sexta-feira, 30 de abril de 2010

Vietnã celebra 35 anos da vitória contra os EUA

Fonte: Opera Mundi

Ainda amanhecia quando milhares de vietnamitas, organizados em colunas, começaram a se aproximar do Parque 30 de Abril, diante do antigo palácio presidencial, na cidade de Ho Chi Minh. Sindicatos, universidades, fábricas e organizações camponesas enviaram suas delegações, além das forças armadas. Respondiam à convocação para a manifestação que celebraria o triunfo do Vietnã socialista contra o governo de Saigon (velho nome da cidade) e seus aliados norte-americanos.

Não foi um comício de tipo ocidental. O horário já era extravagante. Todos estavam avisados que as atividades começariam pontualmente às 6h30 e estariam encerradas três horas depois, antes que o calor alucinante de Ho Chi Minh vencesse o dia. Quem ocupava as arquibancadas armadas no caminho central do parque eram as autoridades e os convidados. Os cidadãos, com seus agrupamentos, foram os responsáveis pelo espetáculo.

Poucos discursos, apenas quatro – e religiosamente cronometrados. O primeiro secretário do Partido Comunista do município falou por 20 minutos. Depois vieram o presidente da Associação dos Veteranos de Guerra, o secretário-geral da federação sindical local e o presidente da Juventude Comunista de Ho Chi Minh – cada qual com direito a 10 minutos de discurso. O presidente da República, Nguyễn Minh Triết, 68, um sulista que teve participação discreta na guerra e está no cargo desde 2006, apenas assistiu, junto com outros dirigentes.

Aproximadamente 50 mil pessoas desfilaram diante das tribunas. Grupos teatrais representaram momentos da guerra de 21 anos contra os norte-americanos e o então Vietnã do Sul. Muita música, até com um pouco de ritmo pop, além dos acordes previsíveis da Internacional (o histórico hino socialista) e de canções revolucionárias. Depois, uma longa marcha, com militares, trabalhadores, mulheres, intelectuais, estudantes, camponesesm com suas faixas e bandeiras, além de modestas coreografias.

Mas a maior emoção estava no rosto dos veteranos de guerra. Um deles era o coronel Nguyễn Van Bach, de 74 anos, cabelos inteiramente brancos. Nascido na província de Bình Dương, no sul do país, integrou-se à luta armada em 1947, aos 11 anos. Ainda era a época da guerra contra os franceses, que não aceitavam a independência conquistada em 1945, sob a liderança do líder comunista Ho Chi Minh.

Van Bach ainda combatia no final de abril de 1975. Fazia parte das tropas guerrilheiras. Estava em um destacamento que já controlava a cidade de Tan An, na província de Long An, localizada no delta do rio Mekong. Foi lá que soube da queda de Saigon nas mãos de seus camaradas. “Tive uma alegria tão grande que provocava lágrimas”, lembra-se. Ainda se emociona, como vários de seus amigos, quando se recorda dessa data.

Afinal, no dia 30 de abril de 1975, encerravam-se mais de 30 anos de guerra regular ininterrupta. Desde que fora formado o primeiro pelotão da guerrilha comunista, em dezembro de 1944, sob o comando de Võ Nguyên Giáp, braço direito de Ho Chi Minh, os vietnamitas enfrentaram sucessivamente invasores japoneses, franceses e norte-americanos.

Colonia francesa desde 1856, o Vietnã foi ocupado pelas tropas nipônicas durante a Segunda Guerra Mundial. Os comunistas assumiram a linha de frente na luta contra os soldados de Hiroito, aproveitando o colapso de Paris às voltas com a ocupação nazista. Lideraram uma frente de várias correntes políticas, denominada Vietminh, e declararam a independência do país depois da capitulação japonesa, em agosto de 1945. No dia 2 de setembro do mesmo ano nascia a República Democrática do Vietnã.

Guerra da Indochina

O general De Gaulle, presidente da França, assim que viu derrotado o nazismo, ordenou que suas tropas sufocassem os rebeldes vietnamitas. Foram oito anos de sangrentos combates. Os homens de Ho Chi Minh e Giáp organizaram uma poderosa resistência guerrilheira, que progressivamente aterrorizou e desgastou os franceses. Mais de 90 mil gauleses perderam a vida nos campos de batalha.

A estocada final contra os colonizadores foi em 1954. Ficou conhecida como a batalha de Điện Biên Phủ, uma região no noroeste do Vietnã, perto da fronteira com o Laos. Os franceses imaginavam-se invulneráveis nessa posição estratégica, da qual planejavam sua contra-ofensiva a partir de uma grande concentração de recursos humanos e materiais. Mas o Vietminh, através de trilhas na selva e túneis, foi cercando o local sem ser percebido.

Depois de oito semanas, entre 13 de março e 7 de maio, as tropas do general Christian De Castries estavam destruídas e desmoralizadas. Foi o derradeiro capítulo da chamada Guerra da Indochina. Os franceses, derrotados, aceitaram as negociações que levariam aos acordos de Genebra, em 1954. Pelos termos desse tratado, o Vietnã ficaria provisoriamente dividido em dois, ao norte e ao sul do paralelo 17. Mas eleições gerais teriam lugar em 1956 para reunificar o país.

Quando se consolidaram as perspectivas de vitória eleitoral comunista, os grupos conservadores chefiados pelo católico Ngô Đình Diệm deram um golpe de Estado no sul e cancelaram as eleições. Os Estados Unidos, que já tinham sido os principais financiadores das operações francesas, assumiram a defesa do regime de Saigon. Forneceram, a princípio, recursos, armas e assessores militares.

Guerra do Vietnã

Os comunistas reagiram e lideraram, a partir de 1960, um levante popular e guerrilheiro contra Diem, articulado pela Frente de Libertação Nacional com o apoio do norte. Os norte-americanos, diante da fragilidade de seus aliados, enviaram tropas para defendê-los. Era o início da Guerra do Vietnã.

A participação direta dos Estados Unidos durou até 1973. Acabaram asfixiados e quebrados como os franceses. “A supremacia deles era tecnológica”, recorda outro veterano, o general Đỗ Xuân Công, 72. “Mas o armamento deles era para guerra à distância, com aviões, foguetes e bombas. Nós reduzimos o espaço, forçamos o combate no quintal de suas tropas. As armas modernas não tiveram serventia nem substituíram sua falta de moral para a luta”.

A casa começou a cair depois da chamada Ofensiva do Tet (o ano novo vietnamita), em 1968, quando as forças guerrilheiras atacaram dezenas de objetivos ao mesmo tempo, incluindo a própria embaixada norte-americana em Saigon. A Casa Branca já tinha mais de 500 mil homens em combate. A sociedade estrilava com as mortes, derrotas e mentiras.

Os EUA, durante os quatro anos seguintes, despejaram uma quantidade de bombas superior a que foi empregada em todas as batalhas da Segunda Guerra Mundial. No final de 1972 submeteram Hanói a 12 dias e noites de terror. Utilizaram armas químicas para destruir a capacidade alimentar dos vietnamitas e anular as forças guerrilheiras. Mas suas tropas estavam cada vez mais tomadas pelo medo e incapazes de defender suas posições territoriais.

Derrota norte-americana

Washington se viu forçado às negociações de Paris, que levariam à retirada de seus soldados em 1973. O regime de Saigon ficou por sua própria conta. Não permaneceu de pé por muito tempo. Em 1975, o Vietnã reconquistava sua unidade nacional e os comunistas venciam a mais duradoura guerra do século 20.

Os mortos vietnamitas, civis e militares, chegaram a três milhões, contra apenas 50 mil “sobrinhos” do tio Sam. Dois milhões de cidadãos, incluindo filhos e netos da geração do conflito, padecem de alguma deformação genética provocada pela dioxina, subproduto cancerígeno presente no agente laranja, fartamente empregado pelos norte-americanos. Além das perdas humanas, a economia do país foi quase levada à idade de pedra, como preconizava o general norte-americano Curtis LeMay.

Mas quem desfila a vitória, ainda assim, é o Vietnã. Os norte-americanos foram ocupar o mesmo lugar na galeria de fotos que japoneses e franceses, para não falar dos chineses: o de agressores colocados para correr. “Nossa estratégia se baseou em uma ideia simples: a da guerra de todo o povo”, enfatiza o general Công. “Não havia um centímetro de nosso território no qual os norte-americanos podiam ficar tranquilos. Eles perderam para o medo.”

Essas são águas passadas, porém. Das quais ficam lições, estímulos e valores, é certo, além de grandes livros, fotos e filmes. Mas não resolvem os desafios da paz. Os vietnamitas, nesses 35 anos, tiveram que cuidar de outro problema, para o qual a guerrilha e seus inventos não eram solução. Como alimentar e desenvolver uma nação tão pobre e destruída? Essa é a outra história do Vietnã indomável.

Maria Bethânia - Fera Ferida



Ontem enquanto realizava umas tareffas em casa, ouvi numa rádio local, a Libertas FM, "Fera Ferida" com a interpretação de Maria Bethânia. Hoje resolvi procurar no Youtube e encontrei esse video de um show na Argentina.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

De perseguido pela fome a líder mundial

Ano passado quando Barack Obama chamou Lula de “the guy”, teve colunista aqui no Brasil – muito conhecido pelas suas barrigas – que viu naquele gesto de simpatia, talvez até um ato de admiração, um deboche do homem mais poderoso do planeta para com o “bebum nordestino”. Será que a conceituada Time também está “debochando” quando elege Luiz Inácio Lula da Silva um dos líderes mais influentes do mundo?

Lula, o retirante perseguido pela fome e depois pela Ditadura Militar, que se tornou, extraordinariamente, não só o presidente mais popular da história do Brasil, mas que também conseguiu inserir o país no século XXI, entre outras coisas por retirar milhões de brasileiros da miséria crônica e por adotar uma política externa soberana, é tratado com esnobação pela mídia oligopolizada – ou o Partido do Capital, como Gramsci a chamava¬ ¬– e bombardeado com zombarias e preconceito pela classe média branca. Pois bem, agora FFHH e suas viúvas devem estar cortando os pulsos de inveja, afinal, como pode um nordestino analfabeto, pingaiada, vagabundo e barbudo ir até onde eles nunca sonharam? Isso é ousadia demais pra essa gente fina suportar!!!


Luiz Inácio Lula da Silva


Por Michael Moore (tradução Viomundo)

Quando os brasileiros primeiro elegeram Luiz Inácio Lula da Silva presidente, em 2002, os barões do país [robber barons] checaram o tanque de combustível de seus jatos privados. Eles haviam tornado o Brasil um dos países mais desiguais da terra e então parecia ter chegado a hora da “vingança”. Lula, 64, era um filho genuíno da classe trabalhadora da América Latina — na verdade, um membro fundador do Partido dos Trabalhadores — que tinha sido preso por liderar uma greve.

Quando Lula finalmente conquistou a presidência, depois de três tentativas fracassadas, ele era uma figura familiar na vida nacional. Mas o que levou à política? Foi seu conhecimento pessoal do quanto é duro para muitos brasileiros trabalhar para sobreviver? Ser forçado a deixar a escola na quinta série para ajudar a família? Trabalhar como engraxate? Ter perdido um dedo em um acidente de trabalho?

Não, foi quando aos 25 anos de idade ele viu a esposa Maria morrer durante o oitavo mês de gravidez, junto com o filho, por não poderem pagar um tratamento médico decente.

Há uma lição aqui para os bilionários do mundo: deixem as pessoas terem bom atendimento médico e elas vão causar muito menos problemas para vocês.

E aqui há uma lição para o resto de nós: a grande ironia da presidência de Lula — ele foi eleito para um segundo mandato em 2006 e vai servir até o fim do ano — é de que quando ele tenta colocar o Brasil no Primeiro Mundo com programas sociais como o Fome Zero, desenhado para acabar com a fome, e com planos para melhorar a educação disponível para os trabalhadores do Brasil, faz os Estados Unidos parecerem cada vez mais um país do velho Terceiro Mundo.

O que Lula quer para o Brasil é o que um dia chamamos de Sonho Americano. Nós, nos Estados Unidos, onde o 1% no topo da escala tem mais riqueza financeira que os 95% da base combinados, estamos vivendo em uma sociedade que está ficando rapidamente cada vez mais parecida com a do Brasil.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Greve dos servidores da Educação de MG

A greve nas escolas estaduais de Minas Gerais está completando 21 dias nesta quarta-feira (28/04). Os professores reivindicam a adequação do Estado ao piso salarial de R$ 1.312,85 além das gratificações. Mas, sobretudo, respeito e valorização da educação no Estado, que se encontra sucateada pelo descaso dos governantes mineiros nas últimas décadas, além de melhores condições de trabalho para toda a classe.

O Sind-UTE (Sindicato Único dos Trabalhadores da Educação de Minas Gerais) calcula adesão de 60%. Levando em conta que Minas conta hoje com 203 mil servidores na área de educação, somos mais de 120 mil servidores em greve.

“O que a Secretaria (de Educação) tem que fazer é apresentar uma proposta para a categoria que está em greve e não ficar nessa disputa de interpretação de legislação. A nossa reivindicação está clara. A greve é por tempo indeterminado e nós queremos uma proposta concreta do governo de Estado para negociar”, declarou Beatriz Cerqueira, coordenadora-geral do Sind-UTE, sobre a interpretação da Lei 11.738/2008 que implementou o Piso Salarial Profissional Nacional para os Profissionais do Magistério Público da Educação, esse piso, em valores atualizados, é de, justamente, R$1312,85.

Já em resposta à ameaça de retaliar os servidores grevistas com “falta” no livro de ponto e a possível contratação de substitutos, o Sind-UTE divulgou a seguinte nota:


Em atenção ao Ofício Circular Gab.n° 1013/2010 de
26/04/2010, da Secretária de Estado da Educação,
Vanessa Guimarães, o Sind-UTE/MG esclarece:



1) O direito de greve dos servidores públicos é legítimo, estando previsto
constitucionalmente, na regra do art. 9º da Constituição Federal de 1988.


2) A Lei Federal n° 7.783 de 28/06/89, por força da decisão proferida no Mandado de Injunção nº 708 do Supremo Tribunal Federal, regulamenta o direito de greve dos servidores públicos.


3) A participação em greve suspende o contrato de trabalho, sendo vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a contratação de trabalhadores substitutos (art. 7º, parágrafo único, lei n° 7.783/89).


4) As faltas em serviço por motivo de mobilização da categoria para a defesa de seus direitos são faltas justificadas, logo, não se equivalem à faltas por ausência injustificada ao serviço.


5) De acordo com a legislação vigente, o servidor em greve, seja efetivo, designado, efetivado pela Lei100, efetivo em estágio probatório, ou em qualquer outra situação não pode sofrer retaliação em função de participar da greve.


6) A emissão do ofício por parte da Secretaria Estadual é uma clara estratégia de desmobilizar a categoria num momento em que a greve se consolidou ganhando adesão em todas as regiões do estado. Não podemos deixar que a Secretaria alcance o seu objetivo. Se os profissionais em greve recuarem, perderemos a oportunidade histórica de conquistar um salário melhor e não teremos condições de realizar qualquer negociação, uma vez que o sindicato ficará fragilizado.


7) Todas as medidas judiciais possíveis estão sendo tomadas pelo Sind-UTE/MG para tentar anular os efeitos do Ofício da Secretária.


8) Precisamos manter nossa mobilização e as atividades definidas pela assembleia realizada em São João Del-Rei.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Faltam explicações razoáveis

Há algum tempo não comento as pesquisas eleitorais. Nem me lembro de qual foi à última vez que comentei uma delas. A única coisa que me lembro é de Dilma Rousseff ainda estar bem longe de José Serra, diferentemente daquilo que as pesquisas desse ano têm mostrado.

Não cultivei o hábito de comentar pesquisas desse tipo porque acho inócuo para o debate político ficar se apegando a pesquisas restando tanto tempo para as eleições.

Contudo não posso deixar de notar que há uma nebulosidade que nenhum instituto se apercebeu ou quis explicar até o momento. Ou alguém consegue me explicar à razão de José Serra aparecer na média das últimas pesquisas 5% a frente de Dilma Rousseff, quando são apresentados ao eleitor os nomes dos possíveis candidatos (Serra, Dilma, Marina e Ciro), enquanto que no voto espontâneo sempre Lula está em primeiro com Dilma e Serra disputando cabeça a cabeça a segunda posição, seguidos de perto pelo candidato apoiado por Lula ou o candidato do PT?

Mais, por que nenhum instituto levou a campo o nome de Plínio de Arruda Sampaio? É óbvio que Plínio não ocuparia posição de destaque, no entanto o voto em Plínio tende a ser um voto politizado e a parcela do eleitorado que se identifica com propostas mais à esquerda tendem a se posicionar como num eventual segundo turno entre Serra e Dilma?

São questões que estão no ar, sem nenhuma explicação razoável até o momento.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

FFHH deixou de lado a vida de sociólogo para se tornar comentarista futebolístico



Não assisti à entrevista que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso deu ontem ao Canal Livre da rede Bandeirantes e também não a procurei no sítio da empresa ou em qualquer outra parte. De resto também não vi a entrevista do presidente Luiz Inácio lula da Silva ao mesmo programa.

Quanto à entrevista de FFHH, o máximo que eu soube foi através do blogue do Josias de Souza. Segundo o colunista da Folha de São Paulo, FFHH foi instado a comentar um raciocínio atribuído ao sociológico Hélio Jaguaribe: um mito só pode ser “contraposto” por outro mito. Então FFHH emendou com uma pérola: “Às vezes não precisa contrastar o mito. Deixa o mito. Pelé foi um mito. Isso não impediu que houvesse o Ronaldo”. Moral da história, se nosso ex-presidente entender tanto de estratégia política quanto entende de futebol, é bom José Serra ir se preparando para perder os poucos fios de cabelo que lhe restam.

sábado, 17 de abril de 2010

Joni Mitchell



Já que hoje tirei o restinho da tarde para ouvir vozes femininas marcantes, vamos agora de joni mitchell

Janis cantando Janis

Cássia canta Janis



O Nassif postou primeiro. Gostei e como sou admirador da Cássia Eller e da Janis Joplin (vejam no Mural do século passado) e ainda não conhecia esse video, resolvi postá-lo também.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Paulinho Courominas, um mandatário (???) que não gosta de ser criticado

O prefeito de Poços de Caldas, Paulinho Courominas, em programa da rádio Libertas FM, declarou nesta sexta-feira que os responsáveis pela vinda de uma equipe da TV Bandeirantes a Poços de Caldas são pessoas que não gostam da cidade e que estão transformando a mudança no sistema de transporte público em fato político-partidário.

O programa do qual o mandatário poçoscaldense participou (será que posso chamá-lo de mandatário???) é um espaço semanal reservado para que sua Excelência possa responder a indagações dos munícipes. Poucas vezes escutei tanta abobrinha em tão pouco tempo. No meio do programa o prefeito enalteceu o próprio trabalho dizendo não parar um só minuto. Ora, o prefeito não faz mais do que aquilo que a maioria dos eleitores esperava dele quando o elegeu. Se ele dá mostras de fadiga – o que deu a entender durante o programa – é porque não estava preparado para ocupar o cargo que ocupa. Se está irritado com as criticas à sua administração, como também deu a entender, é porque não tem equilíbrio para lidar com elas. Ainda deu a entender que chegou atrasado ao programa porque estava inaugurando uma quadra numa escola, como se a obra fosse fruto de sua administração. A inauguração da citada quadra se deu na Escola Estadual David Campista – onde por coincidência sou professor e também estava lá – que por se tratar de escola estadual é de responsabilidade do governo do estado.

Ainda, nas abobrinhas ditas pelo mandatário local, as manifestações contra o SIGA(O) – Sistema Integrado Grande Amigo (da Onça) – são ilegítimas porque os “cabeças’ dessas manifestações têm ligação com partidos políticos de oposição. Bom, de minha parte o fato de eu pertencer a um partido político é secundário nessa questão, mas foi a forma como o mandatário (???) encontrou para desqualificar aqueles que ousam sair as ruas e dar a cara a tapa.

É também muito engraçado ele vir a público acusar os manifestantes contra o SIGA(O) de partidarização com objetivos eleitorais. Quem sempre fez e faz algo com esse objetivo é o grupo político ao qual o atual prefeito faz parte – e vamos lembrar que no passado Paulinho até já carregou o caixão simbólico de seu grande mentor político da atualidade, portanto dá para notar que Poços de Caldas é governada por alguém cuja “coerência é a marca principal”.

Poderia citar inúmeros casos onde eventos públicos, como inauguração de obras, por exemplo, se tornaram palanque eleitoral com faixas contendo agradecimentos aos políticos aliados. Mas como já escrevi acima, nosso mandatário (???) tem a “coerência como marca principal”.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Sensacional disputa entre Circullare e Charrete!!!



Veja os lances da sensacional disputa entre Circullare e Charrete em Poços de Caldas e divirta-se. Mas se quiser se divertir ainda mais, leia e ouça o que a imprensa local tem escrito e falado nos últimos dias. A imprensa local chegou ao cúmulo de afirmar que quem levou à rede nacional o caos do transporte público em Poços não gosta da cidade. Se os usuários insatisfeitos com a Circullare não gostam de Poços, fica no ar a pergunta, quem na visão da imprensa local gosta da cidade?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Fórum sobre a redução da jornada de trabalho



A redução da jornada de trabalho é um tema atual que vem sendo amplamente discutido pela classe trabalhadora e pela sociedade brasileira de modo geral, tendo, inclusive, uma proposta nesse sentido sido aprovada pela Comissão de Desenvolvimento Econômico, Indústria e Comércio da Câmara dos Deputados em junho do ano passado. Essa proposta por enquanto aguarda a votação no plenário da Câmara.

A reivindicação tem como objetivo gerar mais empregos com carteira assinada, além de, obviamente, melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores (inclusive está embasada em vários estudos técnicos). No tangente aos empregos com carteira assinada, cálculos do Dieese apontam que a medida pode gerar 2,2 milhões de novos postos de trabalho.

Agora esse debate chega a Poços de Caldas. Sitial, Metabase, CUT, CTB e PT através do mandato participativo do vereador Flávio Faria, promovem no próximo sábado a partir das 9:00 na Câmara Municipal um fórum de debate sobre o tema, com a presença do deputado estadual André Quintão e do presidente da CUT/MG Marco Antônio de Jesus, entre outros palestrantes.

O jeito é comprar uma charrete



Uma noite triste para a imprensa de Poços de Caldas essa a de 12 de abril. Após todo o exercício a fim de omitir o caos em que se tornou o transporte público em Poços de Caldas, a imprensa local foi obrigada a engolir uma matéria sobre o tema levada ao ar por uma emissora nacional.

Como já havia noticiado em primeira mão nesse blog, o CQC veio a Poços, conferiu in loco o caos do nosso sistema de transporte público e levou ao ar uma divertida matéria. Seria cômico, não fosse trágica a situação dos usuários do transporte coletivo em Poços.

Verdade seja dita, embora a imprensa de modo geral tenha se mostrado omissa – quando não partidária da empresa de transporte (Circullare) que controla a concessão pública em Poços de Caldas de forma monopolista – ainda assim há distinção entre alguns veículos. A TV Plan, a Rádio Difusora e o Jornal de Poços tiveram comportamento mais democrático que aquele apresentado pela TV Poços – órgão de imprensa cujo dois dos sócios são Flávio Cançado, dono da Circullare e Sebastião Navarro Vieira Filho, chefe político do grupo que há décadas manda e desmanda na política poços-caldense.

Contudo, por motivos óbvios, já era de se esperar tal comportamento da TV Poços, ridículo mesmo tem sido até agora o tratamento dispensado sobre o assunto pelo Jornal da Mantiqueira. De suas páginas saltaram os textos com maior defesa da Circullare e do SIGA(O) – Sistema Integrado Amigo (da Onça), além de repetidamente ter desrespeito usuários inconformados em pagar mais caro por um serviço de pior qualidade.

Desrespeito também mostrou o prefeito Paulinho Courominas ao declarar que as manifestações contra o SIGA(O) partia de “crianças que pareciam estar em excursão”. Aliás, Paulinho Courominas demonstrou desrespeitar o próprio passado, afinal de contas quantas vezes ele já utilizou de artimanha semelhante (manifestações populares) para se cacifar politicamente?

Ah, claro!!! Isso aconteceu antes de ele mudar de lado!!! Peço perdão ao ilustre prefeito, hoje o grupo político ao qual ele deve a cadeira de prefeito sente ojeriza de manifestações populares e Paulinho como bom discípulo aprendeu tudo direitinho.

Pra terminar, já tinha gente cantando de galo achando que o tema não ganharia espaço na mídia nacional. Ledo engano. Contavam que o tema esfriaria, a população se acostumaria e a imprensa esqueceria. Tudo certo, mas faltou combinar com os russos.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Macarthismo tupiniquim

Ultimamente me envolvi em novos projetos, daí a quantidade de postagens de minha autoria ter diminuído. No entanto esse blog é uma de minhas paixões e é impensável para mim no momento abandonar o blogsfera. Por enquanto, pelo menos até me organizar melhor, as postagens coladas de outros espaços na rede serão maioria por aqui.

Hoje vai uma entrevista com João Pedro Stedile, pescada do Viomundo do Azenha. Aliás, o MST, Luiz Carlos Azenha e meu conterrâneo Luis Nassif têm sido alvos do macarthismo tupiniquim desse início de século XXI, levado a cabo pelo Partido do Capital, a mídia oligopolizada.


Stedile: “A mídia critica nossas ocupações, mas faz vista grossa às terras griladas pela Cutrale e Daniel Dantas”

Por Conceição Lemes, no Viomundo

17 de abril de 1996. Cerca de 1.500 famílias de trabalhadores rurais sem-terra estão acampadas há mais de um mês no município de Eldorado dos Carajás, sul do Pará. Reivindicam a desapropriação de terras, principalmente as da Fazenda Macaxeira.

Como não são atendidas, em 10 de abril, iniciam a “Caminhada pela Reforma Agrária”, rumo a Belém, a capital, para sensibilizar as autoridades. No dia 16, montam acampamento próximo à cidade de Eldorado dos Carajás, interditam a estrada (no km 96 da rodovia PA-150) e exigem alimentos e transporte. Às 20h, o major que negocia com lideranças do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) garante que as reivindicações seriam levadas às autoridades estaduais e federais competentes. Um acordo é fechado.

Mas no dia 17, às 11h, um tenente da Polícia Militar (PM) comunica uma contra-ordem: nenhuma reivindicação seria atendida, nem a mesmo a doação de alimentos. Duas tropas fortemente armadas da PM – uma vinda de Marabá, outra de Paraupebas –, ocupam a estrada e iniciam a desobstrução, descarregando revólveres, metralhadoras e fuzis sobre os trabalhadores sem-terra, que se defendem com paus, pedras, foices e os tiros de um único revólver. O resultado da operação é o Massacre de Eldorados dos Carajás: 19 sem-terra barbaramente assassinados e 69 feridos. Os feridos tiveram de ser aposentados por incapacidade para o trabalho agrícola; dois deles faleceram meses depois em consequência dos ferimentos.

A partir daí, a Via Campesina Internacional instituiu o 17 de abril como o Dia Internacional da Luta Camponesa. No Brasil, o então presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, tornou a mesma data Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária. Desde então, acontecem manifestações camponesas no Brasil e no restante da América Latina. Este ano, no dia 17, elas ocorrerão mais uma vez.

“O objetivo é dar visibilidade à nossa luta, até porque, até hoje, nenhum dos policiais e políticos responsáveis pelo Massacre de Carajás foi punido”, afirma João Pedro Stedile, o principal líder do MST. “O papel do nosso movimento é organizar os trabalhadores do campo pobres para que lutem por seus direitos, melhorem de condições de vida e tenham terra para trabalhar.”

A mídia corporativa, que frequentemente criminaliza o movimento dos trabalhadores rurais sem-terra, já está em campanha contra o “Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária” de 2010. O editorial “O vermelho de abril” publicado no Estadão de domingo passado, 4 de abril, é uma mostra do que está por vir. Nesta entrevista exclusiva ao Viomundo, João Pedro aborda desde o comportamento da mídia às ocupações violentas do MST, que têm feito com que o movimento perca apoio de uma parte da sociedade.

Viomundo — O editorial do Estadão do último domingo dissemina medo em relação ao MST. Ao mesmo tempo, torce veladamente para que o abril de 2010 seja mais vermelho – leia-se violento, sangramento — e respingue na candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT). Essa é a sua leitura do editorial?

João Pedro Stedile – Nós estamos acostumados com as declarações ideológicas desse jornal. Ficamos impressionados com a clareza com que defendem os interesses do latifúndio, da minoria privilegiada. O Estado de S. Paulo é o principal porta-voz das oligarquias rurais e dos setores mais atrasados da burguesia brasileira. Não aceitam qualquer mudança social. Há mais de 100 anos defendem a ferro e fogo os privilégios da classe dominante.

Assim como antigamente faziam anúncios de venda de trabalhadores escravos, agora se colocam contra a reforma agrária. Qualquer movimento de trabalhadores organizados é um problema. Por isso, tratam o nosso movimento como uma ameaça à toda a sociedade, que deve ser acompanhado com preocupação e combatido por parlamentares, juízes, órgãos de inteligência e formadores de opinião.

Para isso, o jornal tenta construir um clima de terror e medo, colocar um movimento de trabalhadores sem-terra como uma sombra na sociedade, criando uma paranóia que só convence aqueles que não conhecem a realidade do campo. A reforma agrária é uma ameaça, de fato, somente aos 50 mil proprietários com mais de 1.000 hectares que concentram 146 milhões de hectares (43% das terras agricultáveis). Eles representam 1% dos proprietários e devem se preocupar…

Viomundo – Já a Folha tenta jogar o MST contra o governo federal. É isso mesmo?

João Pedro Stedile – O estilo da Folha é mais fofoqueiro e costuma se dedicar à pequena política. São fofocas de salão. Acredita que pode alterar a luta de classes com factoides. Investe em fofocas para tentar criar contradições vazias entre o nosso movimento e o governo federal, ignorando a situação dos trabalhadores rurais e a lentidão para a criação de assentamentos. Na atualidade, prioriza a criação de factoides em defesa da candidatura de José Serra a presidente e da continuidade dos tucanos à frente do governo do estado de São Paulo. O sonho do seu proprietário é ser um intelectual respeitado, mas não passa de um pequeno-burguês lambe botas dos grandes interesses da burguesia.

Viomundo – Como caracterizaria o comportamento dos outros veículos da chamada grande imprensa?

João Pedro Stedile – Os mais perniciosos são os veículos das Organizações Globo. O Globo e o Jornal Nacional são manipuladores contumazes. Conseguem unir com genialidade a ideologia burguesa com os seus interesses particulares para ganhar dinheiro sustentando ideologicamente a desigualdade da nossa sociedade. Espero que o projeto de banda larga popular e gratuita enfraqueça o poder de manipulação da televisão aberta e enterre o papel da Globo na sociedade brasileira.

Viomundo – Já li uma entrevista sua onde coloca o governo Lula e o FHC em pé de igualdade. Acha que são iguais mesmo?

João Pedro Stedile – Na forma de tratamento dos movimentos sociais, não são iguais, não. FHC tentou cooptar, isolar e criou condições para a repressão física, que resultou nos massacres de Corumbiara e Carajás. Já no governo Lula há mais diálogo. Nunca houve repressão por parte do governo federal.

Infelizmente, em ambos os governos, não houve desconcentração da propriedade da terra, o que é o fundamental. A reforma agrária é uma política governamental, executada pelo Estado em nome da sociedade, que visa desapropriar grandes propriedades de terra que não cumprem a função social. É uma bandeira republicana, que se insere nos direitos democráticos. Para isso, procura democratizar o acesso à terra e desconcentrar a propriedade fundiária. Dentro desse conceito, durante os governos FHC e Lula, os latifundiários aumentaram o controle das terras.

Está em curso um movimento de contra-reforma agrária, realizado pela lógica do capital de empresas transnacionais e do mercado financeiro. De acordo com o censo de 2006, 15 mil fazendeiros com mais de 2 mil hectares controlavam nada menos que 98 milhões de hectares. Também houve uma maior desnacionalização das terras, com a ofensiva do capital estrangeiro. Somente no setor sucroalcooleiro, em apenas três anos, o capital estrangeiro se apropriou de 27% de todo setor, segundo o jornal Valor Econômico.

Apesar disso, reitero as diferenças. O governo FHC era o legítimo representante da aliança entre uma parcela da burguesia brasileira subordinada aos interesses do capital internacional e financeiro. Já o governo Lula representa um outro tipo de alianças. É um governo de conciliação de classes, que juntou dentro dele setores da burguesia brasileira e setores da classe trabalhadora. E por isso é um governo mais progressista do que o governo FHC.


Viomundo – Em agosto de 2009, o MST acampou durante duas semanas em Brasília, além ter feito marchas e protestos por todo o país. Na ocasião, apresentou uma pauta de reivindicações e estabeleceu uma negociação ampla com o governo federal para a retomada da reforma agrária. Como está essa agenda?

João Pedro Stedile –
Nas negociações, o governo se comprometeu a assinar a portaria que revisa os índices de produtividade e investir mais 460 milhões para as desapropriações de latifúndios, além de demandas para resolver problemas nos estados. Infelizmente, não houve ainda atualização da portaria dos índices de produtividade nem aporte de recursos para reforma agrária.

Esperamos que o governo cumpra a sua palavra. Dessa forma, poderão, pelo menos, resolver problemas pontuais e conflitos que se somam nos estados. Há mais de dois anos processos assinados para desapropriação de fazendas estão parados por falta de recursos do Incra. O governo precisa investir, no mínimo, 1 bilhão de reais para zerar o passivo de fazendas, que estão em processo final de desapropriação. O orçamento previsto para o ano é apenas 460 milhões de reais.

Viomundo – Este ano teremos eleições presidenciais. Eu sei que oficialmente o MST não apóia este ou aquele candidato. Mas a base assim como a direção tem suas preferências. Em que candidato não votariam de modo algum?

João Pedro Stedile –
Nós fizemos um debate com os movimentos sociais que se articulam na Via Campesina Brasil. Há um sentimento de que devemos colocar energias para impedir que o Serra ganhe as eleições. Não se trata de julgamento pessoal ou partidário, mas de uma avaliação do tipo de projeto e de forças sociais que ele representa.

Viomundo – Em que candidatos poderiam votar?


João Pedro Stedile –
Em toda a nossa trajetória, o MST nunca tirou deliberações sobre nomes para votar nas eleições. Mas naturalmente a militância tem consciência política de votar – em todos os níveis – em candidatos que sejam comprometidos com a reforma agrária e com as mudanças necessárias para o Brasil. A partir disso, cada um, de acordo com a sua consciência, faz a escolha. O voto é uma manifestação da liberdade política individual, que deve se expressar em torno de projetos de sociedade.

Viomundo – Nas eleições deste ano, o jogo será muito sujo. Como vocês pretender pretende agir neste contexto, já que as forças conservadoras tentarão queimar a candidatura Dilma, valendo-se do MST?


João Pedro Stedile –
Realmente, a campanha eleitoral deste ano será muito disputada e dura. As elites e seus meios de comunicação já fizeram diversas reuniões para se articular e se organizar, numa verdadeira guerra ideológica. Eles farão de tudo para manipular fatos e criar factoides para favorecer o Serra. Ao mesmo tempo, caso não tenham condições de ganhar, tentarão fazer com que uma vitória da Dilma esteja condicionada e comprometida em não fazer mudanças. Para isso, vão atacar sistematicamente todas as lutas sociais e movimentos populares, para evitar que atuem como força social nas eleições e discutam projetos de sociedade. Ou seja, vão sobretudo criminalizar a luta social. Esse é o jogo.

Nós estamos acostumados a ele e, independentemente de candidaturas, continuaremos fazendo o nosso papel, ou seja: organizar os trabalhadores do campo para que lutem por seus direitos e melhorem as suas condições de vida. Até os intelectuais dos tucanos sabem que nunca houve em toda a história da humanidade mudanças sociais a favor do povo e dos mais pobres sem que eles se organizassem, lutassem e conquistassem.

No fundo, o que a grande mídia teme é a força organizada dos trabalhadores. Por isso, tentam criar um clima de desânimo, contrário às lutas sociais, para evitar uma nova ascensão do movimento de massas que altere a correlação de forças na sociedade. A força da classe dominante está no poder econômico e na mídia, com o controle da ideologia. A força dos trabalhadores está na sua capacidade de mobilizar as maiorias. Para quem não acredita em luta de classes, podem esperar cenas cotidianas desse confronto.

Viomundo – Muita gente defende realmente a reforma agrária, mas discorda de ocupações que consideram violentas. O senhor concorda com esse tipo de ocupação? O que diria as essas pessoas?


João Pedro Stedile – O MST já usou todas as formas de luta possíveis e legítimas na luta pela democratização da terra: abaixo-assinados, 800 mil se cadastraram nos Correios (nos tempos do FHC), marchas de mais de 1.500 quilômetros, manifestações de rua e também ocupações de terras. Se houvesse vontade política e força social suficiente, não precisaríamos fazer ocupações de terra. Isso representa um enorme sacrifício para as famílias. As famílias não fazem ocupações porque gostam. A história de dominação do latifúndio é que fez com que as ocupações se transformassem na principal forma de luta dos camponeses.

As pessoas que criticam as ocupações de terra deveriam saber que todos os assentamentos que existem foram frutos de ocupações e pressão de acampamentos. Ao mesmo tempo, deveriam saber também que a maioria dos grandes proprietários não obteve suas terras por meio do trabalho, mas se apropriou ilegalmente de terras publicas por meio da apropriação indébita. O que as pessoas dizem quando o banqueiro Daniel Dantas usa recursos de origem desconhecida para compra 56 fazendas com mais de 400 mil hectares no sul do Pará? Algumas delas são griladas de terras públicas e portanto nem sequer escritura têm.

Viomundo – E a ocupação da Cutrale?

João Pedro Stedile –
Todo mundo criticou a nossa ocupação na Cutrale, porque os companheiros numa atitude desesperada derrubaram pés de laranja. No entanto, não ouvimos críticas na mesma altura pelo fato de a Cutrale se apropriar de mais de 5 mil hectares de terras públicas, registradas como propriedade da União, e que o Incra move um processo para despejá-la. Os trabalhadores são condenados por destruir menos de um hectare de pés de laranjas, mas a Cutrale pode grilar terras, criar um cartel no setor do suco e, com isso, nos últimos dez anos, segundo o IBGE, levar à falência mais de 20 mil pequenos e médios citricultores, que foram obrigados a destruir mais de 200 mil hectares de laranja no estado de São Paulo !!!

Viomundo – O MST não receia perder o apoio de parte da sociedade em função das ocupações de terra?

João Pedro Stedile – É possível que determinados momentos setores da sociedade se deixem influenciar pela campanha sistemática da imprensa. Mas quando isso não tem base real e verdadeira, as pessoas se dão conta de que há manipulação. A mídia burguesa já fez muita campanha contra o Lula, mas a população continua dando apoio ao seu governo.

Na base social, entre os pobres, entre os trabalhadores, o MST continua tendo muito apoio. Eu diria até que o MST nunca teve tanto apoio entre os setores organizados e conscientes da nossa sociedade. Esses setores se deram conta que as elites não querem abrir mão da concentração da propriedade e, por isso, nos atacam com tanta veemência.

Se fosse pela vontade das elites, nós e os demais movimentos sociais já tinham desaparecido. Estão nos perseguindo no Congresso Nacional: em oito anos, criaram três CPIs contra o MST. Não há registros na história do Brasil de perseguição desse tipo contra nenhum movimento social ou partido político. No entanto, continuamos firmes, porque a causa da reforma agrária é justa e necessária para o país.

No fundo, todo mundo é a favor da reforma agrária e contra o latifúndio. Chegará o dia em que a verdade será maior do que a manipulação.

Viomundo – Mas o apoio da sociedade civil à reforma agrária é importante, concorda?

João Pedro Stedile – Com certeza. Infelizmente, vivemos um momento de refluxo do movimento de massas em geral. E isso diminui a força daqueles que defendem mudanças no campo e nas cidades.

Veja a dificuldade para aprovar a lei que reduz 44 para 40 horas a jornada de trabalho, já em vigor em todo o mundo industrializado. Veja a dificuldade para aprovar o projeto de lei que determina a desapropiaçao de fazendas com trabalho escravo. Veja a greve dos professores do Estado de São Paulo. A sociedade não fez ainda ações concretas para apoiar demandas tão justas. As organizações populares e progressistas não têm tido força para fazer as mudanças. Pelas mãos do agronegócio, o Brasil se transformou no maior consumidor mundial de venenos agrícolas (são 720 milhões de litros por safra, que agridem o meio ambiente, destroem o solo, as águas e vão para seu estômago dentro dos alimentos) e a sociedade não reage! Mas isso é temporário. Outro ciclo virá com o reascenso dos movimentos de massas e de maior mobilização das forças populares. Aí, teremos as mudanças necessárias, como a reforma agrária. Não se pode pensar em reforma agrária separada das demais mudanças que a sociedade brasileira precisa.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

"Os bancos são proprietários do Congresso dos EUA"

Por Ralph Nader, via Carta Maior

Uma sociedade que não percebe os sinais de sua própria decadência, porque sua ideologia é um mito contínuo de progresso, separa-se da realidade e se enreda na ilusão. Um critério segundo o qual é possível calibrar a decadência da vida cultural, política e econômica nos Estados Unidos é responder a seguinte pergunta: as forças do poder econômico, que fracassaram de forma evidente, tornaram-se mais fortes depois que os danos amplamente conhecidos que causaram converteram-se em um tema de domínio público?


A deterioração econômica é generalizada, o desemprego, as execuções de hipotecas, a exportação de empregos, a dívida dos consumidores, o desgaste das aposentadorias e a infraestrutura deteriorada estão muito bem documentadas. A autodestruição dos gigantes financeiros de Wall Street, com seus saques e desaparecimentos de bilhões de dólares de outras pessoas, são manchetes na imprensa há dois anos. Durante e depois das gigantescas operações de socorro por parte de Washington, os bancos e seus aliados ainda são a força mais poderosa na determinação da natureza das leis corretivas propostas para superar a crise.


“Os bancos se apoderaram deste lugar”, diz o senador Richard Durbin (democrata por Illinois), evocando a opinião de muitos membros do abúlico Congresso dispostos a aprovar só uma débil legislação para proteger o consumidor e o investidor, enquanto permitem o domínio dos cada vez menos e maiores grandes bancos.


Quem já não se deparou com os erros e a unilateral letra pequena da indústria dos cartões de crédito? Um projeto de reforma legal finalmente foi aprovado após anos de demora, mas de novo resulta débil e incompleto. Indiferentes diante de suas extorsões, as empresas já têm seus advogados trabalhando em esquemas para evitar o aperto moderado da lei.


A indústria dos medicamentos e da saúde, um enxame com milhares de ramificações, tem mais ou menos o que queria com a nova lei da saúde. As seguradoras têm milhões de novos clientes subsidiados com centenas de bilhões de dólares dos contribuintes e com muito pouca regulação. As companhias farmacêuticas saíram triunfantes: a não importação de remédios similares mais baratos, nenhuma autoridade do Tio Sam para negociar descontos de preços e uma muito proveitosa extensão do monopólio de proteção de patentes sobre os fármacos biológicos contra a competição dos genéricos mais baratos.


Apesar de todas suas fraudes, apesar de todas suas exclusões, suas negativas às reclamações, suas restrições de benefícios e aumentos horrendos de preços, as duas indústrias saíram mais reforçadas do que nunca tanto econômica como politicamente. Não é de se estranhar que suas ações estejam subindo inclusive na recessão. A indústria processadora de fast food – na defensiva ultimamente em razão de alguns excelentes documentários e importantes revelações – é ainda um dos poderes mais influentes no Capitólio, conseguindo retardar durante anos uma lei de segurança alimentar decente e fazer uso de impostos para bombear graxa, açúcar e sal para os estômagos de nossas crianças, além de lutar contra mecanismos pertinentes de controle. Os alimentos contaminados nos EUA causam mais de 7 mil mortes por ano, além de milhões de pessoas doentes.


As companhias de petróleo, gás, carvão e de energia nuclear estão tirando a pele dos consumidores e contribuintes, esgotando e colocando em risco o meio ambiente, e bloqueando a aprovação de uma legislação racional no Congresso para substituir o carvão e o urânio por energias renováveis com tecnologias de eficiência energética. Inclusive agora, após anos de aumentos de custos, prejuízos e ausência de armazenamento permanente de resíduos radioativos, a indústria nuclear pressiona o presidente Obama (como fez antes com Bush) por dezenas de bilhões de dólares em empréstimos dos contribuintes para novas centrais nucleares. Wall Street não financiará uma tecnologia tão arriscada sem vocês, os contribuintes, como garantia contra qualquer acidente ou falha. Democratas e republicanos fecham os olhos para esses ultrajantes riscos financeiros e de segurança para os contribuintes.


O Congresso, que recebe a parte principal desta pressão corporativa – a raiz do dinheiro e o tronco dos desafios financeiros correspondentes -, é mais do que nunca um obstáculo para qualquer mudança. No passado, após importantes fracassos da indústria e do comércio, existiu uma maior possibilidade de ação por parte do Congresso. Recorde-se o desmoronamento bancário e de Wall Street nos primeiros anos da década de 30 do século passado. O Congresso e Franklin Delano Roosevelt confeccionaram uma legislação que salvou os bancos, a poupança da população e regulou o mercado de valores.


Desde que apareceu meu livro “Inseguro a qualquer velocidade: os perigos do desenho do automóvel americano”, publicado em novembro de 1965, levou exatamente nove meses para o governo federal regular a poderosa indústria automobilística sobre a segurança e a eficiência do combustível. Comparemos esse fato com os dois anos de atraso, após a falência do Bear Stearns, em criar alguma legislação de controle.


No entanto, é quase impossível desalojar os entrincheirados membros do Congresso, responsáveis por essa paralisação assombrosa, mesmo quando as pesquisas mostram sua reputação mais baixa do que nunca. É um lugar onde a maioria está aterrorizada pelas empresas e a minoria pode bloquear inclusive os esforços legislativos mais anêmicos com regras arcaicas, especialmente no Senado.


Culturalmente, os canários nesta mina de carvão são as crianças. A infância foi comercializada pelos gigantes do marketing que busca chegar nela a todo momento com sua comida-lixo, com programas violentos, videogames e má medicina. O resultado é a obesidade recorde, a diabete infantil e outras doenças. Ao mesmo tempo em que destroem a autoridade dos pais, as companhias riem no caminho ao banco, utilizando nosso espaço radioelétrico, entre outros meios de comunicação, para aumentar seus lucros. Podem ser descritos como abusadores eletrônicos de crianças.


Em 1996, publicamos um livro intitulado Children First!: A Parent’s Guide to Tighting Corporate Predators in the Media (Crianças primeiro: um guia para os pais lutarem contra as corporações predadoras nos meios de comunicação). Esse livro subestima o problema visto o agravamento da manipulação da infância nos dias de hoje.


24 horas por dia, 7 dias por semana, em uma sociedade freneticamente entretida com mordidas sonoras, Blackberries, iPods, mensagens de texto e correios eletrônicos, existe uma profunda necessidade de reflexão e introspecção. Temos que discutir cara a cara em salões, auditórios escolares, praças populares e assembléias urbanas que está acontecendo conosco e o que está ocorrendo com nossos minguantes processos democráticos em função das pressões e controles do insaciável Estado corporativo. E sobre o que deve ser feito nos espaços públicos, com a apresentação de novos modelos, novas responsabilidades e novas idéias. Nossa história já nos mostrou que vivemos melhor em todas as frentes quando estamos mais comprometidos e cuidadosos.


Ralph Nader é advogado e escritor, ex-candidato à presidência dos EUA. Seu último livro é a novela Only the Super-Rich Can Save Us!

Tradução: Katarina Peixoto