo onde os conflitos e diferenças sejam resolvidos através da conversa e das negociações – que podem, sim, muitas vezes, ser exaustivas e mesmo pouco frutíferas no curto prazo – ao invés da solução eficiente da morte e da destruição. Eficiente para quê? – cabe perguntar. Não certamente para a vida de milhões de pessoas que pode ser salva em função de uma dessas conversas complicadas que algumas pessoas preferem não ter. A omissão e a covardia andam de mãos dadas com a impossibilidade de se dizer abertamente o que se está pensando.
Isso ficou muito claro no discurso de vários articulistas da imprensa nacional, preocupados em desdobrar a fala de Serra. Na verdade, a crítica principal dirigida a Lula era a crítica à iniciativa de ir conversar com Ahmadinejad. Como assim? Quem esse sujeito (o presidente da República, no caso) pensa que é? Quem o Brasil pensa que é? Não foi por acaso que a repercussão do acordo na imprensa internacional foi maior e mais positivo do que no Brasil. A diferença de horizonte só expõe o tamanho, a qualidade da visão e o compromisso de quem fala. Mas, se a visão é curta, por um lado, é crescentemente virulenta, por outro. E o grau dessa virulência parece ser proporcional aos acertos do governo brasileiro. Dois dias após o anúncio do acordo, o jornal Zero Hora comemorava com um destaque de capa: “EUA atropelam acordo de Lula”. O desejo virulento do atropelamento pelo menos foi transparente quanto ao alvo: o Lula. É disso que se trata.
Há outros pressupostos neste discurso de submissão a um passado recente quando o Brasil e a América Latina sabiam qual era o seu lugar. E aí, mais uma vez, a antiga imprensa tenta socorrer as palavras de suas referências políticas. Quando Serra qualificou o Mercosul como uma “farsa” e defendeu a adoção de acordos de livre comércio, retomando a já esquecida agenda da ALCA, estava simplesmente repetindo a agenda de seu partido que integra o campo conservador brasileiro: a prioridade não é a integração regional, é o livre comércio e o salve-se quem puder; a prioridade não é a construção de laços de solidariedade e de complementaridade entre os povos e as nações, mas sim a Lei do Gérson, tentar levar vantagem em tudo; a prioridade não é colocar a economia a serviço da vida, especialmente a vida de milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza, mas sim flexibilizar, promover “choques de gestão”, deixar os mercados livres.
Não deixa de ser ilustrativa a associação cínica da palavra liberdade aos mercados, neste momento em que a Grécia e outros países da Europa (sempre apontada como referência de modernidade e civilização) são obrigados a tomar o remédio amargo, ineficaz e criminoso do Fundo Monetário Internacional. Não por acaso, muitos dos defensores dessa receita criticam também a iniciativa diplomática do governo brasileiro. A matriz de pensamento é a mesma, tem nome, sobrenome, endereço e tipificação do ponto de vista penal. O que está acontecendo com a Grécia agora deixa isso claro.
Em 2007, as já tristemente famosas agências classificadoras de risco elevaram às nuvens a cotação de “papéis” que mais tarde se revelaram títulos podres. Os governos foram chamados a socorrer bancos e outras instituições financeiras privadas que trabalhavam com esses papéis tão bem avaliados. Bilhões de dólares que supostamente não existem quando se fala da necessidade de investir em saúde e educação, surgiram do dia para a noite para o socorro bancário. Muitos dos socorridos dizem agora que o Banco Central europeu não pode emprestar aos Estados. Afinal, ele emprestou aos bancos valores colossais a juros baixos durante o auge da crise financeira. E este dinheiro serve agora para que esses bancos emprestem aos Estados, com juros bem maiores...Um negócio simples, lucrativo e criminoso. E, atualizando uma velha máxima, muito menos arriscado do que assaltar um banco.
Editorial Carta Maior
Esta semana reforçou a percepção de que a chamada grande imprensa brasileira – ou antiga imprensa, como afirma, entre outros, o cineasta Jorge Furtado – está não apenas desempenhando o papel de uma “oposição fragilizada”, mas também defendendo, sem mediações ou sutilezas, os interesses da política externa dos Estados Unidos. Estariam fragilizados também estes interesses? Em um certo sentido, sim. A iniciativa do governo brasileiro, em conjunto com o governo da Turquia, de buscar uma solução negociada para a crise nuclear envolvendo o Irã mostrou que é possível outro caminho do que aquele das “guerras preventivas”, dos “bombardeios cirúrgicos”, do “choque e do pavor”. O presidente Lula, representando o Estado brasileiro, fez um movimento ousado e corajoso. E acertou em cheio.
Nas horas seguintes aos primeiros anúncios do acordo, começaram a surgir vozes e textos tentando diminuir ou simplesmente desqualificar o feito alcançado. A pressa é compreensível. Dias antes, o pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, havia dito durante uma entrevista em Porto Alegre, que jamais receberia ou se reuniria, caso fosse eleito, com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. Além da postura submissa às ordens que o Departamento de Estado norte-americano ainda insiste em querer ditar ao mundo, a declaração de Serra mostrou a pequenez do horizonte de visão do postulante ao cargo mais importante da República brasileira e um dos mais importantes hoje para todos os países que apostam na desmilitarização da agenda política das nações.
Ao caminhar na direção oposta daquela defendida por Serra, Lula mostrou coragem pessoal, ousadia estratégica e, acima de tudo, compromisso com a construção de um mundo onde os conflitos e diferenças sejam resolvidos através da conversa e das negociações – que podem, sim, muitas vezes, ser exaustivas e mesmo pouco frutíferas no curto prazo – ao invés da solução eficiente da morte e da destruição. Eficiente para quê? – cabe perguntar. Não certamente para a vida de milhões de pessoas que pode ser salva em função de uma dessas conversas complicadas que algumas pessoas preferem não ter. A omissão e a covardia andam de mãos dadas com a impossibilidade de se dizer abertamente o que se está pensando.
Isso ficou muito claro no discurso de vários articulistas da imprensa nacional, preocupados em desdobrar a fala de Serra. Na verdade, a crítica principal dirigida a Lula era a crítica à iniciativa de ir conversar com Ahmadinejad. Como assim? Quem esse sujeito (o presidente da República, no caso) pensa que é? Quem o Brasil pensa que é? Não foi por acaso que a repercussão do acordo na imprensa internacional foi maior e mais positivo do que no Brasil. A diferença de horizonte só expõe o tamanho, a qualidade da visão e o compromisso de quem fala. Mas, se a visão é curta, por um lado, é crescentemente virulenta, por outro. E o grau dessa virulência parece ser proporcional aos acertos do governo brasileiro. Dois dias após o anúncio do acordo, o jornal Zero Hora comemorava com um destaque de capa: “EUA atropelam acordo de Lula”. O desejo virulento do atropelamento pelo menos foi transparente quanto ao alvo: o Lula. É disso que se trata.
Há outros pressupostos neste discurso de submissão a um passado recente quando o Brasil e a América Latina sabiam qual era o seu lugar. E aí, mais uma vez, a antiga imprensa tenta socorrer as palavras de suas referências políticas. Quando Serra qualificou o Mercosul como uma “farsa” e defendeu a adoção de acordos de livre comércio, retomando a já esquecida agenda da ALCA, estava simplesmente repetindo a agenda de seu partido que integra o campo conservador brasileiro: a prioridade não é a integração regional, é o livre comércio e o salve-se quem puder; a prioridade não é a construção de laços de solidariedade e de complementaridade entre os povos e as nações, mas sim a Lei do Gérson, tentar levar vantagem em tudo; a prioridade não é colocar a economia a serviço da vida, especialmente a vida de milhões de pessoas que vivem em situação de pobreza, mas sim flexibilizar, promover “choques de gestão”, deixar os mercados livres.
Não deixa de ser ilustrativa a associação cínica da palavra liberdade aos mercados, neste momento em que a Grécia e outros países da Europa (sempre apontada como referência de modernidade e civilização) são obrigados a tomar o remédio amargo, ineficaz e criminoso do Fundo Monetário Internacional. Não por acaso, muitos dos defensores dessa receita criticam também a iniciativa diplomática do governo brasileiro. A matriz de pensamento é a mesma, tem nome, sobrenome, endereço e tipificação do ponto de vista penal. O que está acontecendo com a Grécia agora deixa isso claro.
Em 2007, as já tristemente famosas agências classificadoras de risco elevaram às nuvens a cotação de “papéis” que mais tarde se revelaram títulos podres. Os governos foram chamados a socorrer bancos e outras instituições financeiras privadas que trabalhavam com esses papéis tão bem avaliados. Bilhões de dólares que supostamente não existem quando se fala da necessidade de investir em saúde e educação, surgiram do dia para a noite para o socorro bancário. Muitos dos socorridos dizem agora que o Banco Central europeu não pode emprestar aos Estados. Afinal, ele emprestou aos bancos valores colossais a juros baixos durante o auge da crise financeira. E este dinheiro serve agora para que esses bancos emprestem aos Estados, com juros bem maiores...Um negócio simples, lucrativo e criminoso. E, atualizando uma velha máxima, muito menos arriscado do que assaltar um banco.
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Os livros de História
Por Carol Nogueira do blog Le Croissant
"Os livros de História vão se lembrar desse dia. A segunda-feira, 17 de maio, quando Brasil e Turquia vieram propor à ONU um acordo negociado com Teerã sobre o problema nuclear iraniano. Qualquer que seja a leitura que se faça do texto final da carta, esta mediação turco-brasileira em forma de fato consumado - sem que ninguém a tenha pedido - muda muita coisa. Ela fere de facto o domínio reservado dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia.
A esses países, a mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan é a seguinte: não há hipótese, em pleno 2010, de deixá-los reinar sozinhos em uma ordem internacional onde o peso das nações evolui em favor de países como os nossos (o Sul emergente vai do Egito à África do Sul, da Nigéria à Indonésia).
Aos que ainda não haviam entendido, Brasil e Turquia colocaram, na terça-feira, os pingos nos is. Eles querem fazer parte do chamado 5+1, grupo que, dotado de um mandato da ONU, trata do caso nuclear iraniano".
Essas aspas não estão aí por acaso. Esse texto não é meu, é do Le Monde. E seu conteúdo é tão expressivo que eu não pude pensar em outra maneira de começar a carta de hoje.
Só para constar, parágrafos abaixo, a matéria continua considerando que "as ambições dos países do Sul são legítimas" - antes, claro, de ponderar que, no caso específico da questão nuclear iraniana, o ceticismo dos cinco países do Conselho são fundamentadas. Natural: o Le Monde é francês, e a França faz parte dos cinco. Numa posição desconfortabilíssima, aliás.
Figura-se a mal-estar da França no caso nuclear iraniano lendo o Figaro de ontem - jornal conservador alinhado até nas vírgulas com a Sarkolândia. Na página seis, encontra-se a matéria: "Washington alia China e Rússia contra Irã ". Na sete, "Sarkozy saúda seu amigo Lula em Madri".
Quem lê a página seis, é informado da pressão estabelecida pelos cinco países membros do Conselho de Segurança - entre eles a França - contra Teerã. E que Brasil e Turquia teriam entrado de contrapé na história. Quem lê a página sete, ilustrada com um animado aperto de mão dos presidentes francês e brasileiro, fica sabendo, de novo entre aspas, "do profundo reconhecimento [de Sarkozy] àquele que mais ajudou na libertação de Clotilde Reiss", a estudante francesa acusada de espionagem que ficou dez meses detida no Irã.
Afinal, Sarkozy ajuda a bater, junto com os outro quatro que formam o grupinho dos invencíveis do planeta, ou a assoprar, ao lado de "seu amigo" Lula?
O assunto é ainda mais delicado porque, menos de dois dias depois da libertação de Reiss, a Justiça francesa decretou a liberação condicional seguida de expulsão do agente iraniano Ali Vakili Rad, condenado à prisão perpétua em 1994 pelo assassinato do antigo primeiro-ministro do xá do Irã, Chapour Bakhtiar, ocorrido em Paris três anos antes.
Ainda que evidente, a troca de prisioneiros é negada pelo governo francês, que fala em uma "simples coincidência". Munido de seu nariz de pinóquio, Sarkozy perguntou em uma coletiva: "você acha que eu tenho cara de um homem que troca um assassino por uma estudante?" Será que é mesmo para responder?
O fato é que, lendo os jornais franceses, dá a impressão de que os livros de História estão sendo reescritos neste exato momento, com um capítulo especialmente dedicado ao Brasil. E lendo os jornais brasileiros, bom, a gente fica muito bem informado sobre o filme não transmitido no debate dos pré-candidatos e os prefeitos.
"Os livros de História vão se lembrar desse dia. A segunda-feira, 17 de maio, quando Brasil e Turquia vieram propor à ONU um acordo negociado com Teerã sobre o problema nuclear iraniano. Qualquer que seja a leitura que se faça do texto final da carta, esta mediação turco-brasileira em forma de fato consumado - sem que ninguém a tenha pedido - muda muita coisa. Ela fere de facto o domínio reservado dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU: China, Estados Unidos, França, Grã-Bretanha e Rússia.
A esses países, a mensagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do primeiro ministro Recep Tayyip Erdogan é a seguinte: não há hipótese, em pleno 2010, de deixá-los reinar sozinhos em uma ordem internacional onde o peso das nações evolui em favor de países como os nossos (o Sul emergente vai do Egito à África do Sul, da Nigéria à Indonésia).
Aos que ainda não haviam entendido, Brasil e Turquia colocaram, na terça-feira, os pingos nos is. Eles querem fazer parte do chamado 5+1, grupo que, dotado de um mandato da ONU, trata do caso nuclear iraniano".
Essas aspas não estão aí por acaso. Esse texto não é meu, é do Le Monde. E seu conteúdo é tão expressivo que eu não pude pensar em outra maneira de começar a carta de hoje.
Só para constar, parágrafos abaixo, a matéria continua considerando que "as ambições dos países do Sul são legítimas" - antes, claro, de ponderar que, no caso específico da questão nuclear iraniana, o ceticismo dos cinco países do Conselho são fundamentadas. Natural: o Le Monde é francês, e a França faz parte dos cinco. Numa posição desconfortabilíssima, aliás.
Figura-se a mal-estar da França no caso nuclear iraniano lendo o Figaro de ontem - jornal conservador alinhado até nas vírgulas com a Sarkolândia. Na página seis, encontra-se a matéria: "Washington alia China e Rússia contra Irã ". Na sete, "Sarkozy saúda seu amigo Lula em Madri".
Quem lê a página seis, é informado da pressão estabelecida pelos cinco países membros do Conselho de Segurança - entre eles a França - contra Teerã. E que Brasil e Turquia teriam entrado de contrapé na história. Quem lê a página sete, ilustrada com um animado aperto de mão dos presidentes francês e brasileiro, fica sabendo, de novo entre aspas, "do profundo reconhecimento [de Sarkozy] àquele que mais ajudou na libertação de Clotilde Reiss", a estudante francesa acusada de espionagem que ficou dez meses detida no Irã.
Afinal, Sarkozy ajuda a bater, junto com os outro quatro que formam o grupinho dos invencíveis do planeta, ou a assoprar, ao lado de "seu amigo" Lula?
O assunto é ainda mais delicado porque, menos de dois dias depois da libertação de Reiss, a Justiça francesa decretou a liberação condicional seguida de expulsão do agente iraniano Ali Vakili Rad, condenado à prisão perpétua em 1994 pelo assassinato do antigo primeiro-ministro do xá do Irã, Chapour Bakhtiar, ocorrido em Paris três anos antes.
Ainda que evidente, a troca de prisioneiros é negada pelo governo francês, que fala em uma "simples coincidência". Munido de seu nariz de pinóquio, Sarkozy perguntou em uma coletiva: "você acha que eu tenho cara de um homem que troca um assassino por uma estudante?" Será que é mesmo para responder?
O fato é que, lendo os jornais franceses, dá a impressão de que os livros de História estão sendo reescritos neste exato momento, com um capítulo especialmente dedicado ao Brasil. E lendo os jornais brasileiros, bom, a gente fica muito bem informado sobre o filme não transmitido no debate dos pré-candidatos e os prefeitos.
segunda-feira, 17 de maio de 2010
Poços Urgente: Encontro da sociedade civil organizada
Dia 20 de maio; 19:00 horas; Hotel Nacional. A idéia é fazer um encontro para discutirmos a situação de Poços e organizarmos nossas ações e atitudes diante do grave quadro de desmandos e ingovernabilidade que atingiu Poços de Caldas. Deste encontro, poderemos decidir sobre encaminhamentos ao Ministério Público Estadual e Federal; encaminhamentos ao Tribunal de Contas do Estado, União e Controladoria Geral; encaminhamentos ao Ministério da Justiça e Comissões de Direitos Humanos da Assembléia e Câmara Federal; denúncias; ações junto à Câmara Municipal; atos públicos; uso de adesivos em roupas, casas e veículos; enfim vamos acatar as melhores propostas e de forma objetiva trabalhar para dar um basta aos abusos que o prefeito e seu grupo estão cometendo contra o povo de nossa cidade. A proposta é a seguinte: 19:00 - Chegada e credenciamento. 19:30 - Apresentação de material sobre a situação de Poços. 20:00 - Palavra Aberta, com tempo máximo para as intervenções. 21:00 - Apresentação e aprovação de propostas e moções. 22:00 - encerramento. Gente, esta é a idéia geral. Estamos aceitando sugestões para aprimorar o Encontro. Vamos dizer todos juntos - BASTA!
domingo, 16 de maio de 2010
Paulistas pagam impostos para Serra fazer campanha pelo Brasil
Difícil de acreditar, mas a Folha de São Paulo – jornal que há algum tempo faz parte do braço midiático do PSDB – trouxe a tona uma revelação com potencial para macular (ainda mais) o discurso moralista dos tucanos.
O ex-governador de São Paul e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, está em campanha aberta por todo o Brasil à caça de votos, isso não é novidade para ninguém, o que poucos sabem é que essa caça está sendo financiada com dinheiro público. Serra se desincompatibilizou do governo paulista na primeira semana de abril passado, contudo até hoje continua a utilizar benesses como o serviço de segurança, carros, assessores e celulares pagos pelo erário paulista.
Como Raymundo Faoro deixa claro em “Os donos do poder”, estruturalmente nossa elite desconhece a fronteira entre o público e o privado.
Serra utiliza estrutura do Estado após deixar o cargo
José Serra transmitiu o governo de São Paulo ao seu vice, Alberto Goldman, no dia 6 de abril. Foi à campanha.
O ex-governador desfila sua candidatura pelo país. De 14 de abril até a última sexta (15), já havia realizado 15 viagens. Visitara, no total, dez Estados.
Pois bem, 40 dias depois de se despedir do Palácio dos Bandeirantes, o candidato utiliza em eventos de campanha estrutura provida pelo Estado.
Serra dispõe de agentes de segurança pagos pelo contribuinte. Acompanham-no inclusive nas viagens.
Os gastos com combustível e celular da equipe de guarda-costas correm por conta da Viúva estadual.
Há mais: Em São Paulo, o candidato e parte de seu staff vêm utilizando carros oficiais para se deslocar a eventos de cunho eleitoral.
Não é só: contratados para a campanha, ex-servidores da secretaria de Comunicação do governo manuseiam celulares com os mesmos números de antes.
Deve-se o lote de revelações a um par de repórteres: Catia Seabra e Breno Costa. As informações constam de notícia que a dupla levou às páginas da Folha.
Instado a se manifestar, o governo do Estado alegou que não há nos achados nada que de irregular. Por meio de nota, informou-se:
1. Decreto editado em março de 2004 (48.526) obriga o Estado a prover segurança “de ex-dignitários e familiares no período de duração do mandato subsequente".
2. Quantos são os agentes destacados para fazer a segurança do ex-governador? O decreto não especifica. E o governo não informa.
3. Alega-se que o segredo visa resguardar a atividade da segurança.
4. Em 2006, ao trocar o governo pela candidatura presidencial, o tucano Geraldo Alckmin servia-se de dois agentes. E se movia em carro próprio. Uma Parati.
5. Na última quarta-feira (12), os repórteres testemunharam a presença de 12 agentes de segurança do Estado na casa de Serra, em São Paulo.
6. Sobre os ex-servidores deslocados para a campanha, informou-se que já não integram a folha do governo.
7. E quanto aos celulares? "A devolução de telefones celulares [...] é sempre solicitada" no ato do "desligamento...”
8. Abre-se, porém, “a possibilidade de conservar o número, para o melhor desempenho de funções, em especial junto à imprensa".
9. A nota esclarece: "Eventuais despesas residuais ou remanescentes (em contas telefônicas) são sempre adequadamente apuradas e recompostas ao orçamento da Secom".
10. Em esclarecimentos adicionais, o PSDB informou que, noves fora a segurança estatal, saem de suas arcas as verbas que bancam a pré-campanha de Serra.
11. Incluem do aluguel de jatinho e imóveis à contratação da empresa GW, que tem como sócio o marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez.
Ainda que o governo se escore num decreto, parece estranho, para dizer o mínimo, que Serra, agora candidato, cruze o mapa do país com escolta oficial.
O ex-governador de São Paul e pré-candidato do PSDB à presidência da República, José Serra, está em campanha aberta por todo o Brasil à caça de votos, isso não é novidade para ninguém, o que poucos sabem é que essa caça está sendo financiada com dinheiro público. Serra se desincompatibilizou do governo paulista na primeira semana de abril passado, contudo até hoje continua a utilizar benesses como o serviço de segurança, carros, assessores e celulares pagos pelo erário paulista.
Como Raymundo Faoro deixa claro em “Os donos do poder”, estruturalmente nossa elite desconhece a fronteira entre o público e o privado.
Serra utiliza estrutura do Estado após deixar o cargo
José Serra transmitiu o governo de São Paulo ao seu vice, Alberto Goldman, no dia 6 de abril. Foi à campanha.
O ex-governador desfila sua candidatura pelo país. De 14 de abril até a última sexta (15), já havia realizado 15 viagens. Visitara, no total, dez Estados.
Pois bem, 40 dias depois de se despedir do Palácio dos Bandeirantes, o candidato utiliza em eventos de campanha estrutura provida pelo Estado.
Serra dispõe de agentes de segurança pagos pelo contribuinte. Acompanham-no inclusive nas viagens.
Os gastos com combustível e celular da equipe de guarda-costas correm por conta da Viúva estadual.
Há mais: Em São Paulo, o candidato e parte de seu staff vêm utilizando carros oficiais para se deslocar a eventos de cunho eleitoral.
Não é só: contratados para a campanha, ex-servidores da secretaria de Comunicação do governo manuseiam celulares com os mesmos números de antes.
Deve-se o lote de revelações a um par de repórteres: Catia Seabra e Breno Costa. As informações constam de notícia que a dupla levou às páginas da Folha.
Instado a se manifestar, o governo do Estado alegou que não há nos achados nada que de irregular. Por meio de nota, informou-se:
1. Decreto editado em março de 2004 (48.526) obriga o Estado a prover segurança “de ex-dignitários e familiares no período de duração do mandato subsequente".
2. Quantos são os agentes destacados para fazer a segurança do ex-governador? O decreto não especifica. E o governo não informa.
3. Alega-se que o segredo visa resguardar a atividade da segurança.
4. Em 2006, ao trocar o governo pela candidatura presidencial, o tucano Geraldo Alckmin servia-se de dois agentes. E se movia em carro próprio. Uma Parati.
5. Na última quarta-feira (12), os repórteres testemunharam a presença de 12 agentes de segurança do Estado na casa de Serra, em São Paulo.
6. Sobre os ex-servidores deslocados para a campanha, informou-se que já não integram a folha do governo.
7. E quanto aos celulares? "A devolução de telefones celulares [...] é sempre solicitada" no ato do "desligamento...”
8. Abre-se, porém, “a possibilidade de conservar o número, para o melhor desempenho de funções, em especial junto à imprensa".
9. A nota esclarece: "Eventuais despesas residuais ou remanescentes (em contas telefônicas) são sempre adequadamente apuradas e recompostas ao orçamento da Secom".
10. Em esclarecimentos adicionais, o PSDB informou que, noves fora a segurança estatal, saem de suas arcas as verbas que bancam a pré-campanha de Serra.
11. Incluem do aluguel de jatinho e imóveis à contratação da empresa GW, que tem como sócio o marqueteiro de Serra, Luiz Gonzalez.
Ainda que o governo se escore num decreto, parece estranho, para dizer o mínimo, que Serra, agora candidato, cruze o mapa do país com escolta oficial.
sábado, 15 de maio de 2010
Solução da crise grega é implementação de ultra-neoliberalismo
Do Blog do Rovai
A crise fiscal grega está levando a Grécia a uma solução ultra-neoliberal imposta pelo FMI e pela União Européia para que o país não entre em default. O empréstimo de 110 bilhões de euros será pago não apenas com juros considerados altos, de 5%, como com congelamento de salários, liberalização de direitos trabalhistas, redução nos valores de aposentadorias do setor público, fusão de fundos de pensão, aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, como também uma previsão de queda no PIB de 4% em 2010 e de 2,6% em 2011.
As medidas levaram o deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, que faz parte do Partido Verde Alemão e foi um dos líderes dos protestos estudantis de 1968 na França, a dizer que a União Européia enlouqueceu ao colocar tais medidas como condição para que o empréstimo fosse concedido.
O objetivo é fazer com que o déficit público do país que é de 13,6% seja reduzido para abaixo de 3% em 2014.
Nesta semana estive em Atenas e Salônica, a primeira e a segunda cidades gregas. Em Atenas no dia 5, quarta-feira, havia acontecido o maior protesto das últimas décadas no país. Líderes do movimento social local afirmam que aproximadamente 300 mil pessoas estiveram na passeata. O evento, porém, não teve um desfecho favorável. Alguns manifestantes lançaram uma bomba de gasolina em um banco e três bancários morreram sufocados. Uma delas estava grávida de quatro meses. O fato causou comoção no país, em especial em Atenas, e está sendo explorado pela mídia e pelo governo. Isso pode levar os protestos a perderem força e apoio popular. Antes desse episódio, uma pesquisa apontava que aproximadamente 2/3 da população era contra as medidas e a favor das manifestações para que o acordo com a União Européia não fosse implementado nos termos que foi anunciado.
Em Salônica, não se vê indícios das manifestações, mas em Atenas muitas lojas de grifes e principalmente bancos estão com suas vitrines e portas vidros quebradas e pichadas. Há uma parte mais radicalizada do movimento social que tem como bandeira principal a nacionalização do sistema financeiro como uma das soluções para enfrentar a crise. Isso explica em parte o ataque às agências bancárias e a tragédia que levou à morte os três bancários.
A crise grega ainda não foi solucionada com o empréstimo de 110 bilhões de euros pelo FMI e pela comunidade européia. A solução apresentada pelo mercado é exageradamente neoliberal e dura com trabalhadores e aposentados e por isso deve resultar em uma forte reação popular. Quando as medidas começarem a ser implementadas e seus efeitos passarem a ser sentidos no dia a dia, tudo indica que os protestos podem ser ainda mais duros e radicais.
Conheça as principais medidas que têm motivado os protestos:
- Os benefícios dos trabalhadores do setor público serão reduzidos em 8%, enquanto os salários dos empregados em empresas estatais sofrerão corte de 3%;
- Os bônus de férias dos servidores públicos civis que ganham mais de 3 mil euros por mês serão cortados para até 1 mil euros, sendo que serão pagos da seguinte forma (250 euros no Natal, 250 na Páscoa e 500 nas férias);
- Os salários e aposentadorias do setor público serão congeladas por 3 anos;
- Corte de 13º e 14º salários no setor público;
- Drástica revisão da legislação trabalhista, que permitará pagamentos de salários menores que o mínimo e elimina adicional de hora extra, por exemplo;
- Aumento da idade mínima para aposentadoria para 65 anos para homens e mulheres. Sendo que a idade média aumenta em função do aumento da expectativa de vida.
Comentário meu: A crise que a Grécia e outros países da Europa – Portugal, Espanha e Bélgica, por exemplo – passam agora é ainda desdobramento da crise mundial eclodida em 2008. Num primeiro momento surgiu o Estado como única força capaz de salvar um sistema desregulado caminhando a passos largos para um futuro incerto, talvez até mesmo para a sua débâcle. Resultado: A Inglaterra praticamente estatizou seu sistema financeiro. Nos EUA, onde há uma forte tradição liberal de não intervenção estatal na economia, foi feito algo similar com grandes bancos e, sobretudo, com a indústria automobilística, para citarmos apenas dois casos.
Ainda em dezembro de 2008 as instituições financeiras já haviam recebido por cada dólar que tinham em depósito antes do deflagrar da crise o equivalente a “sessenta” dólares. Essa quantia, gasta por governos nacionais a fim de sanar tais instituições, já ultrapassara naquele momento, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), três vezes o valor necessário para erradicar a fome no planeta.
Não obstante a crise persistiu de forma selvagem após um curto período onde parecia domesticada e retornou com ímpeto, só que agora os governos nacionais e as organizações internacionais não dispõem de quantias o suficiente para contra-atacá-la e impedir um novo alastramento. A solução: aprofundar as políticas neoliberais, justamente as principais responsáveis pela eclosão e desencadeamento posterior da crise.
Mas e se essas medidas levarem a um agravamento exponencial da crise e a uma convulsão social no seio da Europa? Ah... nisso os grandes economistas do FMI e da União Europeia não querem nem pensar.
A crise fiscal grega está levando a Grécia a uma solução ultra-neoliberal imposta pelo FMI e pela União Européia para que o país não entre em default. O empréstimo de 110 bilhões de euros será pago não apenas com juros considerados altos, de 5%, como com congelamento de salários, liberalização de direitos trabalhistas, redução nos valores de aposentadorias do setor público, fusão de fundos de pensão, aumento do número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza, como também uma previsão de queda no PIB de 4% em 2010 e de 2,6% em 2011.
As medidas levaram o deputado europeu Daniel Cohn-Bendit, que faz parte do Partido Verde Alemão e foi um dos líderes dos protestos estudantis de 1968 na França, a dizer que a União Européia enlouqueceu ao colocar tais medidas como condição para que o empréstimo fosse concedido.
O objetivo é fazer com que o déficit público do país que é de 13,6% seja reduzido para abaixo de 3% em 2014.
Nesta semana estive em Atenas e Salônica, a primeira e a segunda cidades gregas. Em Atenas no dia 5, quarta-feira, havia acontecido o maior protesto das últimas décadas no país. Líderes do movimento social local afirmam que aproximadamente 300 mil pessoas estiveram na passeata. O evento, porém, não teve um desfecho favorável. Alguns manifestantes lançaram uma bomba de gasolina em um banco e três bancários morreram sufocados. Uma delas estava grávida de quatro meses. O fato causou comoção no país, em especial em Atenas, e está sendo explorado pela mídia e pelo governo. Isso pode levar os protestos a perderem força e apoio popular. Antes desse episódio, uma pesquisa apontava que aproximadamente 2/3 da população era contra as medidas e a favor das manifestações para que o acordo com a União Européia não fosse implementado nos termos que foi anunciado.
Em Salônica, não se vê indícios das manifestações, mas em Atenas muitas lojas de grifes e principalmente bancos estão com suas vitrines e portas vidros quebradas e pichadas. Há uma parte mais radicalizada do movimento social que tem como bandeira principal a nacionalização do sistema financeiro como uma das soluções para enfrentar a crise. Isso explica em parte o ataque às agências bancárias e a tragédia que levou à morte os três bancários.
A crise grega ainda não foi solucionada com o empréstimo de 110 bilhões de euros pelo FMI e pela comunidade européia. A solução apresentada pelo mercado é exageradamente neoliberal e dura com trabalhadores e aposentados e por isso deve resultar em uma forte reação popular. Quando as medidas começarem a ser implementadas e seus efeitos passarem a ser sentidos no dia a dia, tudo indica que os protestos podem ser ainda mais duros e radicais.
Conheça as principais medidas que têm motivado os protestos:
- Os benefícios dos trabalhadores do setor público serão reduzidos em 8%, enquanto os salários dos empregados em empresas estatais sofrerão corte de 3%;
- Os bônus de férias dos servidores públicos civis que ganham mais de 3 mil euros por mês serão cortados para até 1 mil euros, sendo que serão pagos da seguinte forma (250 euros no Natal, 250 na Páscoa e 500 nas férias);
- Os salários e aposentadorias do setor público serão congeladas por 3 anos;
- Corte de 13º e 14º salários no setor público;
- Drástica revisão da legislação trabalhista, que permitará pagamentos de salários menores que o mínimo e elimina adicional de hora extra, por exemplo;
- Aumento da idade mínima para aposentadoria para 65 anos para homens e mulheres. Sendo que a idade média aumenta em função do aumento da expectativa de vida.
Comentário meu: A crise que a Grécia e outros países da Europa – Portugal, Espanha e Bélgica, por exemplo – passam agora é ainda desdobramento da crise mundial eclodida em 2008. Num primeiro momento surgiu o Estado como única força capaz de salvar um sistema desregulado caminhando a passos largos para um futuro incerto, talvez até mesmo para a sua débâcle. Resultado: A Inglaterra praticamente estatizou seu sistema financeiro. Nos EUA, onde há uma forte tradição liberal de não intervenção estatal na economia, foi feito algo similar com grandes bancos e, sobretudo, com a indústria automobilística, para citarmos apenas dois casos.
Ainda em dezembro de 2008 as instituições financeiras já haviam recebido por cada dólar que tinham em depósito antes do deflagrar da crise o equivalente a “sessenta” dólares. Essa quantia, gasta por governos nacionais a fim de sanar tais instituições, já ultrapassara naquele momento, segundo dados da FAO (Food and Agriculture Organization), três vezes o valor necessário para erradicar a fome no planeta.
Não obstante a crise persistiu de forma selvagem após um curto período onde parecia domesticada e retornou com ímpeto, só que agora os governos nacionais e as organizações internacionais não dispõem de quantias o suficiente para contra-atacá-la e impedir um novo alastramento. A solução: aprofundar as políticas neoliberais, justamente as principais responsáveis pela eclosão e desencadeamento posterior da crise.
Mas e se essas medidas levarem a um agravamento exponencial da crise e a uma convulsão social no seio da Europa? Ah... nisso os grandes economistas do FMI e da União Europeia não querem nem pensar.
quinta-feira, 13 de maio de 2010
Como o fantoche de Aécio trata os movimentos populares
Frei Gilvander Moreira, ao centro com o microfone na mão, coordenador das Brigadas Populares em BH
Leia e divulgue para todo o Brasil como o governador Antônio Anastasia (fantoche de Aécio Neves) trata os movimentos populares em Minas Gerais. Aliás, como Anastasia é do PSDB, não poderíamos esperar que tratasse os movimentos sociais doutra maneira.
Na manhã do dia 11 de maio, terça-feira passada, cerca de 1.500 pessoas das Ocupações Dandara, Camilo Torres e Irmã Dorothy, de Belo Horizonte, após marcharem 25 kms (a pé), do Céu Azul ao Centro de Belo Horizonte, ocuparam a sede da SEDRU - Secretaria de Estado de Desenvolvimento Regional e Política Urbana, cujo responsável é o ex-prefeito de Poços de Caldas Sebastião Navarro Vieira Filho - ao lado do Colégio Santo Agostinho, na Rua Gonçalves Dias, na capital mineira. A Tropa de Choque, comandada pelo Cel. Teatini, com cães, bombas de gás lacrimogêneo e forte aparato bélico expulsou o povo que ocupou por duas horas a SEDRU.
Para Anastasia, Aécio, Serra e companhia ilimitada problemas sociais são caso de polícia.
Siga a luta das Brigadas Populares de BH no Correio Brigadista.
segunda-feira, 10 de maio de 2010
Streeth Figthing Man com Rage Against the Machine
Em tempos de turbulência na Europa é impossível não lembrar de Streeth Figthing Man. É óbvio que os Stones, os pais da criança, interpretando essa música é fulminante e inenarrável (principalmente a versão ao vivo no Madison Sqare Garden em 1970, presente no fenomenal Get Yer Ya-Ya's Out!). Mas essa versão com Rage Against the Machine é diferente e também merece ser ouvida.
Direito legítimo de greve
Centrais e movimentos sociais manifestam apoio aos trabalhadores em educação de Minas Gerais
As centrais sindicais e os movimentos sociais de Minas Gerais manifestam o seu apoio e solidariedade à greve dos trabalhadores em educação do estado, bem como o seu repúdio às constantes intervenções do Poder Judiciário sobre as mobilizações e greves do movimento sindical. Assim como ocorreu com os RODOVIÁRIOS (TRT - 3ª Região), que realizaram um movimento legítimo e dentro das determinações legais, os TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE BH e os FUNCIONÁRIOS DO IPSEMG foram intimados a suspender suas paralisações e seus sindicatos multados pelo TJMG, num flagrante abuso contra a liberdade e autonomia sindical dos trabalhadores.
A intervenção judicial na greve dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Rede Pública do estado de Minas Gerais é mais um capítulo do escandaloso ataque à autonomia e à liberdade de organização sindical. O momento exige solidariedade de toda a classe trabalhadora. Pelo Brasil afora, notamos que a Justiça, acionada pelos patrões e governos comete desmandos, ao não mediar e arbitrar os conflitos coletivos do trabalho.
O governador do estado Antonio Anastasia (PSDB) também mostrou a que veio. O poder executivo solicitou à Justiça que determinasse a ilegalidade do movimento grevista.
São mais que justas as reivindicações apresentadas pelo Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública do Estado de Minas Gerais) a exemplo da regulamentação do piso salarial dos R$ 850.00 para R$ 1312.85 por 24 horas de trabalhos semanais.
A greve dos trabalhadores da educação estadual guarda profunda relação com a greve dos professores do setor privado, e também com a greve da rede pública municipal de BH. Greve é o último recurso dos trabalhadores, quando não há possibilidade de diálogo se transforma na única forma de resistência. Em todos os casos, fica patente o descaso dos governos em promover e valorizar a educação pública.
Os profissionais têm o direito e o DEVER de resistir ao sucateamento e à transformação da educação em mercadoria.
Toda solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras em Educação da rede pública estadual. Nosso repúdio à intervenção de Antonio Anastasia e ao desserviço prestado pelo Desembargador Wander Marotta da 7ª Vara Cível de BH em estabelecer uma multa diária de 10 mil por dia, até o limite de 500 mil reais, caso a greve continue. Ao Sind-UTE e à categoria, nosso apoio e parabéns pela coragem de não interromper o movimento grevista. Não podemos nos render às ações antissindicais e à ofensa institucionalizada ao direito constitucional de greve. Somente com a solidariedade da classe trabalhadora vamos contornar esse difícil momento!
As Centrais Sindicais e os movimentos sociais estão ao lado dos trabalhadores até a vitória e neste sentido solicitarão uma audiência com o Presidente da TJMG para esclarecer a relação que o poder judiciário está estabelecendo com o movimento sindical.
- Pelo direito de greve!
- Pela abertura imediata de negociações entre o governo do estado e os grevistas!
- Pelo atendimento à pauta de reivindicações da educação!
- Pela valorização dos servidores e em defesa de serviços públicos de qualidade!
CUT – CTB – CGTB – NCST – UGT - CONLUTAS
Fonte: CNTE
As centrais sindicais e os movimentos sociais de Minas Gerais manifestam o seu apoio e solidariedade à greve dos trabalhadores em educação do estado, bem como o seu repúdio às constantes intervenções do Poder Judiciário sobre as mobilizações e greves do movimento sindical. Assim como ocorreu com os RODOVIÁRIOS (TRT - 3ª Região), que realizaram um movimento legítimo e dentro das determinações legais, os TRABALHADORES EM EDUCAÇÃO DA REDE MUNICIPAL DE BH e os FUNCIONÁRIOS DO IPSEMG foram intimados a suspender suas paralisações e seus sindicatos multados pelo TJMG, num flagrante abuso contra a liberdade e autonomia sindical dos trabalhadores.
A intervenção judicial na greve dos Trabalhadores e Trabalhadoras em Educação da Rede Pública do estado de Minas Gerais é mais um capítulo do escandaloso ataque à autonomia e à liberdade de organização sindical. O momento exige solidariedade de toda a classe trabalhadora. Pelo Brasil afora, notamos que a Justiça, acionada pelos patrões e governos comete desmandos, ao não mediar e arbitrar os conflitos coletivos do trabalho.
O governador do estado Antonio Anastasia (PSDB) também mostrou a que veio. O poder executivo solicitou à Justiça que determinasse a ilegalidade do movimento grevista.
São mais que justas as reivindicações apresentadas pelo Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública do Estado de Minas Gerais) a exemplo da regulamentação do piso salarial dos R$ 850.00 para R$ 1312.85 por 24 horas de trabalhos semanais.
A greve dos trabalhadores da educação estadual guarda profunda relação com a greve dos professores do setor privado, e também com a greve da rede pública municipal de BH. Greve é o último recurso dos trabalhadores, quando não há possibilidade de diálogo se transforma na única forma de resistência. Em todos os casos, fica patente o descaso dos governos em promover e valorizar a educação pública.
Os profissionais têm o direito e o DEVER de resistir ao sucateamento e à transformação da educação em mercadoria.
Toda solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras em Educação da rede pública estadual. Nosso repúdio à intervenção de Antonio Anastasia e ao desserviço prestado pelo Desembargador Wander Marotta da 7ª Vara Cível de BH em estabelecer uma multa diária de 10 mil por dia, até o limite de 500 mil reais, caso a greve continue. Ao Sind-UTE e à categoria, nosso apoio e parabéns pela coragem de não interromper o movimento grevista. Não podemos nos render às ações antissindicais e à ofensa institucionalizada ao direito constitucional de greve. Somente com a solidariedade da classe trabalhadora vamos contornar esse difícil momento!
As Centrais Sindicais e os movimentos sociais estão ao lado dos trabalhadores até a vitória e neste sentido solicitarão uma audiência com o Presidente da TJMG para esclarecer a relação que o poder judiciário está estabelecendo com o movimento sindical.
- Pelo direito de greve!
- Pela abertura imediata de negociações entre o governo do estado e os grevistas!
- Pelo atendimento à pauta de reivindicações da educação!
- Pela valorização dos servidores e em defesa de serviços públicos de qualidade!
CUT – CTB – CGTB – NCST – UGT - CONLUTAS
Fonte: CNTE
quinta-feira, 6 de maio de 2010
Oficina Cultural
Oficina: Festa de São Benedito, Caiapós e Ternos de Congo, expressões da cultura popular de Poços de Caldas e Região
Data: 08 de maio , às 16h.
Local: Instituto Cultural Companhia Bella de Artes – Entrada Franca
Rua Prefeito Chagas, 305 – Andar PL.
Palestrante: Me. Maria José de Souza
Mestre em Antropologia e História pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e militante do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei.
Contato: (035) 9854-9008 - Greice Keli
Sobre o projeto
O Projeto Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania é um projeto que visa incentivar agentes culturais, educadores, estudantes secundaristas e universitários, jovens e adultos ligados à produção cultural a refletir sobre a cultura, a cidadania e o conhecimento científico e popular dentro de uma proposta de ensino-aprendizagem dialógica.
Focado em oficinas ministradas por militantes culturais com notoriedade e grande reconhecimento público de seus trabalhos, como Carlos Rodrigues Brandão (Antropólogo), Nizar El Khatib (Comunidade de Cultura Árabe), Ronaldo Sales Senna (UEFS), Maria José de Souza (Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei) dentre outros, o Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania é um projeto que existe há 4 anos e congrega militantes culturais, estudantes e educadores num espaço coletivo de construção do conhecimento. Com incentivo da empresa Alcoa Poços de Caldas através de sua aprovação pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e pretende ampliar sua esfera de atuação e abrangência, com maior qualidade, profissionalismo e envolvimento da comunidade aprendente de Poços de Caldas e região.
Incentivo Cultural:
Alcoa
Apoio:
Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Nº 6363/96
Instituto Cultural Companhia Bella de Artes - ICCBA
Data: 08 de maio , às 16h.
Local: Instituto Cultural Companhia Bella de Artes – Entrada Franca
Rua Prefeito Chagas, 305 – Andar PL.
Palestrante: Me. Maria José de Souza
Mestre em Antropologia e História pela Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP e militante do Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei.
Contato: (035) 9854-9008 - Greice Keli
Sobre o projeto
O Projeto Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania é um projeto que visa incentivar agentes culturais, educadores, estudantes secundaristas e universitários, jovens e adultos ligados à produção cultural a refletir sobre a cultura, a cidadania e o conhecimento científico e popular dentro de uma proposta de ensino-aprendizagem dialógica.
Focado em oficinas ministradas por militantes culturais com notoriedade e grande reconhecimento público de seus trabalhos, como Carlos Rodrigues Brandão (Antropólogo), Nizar El Khatib (Comunidade de Cultura Árabe), Ronaldo Sales Senna (UEFS), Maria José de Souza (Centro Cultural Afro Brasileiro Chico Rei) dentre outros, o Ciclo de Oficinas Culturais Juventude e Cidadania é um projeto que existe há 4 anos e congrega militantes culturais, estudantes e educadores num espaço coletivo de construção do conhecimento. Com incentivo da empresa Alcoa Poços de Caldas através de sua aprovação pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e pretende ampliar sua esfera de atuação e abrangência, com maior qualidade, profissionalismo e envolvimento da comunidade aprendente de Poços de Caldas e região.
Incentivo Cultural:
Alcoa
Apoio:
Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Nº 6363/96
Instituto Cultural Companhia Bella de Artes - ICCBA
Athens Calling
Ao ver os últimos acontecimentos na Grécia lembrei-me da letra de London Calling, do Clash. Realmente já há algum tempo, desde 2008 pelo menos, que a Grécia parece ser um barril de pólvora prestes a explodir. FMI e Comunidade Europeia têm trabalhado a fim de evitar tal explosão, mas até quando conseguirão contê-la?
Greve geral com confrontos na Grécia
Fonte: Esquerda Net - Portugal
O dia de greve geral na Grécia contra o plano do FMI e do governo fica marcado pela forte adesão e pelos confrontos. Na capital, os protestos juntaram 100 mil pessoas, com vários grupos a enfrentarem a polícia junto ao parlamento e em muitos outros pontos da cidade.
Ao fim da manhã de quarta-feira, foi divulgada a notícia da morte de três pessoas durante um incêndio num banco no centro de Atenas. Apesar do responsável pela polícia não ter apontado as causas, a imprensa internacional afirma que o incêndio ocorreu após um ataque com cocktails molotov lançados para o interior do edifício.
Logo pela manhã, cerca de 100 mil pessoas manifestaram-se em vários pontos da capital grega em protesto contra as medidas de austeridade negociadas pelo governo, FMI e Banco Central Europeu. O centro de Atenas converteu-se no palco de confrontos com a polícia, lançamento de cocktails molotov, muitas montras partidas e graffitis apelando à resistência contra as medidas do governo de Giorgos Papandreou.
Membro da Juventude Comunista Grega explica os motivos da greve geral
O protesto alastrou a outras cidades, como Salónica, onde se manifestaram 20 mil pessoas e se registaram igualmente confrontos com a polícia grega.
A greve está a ter uma grande adesão, com a paragem dos transportes aéreos, marítimos e ferroviários, bem como da maioria das escolas e serviços públicos. Também a imprensa aderiu a esta greve geral, interrompendo os serviços noticiosos de rádio e TV. Em Atenas, os transportes públicos funcionaram com horário reduzido, de modo a permitir a chegada dos manifestantes aos locais dos protestos convocados pelas centrais sindicais no centro da cidade.
"Este comício teve o dobro das pessoas do maior comício alguma vez realizado na Grécia", disse Spyros Papaspyros, do sindicato da função pública ADEDY. "Amanhã à tarde vamos protestar em frente ao Parlamento e se o governo não nos ouvir, pode contar com mais acções de luta na próxima semana", acrescentou o sindicalista citado pelo Wall Street Journal.
O plano do FMI para financiar a economia grega, avaliado em 110 mil milhões de euros, prevê medidas de corte na despesa pública grega no valor de 30 mil milhões, atingindo fortemente os salários e as pensões, a subida imediata do IVA para 23% e a liberalização das leis laborais. O parlamento vai votar esta quinta-feira o pacote de austeridade do governo socialista.
Clipe de London Calling - The Clash
Greve geral com confrontos na Grécia
Fonte: Esquerda Net - Portugal
O dia de greve geral na Grécia contra o plano do FMI e do governo fica marcado pela forte adesão e pelos confrontos. Na capital, os protestos juntaram 100 mil pessoas, com vários grupos a enfrentarem a polícia junto ao parlamento e em muitos outros pontos da cidade.
Ao fim da manhã de quarta-feira, foi divulgada a notícia da morte de três pessoas durante um incêndio num banco no centro de Atenas. Apesar do responsável pela polícia não ter apontado as causas, a imprensa internacional afirma que o incêndio ocorreu após um ataque com cocktails molotov lançados para o interior do edifício.
Logo pela manhã, cerca de 100 mil pessoas manifestaram-se em vários pontos da capital grega em protesto contra as medidas de austeridade negociadas pelo governo, FMI e Banco Central Europeu. O centro de Atenas converteu-se no palco de confrontos com a polícia, lançamento de cocktails molotov, muitas montras partidas e graffitis apelando à resistência contra as medidas do governo de Giorgos Papandreou.
Membro da Juventude Comunista Grega explica os motivos da greve geral
O protesto alastrou a outras cidades, como Salónica, onde se manifestaram 20 mil pessoas e se registaram igualmente confrontos com a polícia grega.
A greve está a ter uma grande adesão, com a paragem dos transportes aéreos, marítimos e ferroviários, bem como da maioria das escolas e serviços públicos. Também a imprensa aderiu a esta greve geral, interrompendo os serviços noticiosos de rádio e TV. Em Atenas, os transportes públicos funcionaram com horário reduzido, de modo a permitir a chegada dos manifestantes aos locais dos protestos convocados pelas centrais sindicais no centro da cidade.
"Este comício teve o dobro das pessoas do maior comício alguma vez realizado na Grécia", disse Spyros Papaspyros, do sindicato da função pública ADEDY. "Amanhã à tarde vamos protestar em frente ao Parlamento e se o governo não nos ouvir, pode contar com mais acções de luta na próxima semana", acrescentou o sindicalista citado pelo Wall Street Journal.
O plano do FMI para financiar a economia grega, avaliado em 110 mil milhões de euros, prevê medidas de corte na despesa pública grega no valor de 30 mil milhões, atingindo fortemente os salários e as pensões, a subida imediata do IVA para 23% e a liberalização das leis laborais. O parlamento vai votar esta quinta-feira o pacote de austeridade do governo socialista.
Clipe de London Calling - The Clash
quarta-feira, 5 de maio de 2010
Comunicado Sind-UTE/MG - 05/05/2010
O Sindicato Único dos Trabalhadores em Educação de Minas Gerais, vem a público e, por intermédio da imprensa, comunicar:
“A greve por tempo indeterminado deflagrada em Minas Gerais no dia 08 de abril configura-se no maior movimento dos últimos anos em nosso estado. Enfrentamos até aqui ameaças, tentativas de demissão, arbitrariedades, repressão, agressão física. Respondemos com organização, mobilização, manifestações e a continuidade da greve.
Temos um claro objetivo: a implementação do piso salarial profissional de R$1.312,85 para jornada de 24 horas e nível médio de escolaridade.
Enfrentamos uma articulação do Governo do Estado envolvendo mídia paga, inteligência do serviço de segurança pública, decisões políticas do Poder Judiciário.
O nosso recuo neste momento significará uma derrota não apenas da campanha salarial de 2010, mas a nossa derrota enquanto categoria. Perderemos a capacidade de conquistar qualquer mudança de salário além de ficarmos vulneráveis às retaliações da Secretaria Estadual de Educação (SEE).
A liminar concedida pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (Mandado de Segurança impetrado pelo Sind-UTE/MG) que garantiu aos/as trabalhadores/as em educação o direito de greve sem que haja demissões ou substituições foi uma importante vitória jurídica e política para a continuidade da greve.
No entanto, o Governo de Estado ajuizou ação civil pública pedindo a decretação da ilegalidade da greve. Um Desembargador do Tribunal de Justiça deferiu a tutela antecipada determinando a imediata suspensão da greve, por considerá-la ilegal. O Desembargador não ouviu o Sind-UTE/MG antes de decidir. A decisão é de 04/05/10, véspera da nossa assembleia estadual, que acontece hoje às 14h, na Praça da Assembleia Legislativa.
O Sind-UTE/MG cumpriu todos os requisitos determinados pela Lei Federal 7.783/89 que é aplicada ao direito de greve do setor público. No entanto, o Tribunal de Justiça optou por declarar a ilegalidade da nossa greve. O Sind-UTE/MG recorreu da decisão do TJMG e está se organizando para assumir a multa diária de R$10.000,00.
Voltar para a escola neste momento não reverterá o que o Governo Estadual está fazendo. Precisamos manter a nossa mobilização para modificar o atual quadro de ameaças e tentativas de retaliação. Não será a primeira vez que os/as trabalhadores/as enfrentam decisões judiciais que têm perfil político.
"Em defesa do nosso piso salarial, do nosso direito de greve, em defesa da qualidade da educação em minas gerais, a greve por tempo indeterminado precisa ser mantida.”
Em tempo:
O Sind-UTE/MG – Regional Poços de Caldas convoca os trabalhadores em educação para:
Assembleia nesta quinta-feira (06/05/2010) a partir das 17:00
Local: SESC – Rua Paraná - 229
terça-feira, 4 de maio de 2010
Informe Sind-UTE/MG
Companheiros (as),
Aos comandos locais de greve
Aos/as trabalhadores em educação em greve
ASSUNTO:
AÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA – LIMINAR DEFERIDA – SUSPENSÃO DO ITEM 07, DO OFÍCIO CIRCULAR 1013/2010, DA SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – DECISÃO QUE SUSPENDEU AS CONTRATAÇÕES/DESIGNAÇÕES PARA SUBSTITUIR OS SERVIDORES DA EDUCAÇÃO EM GREVE – SUSPENSÃO DAS CONTRATAÇÕES JÁ REALIZADAS.
A Secretária de Estado da Educação editou o ato circular n°. 1.013/2010, que autorizou e determinou a designação de professores e servidores em substituição àqueles que aderiram ao movimento de paralisação por tempo indeterminado da categoria da educação pública em Minas Gerais.
Diante da ilegalidade e arbitrariedade do ato, o Sind-UTE/MG, através de seu Departamento Jurídico, impetrou Ação de Mandado de Segurança com pedido liminar com urgência, que foi DEFERIDO com a seguinte conclusão:
“Fundado nestas razões e em atenção aos limites expostos na inicial, suspendo a eficácia do item 7 do Ofício Circular n°. 1.013/2010 e de qualquer outro ato que tenha ou venha a ser expedido com este fim, bem como ordeno à autoridade coatora que não realize nenhuma contratação ou designação de professores temporários em substituição àqueles que aderiram à greve dos professores públicos estaduais. A aludida medida abrange, ainda, a suspensão de eventuais contratações já implementadas a partir da edição do referido Ofício Circular.”
Portanto, o Estado de Minas Gerais está impedido de realizar qualquer tipo de designações/contratações para substituir os servidores e professores da educação pública no Estado de Minas Gerais que aderiram a greve da educação pública no Estado.
Também, por força da liminar, todos os Editais de designações e as contratações para cargo vago, em substituição, já realizados estão suspensos.
Encaminhamos em anexo cópia da decisão e modelo de requerimento para que o servidor possa informar sua adesão a greve.
Atenciosamente,
BEATRIZ DA SILVA CERQUEIRA
COORDENADORA GERAL DO SIND-UTE MG
segunda-feira, 3 de maio de 2010
Serra declara: Fumantes não têm Deus no coração
“A pessoa que fuma sabe que o cigarro vai fazer mal, mas continua assim mesmo. Depois, adoece e mesmo assim continua fumando. Assim, é uma pessoa sem Deus. Sabe que Ele está ali, mas não o procura”.
José Serra em discurso proferido durante o 28º Congresso Internacional de Missões.
Sinceramente, custei a acreditar que José Serra tivesse de fato dado tal declaração. Não me assustaria se ela tivesse partido de uma Sara Palin ou de um George Bush. Ou então, em nossa política nativa, figuras exóticas como Heloísa Helena, Marina Silva, Marcelo Crivella ou qualquer outro político que não conheça a barreira entre religião e Estado (laico), entre políticas públicas e liberdade individual, eu acreditaria, mas partindo de José Serra, ex-presidente da UNE, ex-ministro da Saúde, cair nesse discurso infantil a fim de coletar votos entre os segmentos ligados a um fundamentalismo abjeto, sinceramente me causou certo espanto.
Até onde um homem pode chegar na ânsia pelo poder? Jogar na lata do lixo a própria biografia?
E mais, José Serra disse isso no 1° de maio, o ex-governador paulista preferiu o refugio religioso a comemorar o Dia dos Trabalhadores, num evento para o qual o governo de Santa Catarina e a Prefeitura de Camboriu, ambos administrados por correligionários de Serra, destinaram R$ 540 mil para a sua realização.
Lembrei-me dum ótimo artigo da Folha de São Paulo, assinado por João Pereira Coutinho e publicado em agosto de 2006. Eis o artigo:
A guerra acabou
George Steiner, um dos últimos casos de cultura e civilidade que interessa ler com atenção, escreveu recentemente um breve ensaio. Sobre a idéia da Europa, intitulado "A Idéia da Europa". Ambição estimável: mostrar como a Europa possui uma unidade cultural e até espiritual que a distingue dos outros cantos do globo. Para Steiner, a Europa, a sua Europa (que, de certa forma, é minha também), surge como herança maior de Atenas ou Jerusalém, ou seja, como herança maior do pensamento racional e das grandes teologias judaico-cristãs. É igualmente um espaço que é possível calcorrear a pé, permitindo um confronto permanente com praças ou pracetas, ruas ou avenidas, que transportam no nome um pedaço de história ou memória. Como se houvesse em cada esquina a sombra inapagável de um passado de mortos.
Mas a Europa é também a Europa dos "cafés": ao contrário do "pub" inglês ou do bar americano, os cafés da Europa não são apenas locais utilitários de bebida ou refeição. São espaços de encontro, romance, discussão ou criação. Espaços de fumo e bebida. Vadiagem, malandragem. E em cada café da Europa existe também a presença invisível dos que o habitaram: Kraus em Viena; Pessoa em Lisboa, Sartre em Paris; e porque a ficção se mistura tantas vezes com a realidade, os gangsters de Isaac Babel nos cafés de Odessa. Porque a Europa dos cafés estende-se da Lisboa de Pessoa à Odessa de Babel.
Leio o pequeno livro de Steiner e não posso deixar de sentir uma certa nostalgia. A descrição do autor talvez seja útil para entender a Europa. Mas que Europa? A Europa do passado? Sem dúvida. Mas sobre a Europa do presente, o sábio George está equivocado. Não apenas pelo declínio cultural que a Europa conheceu depois da Segunda Guerra Mundial, quando o "espírito do tempo" emigrou para Nova York, e não mais para Londres ou Paris. Mas porque na Europa, e sobretudo na Europa dos cafés, dificilmente encontramos o ambiente físico e espiritual que Steiner retrata. A vida intelectual é hoje essencialmente solitária e privada, onde os escribas vão cultivando os seus feudos, e os seus ódios, sob a luz triste da existência suburbana. E sobre beber ou fumar, a maioria dos cafés do continente já foi abolindo o último vício, esperando-se que se ocupe agora do primeiro. Os cafés da Europa serão, a prazo, jardins infantis.
O "espírito do tempo" não emigrou apenas para outras paragens. Ele foi destruindo uma cultura de adultos, entregando as rédeas do mundo à ideologia patética da juventude. Não admira, por isso, que o último passo tenha sido dado nos últimos dias: uma empresa irlandesa publicou um anúncio de emprego. E estabeleceu: fumantes escusam de se candidatar. De acordo com o diretor da empresa, pessoas que fumam não revelam a inteligência necessária para trabalhar no covil irlandês. E cheiram mal. E são insuportáveis para terceiros.
O gesto indignou algumas consciências políticas e uma eurodeputada britânica resolveu levar o caso à Comissão Européia, que pastoreia e vigia a vida do continente. Será legítimo excluir do trabalho alguém que fuma? A Comissão respondeu afirmativamente: a Europa proíbe a discriminação no emprego com base na raça ou etnia; na deficiência; na idade; na orientação sexual; na religião ou nas crenças. Mas não necessariamente quando uma empresa faz juízos objetivos sobre escolhas individuais. O problema já não está na mera possibilidade de proteger os não-fumantes do vício de terceiros, disponibilizando espaço próprio para os últimos. O problema está, tão só, na mera existência dos viciosos, que devem ser erradicados da paisagem comum.
Por favor, escusam de me enviar mensagens indignadas. A guerra acabou e, de certa forma, vocês, fanáticos, venceram. A luta contra o tabaco nunca foi uma luta pela saúde dos "passivos" (o que seria compreensível). Foi simplesmente uma luta contra a liberdade individual em nome de uma utopia sanitária: os fanáticos não desejam apenas que o fumo não os perturbe; desejam que a mera existência de um fumante também não. É a intolerância levada ao extremo e servida numa retórica simpática e humanista. E agora com cobertura legal.
A prazo, essa luta não irá ficar apenas pelo fumo: pessoas gordas; pessoas que bebem; pessoas que desenvolvem atividades sexuais promíscuas; pessoas inestéticas; pessoas que não se adaptam à cartilha higiênica das patrulhas serão enxotadas, como ratazanas da espécie, de qualquer presença visível numa sociedade crescentemente dominada pelo culto da saúde. Seremos como as tribos primitivas, elevando o corpo a um novo deus. Caprichosos e cruéis.
George Steiner, no mesmo ensaio, afirma que a Europa só não morrerá se souber preservar as suas "autonomias sociais": línguas, tradições, liberdades, excentricidades. E, citando o célebre dito de Aby Warburg, relembra que "Deus está nos detalhes".
Pobre George. Pobres de nós. De que vale o otimismo de um sábio quando os bárbaros são recebidos como heróis?
José Serra em discurso proferido durante o 28º Congresso Internacional de Missões.
Sinceramente, custei a acreditar que José Serra tivesse de fato dado tal declaração. Não me assustaria se ela tivesse partido de uma Sara Palin ou de um George Bush. Ou então, em nossa política nativa, figuras exóticas como Heloísa Helena, Marina Silva, Marcelo Crivella ou qualquer outro político que não conheça a barreira entre religião e Estado (laico), entre políticas públicas e liberdade individual, eu acreditaria, mas partindo de José Serra, ex-presidente da UNE, ex-ministro da Saúde, cair nesse discurso infantil a fim de coletar votos entre os segmentos ligados a um fundamentalismo abjeto, sinceramente me causou certo espanto.
Até onde um homem pode chegar na ânsia pelo poder? Jogar na lata do lixo a própria biografia?
E mais, José Serra disse isso no 1° de maio, o ex-governador paulista preferiu o refugio religioso a comemorar o Dia dos Trabalhadores, num evento para o qual o governo de Santa Catarina e a Prefeitura de Camboriu, ambos administrados por correligionários de Serra, destinaram R$ 540 mil para a sua realização.
Lembrei-me dum ótimo artigo da Folha de São Paulo, assinado por João Pereira Coutinho e publicado em agosto de 2006. Eis o artigo:
A guerra acabou
George Steiner, um dos últimos casos de cultura e civilidade que interessa ler com atenção, escreveu recentemente um breve ensaio. Sobre a idéia da Europa, intitulado "A Idéia da Europa". Ambição estimável: mostrar como a Europa possui uma unidade cultural e até espiritual que a distingue dos outros cantos do globo. Para Steiner, a Europa, a sua Europa (que, de certa forma, é minha também), surge como herança maior de Atenas ou Jerusalém, ou seja, como herança maior do pensamento racional e das grandes teologias judaico-cristãs. É igualmente um espaço que é possível calcorrear a pé, permitindo um confronto permanente com praças ou pracetas, ruas ou avenidas, que transportam no nome um pedaço de história ou memória. Como se houvesse em cada esquina a sombra inapagável de um passado de mortos.
Mas a Europa é também a Europa dos "cafés": ao contrário do "pub" inglês ou do bar americano, os cafés da Europa não são apenas locais utilitários de bebida ou refeição. São espaços de encontro, romance, discussão ou criação. Espaços de fumo e bebida. Vadiagem, malandragem. E em cada café da Europa existe também a presença invisível dos que o habitaram: Kraus em Viena; Pessoa em Lisboa, Sartre em Paris; e porque a ficção se mistura tantas vezes com a realidade, os gangsters de Isaac Babel nos cafés de Odessa. Porque a Europa dos cafés estende-se da Lisboa de Pessoa à Odessa de Babel.
Leio o pequeno livro de Steiner e não posso deixar de sentir uma certa nostalgia. A descrição do autor talvez seja útil para entender a Europa. Mas que Europa? A Europa do passado? Sem dúvida. Mas sobre a Europa do presente, o sábio George está equivocado. Não apenas pelo declínio cultural que a Europa conheceu depois da Segunda Guerra Mundial, quando o "espírito do tempo" emigrou para Nova York, e não mais para Londres ou Paris. Mas porque na Europa, e sobretudo na Europa dos cafés, dificilmente encontramos o ambiente físico e espiritual que Steiner retrata. A vida intelectual é hoje essencialmente solitária e privada, onde os escribas vão cultivando os seus feudos, e os seus ódios, sob a luz triste da existência suburbana. E sobre beber ou fumar, a maioria dos cafés do continente já foi abolindo o último vício, esperando-se que se ocupe agora do primeiro. Os cafés da Europa serão, a prazo, jardins infantis.
O "espírito do tempo" não emigrou apenas para outras paragens. Ele foi destruindo uma cultura de adultos, entregando as rédeas do mundo à ideologia patética da juventude. Não admira, por isso, que o último passo tenha sido dado nos últimos dias: uma empresa irlandesa publicou um anúncio de emprego. E estabeleceu: fumantes escusam de se candidatar. De acordo com o diretor da empresa, pessoas que fumam não revelam a inteligência necessária para trabalhar no covil irlandês. E cheiram mal. E são insuportáveis para terceiros.
O gesto indignou algumas consciências políticas e uma eurodeputada britânica resolveu levar o caso à Comissão Européia, que pastoreia e vigia a vida do continente. Será legítimo excluir do trabalho alguém que fuma? A Comissão respondeu afirmativamente: a Europa proíbe a discriminação no emprego com base na raça ou etnia; na deficiência; na idade; na orientação sexual; na religião ou nas crenças. Mas não necessariamente quando uma empresa faz juízos objetivos sobre escolhas individuais. O problema já não está na mera possibilidade de proteger os não-fumantes do vício de terceiros, disponibilizando espaço próprio para os últimos. O problema está, tão só, na mera existência dos viciosos, que devem ser erradicados da paisagem comum.
Por favor, escusam de me enviar mensagens indignadas. A guerra acabou e, de certa forma, vocês, fanáticos, venceram. A luta contra o tabaco nunca foi uma luta pela saúde dos "passivos" (o que seria compreensível). Foi simplesmente uma luta contra a liberdade individual em nome de uma utopia sanitária: os fanáticos não desejam apenas que o fumo não os perturbe; desejam que a mera existência de um fumante também não. É a intolerância levada ao extremo e servida numa retórica simpática e humanista. E agora com cobertura legal.
A prazo, essa luta não irá ficar apenas pelo fumo: pessoas gordas; pessoas que bebem; pessoas que desenvolvem atividades sexuais promíscuas; pessoas inestéticas; pessoas que não se adaptam à cartilha higiênica das patrulhas serão enxotadas, como ratazanas da espécie, de qualquer presença visível numa sociedade crescentemente dominada pelo culto da saúde. Seremos como as tribos primitivas, elevando o corpo a um novo deus. Caprichosos e cruéis.
George Steiner, no mesmo ensaio, afirma que a Europa só não morrerá se souber preservar as suas "autonomias sociais": línguas, tradições, liberdades, excentricidades. E, citando o célebre dito de Aby Warburg, relembra que "Deus está nos detalhes".
Pobre George. Pobres de nós. De que vale o otimismo de um sábio quando os bárbaros são recebidos como heróis?
sábado, 1 de maio de 2010
Pressão Social - Plebe Rude e Legião Urbana
1º de maio merece uma música de protesto, mesmo que seja uma versão mais pop.
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