sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

A inflexão de Marina Silva

Ano passado antes de Marina Silva romper com o Partido dos Trabalhadores e aceitar encarar a aventura de se candidatar à presidência da República pelo Partido Verde, escrevi-lhe uma carta aberta pedindo que repensasse no assunto e se dispusesse a pleitear tal candidatura pelo PT. Meu temor, e esse temor estava explicito naquela carta, era de que ao desembarcar no PV Marina se tornasse a inocente útil das pretensões conservadoras. Afinal tal temor se baseava no fato de o PV não passar dum partideco de aluguel sem qualquer substância ideológica ou organicidade política a não ser a de tirar proveito (próprio) do poder. Como exemplo, à época, argumentei que o PV faz parte tanto da base do governo federal quanto das bases de Serra e Aécio, assim como também fez parte da administração de Cesar Maia no Rio de Janeiro.

Hoje, passados quase sete meses daquela missiva, percebo que o inocente foi eu. Marina não se deixou engabelar pelo PV, ela sabia exatamente para onde estava indo e a inflexão sofrida por seu discurso recente escancara essa opção.

Há poucos dias a senadora culpou o PT por não dialogar com o PSDB nem enquanto oposição e nem depois enquanto governo. Na visão (estrábica) da senadora acreana apenas o PT se mostrou intransigente em ambas as oportunidades, assim o PSDB deve ser isentado, uma vez que sempre se mostrou aberto ao diálogo. Talvez a ex-ministra do Meio Ambiente pense que o PSDB queria o melhor para o Brasil quando urdia o golpe branco para derrubar o presidente Lula durante a crise do “mensalão”. Ou então enquanto os tucanos estavam à frente do governo federal tinham razão em sucatear de forma desenfreada o estado brasileiro e acentuar nossa histórica desigualdade social. Interessante esse ponto de vista.

Não bastassem declarações dessa estirpe, Marina agora também faz coro com a direita tupiniquim condenando Hugo Chávez e Irã, além de querer dar aulas de democracia para Cuba. Quiçá Marina pregue o “criacionismo” para o povo cubano.

Em entrevista para a radio CBN (das Organizações Globo) Marina soltou algumas pérolas que mostram seu modelito neoliberal:

“Não podemos ficar reféns dessa combinação que é um pouco preocupante, da democracia representativa com a democracia direta. No caso da América Latina, a Venezuela tem uma ênfase plebiscitária que pode colocar em risco a alternância de poder, a subtração de liberdade.”


Sobre Cuba:

“A revolução contribui com alguns aspectos? Contribuiu e muito. Agora, é o fim da história? Não é. Existe um desafio ali? Existe. Qual é o desafio? É de que Cuba precisa se abrir para o mundo, precisa se transformar numa a democracia. Cuba não tem que ter medo da democracia porque até os amigos de Cuba já começam a ser constrangidos pela falta de liberdade de expressão.”

Durante a semana Marina também havia gravado participação para o programa É Notícia, comandado pelo jornalista Kennedy Alencar na Rede TV. E lá foi Marina, sem pudor, jactar mais algumas pérolas do tipo:

“Para a ministra Dilma, parece que as questões ambientais não são prioridade”.

Talvez seja até triste fazer uma constatação dessas, mas Marina agora está no partido certo, um partido feito à sua medida.

Um comentário:

Prof. Yuri Almeida disse...

Hudson, você acabou de me convencer a não votar na Marina em hipótese alguma....