sábado, 23 de junho de 2012

Entre o mundo ideal e a “realpotolitik” deve haver um meio termo!


Não adianta querer explicar o inexplicável. Tampouco adianta querer dizer que é assim que se faz na “realpolitik” ou que os fins justificam os meios. Lula e Maluf são personagens históricos da política nacional, só que figuras antagônicas.

De um lado o principal político gerado pelo apoio da sociedade civil conservadora e retrógrada ao regime de exceção e que, não obstante, se aproveitou de suas ligações com os donos do poder para à custa do erário aumentar substancialmente seu patrimônio pessoal, sendo por isso cassado pela Inerpol. De outro lado o homem que ousou liderar as greves que no final dos anos 1970 abalaram os podres alicerces da Ditadura Militar e que por isso foi várias vezes preso. O homem cuja História se confunde com a do Brasil recente; que fundou o maior partido de esquerda da América Latina; que se tornou o primeiro operário eleito presidente da República; que transformou uma terra arrasada numa das maiores economias do mundo; que através da inserção de programas sociais retirou milhões de brasileiros da miséria; que nos deu uma política externa soberana; em suma, que dividiu nossa história republicana em “antes de Lula” e "depois de Lula”.


Ver esses dois seres simbólicos, do Brasil do passado e do Brasil do presente, apertando as mãos e sorrindo como velhos amigos foi um tapa na cara dos partidários de ambos os lados que guardam um mínimo de coerência.

Pra um malufista ver seu ídolo em poses tão amigáveis com Lula foi um acinte, foi rebaixar-se ao que de pior a gentalha nordestina analfabeta e preguiçosa poderia ter levado à Terra dos Bandeirantes. Já para um petista ver Lula sorrindo ao lado de Paulo Maluf foi o mesmo que ver o pai em atos libidinosos com uma prostituta barata. Ou então ver aquela pessoa pela qual nutre grande admiração fazendo acertos espúrios com o canalha cujos bolsos estão cheios de dinheiro sujo e as mãos manchadas de sangue.

Impressionante como ninguém dentro do PT foi capaz de mostrar a Lula e à tendência Articulação – antigo Campo Majoritário – o alto grau de risco que traria uma aliança com Maluf. O PT conseguiu várias proezas negativas com essa antes impensável aliança. A primeira dispersar sua própria militância que sente ojeriza por Maluf.  Depois conseguiram fazer com que Luiza Erundina quebrasse o recorde de permanência  numa chapa. Entre sua coerência, dignidade e moral e a imoralidade de fazer parte de uma aliança com Maluf jogando a biografia no lixo, Erundina não pensou duas vezes e optou facilmente pela primeira.

Quando Paulo Maluf num aparente e calculado gesto de carinho passou as mãos sobre a cabeça de Fernando Haddad, Maluf apodreceu a campanha do ex-ministro da Educação rumo a Prefeitura de São Paulo. Ao mesmo passo, alguém acha que aquele típico eleitor de Maluf votará em Haddad só porque o príncipe da ultradireita passou as mãos sobre a cabeça do petista. Para os eleitores de Maluf votarem no PT o PT terá que renegar suas bandeiras históricas e deixar de representar tudo o que representa em termos de avanços sociais, além de passar a defender uma política conservadora no tocante a segurança pública e a criminalização da pobreza ­– o que os malufistas mais adoram.

Na verdade após toda essa lambança a Articulação e Lula conseguiram – teimo em repetir o nome do ex-presidente por ser ele mentor e avalista da candidatura do ex-ministro da Educação  ­– transformar uma campanha complicada numa eleição ainda mais improvável. E, mesmo que Haddad venha a lograr êxito, o preço da vitória pode sair caro tanto ao próprio Haddad quanto ao PT. Afinal, vencer com tal aliado significa abrir mão de sua identidade histórica e política, um capital que o PT até há pouco tempo dava muito valor.

Lula é sem dúvidas o maior gênio político do Brasil pós-redemocratização, quiçá de toda a nossa História.  Quando falamos em perdas e ganhos quanto a estratégias políticas o saldo é amplamente favorável a Lula e a Articulação, tendência hoje predominante no Partido dos Trabalhadores. Todavia essas alianças na maioria das vezes acabaram por desfigurar o programa do partido e consumaram uma guinada da esquerda para a centro-esquerda beirando o centro propriamente dito. Ademais muitas das alianças impostas por Lula e a Articulação se mostraram equivocadas, verdadeiros erros crassos.  Em 2010, por exemplo, a imposição da aliança com o PMDB em Minas Gerais, abrindo mão de ter candidato próprio ao governo estadual para apoiar Hélio Costa foi uma análise embasada apenas num dado momento da pré-campanha e que acabou por facilitar o caminho de Aécio Neves e seu boneco de ventríloquo Antonio Anastasia.

Agora em 2012 na disputa pela Prefeitura de São Paulo o PT, caso ganhe ou caso perca, estará entregando o ouro ao bandido!

3 comentários:

Diney Lenon disse...

há uma dicotomia entre o que alguns dizem ser isso e aquilo e o que faz isso e aquilo... Lacerda, Sarney, Collor, PP, PSD, PSDB no mesmo palanque não são desvios, descuidos... não decisões, são caminhos traçados, acordos fechados... mas de boa, já me cansei disso tudo... que os governistas se matem no e pelo poder... Tudo em nome da boa gerência do sistema capitalista... e pior, usurpando a bandeira da esquerda, afastando a bandeira comunista do horizonte para forjar um desenvolvimentismo social-liberal...
Obrigado pela referência, Hudson... parabéns pelo blog!

Blog do Morani disse...

Amigo Hudson:

Se Lula tem realmente o valor que os seus admiradores vêem nele, como político ou como estadista, ele, agora, com esse acordo espúrio ao maior corrupto que o Brasil conhece, perde todo aquele clima por ele construído; aquelas crenças de seus seguidores escorregaram para os ralos da descrença e da dúvida. A política, infelizmente, tem dessas loucuras, dessas intempéries, dessas falhas provindas dos políticos que desejam a todo o custo colocar no Poder pessoas como Haddad, que perdeu muito ao aceitar o apoio de Maluf e a sua nova "ligação" ao senhor Lula - esse o maior prejudicado. Onde está a visão política desse senhor Lula? Gostei da atitude de Erundina; não é, também, flor que se cheire, contudo; apenas demonstrou coerência. Abraços.

Marcílio Magalhães disse...

Caro Hudson,
é impressionante ver que pessoas intelectualmente privilegiadas e politicamente engajadas se deixam levar pela velha mídia golpista de nosso país, sem aprofundar o entendimento do gesto de Lula ao ser o fiador da aliança entre o PP e o PT em São Paulo. Sim, entre o Partido Progressita e o Partido dos Trabalhadaores e não entre Lula e Maluf.
Por que ao se referir ao PP utiliza-se somente o nome de Maluf, na pessoa física, e ao se referir ao PT não individualiza a aliança como se fosse somente com Lula? Confusão proposital ou mero descuido?
O PT não aliou-se a Maluf, assim como não há nenhum acordo expúrio ou será que além de tantas qualidades o analista político é também pretende ser vidente?
Calma lá pessoal, vamos fazer uma análise mais ponderada sobre a questão estratégica da coligação entre o PT e o PP em São paulo, afinal, nosso maior adversário, no momento, é o PSDB.