O desconforto, pra dizer o mínimo, em que a mídia oligopolizada colocou o governo Dilma com a descoberta da multiplicação da fortuna (no sentido material, não no sentido maquiavélico) de Antonio Palocci, o mais tucano dos petistas, está tirando o foco de fatos tão ou mais importantes que o enriquecimento do ministro da Casa Civil.
Enquanto jornais, revistas, emissoras de tv e rádio, e internet discutem dia e noite até quando a Presidenta Dilma conseguirá manter um ministro zumbi, no Pará vários ambientalistas estão sendo assassinados debaixo da omissão leniente do Estado e da certeza, por parte dos mandantes, de que esses crimes serão impunes.
A prevaricação de Palocci e seu inconseqüente vislumbre e apego ao poder, sem querer adentar no terreno pantanoso e fétido da moral farisaica adotada pela oposição de direita, vem denotar um perfil megalomaníaco e egocêntrico. Palocci além de não ter condições éticas para ser mantido num dos cargos mais importantes da República (res publica, “coisa do povo”), não pode ser o interlocutor de um governo que tem por meta avançar nas conquistas sociais obtidas nos últimos oito anos.
Aliás, essas conquistas sociais só tomaram impulso a partir do momento em que Palocci foi defenestrado do governo Lula pela opinião publica. Não é difícil imaginar as dificuldades contra as quais Fernando Haddad e Patrus Ananias, para ficar apenas nesses dois exemplos, respectivamente ministros da Educação e do Desenvolvimento Social, enfrentariam caso o desenvolvimentista Guido Mantega não tivesse ocupado o Ministério da Fazenda, antes ocupado pelo ortodoxismo monetarista de Antonio Palocci.
Durante o segundo turno da eleição presidencial escrevi que considero a arrogância irmã da ingenuidade, e foi justamente uma ou outra a responsável pela opção por colocar Erenice Guerra no posto de ministra da Casa Civil. A mesma conclusão tirei quando a Presidenta Dilma nomeou Palocci para o mesmo cargo, afinal a carga explosiva presa ao corpo do ex-prefeito de Ribeirão Preto possui detonador fácil de ser manipulado e a oposição farisaica esperou apenas o momento em que precisasse usá-lo. Ademais, desde que Palocci deixou transparecer em atos e palavras sua idolatria pelo deus Mercado, que perdeu boa parte – ou toda – do respaldo que guardava dentro do próprio Partido dos Trabalhadores, que por sua vez sempre entendeu serem coisas distintas pragmatismo/governabilidade de mudança programática/ortodoxia econômica.
Contudo, a necessidade de detonar a bomba presa a Palocci veio quando o ministro surgia como o negociador privilegiado contra a aberração representada no retrocesso em si que é o novo (sic) Código Florestal.
E é na esteira da aprovação do novo Código Florestal que o sangue daqueles que ousam não se calar está sendo vertido no Pará, exatamente onde uma elite local insatisfeita com a impossibilidade de obter o poder sobre o Estado, move-se para criar a sua própria unidade (Carajás).
A truculência da direita, incapaz de ganhar a opinião pública na base das idéias e da mobilização de militância, encontraram na megalomania e no egocentrismo de Palocci, o “homem do mercado”, a oportunidade de tirar o foco pela disputa de terras na região norte, o que de fato está por trás do novo Código Florestal e é responsável direta pelos assassinatos anunciados ocorridos no Pará.
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