sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Um prêmio a liberdade de expressão

Estou horrorizado com o modo com que a Folhona atacou a memória de tantos brasileiros que padeceram durante a ditadura militar. Inclusive iniciei um pequeno artigo sobre o tema, mas, sinceramente, não sei se terei estômago para terminá-lo.

Enquanto isso utilizo esse espaço para parabenizar Sean Penn pelo seu segundo Oscar de melhor ator.

Não. Tampouco tenho estômago para assistir a cerimônia de entrega da estatueta, acho-a banal, vulgar, desinteressante e um desfile de futilidades. O próprio valor do Oscar é relativo. Até mesmo de pouco valor para quem realmente ama a sétima arte, conhecendo de antemão o interesse comercial que o cerca e a existência de muitas outras premiações e festivais mais consistentes e sérios, porém menos glamorosos e importantes perante a indústria de massas.

Também não tive a oportunidade de assistir a “Milk – A voz da igualdade”. O filme lançado recentemente aqui no Brasil, conta a história de Harvey Milk, um corajoso ativista dos direitos civis, em especial dos homossexuais, nos EE.UU. da década de 1970. Todavia soube por gente que já o assistiu e entende de cinema melhor que eu, que a obra se baseia no tripé roteiro, escrito por Dustin Lance Black e inspirado numa história real; na direção do habilíssimo Gus Van Sant (lembram-se de Drugstore Cowboy e Gênio Indomável?); e claro, na forte interpretação de Sean Penn.

Mas, realmente, o que de fato me levou a escrever essas linhas sobre Sean Penn, além dele ser, em minha conta, o melhor ator em atividade em Hollywood e um dos menos hollywoodianos deles – quem já assistiu Sobre meninos e lobos (Mystic river), Natureza Selvagem (In to the wild) ou o remake de A grande ilusão (All the king's men), todos protagonizados por Penn, há de concordar comigo – é sua postura política e humana sem flashes ou elaborada por algum marqueteiro.

Fiquei entusiasmado com a possibilidade (realizada) de Penn levar outro Oscar. Em 2004 já levou pela descomunal performance do pai atormentado em Sobre meninos e lobos, e outro agora faria jus ao seu currículo. No entanto mais que isso simplesmente, uma nova estatueta para ele, viria a corroborar com a imagem que a ultraconservadora e hipócrita sociedade estadunidense está mesmo passando por um processo de transformação. Embora eu confesse não saber decifrar exatamente que tipo de transformação é essa. Mas, enfim, tanto por Penn em si quanto pelo papel e o que Harvey Milk representa, simbolicamente seria o enterro da “Era Bush”.

Penn foi até Bagdá em dezembro de 2003 a fim de ver in loco a destruição e massacre comandado pelos senhores da guerra do Pentágono e retornou declarando que a Casa Branca só decidiu atacar o Iraque porque o país não tinha as tais armas mortíferas que o governo Bush apregoava. ‘Vamos manchar covardemente nossas mãos de sangue inocente’, advertiu o ator. Depois ainda clamou o impedimento do presidente George Cowboy Bush e do vice Dick Cheney.

Antes disso, naquele mesmo ano, a Screen Actors Guild, o sindicato das estrelas e dos anônimos de Hollywood, divulgou comunicado denunciando pressões dos estúdios contra profissionais do cinema que ostentavam em público suas opiniões políticas – desde que, é claro, elas estivessem contrárias ao consenso fabricado em Washington. Não por acaso Sean, filho de Leo Penn, diretor perseguido pelo marcatismo durante a década de 1950 e boicotado por suas posições políticas, se viu vítima de perseguição durante a nova versão marcatista, o bushismo. Teve projetos engavetados e enfrentou a retaliação por parte da mídia neocon estadunidense.

Em 2007 o ator esteve na Venezuela para, em suas palavras, “observar por si mesmo a situação venezuelana”. Em várias ocasiões se encontrou com Chávez, com quem, entre outras coisas, percorreu bairros pobres de Caracas e visitou Pueblo Encima, cidade próxima à fronteira com a Colômbia. Encontros com o presidente da Asemblea Nacional Cubana, Ricardo Alarcón, e com o produtor espanhol José Ibáñez – responsável pela produção do documentário de Oliver Stone sobre Fidel Castro, intitulada Comandante – também fizeram parte de sua agenda naqueles dias.

Em novembro último, antes das eleições presidenciais ianques, a revista The Nation publicou entrevista de Raul Castro concedida a Sean Penn em Havana, na qual o líder cubano abordou a possibilidade de um eventual diálogo com Barack Obama onde tratariam temas como Guantánamo e o covarde bloqueio a ilha do Caribe.

E, é, justamente pela sua atividade política, pela sua firmeza na defesa das próprias opiniões, pelos papéis nada fáceis de ser interpretados e pela sua indelével qualidade como ator, que me senti rejubilado ao saber que a Aacaemy Awards tenha lhe concedido o Oscar de melhor ator também agora em 2009.

Muito embora eu tenha certeza que Sean Penn, hoje, seja muito maior que a própria academia.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Um presidente, uma consulta. Um amigo, uma banda.

Por ocasião de mais uma vitória DEMOCRÁTICA de Hugo Chávez e do processo bolivariano em curso na vizinha Venezuela, Lucas Rafael Chianello, grande amigo e companheiro de lutas aqui em Poços de Caldas, mandou-me essa letra do grupo punk brasiliense “Plebe Rude” – uma das principais do movimento conhecido por Rock Brasil nos anos oitenta.

O curioso é que, se não me falha a memória, fui eu quem apresentou a “Plebe” ao companheiro Chianello, mas não me recordava dessa letra, que, como de praxe a quase todas as outras do quarteto, conta com uma idiossincrasia sem falsos pudores políticos.

Viva a sabedoria (e autonomia) do trabalhador venezuelano, viva ao processo bolivariano!!!

Plebiscito

Plebe Rude


Um pouco além de notícias de jornal
Um pouco aquém da situação atual
Este absurdo já é tão constante
Se você para por um instante
O que tens que evitar é se acostumar

O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito

O absurdo e essa indecisão
Tanto esforço para dar uma opinião
A plebe incita uma chance
Se você para por um instante
É o caminho ao voto popular

O poder do sim ou não
As letras em negrito
Quem cala consente, isso não
Proponho um plebiscito

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

A esquerda enfrenta a dura carpintaria da história

Por Saul Leblon

Da Agência Carta Maior

A crise mundial desencadeou um salutar debate sobre o desenvolvimento contribuindo para desbloquear a memória e o imaginário social, entorpecidos por sonolentas décadas de monólogo conservador. Por quase 30 anos despejou-se sobre a sociedade uma peroração cotidiana que reafirmava a virtude dos mercados desregulados para promover o crescimento, a inovação, a modernidade, a eficiência, a liberdade, orgasmo e a cura para a calvice.

Jornalões, colunas e colunistas, em especial nas editorias de economia, funcionaram esse tempo todo como uma espécie corregedoria ideológica do fim da história. Dentro e fora das redações, cuidavam de vigiar, punir e desqualificar quem ousasse argüir o mainstream, bem como o perímetro por ele reservado à democracia.

A universidade deve à história um livro branco sobre o peso da mídia nessa dialética de propaganda e vigilância. Não uma caça às bruxas que mimetize o objeto. Mas uma análise substantiva sobre como, sob a roupagem do ‘especialista’, valendo-se de uma novilíngua afiada, a imprensa exerceu por tanto tempo um poder equivalente ao do Grande Irmão, conseguindo inculcar no cidadão médio preconceitos como “gastança pública” e “custo Brasil”. Foi assim que ela lapidou uma narrativa de mundo que viria demonizar como ineficiente o que era eficiente socialmente; como liberdade, o que restringia a democracia em benefício da livre circulação do dinheiro.

A derrocada de tudo aquilo que até há bem pouco atestava como inútil a busca de novas formas de viver e de produzir, assume assim a contundência de um pé-de-cabra que arromba as portas da história.

Abertas abruptamente, porém, senzalas materiais ou imateriais muitas vezes revelam a perplexidade dos libertos ao primeiro facho de luz. A vertigem, no caso, não parece ter poupado a própria esquerda.

Em meio às angústias que assombram trabalhadores e a classe média, emparedados entre a fatalidade de uma ordem que se liquefaz e um futuro que nada propõe exceto agonia, parte dos teóricos da esquerda agarra-se à discussão metafísica de modelos, desobrigando-se de assumir a dura carpintaria de construção da história nesse momento.

Uma das mais óbvias distinções entre o materialismo histórico e o idealismo é o reconhecimento de que a transformação da sociedade só é possível a partir de seus agentes de carne e osso, portadores de conflitos de pedra e cal.

Mas, perguntam teóricos da esquerda enquanto pau come solto nas vizinhanças, isto é, no mundo real: com ou sem regulação da economia pelo Estado nacional? Com ou sem estatização de bancos? Com ou sem indução de investimentos públicos? Com ou sem políticas públicas de garantia de emprego? Keynesianismo, mas como, na globalização? Socialismo, mas sem sujeito histórico proletário?

É interessante observar a desenvoltura eclética –para dizer o mínimo-- com que representantes do capital transitam por essas escolhas, ferramentas e campos conceituais postos na ordem do dia pela crise. Enquanto intelectuais de esquerda multiplicam as listas do que não é possível fazer –tudo, exceto o aprisco seguro de uma teoria da revolução mundial-- expoentes do establishment, desde um progressista Paul Krugman a um atilado analista como Nouriel Roubini; de Ângela Merkel a Gordon Brown, passando pelos insuspeitos Alan Greenspan e Nicolas Sarkozy, ninguém hesita em recorrer ao ferramental disponível, tenha ele o carimbo ideológico que tiver. A saber, da demissão em massa, à estatização de bancos; da emissão de moeda em quantidades industriais, a gastos fiscais pantagruélicos que cospem sem cerimônia no prato diet de alface e rabanete do Tratado de Maastricht.

O recado é claro: há uma desordem em marcha e ela ameaça o poder político do capitalismo. Vale tudo para evitá-lo. O Estado, suas políticas e fundos públicos oferecem a necessária dose de centralização, escala e capacidade de comando para ocupar o vácuo aberto pela finança em decomposição. “Momentaneamente”, desculpam-se uns; “uma vez a cada cem anos”, delimita Alan Greenspan; mas o fato é que se recorre a ele quando a escolha é salvar os dedos ou perder toda a mão invisível legada por Adam Smith.

Tamanha versatilidade não ofusca a derrota ideológica dos aparatos conservadores no centro e na periferia do sistema. Mas deixa claro que o avanço das demandas populares não ocorrerá porque o City Bank escorrega na ladeira de uma estatização provisória; ou a GM –maior montadora mundial até 2001-- debulha-se em perdas numa rota de falência assistida pelo Estado. Há substitutos em marcha para os mortos canibalizados pelo darwinismo da crise. A voragem de fusões e compras amparadas em fundos públicos, empurra a onda submersa que busca desesperadamente recriar o novo devorando o DNA do velho.

O salto político da esquerda pressupõe alternativas concretas a essa transição. Respostas capazes, por exemplo, de transformar a coordenação provisória da riqueza financeira pelo Estado em ganho permanente da sociedade, subordinando de vez o poder dinheiro à democracia; como a estatização do crédito, por exemplo.

Em diferentes períodos da história, a luta pela transformação da sociedade incluiu interregnos de capitalismo de Estado, ora associados à ampliação do poder político das massas; ora vinculados a acontecimentos devastadores em que um poder de coerção superior foi posto integralmente a serviço da guerra e da demência autoritária. O caso clássico é a ascensão do nacional-socialismo na crise dos anos 30, quando se assistiu a uma recuperação fulminante da economia alemã, graças a políticas de capitalismo de Estado coordenadas pelo comando nazista.

Desde a NEP, de Lênin, porém, passando pela China atual até a revolução bolivariana de Chávez e Morales, a ampliação da influência popular sobre o Estado tem permitido, ao contrário, deslocar as prioridades do capital a favor das urgências da democracia e da justiça social. Se ainda não é a revolução, como de fato não é; se ainda se recorre a políticas keynesianas a contrapelo das restrições impostas pela globalização, como de fato se recorre - vide Bolívia e Venezuela - a verdade é que são esses interregnos que representam hoje o ponto mais avançado da luta de classes em todo o mundo. Portanto, da esperança de renovação da agenda socialista em nosso tempo.

A lição parece ser que a história avança a partir de imperfeições;não de modelos desprovidos de conteúdo histórico. Movimenta-a um entrelaçamento tenso entre forças novas e instrumentos velhos, muitas vezes renovados até o ponto de mutação. A esquerda terá papel relevante na dialética da crise mundial se conseguir enxergar-se como parte desse amálgama de restrições e possibilidades cercados de ruídos e imperfeições. Se renunciar à carpintaria da história para mergulhar na busca metafísica da solução pura, a salvo de contradições, será tratorada pela desenvoltura ecumênica da força-tarefa capitalista. Mais uma vez.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Edmar (do castelo) para vice de Serra em 2010

Inicio aqui uma campanha, e espero contar com os companheiros da mídia alternativa nessa empreitada. Edmar Moreira para vice na chapa de José Serra à presidência da República em 2010.

Afinal onde os demos poderão encontrar outro nome mais apropriado? Qual político demo está em condição moral melhor que a de Edmar?

Aliás, Edmar é o retrato do próprio DEMO e o que ele representa para a política nacional. Ex-capitão da PM durante a Ditadura – da qual, obviamente, era adepto – tinha como passa-tempo nas madrugadas ingressar nas celas dos presos políticos aos berros de “levanta comunista”. Mais tarde enveredou pelos trilhos do empreendedorismo capitalista ao fundar uma empresa de segurança privada – que coisinha mais neoliberal!!! E como bom neoliberal que é não fica só na teoria, mas esforçasse para pô-la em prática, recusando-se a pagar tanto direitos trabalhistas a seus funcionários quanto os impostos que lhe cabem. Mais ainda, empregou muito do seu tempo, do seu dinheiro – um pouco de dinheiro sonegado e outro tanto conquistados através das facilidades de ser um deputado estadual ou federal – e seu trabalho – na verdade o trabalho era mais dos outros do que dele mesmo – construindo um castelo em plena região da Mata em Minas Gerias. Que coisinha mais megalomaníaca e consumista!!!

Agora, tornou-se conhecido nacionalmente pela suntuosidade de seu castelo, onde, dizem as más línguas a jogatina rolava solta e com a presença, inclusive, de muitos políticos. Hum... fiquei curioso para saber quais eram os políticos a freqüentar e gastar maços de reais na zona da Mata, embora eu seja capaz de apostar a quais partidos pertencem esses cavalheiros

Edmar, justamente pela exposição nacional que passou a ter na última semana desde que foi eleito corregedor da Câmara dos Deputados indicado pelo DEMO – no entendimento dos nobres deputados do finado PFL, Edmar reunia todas as pré-condições para ocupar tal função –, ganhou a repercussão nacional que falta aos seus comparsas, ops, companheiros de partido.

Portanto, por todos os seus predicados e pela exposição gratuita, é o nome que o DEMO tanto almeja e procura a fim de ocupar a vaga de vice na chapa tucano-demo encabeçada pelo governador paulista. Afinal de contas ele é a personificação dum partido composto por mitômanos que se tornaram ricos empresários utilizando-se duma ralação promíscua com o estado, anti-sindicalistas, viúvas da Ditadura, antigos (e novos) coronéis e neoliberais convictos. Soma-se a tudo isso o fato de ter ganhado notoriedade em todo o território brasileiro. Do Oiapoque ao Chuí as suas peripécias ficaram famosas.

Esse é o DEMO, enquanto Moreira constrói castelo nas Minas Gerais, Kassab dá merenda estragada para as crianças paulistanas – lembro-me também do trabalho escravo encontrado nas terras de Inocêncio de Oliveira, ex-presidente da Câmara dos Deputados e na época um dos caciques do PFL. É... só Deus sabe o que mais acontece Brasil afora onde tem um demo na administração ou no parlamento. Por essas e (muitas) outras é razoável supor que haja naquela agremiação alguém igual ou pior a Edmar, mas melhor, impossível.

Edmar para vice em 2010!!!

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

A crise mundial e o fantasma das rebeliões

Do Blog do Miro [http://altamiroborges.blogspot.com]

“Neste momento, apesar de que se fale muito de economia, existe outro fantasma que ronda o mundo e assusta mais os seus dirigentes: o fantasma das rebeliões”. José Luís Fiori.


O alerta do professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e um dos mais fecundos intelectuais brasileiros foi publicado em novembro passado no jornal Valor. Para Fiori, o planeta tendia a viver dias explosivos, devido ao aumento das tensões entre as potências capitalistas e ao acelerado agravamento da crise econômica mundial. “O mais provável é que voltem à ordem do dia as revoltas e as revoluções sociais. Elas não serão socialistas nem proletárias, mas adquirirão mais intensidade e violência nos territórios situados em ‘zonas de fratura’”, prognosticou o co-autor do polêmico livro recém-lançado “O mito do colapso do poder americano”.

“Não existe uma teoria da revolução, existem várias. Mas quase todas reconhecem a existência de um denominador comum nas experiências revolucionárias dos séculos XIX e XX: as revoltas acontecem, quase sempre, em sociedades fraturadas, com Estados enfraquecidos pelas guerras e por grandes crises econômicas, e situados em ‘zonas de fratura’, onde se concentra a pressão geopolítica da disputa entre as grandes potências”, teoriza Fiori. Com base nesta tese central, ele apresentou um “mapa mundial das rebeliões” desenhado pelo crônico acirramento da competição geopolítica e econômica em várias regiões do planeta, inclusive na América do Sul.

Tensões na América do Sul

“Durante os séculos XIX e XX, esta foi uma região sob influência anglo-americana sem grandes disputas imperialistas. Mas neste início do século XXI, o cenário e as perspectivas mudaram. De forma lenta, mas implacável, a pressão da nova corrida imperialista que começou na década de 90 está alcançando a América do Sul, e deve produzir os mesmos efeitos do resto do mundo”. As provas seriam visíveis: ingerência militar ianque na Colômbia, reativação da IV Frota Naval dos EUA, conflitos fronteiriços entre Venezuela, Colômbia e Equador, movimentos separatistas na Bolívia e Equador, etc. A criação da Unasul e do Conselho de Defesa da América do Sul e todas as outras medidas de integração soberana da região seriam a resposta positiva a este cenário.

É sob este pano de fundo da competição inter-imperialista que o autor analisa o impacto da crise econômica mundial. “Será prolongado e deverá atingir todas estas ‘zonas de fratura’, acentuando suas tendências mais perversas”. Desde que escreveu este prognóstico, a componente econômica se avolumou de forma acelerada. No coração do sistema capitalista, não abordado neste texto por Fiori, a crise atingiu dimensão nunca vista. Somente em janeiro, 598 mil trabalhadores dos EUA perderam seus empregos, no maior corte de vagas mensal desde dezembro de 1974 – uma média de 20 mil demissões por dia. O índice de desemprego subiu para 7,6%, o maior em 16 anos.

Desilusão no coração do sistema


Prestes a ser votado no Senado, o pacote de Barack Obama, que visa injetar US$ 780 bilhões na combalida economia dos EUA, até agora não convenceu que reverterá o grave declínio. Ele está mais destinado a salvar as grandes corporações financeiras e industriais, inclusive com a compra de papéis tóxicos. Demissões, arrocho salarial e cortes de direitos trabalhistas devem crescer, o que poderá abalar as ilusões criadas a partir da eleição do primeiro presidente negro dos EUA. A central sindical ianque (AFL-CIO), apesar de burocratizada e atrelada aos democratas, já insinua liderar protestos contra a crise. Em Detroit, fábricas falidas são ocupadas por operários.

No outro extremo, cresce a xenofobia contra os imigrantes, com a crise atiçando a divisão entre os explorados. A direitista Coalizão para o Futuro do Trabalhador Americano (CFAW) iniciou em janeiro forte campanha nas TVs associando o desemprego aos estrangeiros, principalmente contra os que possuem o visto H-1B (de trabalho qualificado temporário). “No ano passado, 2,5 milhões de americanos perderam seus empregos. Ainda assim, o governo continua a trazer 1,5 milhão de estrangeiros por ano para pegar os postos de trabalho americanos. Será o seu emprego o próximo?”, indaga o anúncio anti-imigração. Atos discriminatórios já se verificam no país.

Desafio às forças de esquerda


A tensão também aumenta em outros países atingidos pela crise mundial. Os violentos choques na Grécia, no final de 2008, foram o presságio do que pode ocorrer no planeta. Na França, uma poderosa greve geral paralisou o país no final de janeiro, desafiando os apologistas do “fim da história” e da luta de classes. Até na Islândia, encarada pelos neoliberais (inclusive pelos demos brasileiros) como exemplo de sucesso do neoliberalismo, ocorre a estridente búsáhal-dabytingin, “revolução das panelas”, que lembra o cacerolazo argentino. Pela primeira vez na história desde 1949, os islandeses são reprimidos nas ruas com bombas de gás lacrimogêneo e cassetetes.

Na semana passada, uma série de bloqueios em estradas derrubou o ministro da Agricultura da Letônia, Martins Roze, acusado pelo desemprego rural e por corrupção; uma passeata nas ruas de Santiago exigiu da presidente Michelle Bachelet proteção ao trabalho; um protesto de estudantes filipinos em frente à embaixada ianque culpou os EUA pela onda de desemprego no país; greves paralisaram Hannover, na Alemanha; e choques violentos agitaram o Reino Unido, vários deles manipulados pela direita racista contra os trabalhadores estrangeiros. O “fantasma das rebeliões” ronda o mundo, o que deve assustar as elites burguesas e ativar as forças de esquerda no mundo.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

O Debute do Led Zeppelin

Mês passado, para ser mais exato no dia 12 de janeiro, completaram-se 40 anos do lançamento do primeiro álbum da maior banda de rock de todos os tempos. O Led Zeppelin lançava seu disco homônimo, conhecido historicamente por Led Zeppelin I. Antes de falarmos sobre a obra ou a banda em si, é necessário analisarmos o contexto no qual surgiram.

Em 1969 o mundo preparava-se para Woodstock e nas rádios britânicas e estadunidenses dominavam bandas cuja criatividade e a generosidade musical fez daquele um momento ímpar na história da música e da cultura pop. Artistas já consagrados como Beatles, Rolling Stones, Bob Dylan, Jimi Hendrix, Who, Cream, Jeff Beck, Janis Joplin, Neil Young, CSN, Doors, Jefferson Airplaine, Joni Mitchell, Frank Zappa, Van Morrison ou outros em início da careira como Pink Floyd, Deep Purple, Black Sabbath e muitas outras formações ou artistas solos mostravam o quanto era possível fazer uma música (arte) ligada à masscult, mas que trouxesse embutida uma qualidade insofismável.

O Led Zeppelin surgiu exatamente para encarnar a síntese dos movimentos que esses artistas representavam e para anunciar o que seria o rock and roll nos anos seguintes. E, em termos comerciais, é bom lembrar, foi a única banda capaz de ameaçar o reinado dos fabfour em vendagem nos anos 60.

A proposta inovadora de misturar o acid rock ao psicodelismo, ao blues mais crú,além de R&B, folk, country, jazz e assim dar a cria ao Hard Rock – e mais tarde ao Heavy Metal – saiu da mente de James Patrick Page, um músico de estúdio que durante a década de 60 participou de algumas famosas gravações do rock inglês. Entre outras seria dele a guitarra solo de You Really Got Me (The Kinks), I Can´t Explain (Who), e ainda teria tocado em faixas de John Mayal e Eric Clapton. Em 1965 foi chamado à substituir o próprio Clapton nos Yardbirds, mas recusou e indicou Jeff Beck.

Pouco tempo depois Jimmy aceitou novo convite e se juntou aos Yardbirds antes da saída de Jeff Beck, mas a disputa de egos acabou com a banda e justamente Page seria o responsável por juntar os cacos e cumprir um contrato para alguns shows restantes. O guitarrista, entretanto, queria mais e como já conhecia de estúdio um ótimo e experiente baixista/tecladista, John Paul Jones – que entre outros trabalhos participara quase que integralmente do disco de estréia do Jeff Beck Co. e da brilhante gravação de She´s A Rainbown no Their Satanic Request Majesties dos Rolling Stones –, não perdeu tempo e recrutou-o . Aos dois se somaria ainda o jovem vocalista Robert Plant (com quem Page viria a formar uma das maiores duplas de compositores até aqueles tempos, e os vindouros também, e cujas interpretações e performances ficariam marcadas a ferro e fogo no Olimpo dos deuses do Rock) e o baterista peso-pesado John Bonham, ambos oriundos de bandas do underground londrino.

O nome New Yardbirds não durou muito e devido a uma comparação feita por Keith Moon – aquela nova banda tocava pesado e parecia que voava – surgiu o nome Lead Zeppelin, depois alterado para o trocadilho Led Zeppelin. Em outubro de 1968 tocam pela primeira vez com esse nome.

Entre o final do ano de 1968 e o comecinho de 1969 entram em estúdio e em apenas 20 dias gravam o primeiro disco.

Page, cheio de estilo e criatividade, mudou os rumos da guitarra nas canções, "You Shock Me" (um blues de arrastar a cara na sarjeta chorando um amor impossível) e "I Can´t Quit You Baby", ambas de Willie Dixon, já mapeando o futuro do rock dos anos 1970, que ficaria eternizado por uma infinidade de ótimos grupos e artistas diretamente influenciados pelo som do Led. Algumas músicas se tronariam clássicos da banda, como a atormentada e eficaz "Dazed and Confuzed" - com uma robusta linha descendente de baixo, obrigatória no set list dos shows da banda onde parecia infindável - e "Communication Breakdown", com um riff de guitarra claro e limpo, cheio de malícia, técnica e sentimento.

O Led Zeppelin I é mais do que um disco. É uma obra de arte. Atemporal, preciso, robusto. O álbum, como numa catarse, uniu talentos que produziram o melhor do rock através de décadas, coisa impensável no rock atual, cheio de gafes, fraudes e falta de competência. Muita pose e pouco som. John Paul Jones, em "Good Times Bad Times", um hard blues elétrico de arrasar o quarteirão, faz tremer o chão com seu baixo bem pontuado. Ele, com John "Bonzo" Bonhan, imortalizou a melhor cozinha do rock, só comparável a do The Who, com Keith Moon e John Entwinstle (ambos mortos pelos excessos). Bonzo tornou as músicas do Led mais grandiosas com sua quebradeira e viradas espontâneas, o que se tornou parte do trademark LZ.

Os riffs e solos memoráveis de Page, a magia de criar o que nunca antes havia sido feito, fez do guitarrista um dos mais reverenciados do mundo, até hoje. Assim como, as texturas sonoras, as alternâncias de dinâmica e tempos, tornaram o disco um exemplo de como se fazer música inventiva, viva, ainda atual. "Your Time is Gonna Come" é uma balada modelo de hard rock perfeito. "Dazed and Confuzed" é um blues com uma carga de psicodelismo e com um solo de guitarra veloz, violento, técnico e sensacional, que apresenta de forma lúcida a onda proposta pelo Led. "Black Mountain Side" tem forte influência de folk music inglesa e "Communication Breakdown" soa como um ataque punk antecipado em uma década. "Good Times Bad Times", a primeira faixa, tem um dos solos mais encorpados e precisos que já se criou. O maior mérito deles foi transformar o noise quase jazzístico do Cream de Clapton, as experiências psicodélicas de Hendrix e o rock anárquico do The Who, em uma música inovadora. Fazendo assim nascer um gênero, estilo, ou como quer que se chame, nunca antes ouvido e visto.

Led Zeppelin I plantou as sementes do heavy metal intuitivamente e deu vida ao que não existia. Não é a toa que o álbum foi reeditado cerca de onze vezes. Tenho dúvidas sobre se esse é o melhor álbum zeppeliano ou se está atrás do Physical Graffiti (1975) e do IV (1971). Todavia o certo é que mesmo na sua época – quando os deuses do rock ainda caminhavam na terra – foi difícil alguém fazer algo semelhante. Fico imaginando a sensação de um apaixonado por Rock And Roll vivendo todo aquele clima borbulhante do final dos 60´s e ouvindo pela primeira vez aquela banda de estilo – embora síntese de todo o movimento anterior como escrevi antes – inovador e atordoante tomar de assalto seus ouvidos. Infelizmente uma experiência impossível hoje em dia.

Track List:

Good Times Bad Times
Babe I'm Gonna Leave You
You Shook Me
Dazed and Confused
Your Time Is Gonna Come
Black Mountain Side
Communication Breakdown
I Can't Quit You Baby
How Many More Times

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Roberto Freire recebe jetons da Prefeitura de SP

Publicado no Blog do Zé Dirceu

Vive no Recife a bem mais de mil kms da capital paulista, sempre morou lá a vida inteira, salvo os períodos em que esteve no exílio ou cumpriu mandatos em Brasília, mas recebe gordos jetons da Prefeitura de São Paulo...

É Roberto Freire, figura de proa do velho "Partidão", presidente nacional do PPS, e que posa e gosta de se apresentar como um dos "paladinos" da moralidade em nosso país. Recebe jetons no valor de R$ 12 mil mensais da prefeitura de São Paulo, pela participação em dois conselhos da Prefeitura paulistana – da Empresa Municipal de Urbanização (EMURB) e da SPTurismo.

A "boquinha" é a chamada "pena de aluguel" - conselheiro assina atas de reuniões a que não comparece - com a agravante de que é empunhada por um integrante da turma do falso moralismo, da turma gigolô da ética alheia.
Deu no Jornal da Tarde (reportagem publicada dia 26 pp) de autoria do jornalista Fábio Leite. Roberto Freire, segundo a reportagem do JT, é uma das 58 pessoas beneficiadas por uma política iniciada em 2005 na Prefeitura pelo então prefeito tucano José Serra.

É uma política de Serra, que Kassab deu continuidade
E como você sabe, Serra deixou a prefeitura um ano e pouco depois para disputar e assumir o governo do Estado, mas como o governo Gilberto Kassab, do DEM, que ficou no lugar de Serra, é uma extrensão daquela gestão deu continuidade àquela política.

A matéria do JT diz que o propósito desta “bondade administrativa” é acolher aliados políticos e engordar os salários dos secretários municipais paulistanos - oito destes secretários participam de mais de um conselho de administração de empresa ou órgão municipal, com o que chegam a ganhar R$ 17 mil mês somando-se salário mais jeton.

Detalhe: assim, seus vencimentos ultrapassam o salário do prefeito (R$ 12,7), desrespeitando a legislação que fixa um teto.