O artigo produzido pelos professores Tiago Barbosa Mafra e Ana Paula Ferreira traz uma análise mais refletida e honesta sobre a Educação no Brasil. Uma análise bem distinta daquela visão distorcida sobre a Educação vendida pela mídia oligopolizada e comprada pelo senso-comum que grassa sobre o tema, com muitos “especialistas” apontando soluções simplórias. Muito além dos muros da escola e muito além dos interesses nem sempre escusos da mídia oligopolizada, a escola no Brasil – e pelo o que tenho acompanhado em boa parte do mundo também – passa por uma profunda crise de identidade muito maior que o senso comum imagina e mais complexa que qualquer solução simplória possa resolver.
Vamos lembrar que o acesso à educação ou a educação de massa é algo relativamente novo, só implantado após as Revoluções Burguesas e a conseqüente Revolução Industrial, sempre atendendo a reprodução do sistema. Num mundo altamente informatizado e interligado, com avanços tecnológicos que atropelam o dia-a-dia e antecipam transformações dentro da sociedade, modificando as formas de relação existentes, a negação da tradição surge da forte sensação de mal-estar em tudo aquilo que de algum modo se refere à sociedade imediatamente anterior, já tida como arcaica.
Está aí um dos motivos – obviamente não o único – dessa inegável crise de identidade vivenciada dentro das escolas.
Todavia, como ficou bem ressaltado no artigo Muito Além dos Muros da Escola, jogar toda a responsabilidade pela baixa qualidade da educação na gestão escolar e no corpo docente, atende ao apelo que o deus Mercado faz diuturnamente para que a Educação seja tratada como apêndice do próprio mercado. Não considerar todas as variáveis embutidas numa educação – de qualidade ou não – só pode fazer sentido se tiver por trás, justamente, o objetivo mercadológico.
Desconsiderar o ambiente social e as transformações ocorridas tanto no núcleo familiar quanto na sociedade como um todo nas últimas décadas, além de não parecer inteligente, denota o viés autoritário do sistema capitalista.
Como não considerar o ambiente social quando numa madrugada uma educanda de 12 anos de idade se vê obrigada, no desespero, a ajudar a mãe na hora do parto do quarto irmão materno e depois que uma ambulância chega à residência e leva à mãe, essa educanda ainda fica encarregada de retirar todo o sangue vertido no banheiro durante o parto? Ou então quando um educando, esse um pouco mais velho, 13 anos de idade, perde o pai, moto- taxista, num acidente de trânsito? Primeiro detalhe: o pai morreu porque simplesmente cochilou na direção da moto numa madrugada, após trabalhar várias noites seguidas e dobrar o turno realizando outros trabalhos durante o dia. Segundo detalhe: esse educando tem outros três irmãos, sendo o caçula recém-nascido e o mais velho portador de necessidades especiais.
Caso a solução encontrada pelos sabujos admiradores do deus Mercado para melhorar a qualidade da Educação seja a imposição de se retirar da gestão escolar e do corpo docente a capacidade de enxergar os educandos como seres individuais, coibindo os responsáveis pela educação formal de interpretar as individualidades existentes em cada educando (ser humano), transformando a escola num ente desconectado da comunidade onde está inserida, então talvez tenhamos uma resposta simplória para a sua crise de identidade. Porém incorreremos no erro de o remédio ser pior que a doença e por fim matar o enfermo. Entenda-se por enfermo não apenas a Escola, mas a Sociedade inteira.
P.S. Os casos citados sobre a educanda de 12 e o educando de 13 anos são verídicos e narrados a mim pelas próprias personagens envolvidas.
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