sexta-feira, 24 de outubro de 2008

O candidato perfeito a prefeito do Rio de Janeiro

A primeira vez que ouvi falar em Fernando Gabeira foi durante a campanha presidencial de 1989. Naquele ano Gabeira e outros 19 candidatos – se não me falha a memória – tentaram chegar ao Palácio do Planalto. No entanto Gabeira além de entrar na disputa por uma legenda obscura para a maior parte do povão, o PV – embora isso não fosse lá grande obstáculo, pois o caçador de marajás era do não menos inexpressivo PRN – não era uma candidatura bem vista pelos setores mais avantajados economicamente e pelos grupos mais conservadores de nossa sociedade. A candidatura também sofreu o desprezo dos grandes meios de comunicação. Talvez mais pelo seu passado e o fato de sempre ter defendido a liberação de drogas – ou pelo menos algumas delas – do que pelo discurso daquele momento. A campanha em si acabou caindo no ostracismo antes mesmo de se abrirem às urnas para a votação.

Gabeira foi um ícone para a geração de 1968 – o século XX não seria o século XX sem o mágico ano de 1968 e a tentativa frustrada de colocar a imaginação no poder. Combateu a ditadura de armas em punho e foi um dos mentores daquilo que se tornaria um dos maiores golpes sofridos pelos militares durante o período que usurparam o poder, o seqüestro do embaixador estadunidense Gordon Lincoln e sua troca por presos políticos. Pagou caro por sua insolência sendo preso, torturado e depois condenado ao exílio. De volta ao Brasil já mostrava não ser o revolucionário de antes quando trocou o luta contra as desigualdades sociais e a exploração dos trabalhadores pela bandeira do ambientalismo que surgia com força no Velho Continente. Debate esse que tira o foco dos verdadeiros problemas a serem enfrentados pela classe revolucionária. Contudo ainda tinha uma visão, em termos de Brasil, bastante avançada e se posicionava no espectro de esquerda da nossa política.


Após o fracasso de 1989 seguiria adiante a carreira de parlamentar se elegendo diversas vezes deputado federal fluminense. Durante a década de 1990 rompeu com o PV – não foi nenhum desses o motivo do rompimento, mas só pra lembrar o PV nesse período trabalhou como adjacente do PSDB de Mário Covas em São Paulo e aceitou a filiação do príncipe da oligarquia maranhense Sarneyzinho – e se transferiu para o PT. Por essa legenda foi novamente eleito deputado em 2002, mas acabou se desligando do partido devido à divergência sobre a política ambiental do governo Lula. Teve lugar de destaque durante o escândalo do mensalão pousando como protetor incansável e implacável da moral e ética na vida publica – moral no seu sentido mais estrito, no condizente aos valores e normas de conduta específica duma determinada sociedade ou cultura, ou seja, da sociedade burguesa, aquela mesma sociedade contra a qual lutou e quase perdeu a vida décadas atrás. E o mais curioso é que ao seu lado nessa batalha estava o finado PFL e os tucanos. Justamente eles que pilharam o estado brasileiro durante os oito anos de FFHH – pra não dizer que fazem parte da turminha que começou a pilhar o Brasil ao desembarcar da caravela de Cabral.


Agora fico sabendo através de certo estardalhaço da grande imprensa nos últimos dias que Gabeira será candidato à prefeitura do Rio de Janeiro numa coligação entre o seu partido – retornou ao PV em 2005 e se reelegeu deputado com a maior votação no estado do RJ –, mais PSDB e PPS. Será essa uma nova frente de “esquerda” como a grande imprensa e o PIG querem que acreditemos? Será essa a “esquerda” do século XXI? Bom se a resposta for afirmativa gostaria de saber no que ela distingue substancialmente daquilo que chamamos de direita. E não me venha ninguém dizer que na alvorada desse novo milênio não existe mais distinção entre os dois pólos ideológico-políticos que nortearam a disputa pelo poder durante os séculos XIX e XX, ou que a esquerda foi sepultada sob os escombros do muro de Berlim. Pois se assim fosse como explicar as desigualdades sociais que se e aprofundam tanto nos países da periferia, quanto nos do centro do capitalismo? Mais, até onde eu saiba a luta de classes continua viva, pois é incompreensível para mim que explorados e exploradores tenham os mesmos objetivos!!! Não gastarei aqui conceitos marxistas, mas a superestrutura conseguiu sim difundir na cabeça dos proletários a mentira que existe um “bem comum", e esse é a luta pela qual proletários e burgueses devem se unir – como salvar a Terra do seu cataclismo ambiental, relegando a um segundo plano a verdade que esse cataclismo foi gerado por séculos de exploração que atingiram o auge justamente no período posterior à Revolução Industrial, ou seja, com a consumação do capitalismo. Já disse nesse mesmo espaço, que vivemos uma ditadura do pensamento único. Pensamento único esse que muitas vezes busca um pilar no filosofo alemão Immanuel Kant e tenta concretizar o conceito de homem cosmopolita. Homem cosmopolita capaz de alcançar uma paz universal.

Gabeira parece não se enrubescer de ter ao seu lado figuras que participaram do governo tucano de Marcelo Alencar – o ex-governador fazia no RJ o papel que FFHH fazia em todo o território nacional, ou seja, era gerenciador e despachante dos grandes interesses do capital internacional através da privataria – e ainda terá os liqüidacionistas do PPS – aqueles comunistas arrependidos que se converteram em admiradores do onipresente e todo-poderoso deus Mercado – a tira-colo.

Essa é uma candidatura que busca unir a Cidade Maravilhosa debaixo do guarda-sol de algum lema de campanha tipo: candidato limpo... cidade limpa. Ou qualquer outra besteira do tipo. Mas a verdade é que o discurso de Gabeira tem hoje um potencial grande. Potencial esse capaz de absorver eleitores de César Maia que (des)governa o Rio desde 1992 sem que pareça continuísmo. Nada melhor para manter o status-quo, o stabilishment, do que um antigo nome identificado com a esquerda, porém hoje convertido à realidade da direita. Que o diga FFHH.

Um comentário:

Blog do Morani disse...

Em 25/10/08

O CANDIDATO PERFEITO A PREFEITO DO RIO DE JANEIRO


Apesar de se apresentar com ares juvenis, o senhor Paes não me parece à altura da experiência de vida que encontramos em seu opositor, senhor Gabeira, à vaga de prefeito do Rio de Janeiro.
Com o empate técnico vejo – essa é a minha opinião – o segundo com maiores probabilidades de chegar à Prefeitura do Rio de Janeiro. Este senhor Gabeira – deputado federal – tem o seu passado eivado de lances quase heróicos; destemido e desafiador às Leis que imperavam a época da ditadura militar. Não foi fácil a sua vida depois do seqüestro do embaixador norte-americano Gordon Lincoln. Perseguido, preso, torturado, teve seus direitos de cidadão cassado e, para culminar, banido do território brasileiro.
Após todos os contratempos, lógico que ele voltaria mais “amansado”, tergiversando aos sobejos de uma linha dura de contra-revolução e contra o militarismo. Mas o seu passado foi manchado por campanhas no uso de drogas – algumas menos letais. Como o ano de 1968 estava perdido no tempo, e se tornava irrecuperável seus objetivos (os jovens da época envelheceram e mudaram suas atitudes; muitos acontecimentos contribuíram para isso.), Gabeira abraçou a mais nova política mundial: a do meio-ambiente. Rompeu e reatou sua união ao PV, pelo qual até hoje é deputado federal.
Ainda não vi um político “enrubescer” diante de conchavos com antigos “inimigos” do cenário, ou de se unir a partidos totalmente divergentes em suas linhas de atuação. Tudo lhes serve desde que alcancem os seus fins. Os meios, não importam. E assim, de degrau em degrau, vão subindo no conceito dos cidadãos, vão galgando patamares mais e mais elevados e formando uma biografia cumulativa e aceita por uma maioria que procura com avidez as mudanças proclamadas e jamais concluídas. O estado do Rio de Janeiro sempre foi um “laboratório” de experiências estranhas. Iria mudar agora? Duvido! Domingo veremos para quem pendeu o prato da balança. Acredito que para o mais “complicado” dos dois candidatos: o senhor Gabeira.
Morani