quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Serra em estado de “decomposição”

O debate principal durante a pré-campanha foi acerca da capacidade de transferência da popularidade (votos) de Lula para Dilma e, através dessa transferência, qual seria o teto da petista. Pois é, o debate agora mudou radicalmente. Agora a questão é saber qual o piso de Serra!

Em minha avaliação Serra está muito próximo do perigoso terreno onde uma campanha fracassada entra em estado de "decomposição". Ou seja, muitas pessoas, um percentual ainda indefinido e que a principio declarou voto em Serra, começa a migrar para Dilma. Por quê? Isso é esquizofrênico? Pode até parecer e ser esquizofrênico, mas faz parte da cultura política do eleitor brasileiro. Uma parcela considerável do eleitorado gosta mesmo é de votar em quem está na frente e justifica essa atitude da seguinte maneira: “não queria perder meu voto”.

A persistir nos erros de campanha a oposição farisaica poderá se surpreender com o piso de Serra e a rápida decomposição do tucano. Erros dos mais variados tamanhos, tipos e tonalidades. A começar pela demora em se declarar candidato, passando pela espera de Aécio em aceitar a condição de coadjuvante e depois com a atrapalhada divulgação de Álvaro Dias como vice para dali a pouco desfazer o convite ao tucano e confirmar o neointegralista Índio da Costa. Mais tarde foi o próprio neointegralista o responsável por mais lambanças através de declarações capazes de fazer a ultradireita gozar de alegria e atrair a ira dos movimentos verdadeiramente democráticos da sociedade brasileira.

No mais, a campanha tucana está denotando a total carência de projeto, discurso e rumo, retrato fiel duma oposição farisaica sucumbida à força de um presidente extremamente popular, carismático, competente e que trouxe o tema da desigualdade social para o primeiro plano do cenário político nacional.

As chances de José Serra levar o jogo para o segundo turno começam a ficar, a cada dia, mais remotas. No Sul e em São Paulo, os bastiões de Serra e da oposição farisaica, Dilma vem crescendo, embora num ritmo mais lento do que o verificado no restante do país, enquanto Serra encontra toda a sorte de dificuldades, a começar pelos correligionários que fazem corpo mole ou então pela baixíssima popularidade da governadora do Rio Grande do Sul – o maior colégio eleitoral da região Sul – Yeda Crusius.

No Rio de Janeiro a candidatura Fernando Gabeira, que no início pareia ser uma jogada de mestre, vem mostrando grandes dificuldades em angariar votos num Estado que se tornou nas últimas décadas bastante conservador em termos regionais e esquizofrenicamente progressista em termos nacionais – justamente o contrário da necessidade demo-tucana. Não obstante do outro lado encontra-se uma máquina de propaganda muito bem orquestrada, que somada ao ultimato dado ao PT fluminense para se coligar ao PMDB de Sérgio Cabral, devem garantir uma reeleição tranquila para o governador que manda a polícia sitiar e invadir morros.

Já em Minas, Serra depende em demasia da vontade de Aécio, o mais forte cabo eleitoral do Estado. Entretanto Aécio está mais preocupado com um conselho que Tancredo Neves sempre dava aos aliados Mais ou menos assim: “o político que quiser construir um projeto nacional, tem que fechar seu próprio Estado em torno de si”. Portanto, a despeito de todo o trauma, magoa ou mesmo a torcida para que Serra perca abrindo caminho para tornar-se o principal nome da oposição, Aécio tem como prioridade eleger Antonio Anastasia governador de Minas. E isso tem se mostrado uma tarefa um pouco mais árdua do que o neto de Tancredo imaginava.

Anastasia é uma invenção de Aécio, um boneco de ventríloquo, incapaz de ter luz própria, de personalidade recatada e avessa aos holofotes. (Segundo consta teria até mesmo, há uns dois meses, pensado em desistir da candidatura dado a dificuldade em empolgar os eleitores mineiros.)

Para piorar a situação, Lula conta com altíssima popularidade dentre os mineiros e Aécio teme contaminar a candidatura de seu boneco de ventríloquo caso os eleitores o associe a Serra.


No restante do país as dificuldades de Serra já eram conhecidas e calculadas, sendo justamente as dificuldades encontradas nesses locais explanados acima que devem levar a eleição a ser decidida no primeiro turno. O surgimento nos últimos dias de campanha de uma onda Dilma tenderá não só a consolidar os votos daqueles já dispostos a votarem na petista, mas também roubar votos de Serra.

Obviamente ainda é deveras cedo para dar qualquer veredito acerca do resultado final das eleições, mas também, por ora, seria lutar contra os fatos não dizer que a eleição caminha para um final bastante previsível neste momento.

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