O mundo todo espera com uma mescla de espanto e falso otimismo – será que alguém é capaz de ter otimismo de fato diante dum sistema (capitalista) que na própria essência é desumano, cruel e impiedoso? – os rumos a serem tomados pelos governos dos países desenvolvidos a fim de dar sobrevida ao sistema.
Enquanto isso assistimos as bolsas de valores seguirem num sobe e desce de montanha russa e a quebradeira de várias instituições até ontem confiáveis – nessa algazarra toda onde está a mão invisível do mercado, ficou mais invisível ainda? - e aqui no Brasil a outra mescla sofrível, a do contorcionismo e prestidigitação de alguns defensores irracionais do atual governo, dizendo que não seremos afetados pela crise desencadeada no centro do capitalismo.
Esquecem-se esses “artistas” que no mundo altamente globalizado um espirro no centro do sistema nos atinge em menor ou maior intensidade dependendo do quão abertos estamos ao mercado internacional.
Se hoje temos fundamentos bem mais sólidos como muitos economistas afirmam, também é verdade que continuamos participando da mesma ciranda financeira dos anos FFHH e chega a ser patético ver o presidente Lula choramingando porque o sistema financeiro internacional tornou-se um enorme cassino e por irresponsabilidade desses jogadores o sistema financeiro internacional está à beira dum colapso. O próprio Lula em seis anos de governo não tomou nenhuma atitude contra essa jogatina desenfreada, não utilizou um minuto sequer da função de chefe de governo duma nação soberana para impor limites ao cassino que agora maldiz.
Àqueles defensores do governo Lula ao perorarem que a crise não chegará ao Brasil apenas porque o país hoje é governado por Lula e não por FFHH, mostram unicamente seu partidarismo e relutam em fazer uma análise mais objetiva e critica da conjuntura internacional, além de não enxergarem que ambos os governos são face da mesma moeda.
Lula pode até não ter a mesma volúpia entreguista de FFHH, mas o neoliberalismo é tão patente no governo Lula que até já abraçou idéias repugnantes e odiosas sobre o prisma da construção de uma sociedade mais igualitária. Idéias que não passam de excremento neoliberal como o PPP (Participação Público Privada)– ou seja, os investidores privados colocariam seu rico dinheiro em obras púbicas com garantia certa de retorno contrariando todas as regras de mercado onde o que você investe pode ou não lhe ser retornado – ou o famigerado déficit nominal zero – que significa nada mais nada menos que corte de investimento em educação e saúde.
Salve... salve o governo revolucionário de Luis Inácio Lula da Silva.
Já escrevi que o estado brasileiro vem aos poucos, mas a passos firmes, perdendo sua soberania ao ceder enormes nacos de terra a estrangeiros e não ter nenhum controle oficial sobre isso, ao incentivar o agronegócio em detrimento da agricultura familiar, ao liberar a plantação de transgênicos – o que em longo prazo beneficia exclusivamente a Monsanto – e mais recentemente ao vender os agrocombustiveis como salvação do mundo – talvez seja a salvação de uma parte muito pequena do mundo, conquanto para nós brasileiros significa desnacionalização, recolonização e péssimas condições de trabalho.
Mais, o governo Lula quando confrontado pela disputa entre o interesse público-nacional versus o grande capital internacional não titubeou em defender o segundo. Haja visto a ridícula participação brasileira na rodada de Doha onde viramos as costas para o grupo dos países emergentes e subdesenvolvidos para abraçarmos estapafurdiamente a defesa do agronegócio e conseqüentemente a proposta estadunidense.
Para definir a atual crise e independência do capital em relação ao estado no Brasil replico as palavras de Noam Chomsky que estão no post aí em baixo:
“A liberalização financeira teve efeitos para muito além da economia. Há muito que se compreendeu que era uma arma poderosa contra a democracia. O movimento livre dos capitais cria o que alguns chamaram um ‘parlamento virtual’ de investidores e credores que controlam de perto os programas governamentais e ‘votam’ contra eles, se os consideram ‘irracionais’, quer dizer, se são em benefício do povo e não do poder privado concentrado”.
Como o Brasil não tomou nenhuma atitude sensata nos últimos anos rumo a outrem modelo diferente do vigente, não sei ao certo dizer se o discurso que o Brasil passará ao largo dessa crise é coisa de Polyana, torcida de Fla-Flu, ou se é simplesmente tentar tampar o sol com peneira.
Um comentário:
N.Friburgo, 18/10/08
Meu prezado amigo Hudson:
Recebi neste sábado, antes da minha hora de almoço, seu estimado comentário de ontem. Aproveitei para “passear” pelos outros dois, dos dias 11 e 13 deste mesmo mês. Tenho até aqui abordado os seus claros comentários com outro comentário, às vezes mais longo que o seu – lídimo e inquestionável titular do blog “Dissolvendo-no-ar”. Todavia, não acho justo de minha parte essa prolixidade tacanha, pois se há alguém capacitado a buscar no fundo das “trevas” da política e da economia os imbróglios, as dúvidas, os erros e os duvidosos acertos, essa pessoa é você! Não devo ser mais real que a majestade; o rei, aqui, se chama Hudson Luiz Vilas Boas que, a meu modo de ver, é a Eminência Máxima do espaço. Devo, pois, me limitar a emitir opinião ligeira, o que para mim já se faz muito honroso.
Em relação ao seu comentário de ontem, dou a mão à palmatória; o paralelo traçado pelo seu brilhante conhecimento entre os dois governos – FHC e o de Lula – tem razão de ser. Ambos se confundem e se fundem como se fossem um só e o mesmo governo. No entanto, acho a volúpia de ambos em igualdade de condições, mas o segundo escamoteia a sua queda pelos princípios lançados pelo sistema de Bretton Woods de “gestão financeira global”, como dito no “A CARA ANTIDEMOCRÁTICA DO CAPITALISMO”. É isto aí meu amigo. Um final de semana tranquilo com a sua cabeça fresca para futuros comentários. Abraça-o o seu amigo
Morani
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